A primeira vez que ouvi falar de Marina Silva como candidata a Presidente foi bem antes da eleição, antes mesmo dela sair do PT. Algumas pessoas da esquerda do PT achavam que ela seria uma condidata melhor que a Dilma, por ser mais de esquerda e mais ligada aos movimentos sociais. Na época eu já não confiava muito nessa opção.
Quando ela saiu do PT e foi pro PV foi a primeira indicação de que ela não era uma candidata tão ideal assim. Não por ela ter saído do PT, afinal de contas, a Erundina também saiu e continua uma grande militante de esquerda. O problema foi ela ter escolhido o PV e já ter começado a articular sua candidatura para Presidente. O PV no Brasil é um partido pequeno e sem ideologia nenhuma, praticamente uma legenda de aluguel. Além disso, na maioria das vezes se alia com o que há de mais reacionário no país. É uma aliado histórico do PSDB e do PFL (ou DEM). Ao sair do PT para construir uma candidatura no PV ela indicou que seu projeto é a Presidência, independente da base política que sustenta esse projeto. Logo ficou claro que havia um conflito permanente entre a equipe da candidatura, ligada diretamente a ela, e a estrutura do Partido Verde. Esse conflito chegou a se explicitar de forma constrangedora em alguns momentos desta eleição, como, por exemplo, no anúncio de que o PV apoiaria o Serra no segundo turno um dia antes do primeiro turno.
Mas limitar a crítica ao conflito entre a equipe da Marina e o seu Partido significa considerar que o projeto dela era bom e progressista e que o único problema era a estrutura tradicional do partido. O problema é que o próprio projeto político da Marina Silva tinha característica bem conservadoras. Este conservadorismo se apresenta em 4 questões principais:
1) O programa econômico da Marina Silva era totalmente neoliberal. A maior prova disso é que o Eduardo Giannetti da Fonseca era um dos principais nomes do programa econômico da candidatura. O Giannetti é um dos economistas mais neoliberais do país, além de ser profundamente conservador em suas outras posições políticas. O projeto desenvolvido por ele e defendido pela candidata era a redução do papel do Estado na economia, contenção dos gastos públicos, independência do Banco Central, reforma da previdência, diminuição da atuação do BNDES no incentivo ao investimento, etc. O outro principal assessor econômico era o José Eli da Veiga, um liberal bem-intencionado que tenta vender a ideia de que a economia do futuro é o desenvolvimento sustentável socioambiental. Ele só não explica muito bem como mudar esse paradigma em termos de políticas. É bom lembrar que ele foi duramente criticado quando foi indicado para o SEADE, no governo tucano de São Paulo, e tentou romper com a metodologia de cálculo do desemprego acordada há quase vinte anos pelo SEADE (órgão do governo) e o DIEESE (órgão dos sindicatos). Depois da revolta dos sindicalistas, o índice antigo foi mantido e ele pediu sua renúncia ao cargo. Em diversas declarações, ele explicita um certo preconceito com relação aos petistas, aos sindicalistas e até ao presidente Lula. Outra demonstração do caráter neoliberal de seu programa econômico é que ela sempre ressaltou que o sucesso do governo Lula decorreu de uma boa política econômica implementada nos últimos 16 anos, desde o Plano Real, como se fosse a suposta continuidade da política econômica a grande responsável pelo bom momento atual do Brasil.
2) A posição de Marina Silva a respeito da política externa do Governo Lula também foi muito conservadora. Ela repetiu os argumentos da direita e da grande mídia, criticando a grande atuação do Brasil no caso do Irã, além de acusar o governo da Venezuela de ser antidemocrático e também criticar o governo cubano. Ela também elogiou a boa relação que o governo estabeleceu com os EUA. Ou seja, criticou o Irã, a Venezuela e Cuba e eleogiou os EUA. Ela defendeu que os direitos humanos devem ser um princípio fundamental da nossa política externa, como se isso significasse que não deveríamos ter relações com países que são acusados de não respeitarem os direitos humanos, o que é uma visão, no mínimo, ingênua e, em geral, conservadora.
3) O discurso que ela construiu de que os dois principais partidos na disputa, o PT e o PSDB, representam igualmente o conservadorismo na política e que ela representaria uma nova forma de fazer política, etc., além de ser apenas uma estratégia eleitoral, é um discurso despolitizador. Em primeiro lugar, o PT e o PSDB não são iguais e não representam projetos igualmente conservadores. O PSDB representa um projeto conservador de direita e o PT representa um projeto progressista de esquerda (ou, pelo menos, de centro-esquerda). Em segundo lugar, a ideia, também muito repetida na sua campanha, de que tem gente boa em todos os partidos, gente que representa setores modernos e avançados, e que o que o Brasil precisa é reunir esses setores de todos os partidos contra os setores do atraso que também estão em todos os partidos, também é falsa. O PSDB/PFL (ou DEM) apresentou um projeto totalmente “atrasado” nesses termos, fazendo alianças com os setores mais retrógrados nesta campanha. Na coligação do PT também tinha representantes de setores conservadores, mas eles estavam subordinados dentro da coligação a um projeto progressita, emcabeçado pelo PT. Em terceiro lugar, é difícil acreditar que a Marina Silva representava uma nova forma de fazer política. Não sei o que teria de nova. Seu Partido faz a política do jeito mais tradicional, neste ponto de vista. Ela inclusive falava que o tal “Movimento Marina”, que de movimento de verdade não tinha nada, era um movimento da sociedade civil, suprapartidário. Só não dá pra saber como ela ia governar sem a estrutura dos partidos. Enfim, essa estratégia de se colocar como uma nova forma de fazer política não cola, nem o PT conseguiu. O PSOL também tem o mesmo discurso e se vê claramente que não conseguem fazê-lo.
4) Por fim, é fato que, em termos morais, a Marina Silva é uma candidata conservadora. O fato dela ser evangélica prejudica sim sua posição com relação ao aborto, ao casamento gay, etc. Ela tentou disfarçar e dizer que sua posição pessoal é diferente da sua posição enquanto candidata, mas é difícil acreditar que ela se empenhasse em levar essas questões adiante de uma forma progressita. Dizer que vai decidir por plebiscito é uma forma de fugir da responsabilidade para os que são a favor, deixando claro pros que são contra que ela está com eles. Questões como essa não devem ir a plebiscito, pois a campanha conservadora seria gigantesca. A maior prova desse conservadorismo foi que a principal contribuição que ela deu à campanha presidencial não foi a inclusão da questão ambiental no debate político, foi a inclusão do consevadorismo religioso pela primeira vez como tema relevante em um debate política presidencial.
É por isso que eu considero que a sua candidatura foi conservadora. A ênfase do discurso foi na ética, na tranparência e em um novo modelo de desenvolvimento sustentável. As questões sociais, reforma agrária, etc., ficaram em segundo plano. Isso sem falar no fato de seu Vice ser um dos donos da Natura, empresa que patenteia o conhecimento de comunidades indígenas da Amazônia.
Dito tudo isso, é inegável que a candidatura da Marina serviu mais à estratégia da direita do que para colocar em debate a questão de um novo modelo de desenvolvimento. Quando a direita e a grande mídia viram que o Serra não ia subir de seus 30%, passaram a inflar a candidatura da Marina, para levar a disputa para o segundo turno.
Quanto a ela não se posicionar no segundo turno, eu entendo. O PV era claramente a favor do Serra. Ela me pareceu indicar várias vezes que preferia a Dilma. Mas ela não podia tomar posição, dado que ela construiu sua condidatura justamente como uma alternativa à polarização entre os dois partidos. Se ela tomasse posição, perderia boa parte de legitimidade de seu discurso frente a seus apoiadores.
Mas Marina Silva saiu fortalecida das eleições. Seu eleitorado pode ser dividido em três grandes setores. Uma parte mais ambientalista, crítica do desenvolvimentismo. Uma parte mais de classe média-alta, que acredita numa espécie de terceira via, numa nova política, desiludida com os escândalos de corrupção. E uma parte evangélica. Como ela vai fazer para manter essa base eleitoral no futuro e o que vai fazer com ela, é o que precisamos ver.
Abaixo seguem algumas matérias que ilustram meus argumentos.
O primeiro é uma análise do Safatle, que eu achei a melhor das que eu li durante a campanha.
O segundo é uma entrevista com o Giannetti em que ele diexa claro qual é a orientação que ele defende para a política econômica. Ele também diz que a Marina e a sua equipe concordam com ele no essencial. O terceiro é outra entrevista com o Giannetti em que ele diz que não é liberal, mas que se identifica com o liberalismo clássico, de Adam Smith, John Stuart Mill e Alfred Marshall. Pois bem, Mill e Marshall fazem parte das origens teóricas da economia neoclássica, que é usada como base pelas propostas políticas do neoliberalismo.
O quarto é uma entrevista com o José Eli da Veiga, na qual ele critica a política do governo Lula, critica o PV também, e chega a chamar, de forma indireta, o Lula de ignorante, ao dizer que a Marina é “mais bem informada, culta e hábil” que ele. O quinto é um texto que explica a polêmica sobre o índice de desemprego do SEADE-DIEESE. O sexto e sétimo são artigos do Zé Eli citados nesse último texto, nos quais ele se refere de forma meio preconceituosa do sindicalismo e do petismo.
O oitavo e o nono mostram a posição da Marina com relação à política externa do governo Lula.
O décimo é uma boa análise do Blogueiro Idelber Avelar sobre a composição do eleitorado da Marina.
Os outros três explicitam o discurso da Marina e as contradições com o PV.
E o último é a declaração de bens do Guilherme Leal, Vice da Marina Silva. Seu patrimônio declarado é de impressionantes 400 milhões de reais.
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http://outrapolitica.wordpress.com/2010/10/04/marina-silva-em-wall-street/
Marina Silva em Wall Street
Publicado em outubro 4, 2010 por outrapoliticaemsampa
Com o programa econômico mais liberal entre todos, PV apresentou o novo centro, com roupagem “moderna”
Wladimir Safatle, Folha de S.Paulo, 4 de outubro de 2010
“Wall Street” é, entre outras coisas, o nome do novo filme do cineasta norte-americano Oliver Stone. Ele conta a história da crise financeira de 2008 tendo como personagem central um jovem especulador financeiro que parece ter algo semelhante ao que um dia se chamou pudor.
Sua grande preocupação é capitalizar uma empresa, que visa produzir energia ecologicamente limpa, dirigida por um professor de cabelos brancos e ar sábio. O jovem especulador é, muitas vezes, visto pelos seus pares como idealista. No entanto, ele sabe melhor que ninguém que, depois do estouro da bolha financeira, os mercados irão em direção à bolha verde. Mais do que idealista, ele sabe, antes dos outros, para onde o dinheiro corre. Enfim, seu pudor não precisa entrar em contradição com sua ganância.
Neste sentido, “Wall Street” foi feliz em descrever esta nova rearticulação entre agenda ecológica e mundo financeiro. Ela talvez nos explique um fenômeno político mundial que apareceu com toda força no Brasil: a transformação dos partidos verdes em novos partidos de centro e o abandono de suas antigas pautas de esquerda.
A tendência já tinha sido ditada na Europa. Hoje, o partido verde alemão prefere aliar-se aos conservadores da CDU (União Democrata-Cristã) do que fazer triangulações de esquerda com os sociais-democratas (SPD) e a esquerda (Die Linke). Quando estiveram no governo de Schroeder, eles abandonaram de bom grado a bandeira pacifista a fim de mandar tropas para o Afeganistão. Com o mesmo bom grado, eles ajudaram a desmontar o Estado do bem-estar social com leis de flexibilização do trabalho (como o pacote chamado de Hartz IV). Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do partido verde francês, fez de tudo para viabilizar uma aliança com os centristas do Modem. Algo que soaria melhor para seus novos eleitores que frequentam as praças financeiras mundiais.
No Brasil, vimos a candidatura de Marina Silva impor-se como terceira via na política. Ela foi capaz de pegar um partido composto por personalidades do calibre de Zequinha Sarney e fazer acreditar que, com eles, um novo modo de fazer política está em vias de aparecer. Cobrando os outros candidatos por não ter um programa, ela conseguiu esconder que, de todos, seu programa era o economicamente mais liberal. O que não devia nos surpreender. Afinal, os verdes conservaram o que talvez havia de pior em maio de 68: um antiestatismo muitas vezes simplista enunciado em nome da crença na espontaneidade da sociedade civil.
Não é de se estranhar que este libertarianismo encontre, 40 anos depois, o liberalismo puro e duro. De fato, a ocupação do centro pelos verdes tem tudo para ficar. Ela vem a calhar para um eleitorado que um dia votou na esquerda, mas que gostaria de um discurso mais “moderno”. Um discurso menos centrado em conflitos de classe, problemas de redistribuição, precarização do trabalho e mais centrado em “nova aliança”, “visão integrada” e outros termos que parecem saídos de um manual de administrador de empresas zen. Alguns anos serão necessários para que a nova aliança se mostre como mais uma bolha.
VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.
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http://www.movmarina.com.br/profiles/blogs/entrevista-de-gianetti
O Estado brasileiro está onde não devia
Eduardo Giannetti da Fonseca, entrevista a O Globo, 20/06/10
Consultor econômico da campanha de Marina diz que o governo gasta mal e está tentando dar um passo maior do que as pernas
Prestes a lançar em agosto seu novo livro, “A ilusão da alma”, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, 53 anos, é um dos principais consultores econômicos da equipe da candidata do PV à Presidência, Marina Silva. O novo livro, uma ficção existencialista, deixa fluir seu lado filosófico ao abordar a história do sobrevivente de um tumor no cérebro que passa a estudar obcecadamente neurociência e questionar sobre a verdadeira função da mente.
No dia a dia da campanha, no entanto, Giannetti é um economista que não se deixa iludir pela prosperidade brasileira atual. Ele acha inaceitáveis e irresponsáveis os aumentos concedidos aos aposentados e ao funcionalismo pelo governo Lula em ano eleitoral. Considera os candidatos José Serra e Dilma Rousseff bons gerentes, mas não estadistas, pois, diz, são incapazes de pensar um futuro generoso para o país. “Como bons gerentes, Dilma e Serra seriam ótimos ministros de Marina Silva”, diz ele.
Gilberto Scofield Jr.
SÃO PAULO
O GLOBO: Como o senhor vê a decisão do presidente Lula de dar aumentos a aposentados e servidores em ano de eleições?
EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA: Em seu dois mandatos, Lula expandiu muito os gastos. A receita do setor público aumentou 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país) por conta da alta na carga tributária e da redução no pagamento dos juros da dívida pública graças à queda nas taxas básicas de juros. Isso liberou recursos para gastos. O que foi feito desse dinheiro? Bem, 5,5% do PIB viraram gastos correntes e 1% virou investimento, incluindo as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ou seja, o Estado brasileiro absorve 36% da renda nacional com impostos e entrega como investimento, tudo incluído, menos de 2% do PIB. Isso é inaceitável e reduz cronicamente o potencial de crescimento sustentável do Brasil.
Qual o problema da política econômica?
GIANNETTI: Há falta de coordenação entre a área da Fazenda e o Banco Central (BC). O aumento do gasto público vai na contramão da necessidade de conter o superaquecimento da economia, tarefa hoje exclusiva do BC. Ou seja, um lado pisa no freio e o outro, no acelerador.
Mas o superaquecimento ocorre também pela muito agressiva expansão do crédito via bancos oficiais: Caixa, Banco do Brasil e especialmente o BNDES, que está sendo financiado agora com o endividamento do Tesouro.
Criou-se um cordão umbilical perigoso entre o BNDES e o Tesouro, política chamada tecnicamente de parafiscal, porque não aparece no orçamento, não foi votada, envolve subsídios enormes para o setor privado e aumenta a demanda, porque libera dinheiro para gastos e investimentos de curto prazo.
Estamos sendo irresponsáveis?
GIANNETTI: O Brasil está tentando dar um passo maior do que a perna e não vai conseguir.
Estamos tentando, ao mesmo tempo, aumentar o consumo das famílias, o investimento privado, o investimento público e os gastos do governo. Não dá para fazer tudo isso junto.
Já há superaquecimento?
GIANNETTI: Os sinais são evidentes: pressão inflacionária e desequilíbrio nas contas externas.
Isso aumenta o custo para a sociedade. Os juros vão ter que subir mais do que precisariam para reduzir a inflação. A qualidade da política econômica no primeiro mandato do Lula foi muito superior ao do segundo, especialmente pela agenda de reformas microeconômicas.
O uso do BNDES preocupa?
GIANNETTI: De 2008 a 2010 são R$ 180 bilhões de crédito novo, financiado por meio de dívida que não aparece no total da dívida líquida do setor público. O Tesouro emite e compensa com o empréstimo que faz ao BNDES.
Mas isso aparece na dívida bruta do governo, que está crescendo acentuadamente, hoje em 64% do PIB. Este caminho é muito perigoso.
Embora não salte aos olhos pelo volume, a dívida impressiona por sua extravagância em termos de custo. O governo se endivida em prazos curtos pagando no mínimo a taxa básica de juros e depois empresta para os parceiros do rei, cobrando taxas bem menores que os juros básicos. É um subsídio maior do que o Bolsa Família para grupos escolhidos a dedo.
De quanto é esse subsídio?
GIANNETTI: Estamos falando de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões por ano. Num estado de direito, o subsídio existe, mas tem que ser politicamente negociado, passar pelo Congresso e ser explicitado no Orçamento. Não está sendo. Agride a democracia constitucional porque é dado discricionariamente.
A participação ativa do Estado na economia, como defende o governo e sua candidata, é mesmo uma necessidade?
GIANNETTI: Eu discordo. O Estado tem papel fundamental, por exemplo, na formação de capital humano, na saúde pública e saneamento. Mas ele se tornar empresário e escolher os vencedores a partir de uma lógica de geopolítica e não de eficiência de mercado não funciona.
O que o Brasil precisa entender neste momento favorável é que é hora de pensar no futuro seriamente, o que significa investir em educação fundamental de qualidade, pesquisa e desenvolvimento e treinamento.
Temos que usar conhecimento gerado no Brasil para acrescentar valor aos recursos naturais e preservar nosso patrimônio ambiental.
O grande risco que corremos é a complacência.
De quê?
GIANNETTI: Imaginar que as coisas, porque estão bem agora, continuarão assim indefinidamente.
Nossa base de recursos humanos é claramente a mais grave deficiência civilizatória deste país. Tem um dado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar, feita pelo IBGE em 2008, que deveria ser seriamente discutido hoje: 44% das crianças brasileiras até 14 anos residem em famílias pobres, com renda familiar per capita inferior a R$ 200. E 20% em famílias com renda inferior a R$ 100. Ou seja, apesar de todo o avanço e toda a nova classe média, a situação da infância no Brasil é calamitosa.
Metade da população não tem saneamento básico.
Mas e os programas sociais do governo?
GIANNETTI: Os programas do governo beneficiam a população de maior idade, como a previdência ou o ensino superior gratuito para os ricos. Eu não sou contra o Estado de maneira nenhuma, mas acho que o Estado brasileiro está onde não devia e não está com mais qualidade onde deveria estar.
Como e por que aderiu à campanha de Marina?
GIANNETTI: A consolidação da Marina Silva como liderança relevante é importante para o futuro do Brasil. Duas pessoas me influenciaram na decisão de participar: o Guilherme Leal, que eu admiro como empresário e gosto como pessoa, e o Caetano Veloso, com quem converso sobre política há 20 anos. Eu me sinto bem em poder contribuir, dentro dos meus limites, para que a liderança da Marina se firme.
Qual é a sua participação?
GIANNETTI: Eu me engajei no início do ano. Converso com a equipe e com a Marina, falo sobre o que penso, e posso dizer que concordamos no essencial.
O país precisa se abrir para o novo. Começa pelo modo de fazer política. Não cair na armadilha de se aliar ao que há de mais retrógrado no país em troca de representatividade ou governabilidade. A Marina é uma liderança política capaz de trazer o que há de melhor no país para seu programa de governo, além de ser capaz de mobilizar forças sociais para esta mudança. A Dilma Rousseff e o José Serra são excelentes gerentes, mas não são líderes políticos. Falta aos dois uma visão de futuro generosa para o Brasil, algo que vá além do desenvolvimento a qualquer preço. Serra e Dilma seriam ótimos ministros num governo Marina.
Como pensar o futuro com a estrutura atual de poder?
GIANNETTI: Há gente boa em todos os partidos. Eu não sou assim tão pessimista. É claro que existem hoje muitos projetos de poder e poucos projetos de nação para o Brasil.
Em 2005, o senhor disse que as três forças políticas de oposição forjadas durante o regime militar —o PMDB de Ulysses Guimarães, o PSDB de FHC e o PT de Lula — foram testadas e mostraram méritos e limites.
Em 2005, disse que era razoável esperar que o sistema político passasse por uma depuração de forças e lideranças. Mas hoje o país está polarizado como nunca. O que aconteceu?
GIANNETTI: A depuração leva tempo. Estamos encerrando um ciclo, e acredito que agora seja a hora de renovar o cenário político brasileiro. O debate entre tucanos e petistas é um debate em torno de gerências e não sobre visões de futuro que temos para o Brasil.
O senhor uma vez comentou que, “com o apagão político do governo Lula, cai por terra a crença de que a solução efetiva dos desafios do país depende apenas de vontade política ou do voluntarismo dos ’justos e bons”. Então, como ter fé em Marina?
GIANNETTI: Precisamos de lideranças políticas que se preocupem em criar novos consensos e não em perseguir consensos já existentes e que não se sustentam no longo prazo, como é o caso atual. Marina é a única liderança capaz de inspirar os eleitores a fazer um país que não continue sendo mais do mesmo, uma cópia ruim do modelo norte-americano.
Mas Marina Silva está muito distante dos candidatos mais bem colocados…
GIANNETTI: Não é um projeto que se esgota nestas eleições.
O senhor é nome forte para ocupar o cargo de presidente do BC num governo Marina?
GIANNETTI: Não é meu perfil.
Eu seria péssimo presidente do BC. Não tenho perfil executivo e sequer consigo controlar o orçamento da minha casa.
Qual sua opinião sobre o trabalho de Henrique Meirelles?
GIANNETTI: O papel do BC é terrível: tirar o barril de chope da sala quando a festa está esquentando.
E nisso, sejamos justos, o governo agiu exemplarmente.
O BC sempre trabalhou com autonomia operacional aqui. E a Marina Silva entende que não se faz aventura com o BC. É perigoso. O PV sabe que a estabilidade macroeconômica é um valor inegociável
Acha que o crescimento do PIB e a situação da economia podem influenciar decisivamente a briga eleitoral?
GIANNETTI: Ainda ajudam a eleger o presidente porque ter um emprego formal é uma aspiração legítima de todo cidadão.
Mas esta preocupação obcecada com o desenvolvimento esconde o fato de que o mercado de trabalho no Brasil está envelhecendo, é ainda pouco qualificado e com muita gente querendo se aposentar sem contribuir ou contribuindo aquém do que deveria.
O déficit previdenciário do funcionalismo público, que se refere a três milhões de pessoas, supera todo o gasto com 37 milhões de crianças que cursam o ensino fundamental hoje. Isso é imprevidência.
O senhor critica o assistencialismo no governo Lula, mas muitos economistas dizem que as políticas de transferência de renda do atual governo foram responsáveis pela expansão do consumo e redução da desigualdade.
Isso não é bom?
GIANNETTI: Não sou contra os programas de transferência de renda e acho que famílias realmente necessitadas precisam dessa transferência. Mas isso tem que ser uma situação transitória.
Não entendo quando o governo comemora o crescimento no número de famílias que vivem de bolsa. Isso deveria ser motivo de preocupação, porque o ideal é tirar as famílias da situação de dependência.
Qual sua opinião sobre lideranças que fomentam paternalismo?
GIANNETTI: Dilma Rousseff e Lula têm um parentesco com o getulismo neste sentido. E o fato é que um governo que dá Bolsa Família para os pobres e bolsa-BNDES para grandes grupos empresariais fica com uma boa parte da sociedade em suas mãos. É um governo que está tutelando as pessoas. O economista Raul Velloso tem um conta impressionante: a soma das pessoas que possuem rendimentos advindos de arrecadação de impostos, como funcionários públicos, beneficiários da previdência pública e os que recebem Bolsa Família, chega hoje a 40 milhões de famílias, algo como 120 milhões de pessoas. Isso dá ao Estado um poder de tutela que torna difícil para a oposição alterar.
Getúlio Vargas soube como ninguém usar a tutela econômica dos cidadãos com fins de dominação política.
O fato de Marina ser evangélica pode comprometer sua performance nas urnas? Dizer que é contra o casamento gay, mas a favor da “união civil de bens”, não é fugir do debate?
GIANNETTI: Há uma confusão sobre convicções pessoais de Marina e o que sua campanha defende, inclusive sobre o que precisa ser debatido na sociedade.
É preciso melhorar a comunicação da campanha. A Marina é de um respeito humano sem correspondência na política brasileira, que ainda se vangloria de certa truculência.
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http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/03/para-giannetti-discurso-economico-deve-focar-capital-humano/
Postado em 15/03/2010 por Equipe Marina | Categoria(s): Eco
Economista, cuja entrada na pré-campanha de Marina Silva foi criticada por aliados, rejeita rótulo de neoliberal e diz que se identifica mais com os clássicos
COLUNISTA DA FOLHA
O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, 53, foi o pivô de uma pequena crise na pré-candidatura de Marina Silva (PV-AC) à Presidência. Sua aproximação com a senadora, revelada pela Folha, chegou a ser interpretada como uma guinada neoliberal da campanha em preparação e rejeitada por vários simpatizantes.
O ex-trotskista, autor de “Vícios Privados, Benefícios Públicos?”, entre vários livros, abriu uma exceção para declarar seu voto em Marina Silva, atraído pela promessa de um modo novo de fazer política no Brasil. Quem o levou até ela foi o empresário Guilherme Leal, provável candidato a vice na chapa, um dos donos da Natura e criador do Instituto Arapyaú, que tem Giannetti em seu conselho. (MARCELO LEITE)
FOLHA – Qual é seu papel, no momento, na pré-candidatura de Marina Silva e qual deverá ser no futuro? Vai se envolver diretamente em formulação de programa de governo?
EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA – Esse processo está começando, tenho tido conversas frequentes com a senadora. Minha presença é complementar. Não tenho perfil executivo e nunca me envolvi em processo eleitoral. Nem sequer declarei meu voto, até hoje. Sou um virgem. Me animei com essa perspectiva porque Marina passa uma postura diferente no modo de fazer política. O Brasil não precisa ser uma cópia imperfeita do padrão americano. Eu me pergunto: se tudo der certo no Brasil, nós viramos um Estado empobrecido do sul dos Estados Unidos? É esse o nosso sonho civilizatório?
FOLHA – Sua contribuição deve ser mais em política macroeconômica?
GIANNETTI – Sim, mas não só. Na construção de um projeto de país que não submete tudo às decisões econômicas. Aumentar o PIB de qualquer maneira não seria a ambição desesperada de todas as nações.
FOLHA – Em setores próximos de Marina, sua presença na pré-campanha foi rotulada como neoliberal e não muito bem vista.
GIANNETTI – Não sei em que essa rotulagem contribui para o debate. Como pessoa que passou boa parte da vida estudando escolas de pensamento, sei da dificuldade de carimbar posições. Exemplo: uma ideia tão cara ao PT quanto renda cidadã é de um economista tachado de neoliberal, Milton Friedman. As pessoas usam esses rótulos achando que estão dizendo alguma coisa, quando nem sabem o que estão dizendo.
FOLHA – Elas querem dizer tucano.
GIANNETTI – Tucano seria social-democrata. Se quiserem discutir bandeiras ideológicas, vamos lá. Tem neoliberalismo austríaco, de Chicago, de Virgínia, tem o liberalismo clássico. Eu me identifico muito mais com os liberais clássicos, Adam Smith, John Stuart Mill, Alfred Marshall -que, aliás, foi quem trouxe o capital humano para a reflexão em economia.
FOLHA – Como o sr. enxerga o PAC e o pré-sal? O que precisaria mudar da perspectiva de uma candidatura com propostas ambientais?
GIANNETTI – Gostaria de ver o mesmo empenho que o governo Lula deu ao PAC dado ao capital humano. Embora o Brasil tenha problemas sérios de capital físico e infraestrutura, o grande desafio secular sempre foi a sua incapacidade de formar capital humano. O Brasil nunca vai se tornar um país civilizado ou desenvolvido porque descobriu petróleo ou fez uma nova usina hidrelétrica. Esse fetiche do capital físico é uma herança do processo de desenvolvimento brasileiro.
FOLHA – E o pré-sal?
GIANNETTI – Tenho muitas dúvidas técnicas sobre o pré-sal, sobre custo de produção, o preço do barril quando o pré-sal se materializar. É economia suja. O Brasil está querendo dar um passo maior que a pernas. Quer aumentar o investimento, o gasto das famílias e o gasto corrente do governo -tudo ao mesmo tempo. A conta não fecha. Se insistir, dois tipos de desequilíbrio começam a aparecer: pressão inflacionária e desequilíbrio nas contas externas. Se não quiser permitir que aflorem, vai ter de aumentar o juro, tirar o barril de chope quando a festa começa a ficar animada.
FOLHA – Qual seria a alternativa?
GIANNETTI – Vamos ter de enxugar o gasto do governo. E provavelmente pensar mais em crédito para formação de capital do que em crédito para o consumo das famílias. Vamos ter de aceitar algum sacrifício agora para melhorar o futuro.
FOLHA – É provável que o debate eleitoral volte a opor estatismo e privatização. Haverá espaço para questões socioambientais?
GIANNETTI – Esse debate tem de ser feito de maneira mais inteligente. O Brasil precisa de um Estado forte, mas enxuto. O que nós temos hoje, para usar expressão do Sérgio Abranches, é um Leviatã anêmico. O Estado brasileiro faz muitas coisas que não deveria e deixa de fazer coisas que deveria.
FOLHA – O que está errado?
GIANNETTI – O papel que o BNDES está assumindo é muito preocupante. Lula descobriu em seu segundo mandato uma mágica perigosíssima: transferir recursos de dívida pública para concessão de empréstimos sem que isso entre no cálculo de superavit primário. E escolhendo por critérios nem sempre transparentes os parceiros que vão receber benesses desse crédito subsidiado.
Publicado na Folha de São Paulo no dia 14 de março de 2010.
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http://ecourbana.wordpress.com/2009/08/21/entrevista-com-prof-eli-da-veiga-sobre-marina-silva/
agosto 21st, 2009
O fator Marina
Se for candidata, ex-ministra do Meio Ambiente trará nova agenda econômica para 2010, diz professor
Ivan Marsiglia – O Estado de S. Paulo
15/08/2009
“É uma candidatura para valer, não para marcar posição”, aposta José Eli da Veiga, de 61 anos, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Doutor em Desenvolvimento Econômico e Social pela Sorbonne, com pós-doutorado em Cambridge, Eli da Veiga define-se como “ecodesenvolvimentista” e não esconde o entusiasmo pela novidade que balançou os andaimes da campanha presidencial essa semana.
Para o autor de Desenvolvimento Sustentável – Que Bicho é esse? (Editora Autores Associados, 2008), em parceria com a escritora Lia Zatz, e A Emergência Socioambiental (Editora Senac, 2007), tanto Serra quanto Dilma são “crescimentistas” – presos a “crenças do século passado” e estranhos à nova economia de baixo carbono que, acredita, vai marcar o desenvolvimento do mundo no século 21.
Como complicadores de uma provável candidatura Marina, o professor aponta as más companhias no próprio PV – “que abriu as portas para mil e um oportunistas” – e o tempo pífio de que ela disporia na TV durante o horário eleitoral gratuito. Mas crê que a “carismática” senadora teria a seu favor, a exemplo do que ocorreu com Barack Obama nos EUA, “uma organização de envergadura nacional que não terá caráter partidário”.
O que uma eventual candidatura de Marina Silva traz de novo à eleição presidencial de 2010?Principalmente a possibilidade de dar voz a um amplo leque de movimentos socioambientais que querem colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento sustentável. Ou do ecodesenvolvimento, expressão mais precisa desse projeto, que é para o século 21. Novidade estranha às pré-candidaturas anunciadas: Dilma e Ciro pela situação, Serra e/ou Aécio pela oposição. Todas têm a mesma cabeça cepalina de meados do século passado(referência à Cepal, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, criada em 1948 pela ONU, que moldou o pensamento desenvolvimentista no Brasil).
Limitar-se ao discurso ambiental não é um risco para Marina?
Acho que isso não ocorrerá. Além dos movimentos socioambientais, ela também pode galvanizar sentimentos captados por pesquisas recentes: uma da MTV com a juventude, três feitas pelo Datafolha por encomenda da ONG Amigos da Terra e, sobretudo, a do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)para o Relatório de Desenvolvimento Humano brasileiro que sairá no início de 2010. Essas sondagens captaram tendências de fundo com uma surpreendente ênfase em valores – a identificação desse eleitorado com um código ético, que inclui uma preocupação com as condições de vida das gerações futuras. São pessoas que poderão votar em Marina.
Mas não é uma candidatura apenas para marcar posição?
Longe disso. Se fosse só para marcar posição e colocar o ecodesenvolvimento na agenda, sua candidatura nem seria imprescindível. Acho que Marina poderá atrair milhões de simpatizantes entre as pessoas que escolhem seus candidatos antes do início do horário eleitoral gratuito. Mas é claro que não será nada fácil ampliar essa base a partir de agosto ou setembro de 2010, pois o viés antirrenovação que rege o uso do rádio e da TV prejudica qualquer candidatura que saia desse oligopólio partidário que transformou o Senado e a Câmara em assustadores trens fantasmas.
Com tantos interesses empresariais em jogo, num momento de crise financeira mundial, uma plataforma eleitoral com foco no ‘ecodesenvolvimento’ não nasce inviável?
O grosso do empresariado está caindo na real com muito mais rapidez que o governo e os grandes partidos. Só os grupos de interesse ligados aos negócios com energias fósseis é que pressionam contra a transição ao baixo carbono e ao ecodesenvolvimento. Sob a liderança da ANP, da Petrobrás e do Ministério das Minas e Energia.
O que diferencia um ambientalista de um ecodesenvolvimentista?
A expressão ambientalista sugere uma pessoa que só se preocupa com a natureza e subestima ou ignora as questões sociais que sempre estão na essência da degradação ambiental. Além disso, há um péssimo costume de opor os ambientalistas aos desenvolvimentistas, o que é um grande equívoco decorrente da redução da ideia de desenvolvimento à de crescimento. Há exatos 30 anos emergiu a expressão “desenvolvimento sustentável” justamente para superar essa falsa oposição. E é pela mesma razão que prefiro usar o termo “socioambiental” em vez de “ambiental”.
Por que o senhor costuma dizer que José Serra e Dilma Rousseff são ‘crescimentistas’, não desenvolvimentistas?
Esse é o cerne da questão. Ambos continuam com crenças convencionais do século passado segundo as quais existiria uma relação diretamente proporcional entre a taxa de aumento do PIB e o avanço do processo de desenvolvimento. Mas essa relação não é linear. Transformar crescimento em desenvolvimento depende de dois fatores essenciais: do estilo do próprio crescimento e dos arranjos institucionais que permitem canalizar seus frutos para o que mais interessa: ciência, tecnologia e inovação. E também saúde, educação, cultura, lazer, segurança, etc.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), tão decantado pelo governo, não leva em conta esses parâmetros?
O PAC é um Frankenstein: mistura obras fundamentais, como as de saneamento básico, com obras absolutamente negativas, como a BR-319 (a recuperação da rodovia entre Porto Velho e Manaus, na região Norte do País, tem seu licenciamento ambiental questionado por ONGs como o Greenpeace) ou as termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. E o pior é que as críticas da oposição ao PAC não são de conteúdo, como essas. Tucanos e demos apontam apenas a lentidão ou a ineficiência na gestão do programa.
Ninguém questiona a biografia da senadora Marina, mas teria ela condições de formar uma equipe e efetivamente administrar o País?
Muito mais do que Lula. Além de ter as qualidades carismáticas de um Barack Obama, ela é mais bem informada, culta e hábil que o atual presidente brasileiro. Estou seguro de que saberá compor uma equipe governamental capaz de colocar o Brasil no rumo do ecodesenvolvimento. Vale lembrar que Lula assumiu a presidência em 2002 em condições incomparavelmente mais precárias do que as que podem ser antevistas para o início de 2011.
No entanto, existem críticas à passagem de Marina pelo Ministério do Meio Ambiente. Comenta-se que ela apostou demais em reservas extrativistas e assentamentos e deixou os parques nacionais à míngua, além de perder embates decisivos com a Agricultura e a Casa Civil. Qual é sua avaliação?
Minha avaliação é a inversa. Nesses cinco anos e meio, Marina foi capaz de mostrar a qualquer observador atento quanto pode ser prejudicial ao futuro do Brasil a visão obtusa de que qualquer tipo de crescimento econômico favorece o desenvolvimento. Os embates que perdeu foram pedagógicos. Como estão sendo, aliás, os do ministro Carlos Minc.
Há a acusação de que o Ministério do Meio Ambiente, assim como outros setores do governo Lula, teria ‘domesticado’ as ONGs ambientalistas oferecendo-lhes contratos…
É até possível que algumas dessas ONGs tenham amolecido por causa de contratos governamentais. Mas cabe a quem acusa dar nome aos bois. Posso garantir que isso não ocorreu com ONGs como Amigos da Terra, Greenpeace, Imazon, ISA, SOS Mata Atlântica e WWF.
Mas e o PV, está preparado para assumir um projeto de envergadura nacional? Um partido que tem como líder da bancada no Congresso o deputado Sarney Filho pode mesmo representar o novo?
O PV é complicado, mas nem de longe pelo fato de ter Zequinha Sarney como líder. Ele foi um bom ministro do Meio Ambiente e continuou a ser bem visto pelos movimentos socioambientais depois que voltou para a Câmara. Se o problema do PV fosse ter um líder que peca pelo sobrenome, seria fácil. A questão é que a sigla abriu as portas para mil e um oportunistas quando esteve sob ameaça de extinção por causa da cláusula de barreira. Essa turma vai ter de procurar outras legendas se houver a tal “refundação programática” prometida pela banda boa. Mas o mais importante é que a candidatura Marina pode contar com uma organização de envergadura nacional que não terá caráter partidário. E no mundo inteiro os partidos estão deixando de ser catalisadores da inovação social como vinha ocorrendo nos dois últimos séculos. Hoje, são essencialmente o oposto: represas da inovação social.
Outro ponto mencionado por alguns é o estado de saúde de Marina, que seria um tanto delicado.
Seria bom que todos os postulantes à Presidência da República se submetessem ao diagnóstico de uma junta médica indicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Minha impressão é de que a senadora se mostraria mais saudável até que o jovem Aécio.
Pelo jeito, o senhor já aderiu à campanha Marina…
Propus essa candidatura aos meus melhores amigos petistas desde a reeleição de Lula. E acho que Marina deveria ter tomado essa decisão há mais de um ano, quando se viu tangida a deixar o governo.
E em quem o senhor apostaria para figurar em sua chapa como vice? Falou-se no nome do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, também do PV, no do senador Cristovam Buarque, do PDT, na senadora Heloísa Helena, do PSOL…
Essa questão de escolha de vice ainda exigirá muita reflexão. Neste momento minha tendência seria pela indicação de um dos grandes empreendedores da região Sudeste que já se destacaram no movimento pela responsabilidade socioambiental das empresas.
Por que o senhor diz que a transição para uma economia de baixo carbono seria uma oportunidade e não uma restrição ao desenvolvimento brasileiro?
Porque o Brasil tem vantagens comparativas que, se forem transformadas em vantagens competitivas, lhe darão muito mais chances de desenvolvimento do que terão os demais emergentes. E construirão a competitividade sem a qual não será possível lidar com a ressurreição da China. Só se transforma vantagem comparativa em vantagem competitiva com ênfase primordial em ciência, tecnologia e inovação. Espero que essa seja a prioridade da Marina.
O discurso de Marina é avançado em termos ambientais, mas conservador em outras áreas, como o aborto (ela é contra). Isso pode gerar ruído?
Sim, gerará ruído e seus adversários tentarão explorar coisas desse tipo. Mas será que os demais candidatos vão declarar abertamente que são a favor do aborto? Sou ateu há mais de 40 anos, mas acho que pessoas religiosas como Marina tendem a seguir um código ético infinitamente superior ao da maioria dos materialistas vulgares que nos cercam.
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A última batalha pelos números do desemprego
Em 17 de março de 2003, porém, o secretário do Planejamento do Estado empossou, na diretoria executiva da Fundação Seade, o economista da FEA José Eli da Veiga que, no dia 3 de junho, publicou no jornal Valor, do qual era colaborador desde o início do ano, um furioso ataque contra a pesquisa que sua instituição ajuda a produzir.
Afirmou que a pesquisa exagerava a importância da Região Metropolitana e escondia o bom desempenho econômico das cidades do interior. Revoltou-se com que seus números “tirem o sono dos governantes”. Escreveu que somar o desemprego aberto com o oculto para é uma mistificação “alimentada pela imaturidade do movimento sindical”: não se faz assim nos Estados Unidos e também não “em toda terra que não dá jabuticaba”.
Os sindicatos usuários do Dieese reuniram-se na segunda-feira, 9, para discutir o que fazer. O presidente eleito da CUT, Luiz Marinho, disse que procuraria o governador para pedir a continuidade da parceria: “uma decisão como essa é inaceitável. Espero que seja meramente uma posição equivocada da direção do Seade e não uma decisão política, o que seria decepcionante”.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves também cobrou posicionamento de Alckmin. Já havia escrevido ao Valor, para questionar o artigo de Veiga. A resposta do economista: “no próximo artigo sobre o tema serei mais didático, para que pessoas como ele também consigam entender.” Mas também os especialistas não entenderam. Ex-diretores da Seade e do Dieese ficaram inconformados.
Martoni foi taxativo: “estou estarrecido com o atrevimento e a falta de respeito do Zé Eli. A crítica dele revela uma base tecnicamente equivocada, preconceituosa. É preciso dominar a metodologia minimamente para criticá-la. O problema não é discutir a metodologia, mas a arbitrariedade com a qual ele trata do assunto”.
Barelli também: “o artigo do Veiga foi muito ofensivo. Não sei o motivo de ele estar tão transtornado. É uma tempestade em copo d’água. Ele transformou uma questão técnica em política”. Mas duvida de que a pesquisa e a parceria sejam interrompidas, pois a Fundação Seade está sem recursos e mudar a metodologia sem ajuda do Dieese custaria caro.
Segundo Barelli, pesquisadores da OCDE – organização dos governos dos países industrializados – estiveram no Brasil há pouco mais de um ano e concluíram que a metodologia do Dieese se adapta à nova realidade do mercado de trabalho europeu.
A pesquisa, explica Martoni, foi planejada tanto para ser comparável com as de outros países – o desemprego “aberto” do Dieese está de acordo com o padrão tradicional da Organização Internacional do Trabalho – quanto para dar conta das falhas do sistema de proteção social.
Em um estado de bem-estar social que funcione a contento, o desempregado recebe indenização e seguro-desemprego que lhe permitem procurar emprego sem precisar de bicos. A fronteira entre emprego e desemprego é inequívoca: quem não procura emprego ou não solicita seguro-desemprego não é contado como desempregado.
Mas na realidade que sempre foi vivida nos países periféricos – e que muitos países industrializados, mesmo sem dar jabuticabas, também começam a enfrentar – muitos trabalhadores jamais estiveram no lado formal da economia ou gozaram de qualquer tipo de proteção.
Poucos podem sobreviver por muito tempo apenas procurando emprego. A maioria se vira com bicos ocasionais ou outras alternativas precárias de sobrevivência e pode abandonar por muito tempo a procura de emprego, embora permaneça disponível para isso se perceber melhora no mercado de trabalho.
Nesta realidade, a zona cinzenta, entre emprego satisfatório e desemprego aberto, é particularmente decisiva. Ao analisá-la, não há como deixar de perceber que o problema é amplo e estrutural. As soluções teriam de ser buscadas em políticas de geração de emprego (crescimento econômico, serviços públicos, ampliação do mercado consumidor via distribuição de renda) ou de formas alternativas e aceitáveis de ocupação (reforma agrária, organizações sem fins lucrativos).
Decidir ver só o desemprego “aberto” – pessoas à procura de emprego – permite interpretá-lo como mera ineficiência do mercado, uma variável como a taxa de juros ou outra qualquer. Nessa visão, sempre há vagas, mas os trabalhadores não estão preparados, não sabem que existem, ou são impedidos de ocupá-las pelas leis do trabalho. Bastariam medidas pontuais de flexibilização, qualificação e intermediação da mão-de-obra, ou reduzir pisos salariais e direitos trabalhistas. Cegueira voluntária é uma opção ideológica.
Felizmente, não o governo de São Paulo fez outra escolha. O governador declarou às centrais sindicais que apoiava o convênio com o Dieese e ordenou que a publicação da pesquisa, suspensa desde o início da embrulhada, fosse retomada no formato habitual. No dia 25, Eli da Veiga demitiu-se e foi publicada a pesquisa de maio, que voltou a mostrar desemprego total de 20,6% em São Paulo.
Num melancólico epílogo ao caso Eli da Veiga, de volta ao Valor na terça seguinte, queixou-se da desorientação do governador que ordenou que o Seade mantivesse a “soma burra” que faz com que jovens “que vivem com a ‘mama’” sejam contados como desempregados só porque dizem estar em busca de algo melhor e do presidente que se preocupa com o primeiro emprego. Talvez só recupere o bom-senso se algum dia for assaltado por um jovem desempregado.
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http://www.zeeli.pro.br/artigos_valor/014_2003_06_03.htm
São Paulo: da garoa à mistificação do desemprego
José Eli da Veiga
[A mistificação que precisa ser denunciada é a estranha somatória de “aberto” com “oculto” para se chegar a um desemprego dito “total”.]
Valor, terça 03/06/03
Muita gente está alarmada com o noticiário sobre o desemprego. Com razão, pois manchetes que anunciaram taxa recorde de 20,6% – ou de 1.941.000 desempregados somente na metrópole paulista – foram incansavelmente destacadas em centenas de programas de televisão e de rádio, além de terem sido estampadas em letras monumentais por vários jornais diários. E coisa tão repetida só pode ser verdade, não é? Felizmente a resposta é negativa. No release distribuído à imprensa pela Fundação Seade (disponível em www.seade.gov.br) nota-se facilmente que se trata de um modo muito peculiar, embora recorrente, de interpretar os resultadosmensais de sua excelente Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Uma distorção que por desejo do Dieese vem sendo praticada desde 1985, e caminha em direção diametralmente oposta aos padrões adotados no resto do mundo.
Em abril de 2003, a taxa de desemprego propriamente dita (do “aberto”, no jargão técnico) chegou a 13,6% na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Ela deve ser comparada com a de abril de 2002, que foi de 13,3%. Um ligeiro aumento que não justifica tanto susto. Além disso, a PED também mede um outro fenômeno, bem diferente, chamado por aqui de “desemprego oculto”, composto principalmente por pessoas que estão realizando algum trabalho irregular (como por exemplo, a ajuda a negócios de parentes), mas que simultaneamente declaram estar em busca de outra atividade. Essa segunda variável, que revela principalmente a situação de trabalhadores sujeitos a ocupações precárias, teve uma trajetória diferente: passou de 7,1% em abril de 2002 para 7,0% em abril de 2003.
A essência da mistificação que precisa ser denunciada é essa estranha somatória de “aberto” com “oculto” para se chegar a um desemprego dito “total”, de 20,6%. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde as pesquisas oficiais sobre desemprego são muito mais sofisticadas, divulgam-se sete taxas diferentes, mas só se aceita a agregação das cinco primeiras, que são justamente as que não incluem o que se chama por aqui de “desemprego oculto”. O “conventional unemployment rate” não incorpora taxas de subemprego (“part time”) e de desalento (“discouraged”), os dois ingredientes do dito “oculto”. E é assim que se faz em toda terra que não dá jabuticaba: divulgam-se todas as medidas, mas não se totaliza alhos com bugalhos.
Outras coisas também precisam ser esclarecidas para que se combata o vírus alarmista sobre um suposto aumento catastrófico do desemprego. Há pelo menos dois outros fatos que não podem ser ignorados por quem repudia demagogices. O primeiro diz respeito à importância relativa da RMSP na economia paulista, e o segundoaos contrastes da evolução do desemprego dentro dela.
O interior paulista, e principalmente algumas de suas principais aglomerações urbanas não-metropolitanas, têm apresentado um desempenho econômico bem superior ao da RMSP. Só não sabe disso quem não tomou conhecimento do estudo realizado pela Fipe para a Secretaria de Economia e Planejamento, intitulado “Evolução Econômica das Regiões do Estado de São Paulo”. Na segunda metade da década de 1990, a movimentação econômica cresceu três vezes mais nas regiões polarizadas por São José dos Campos, Marília e Sorocaba, e duas vezes mais nas de São José do Rio Preto, Campinas e Presidente Prudente. Em termos de dinamismo, a RMSP só superou 3 das 14 regiões do interior paulista. E no final dos anos 1990 ela até passou ao penúltimo lugar, só ganhando da região essencialmente pecuária de Araçatuba...
Infelizmente ainda não se dispõe de resultados semelhantes para o início dos anos 2000. Principalmente devido a dificuldades com a obtenção de um dos mais significativos indicadores da atividade econômica: o consumo setorial e residencial de energia elétrica. Por isso, todos os estudiosos da economia paulista, a começar pelos que se dedicam ao planejamento governamental, só podem aplaudir a iniciativa já tomada pela Secretaria de Energia de recuperar rapidamente a coleta desses dados para os anos faltantes.
O segundo fato que deve merecer atenção de quem quiser fazer uma leitura rigorosa dos resultados da pesquisa (PED) é o contraste que se estabeleceu entre oscomportamentos do emprego no município de São Paulo e no restante da RMSP. Apesar de ter sido destacado no “release” distribuído pela Fundação Seade, esse fato foi inteiramente desprezado pelo Dieese na coletiva de imprensa que gerou as manchetes da semana passada. Mas é fundamental notar que o desemprego (“aberto”) vem aumentando muito mais na capital do que no seu entorno metropolitano. Nos últimos 12 meses, enquanto o desemprego aumentou 4% na capital, no conjunto dos outros 37 municípios metropolitanos ele só aumentou 1,4%. Paralelamente, a insatisfação com trabalhos precários – também impropriamente somada ao desalento para obter o tal “oculto” – ficou constante na capital, enquanto caía 2,7% no restante da RMSP.
Se a economia metropolitana está em relativa retranca, e se a relação entre procura e oferta de trabalho piora menos em concentrações suburbanas como o ABC, Guarulhos ou Osasco, isto só pode ser sinal de que há dimensões da tão falada “reestruturação produtiva” que ainda não foram bem detectadas, e sobre as quais não se deve especular. Todavia, uma coisa está clara: é desaconselhável dar bola para uma abusiva taxa de desemprego “total” – e ainda restrita exclusivamente à metrópole paulista – pois ela acaba ludibriando e assustando dezenas de milhões de brasileiros em busca de informação pelo rádio, televisão, jornais diários, ou revistas semanais.É revoltante que esse tipo de miopia tire o sono dos governantes, sejam eles federais, estaduais ou municipais, sejam eles do partido A, B ou C. Pior: é lamentável que essa estranha mistificação seja alimentada pela imaturidade do movimento sindical. Mais do que tudo é imprescindível que o Ministro do Trabalho Jacques Wagner não se deixe desorientar por essa doença infantil do petismo.
José Eli da Veiga, professor titular da FEA-USP, Diretor Executivo da Fundação Seade, e autor de Cidades Imaginárias (Ed. Autores Associados, 2002), escreve quinzenalmente às terças-feiras. Home page: http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/
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http://www.zeeli.pro.br/artigos_valor/016_2003_07_01.htm
Onde está a caixa-preta do desemprego
José Eli da Veiga
[É óbvio que o alívio do desemprego deveria começar pelos chefes de domicílio, e não por seus filhos. Quem inverte esta ordem está na contramão.]
Valor, terça 01/07/03
O desemprego é uma flagrante manifestação da desigualdade. Mesmo que fosse possível compensar a perda de renda que provoca, continuariam gravíssimos os seusefeitos sobre a vida dos indivíduos e de suas famílias. Há provas abundantes de que seus impactos são vastos e abrangentes: dano psicológico, perda de motivação para o trabalho, perda de habilidade e autoconfiança, aumento de doenças e morbidez, perturbação das relações familiares e da vida social, intensificação da exclusão, acentuação das assimetrias entre os sexos, e assim por diante. É difícil achar uma mazela social mais grave. Além de estampar a desigualdade, o desemprego é a pior faceta da pobreza e da miséria. E ninguém esqueceu que a geração de 8 ou 10 milhões de empregos até 2006 se tornaram as principais bravatas eleitorais de 2002.Nada poderia ser mais benéfico ao Brasil do que alcançar pelo menos uma boa fração desses sonhos.
Todavia, é pura ilusão supor que milhões de empregos surgirão por obra e graça do tal “espetáculo do crescimento”. Há estilos de crescimento que criam pouquíssimos empregos. E são desconhecidos os fundamentos que podem fazer com que um próximo impulso seja profícuo em novas oportunidades de ocupação e geração de renda. Daí a dramaticidade das informações sobre as características do desemprego. O que se costuma ler nos jornais quando instituições como o IBGE ou a Seade divulgam suas pesquisas mensais são simplificações que só reforçam a fracassomania. Não porque essas pesquisas sejam de má qualidade. Muito pelo contrário, são ótimas. Mas a divulgação dos resultados é tão obtusa que só piora a ingenuidade pública a respeito dessa colossal tragédia que é o desemprego.
Por exemplo: na sexta-feira os jornais disseram que a taxa de desemprego de maio atingiu 12,8%, segundo o IBGE. Basta um mínimo de atenção aos resultados dessa excelente pesquisa mensal para perceber que se trata tão somente de uma taxa aproximada do desemprego no arquipélago metropolitano. Isto é, em apenas um terço do país, e justamente em seu pior terço, que se tornou demasiadamente congestionado por absorver a maior parte do excedente de mão-de-obra sem qualificação. Por razões sobejamente conhecidas, houve simultânea redução das necessidades de trabalho humano nos parques industriais em torno do qual se formaram essas metrópoles. No caso da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), de longe a mais representativa, o atual nível de emprego industrial é somente 4/5 do que foi em 1985. Esse encolhimento foi parcialmente contrabalançado em outros setores – principalmente nos serviços – fazendo com que, em quase 18 anos, a ocupação total da RMSP crescesse (irrisórios) 36%. Pior: as características das ocupações dos serviços, comércio, e outros, nada têm a ver com aquele trabalho regular e a tempo integral, que constituía o padrão da chamada “Era de Ouro” (1948-1973). Muitas das novas ocupações do setor terciário tendem a ser irregulares, de tempo parcial, instáveis, e pior remuneradas. Por isso, além de refletir apenas o terço metropolitano do país, a PME do IBGE não capta essa profunda mudança das características do emprego.
Ora, uma das principais qualidades da não menos excelente pesquisa mensal de emprego e desemprego na RMSP (PED), realizada exclusivamente pela Fundação Seade – mas divulgada sob a batuta do anfíbio Dieese – está justamente em não se restringir ao desemprego integral, pois mede também a procura de trabalho dos economicamente ativos que mantêm ocupações irregulares e precárias. Lamentavelmente, esta vantagem da PED acaba sendo diluída na geléia geral que resulta de sua adição ao desemprego integral (ou “aberto”). Eles são diferentes por muitas razões, entre as quais se destaca o comportamento na procura de emprego. Quem está inteiramente desempregado, é forçado a aceitar o que surgir, pois não tem escolha. Quem está parcialmente desempregado tende a comparar eventuais ofertas com sua situação básica. Costuma não compensar, por exemplo, uma oportunidade de trabalho que obrigue a pessoa deixar de morar na casa dos pais, além de largar um“quebra galho”. Muitos jovens vivem com a “mama”, estudam à noite, fazem “bicos” diurnos, mas são contados como desempregados, assim que declarem estar em busca de algo melhor, o que mais costuma ocorrer nas férias, no Natal, ou quando urge comprar um par de tênis...
Para não acreditar no conto macabro de que mais de um quinto da população economicamente ativa da RMSP é formada por desempregados, torna-se necessáriodispor de algumas chaves de leitura dos resultados da pesquisa da Fundação Seade. Por exemplo: a leve queda do chamado “desemprego aberto”, de 13,6% em abril para 13,4% em maio, apesar de ínfima, tem um significado muito especial. É em maio que tradicionalmente o desemprego começa a recuar. Esse movimento sazonal não é obrigatório, mas ocorre em anos “normais”, além de ser bem acentuado nos anos bons. Em anos de vacas magérrimas – como foi o de 1999 – a taxa não recua em maio, e continua alta nos meses posteriores. Como o panorama econômico deste primeiro semestre de 2003 é dos piores, era inevitável o temor de uma repetição do perfil de 1999, o que – felizmente – não está ocorrendo. Além disso, é preciso frisar que o resultado de maio é uma média trimestral março/maio. A queda efetiva da taxa de desemprego deve ter sido maior que dois pontos depois da vírgula. Enfim, o desemprego continua muito alto, mas é bom presságio essa leve queda dochamado “aberto” no mês de maio.
Last but no least, é crucial saber que entre os chefes de domicílio a taxa desse desemprego “aberto” está em 6,5% (menos de um terço da fictícia taxa de desemprego “total” da RMSP). E aqui fica escancarada a desorientação de dois dirigentes governamentais. Enquanto Geraldo Alckmin ordena que a Seade mantenha a “soma burra”, Lula lança um programa para o primeiro emprego, quando é óbvio que o alívio do desemprego deveria começar pelos chefes de domicílio, e não por seusfilhos. Quem inverte esta ordem pegou a contramão. Precisa ser introduzido, com urgência, às idéias do Nobel Amartya Sen.
Em suma, é para dar outras informações preciosas sobre estas questões que acaba de surgir uma seção “Seade rima com verdade” na página web do signatário:http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/
José Eli da Veiga, professor titular da FEA-USP e autor de Cidades Imaginárias (Ed. Autores Associados, 2002), escreve quinzenalmente às terças-feiras. Home page: http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/
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http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/02/26/marina-silva-critica-relacao-do-governo-lula-com-venezuela-cuba-ira-nao-podemos-compactuar-com-subtracao-da-liberdade-915943643.asp
Publicada em 26/02/2010
NO RÁDIO
Marina Silva critica relação do governo Lula com Venezuela, Cuba e Irã: ‘Não podemos compactuar com a subtração da liberdade’
O Globo; CBNReuters
RIO – A senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do PV à sucessão presidencial, criticou nesta sexta-feira, em entrevista à rádio CBN, a política externa do governo Lula em relação à Venezuela, a Cuba e ao Irã. Ao comentar os laços do Brasil com o presidente Hugo Chávez, que apoia a candidatura da ministra Dilma Rousseff, Marina disse que não se pode “compactuar com a subtração da liberdade”. ( Ouça a íntegra da entrevista no blog da Lucia Hippolito )
Nós não podemos, em hipótese alguma, compactuar com a subtração da liberdade, do direito de expressão, da livre forma de pensamento
– Não podemos ficar reféns dessa combinação que é um pouco preocupante, da democracia representativa com a democracia direta. No caso da América Latina, a Venezuela tem uma ênfase plebiscitária que pode colocar em risco a alternância de poder, a subtração de liberdade. Nós não podemos, em hipótese alguma, compactuar com a subtração da liberdade, do direito de expressão, da livre forma de pensamento – destacou ela, durante entrevista à âncora Lucia Hippolito.
De acordo com a senadora, Cuba também precisa se abrir para a democracia.
Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão
– A revolução contribui com alguns aspectos? Contribuiu e muito. Agora, é o fim da história? Não é. Existe um desafio ali? Existe. Qual é o desafio? É de que Cuba precisa se abrir para o mundo, precisa se transformar numa a democracia. Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão – analisou Marina, que ao sair do estúdio acrescentou que alguns princípios básicos não podem ser relativizados pelo governo brasileiro:
– A defesa da liberdade, dos direitos humanos e de expressão precisam ser defendidos como um valor. No caso de Cuba, essas liberdades estão sendo cercadas e com graves problemas que causam constrangimento para aliados de Cuba. Os que silenciam não estão ajudando para que Cuba avance rumo à democracia.
– Se isso é importante para o Brasil e para os brasileiros, por que não é importante para os cubanos? – questionou.
A política do governo Lula em relação ao regime cubano e as supostas violações de direitos humanos cometidas na ilha também foram alvos de críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nesta sexta-feira.
– Sempre fui contrário ao embargo a Cuba, que já mostrou que não deu resultado. Mas, acho que temos que ter uma posição bastante firme na questão dos presos políticos e direitos humanos. Uma coisa não está conectada a outra – disse FH, após evento da ONG Viva Rio na capital fluminense.
Nesta semana, o preso político Orlando Zapata morreu na ilha após greve de fome de mais de 80 dias. O presidente Lula, que visitava o país na ocasião, foi alvo de críticas da oposição por seu silêncio diante do ocorrido.
Durante a entrevista, Marina Silva criticou ainda a postura do governo Lula em relação ao Irã. O Brasil defende o direito iraniano de manter um programa nuclear, desde que para fins pacíficos, e discorda das sanções ao país islâmico no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Temos essa atitude do presidente Lula em relação ao Irã, que não está sendo entendida por ninguém no mundo, nem mesmo pelo Sarkozy
– Temos essa atitude do presidente Lula em relação ao Irã, que não está sendo entendida por ninguém no mundo, nem mesmo pelo Sarkozy, que é um parceiro do presidente Lula. É um país democrático e ocidental que está se colocando uma forma que não está sendo compreendida nem internamente, nem externamente – afirmou.
Na semana que vem, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, visitará o Brasil num esforço diplomático a fim de convencer o governo Lula a mudar sua posição de resistência à aprovação de sanções contra o Irã na ONU.
Marina Silva reconheceu, no entanto, que há avanços em alguns aspectos da política externa do governo Lula. E destacou a relação do Brasil com os Estados Unidos.
– Na relação com os Estados Unidos, eu diria que temos uma coisa muito positiva. O Brasil não é um país caudatário, os Estados Unidos não têm razões para nos olhar com desconfianças. Estamos ali construindo uma relação cada um do tamanho que tem, mas uma relação de respeito sobre o papel que cada um pode desempenhar, inclusive no papel que o Brasil desempenha no contexto da América Latina – avaliou.
Para ela, o presidente Lula também inovou ao combinar a diplomacia clássica, do Itamaraty, com uma diplomacia palaciana.
– O presidente Lula inovou em parte com algumas coisas, combinando a diplomacia clássica, do Itamaraty, com uma diplomacia palaciana. Isso sem errar na medida para não criar um desequilíbrio para a diplomacia palaciana e as ações de Estado do Itamaraty. Isso pode ser uma inovação boa porque existem alguns temas que, historicamente, vinham sendo tratados de forma muito reativa.
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http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/05/marina-diz-que-ira-quer-fazer-bomba-atomica.html
25/05/2010 15h06 – Atualizado em 25/05/2010 15h14
Marina diz que Irã quer fazer a bomba atômica
Para pré-candidata do PV, Irã usa Brasil para ganhar tempo.
Marina concedeu entrevista depois de participar de sabatina da CNI.
Robson Bonin Do G1, em Brasília
A pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, criticou nesta terça-feira (25), depois de participar da sabatina da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a posição da diplomacia brasileira de apoiar o projeto nuclear iraniano. Marina disse enxergar com preocupação a relação do Brasil com o regime iraniano e afirmou que o presidente Mahamoud Ahmadinejad “quer fazer a bomba atômica”.
“Claro que todos vemos com preocupação (a relação do Brasil com Irã). Temos que ter muito cuidado para não dar audiência a um governante que não respeita direitos humanos, que tem presos políticos, nega o holocausto , uma série de questões que são inaceitáveis. O Brasil é a única democracia ocidental que está dando audiência para o Ahmadinejad”, afirmou Marina. “Se, de fato, tiver uma posição do Irã de quebrar o paradigma histórico de que eles querem construir a bomba atômica, será bom. Agora, temos que ficar bastante atento, porque, na prática, o que eles querem, no meu entendimento, é fazer a bomba atômica. E estão tomando medidas protelatórias para ganhar tempo. E, obviamente, o Brasil, tendo uma cultura de paz, não pode compactuar com esse tipo de coisa”, complementou Marina.
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http://www.idelberavelar.com/archives/2010/10/o_que_dizem_os_votos_de_marina_e_como_conquistalos.php
erça-feira, 05 de outubro 2010
O que dizem os votos de Marina e como conquistá-los
Você pode discutir qual é o peso relativo dos três (não dois) grandes blocos de votos que contribuíram para os surpreendentes 20% de Marina Silva: 1) o voto estritamente marinista, verde, ecológico, que é crítico de algo maior que o PT, ou seja, de todo um paradigmadesenvolvimentista que, ironia das ironias, o PT veio a representar melhor que ninguém; 2) o voto “ético”-jovem-universitário-profissional-liberal-urbano, uma parte dele (a maior, me parece) composta por desiludidos com erros ou presepadas do PT, e a outra parte (menor, me parece) composta por eleitores movidos pelo episódio Erenice; 3) o voto evangélico que, por sua vez, tampouco é homogêneo, posto que formado de uma parcela—menor, creio—de votantes que já estavam com Marina e outra parcela—maior, creio—que foi mobilizada em termos anti-Dilma às vésperas da eleição. Num debate que teria, de preferência, que se realizar com atenção aos mapas relevantes, poder-se-ia discutir à exaustão qual é a contribuição de cada um desses segmentos para o resultado final.
O que me parece indiscutível é que somente este último, o voto evangélico, chega comoirrupção e acontecimento. Foi ele o grosso do voto não computado nas pesquisas. Isso me parece verdadeiro, mas não se pode pular daí para a afirmação de que foi o atraso quem impediu a vitória dilmista no primeiro turno. Essa linha de análise é sempre muito rasa.
Para a campanha de Dilma, a tarefa é dupla. Por um lado, há que se entender os recados dados por todos os segmentos que votaram em Marina, para que a partir daí ocorra a negociação e o convencimento desse eleitorado. Esses recados têm densidade, têm conteúdo, aludem a fatos reais e não se limitam, de forma nenhuma, a uma suposta “Marina no colo da direita”. Jogar por aí é não entender o jogo. Por outro lado, há que se analisar quais foram os erros de campanha de Dilma que ajudaram a impedir a esperada vitória no primeiro turno. Fazer as duas coisas já não é fácil. Fazê-las simultaneamente é mais difícil ainda, pois a primeira—ouvir realmente oseleitores de Marina—exige humildade, proximidade e empatia. A segunda tarefa—fazer a autocrítica da campanha—exige inteligência, desprendimento, distância. São duas tarefas aparentemente contraditórias, que demandam posturas e capacidades opostas, mas elas são simultâneas e complementares.
O fascinante do resultado de domingo é que todo mundo errou. Se alguém aí previu que Marina venceria em Belo Horizonte, Maceió, Distrito Federal, Nova Lima, Volta Redonda, Vitória, Vila Velha e Niterói, além de praticamente empatar com Dilma em Natal e superá-la em Campina Grande, levante a mão, mostre um link com data anterior a 03 de outubro, que eu visto uma camisa do Flamengo ou do Cruzeiro aqui, a gosto do freguês. Todo mundo errou nas previsões, inclusive o vitorioso de domingo na eleição presidencial, que foi claramente o campo marinista. Por isso o futebol, na sua imponderabilidade, é o esporte que mais tem a ver com a política democrática. Sim, trata-se do velho clichê da caixinha de surpresas, mas também do dado menos óbvio de que o futebol é o menos contábil dos esportes, e se há uma mensagem relevante que a campanha de Marina tentou transmitir é a crítica à redução do mundo a uma lógica contábil. Quando gente como Ricardo Paes de Barros, José Miguel Wisnik, Alexandre Nodari eEduardo Viveiros de Castro coincidem numa candidatura que não é a sua, ou que não é a que você esperava que eles apoiassem, só um sectário muito desprovido de sensibilidade passaria à desqualificação sem uma escuta detida.
No campo dos erros, há que se destacar os estruturais, mais antigos, e os conjunturais, que se manifestaram de uma forma especialmente maluca nesta campanha. Os erros estruturais são parte do recado das urnas marinistas e não podem ser ignorados. O caso de Belo Horizonte é emblemático. Há exatos dois anos, o PT concluía 16 anos de governo de uma coalizão sua na cidade, com um prefeito que deixava o cargo com noventa por cento de aprovação. Esse prefeito, Fernando Pimentel, é diretamente associado a Dilma e é parte da cúpula de sua campanha. A cidade não tem qualquer tradição de antipetismo raivoso como aquele encontrado em partes de São Paulo e Porto Alegre. Como é possível que o resultado aqui tenha sido Marina Silva 39,9%, Dilma Rousseff 30,9% e José Serra 27,7%, num contexto de grande vitória da esquerda nas legislativas?
Essa parte me parece relativamente simples. As urnas disseram: “não gostamos das lambanças do PT-BH nas eleições de 2008 e do PT-MG em 2010, apesar de o PT ter governado bem a cidade. Votaremos em alguém que é suficientemente próxima aos ideais da bem sucedida prefeitura de 1992-2008, mas que se afastou do campo petista, em parte, por lambanças como essa”. Junte-se a esse recado mais estrutural a avalanche de desinformação e propaganda pra cima dos evangélicos nos últimos dias–essa avalanche realmente existiu—e você tem os ingredientes dos números que deixaram todos os junkies políticos belo-horizontinos de queixo caído. Os mesmos ingredientes se combinam em outras latitudes, como o Acre, um estado onde o PT tem fortíssimas raízes, elegeu o Governador e um Senador, mas no qual Dilma ficou empatada com Marina e bem longe de Serra. Se você é petista e não vê aí um recado além do “Marina está no colo da direita” ou do “Marina é a falência do movimento ecológico” (sim, isso foi escrito), sinto muito, você precisa ler a Flávia Cera.
É sabido que, por volta de dois meses atrás, um grupo de lideranças evangélicas procurou a campanha de Dilma, preocupadas com a disseminação de boatos e emails falsos. A campanha fez a “Carta ao Povo de Deus” e ficou por isso mesmo. Os programas de João Santana—excelentes, belíssimos, inovadores—não dedicaram um só minuto, no entanto, à refutação da pilha de spam religioso anti-Dilma disseminada para púlpitos e fiéis. A coordenação de internet não ofereceu respostas a isso. Preferiu brincar de Twitter e #ondavermelha. A campanha online foi feita à base do cada um por si, sem que se aproveitasse de forma coordenada a enorme base de recursos humanos da esquerda brasileira na rede.
Quando os evangélicos voltaram a procurar a campanha de Dilma, em setembro, o nível da loucura havia piorado sensivelmente. Algumas lideranças religiosas gravaram depoimentos de apoio à candidata petista, mas não houve uma resposta sólida e consistente da campanha. Os marqueteiros não são lá grandes fãs do potencial da rede e, por sua vez, a coordenação de internet de Dilma era pobre e fraca de ideias. É importante reconhecer isso sem que esse reconhecimento nos ensurdeça para o recado real das urnas marinistas, que transcende em muito o spam do ódio.
É evidente que temos que explicar que Michel Temer não é satanista. Aliás, podemos inclusive esclarecer que ele já fez pactos com o DEM mas, pelo que nos consta, com Satã nunca aconteceu. Mas é preciso fazer isso sem desmerecer ou desqualificar o recado dado pelas urnas marinistas em sua totalidade, sem reduzir o voto de Marina a qualquer um de seus blocos, muito menos o evangélico, justamente aquele que é mais conjuntural (apesar que não necessariamente menos numeroso) na constituição da identidade da sua candidatura.
Não há motivo para pânico. Marina tem muito mais a ver com Dilma que com Serra, e isso é o próprio Serra quem diz. Para nós, faltam 3 pontinhos. Para Serra, faltam quase 18. Marina sabe que coloca seu capital político em maus lençóis se apoiar alguém como Serra. Também sabe que não lhe interessa entregar nada de graça a Dilma agora, e há que se entender isso. É da política. Um petista reclamando que Marina não está agindo de forma a facilitar as coisas pra nós é como um lateral queixando-se de que um ponta o engana, fingindo que vai abrir o jogo para depois cortar para o meio. Ora, você tem que aprender a marcar. O jogo é jogado.
Ainda estamos bem, mas é preciso jogar com inteligência, humildade e decência e, acima de tudo, não deixar que nenhuma dessas qualidades atrapalhe as outras duas.
Escrito por Idelber às 04:55
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http://www1.folha.uol.com.br/poder/808214-sem-marina-pv-deve-anunciar-apoio-a-serra.shtml
02/10/2010 – 09h37
Sem Marina, PV deve anunciar apoio a Serra
BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Enquanto a presidenciável Marina Silva (PV) dá sinais de que ficará neutra num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), seu partido se inclina a apoiar o tucano, à revelia da candidata.
O presidente da legenda, José Luiz Penna, disse à Folha que descarta a neutralidade no segundo turno, caso Marina não esteja nele.
O PV é aliado do PSDB de Serra na maioria dos Estados, incluindo os três maiores colégios eleitorais: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A ala ligada ao PT é minoritária na sigla.
Outros dirigentes ouvidos pela reportagem dizem que a tese de apoio a Serra prevaleceria na executiva nacional do PV, que deve discutir o assunto no início da semana.
Segundo Penna, o desempenho de Marina fará o partido sair mais forte das urnas amanhã, mesmo que ela não vá ao segundo turno. Para ele, optar pela neutralidade seria desperdiçar este capital político nas negociações para o segundo turno.
“O que está em jogo é a nossa capacidade de influenciar o próximo governo. O PV não ficará neutro. A neutralidade seria uma forma de dar as costas ao processo democrático.”
Ele não quis manifestar preferência entre Dilma e Serra, embora integre a base de apoio ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), aliado do tucano, na Câmara de Vereadores de São Paulo.
Em São Paulo e Minas, o PV participa de governos estaduais do PSDB, e no Rio os tucanos apoiam Fernando Gabeira (PV) ao governo.
O candidato verde ao governo paulista, Fabio Feldmann, é fundador do PSDB e fez dobradinha com o tucano Geraldo Alckmin nos últimos debates. Ricardo Young (PV) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) fazem dobradinha na corrida ao Senado.
MARINA
Nos últimos dias, Marina subiu o tom contra Serra, o que foi interpretado por aliados como sinal de que ela não pretende apoiá-lo num confronto com Dilma.
Após o debate da Globo, ela disse que o tucano desconstruiu a própria imagem na campanha e será derrotado (leia texto nesta página).
A senadora tem repetido que não vê diferenças entre os dois oponentes, e passou a mirar mais em Serra nos debates para tentar ultrapassá-lo na disputa pelo segundo lugar nas pesquisas.
Um apoio a Dilma é descartado pelos aliados pelo histórico de brigas entre as duas no governo Lula. Assessores próximos de Marina tem aversão à petista.
Marina sairá das urnas com mais força no PV, mas controla apenas 10 dos 50 votos da executiva. Se o partido fechar apoio a Serra, diretórios pró-PT podem ser liberados a apoiar Dilma em Estados como Maranhão e Bahia.
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http://www1.folha.uol.com.br/poder/811622-pv-reage-e-ensaia-rebeliao-contra-marina-silva.shtml
08/10/2010 – 08h04
PV reage e ensaia rebelião contra Marina
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
As críticas de Marina Silva ao suposto apetite do PV por cargos, reveladas ontem pela Folha, provocaram uma rebelião no comando do partido. Próxima ao PSDB, a cúpula verde ameaça boicotar a convenção marcada para o dia 17 e anunciar apoio a José Serra na semana que vem, à revelia da ex-presidenciável.
Marina foi duramente atacada em reunião organizada às pressas pelo presidente da sigla, José Luiz Penna, em Brasília. Participaram cerca de 20 pessoas, algumas com cargos no governo paulista e na Prefeitura de São Paulo, administrada pelo DEM. A senadora não foi chamada.
No encontro fechado, o grupo de Penna acusou a candidata derrotada à Presidência de desrespeitar a cúpula do partido, ao qual se filiou em agosto de 2009.
“Todos ficaram indignados”. disse Marcos Belizário, secretário municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo. “Estou espantado. Acho um absurdo a pessoa comentar isso de seus dirigentes, seus colegas, das pessoas que se dedicaram à campanha dela.”
OFENSA
Segundo Belizário, aliado do prefeito Gilberto Kassab (DEM), Marina teria demonstrado desprezo pela direção partidária. “Do meu ponto de vista, foi uma grosseria dela. Eu me senti ofendido”, disse.
Os dirigentes traçaram uma estratégia para demonstrar poder e minar os planos da senadora, que tem indicado que pretende se declarar neutra no segundo turno.
Penna convocou uma reunião da Executiva Nacional do partido na próxima quarta-feira, em Brasília. O encontro pode precipitar a decisão da legenda, que havia sido adiada para o dia 17, a pedido da candidata derrotada.
Na Executiva, em que Marina tem apenas 10 de 60 votos, a tendência é pela aprovação do apoio a Serra, mesmo que os filiados sejam liberados para tomar outras posições em caráter pessoal.
Para reduzir a desvantagem numérica, a senadora havia convencido a cúpula partidária a transferir a decisão sobre o segundo turno a um colegiado mais amplo, com a participação de ambientalistas, religiosos e militantes do Movimento Marina Silva, incluindo delegados sem filiação ao PV.
Ontem, a Folha revelou que, em reunião fechada com aliados, Marina criticou o apetite de dirigentes do partido por cargos. Ela ironizou a notícia de que o PSDB ofereceria quatro ministérios em troca do apoio a Serra.
“Quatro ministérios pro PV… Caramba! Do jeito que tem gente aí, basta pensar num conselho de estatal, já estaria muito bom. Certo? Tem esse tipo de mentalidade”, disse a senadora.
Marina pretende divulgar hoje uma versão resumida de seu plano de governo, a ser entregue aos candidatos Serra e Dilma Rousseff (PT).
A senadora dá sinais de que pretende influenciar o debate eleitoral e arrancar compromissos dos dois presidenciáveis sem se comprometer com apoio a um deles.
Se a ideia for levada à frente, Marina dirá que deu sua contribuição ao país e que quem votou nela no primeiro turno agora pode julgar livremente as promessas de Dilma e Serra para fazer sua escolha. Na visão de aliados, a senadora poderia dividir seu eleitorado e perder o discurso de terceira via ao declarar apoio a PT ou PSDB.
Ontem, Marina cancelou reunião com a direção do PV e não fez aparições públicas.
A assessoria de Penna disse que ele não foi localizado.
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http://br.eleicoes.yahoo.net/noticias/4159/marina-silva-e-pv-declaram-independ-ncia-no-2-turno.html
17 de outubro de 2010 17:51
Marina Silva e PV declaram independência no 2 turno
reuters
Por Carmen Munari
SÃO PAULO (Reuters) – O Partido Verde decidiu neste domingo ficar neutro no segundo turno da eleição presidencial, em linha com a senadora Marina Silva (AC), ex-presidenciável que ficou em terceiro lugar na disputa.
Ao anunciar sua posição, Marina disse que tanto PT quanto PSDB fazem parte do conservadorismo na política brasileira.
Dos cerca de cem votantes na convenção do PV, apenas quatro declararam apoio a um dos candidatos que disputam o segundo turno, Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB). Além da Executiva do partido, participaram representantes da sociedade que estiveram ligados à candidatura de Marina.
A senadora, que preferiu chamar a posição de independência, leu uma carta aberta que será encaminhada aos dois candidatos.
“O fato de não ter optado por um alinhamento não significa neutralidade. Essa independência é a melhor maneira de contribuir com o povo brasileiro”, disse Marina sobre sua decisão.
Para Marina, PT e PSDB “se deixaram capturar pela lógica do embate” no cenário político. Ela mais uma vez comemorou a quebra do plebiscito no primeiro turno da eleição presidencial, em que contribuiu para que o pleito fosse para o segundo turno com os quase 20 milhões de votos recebidos.
“Paradoxalmente, PT e PSDB, duas forças que nasceram inovadoras e ainda guardam a marca de origem, na qualidade de seus quadros, são hoje os fiadores deste conservadorismo renitente que coloniza a política e sacrifica qualquer utopia em nome do pragmatismo sem limite”, disse.
A ambientalista deixou o PT no ano passado, após mais de 20 anos, pouco antes de anunciar sua candidatura à Presidência da República pelo PV. Ela vinha afirmando que as propostas de Dilma e Serra são muito semelhantes e que sua candidatura buscava uma terceira via.
“Os votos que me foram dados refletem o sentimento de superação de um modelo”, afirmou.
Pelas regras do partido, os filiados têm a opção de apoio a um dos candidatos, mas não podem se utilizar de símbolos da legenda em manifestações públicas. Já dirigentes do partido estão proibidos de se manifestar.
Políticos de destaque já declararam seu voto a um dos candidatos, como o deputado Fernando Gabeira (RJ), que reiterou apoio a Serra. Zequinha Sarney, deputado pelo Maranhão e filho do senador José Sarney (PMDB-AP), ficará ao lado de Dilma, assim como o cantor e compositor Gilberto Gil.
“Faço aliança com ele (Serra) há duas eleições”, justificou Gabeira à Reuters, referindo-se a suas candidaturas à prefeitura e ao governo do Rio de Janeiro.
As campanhas de Dilma e Serra receberam do PV uma agenda com 10 propostas. As respostas dos dois candidatos, enviadas por escrito, foram insuficientes para que o partido optasse por uma das duas candidaturas. No caso do PT, a própria candidata assina o documento. Por Serra, assina o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
“O texto de Dilma, embora com elementos que destoam do nosso pensamento, não fugiu à discussão. O texto de Sérgio Guerra não é programático, é confuso, feito às pressas”, disse o vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, durante a convenção.
Aplaudida no evento, a pastora evangélica Valnice Milhomens pregou uma nova candidatura de Marina daqui a quatro anos. “Pender para a esquerda ou para a direita é interromper o sonho de Marina 2014”, disse.
(Reportagem adicional de Luciana Lopez)
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http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/2010/vice-presidente/22021950-guilherme-leal.jhtm#resultado
Guilherme Leal (2010)
Dados pessoais do candidato
- Nome completo:
- Guilherme Peirão Leal
- CPF:
- 383.599.108-63 *
- RG:
- 4.105.990-6
- Data de nascimento:
- 22/02/1950
- Idade ao final de 2010:
- 60
- Município de nascimento:
- Santos /SP
- Nacionalidade:
- Brasileira Nata
- Sexo:
- Masculino
- Estado Civil:
- Divorciado(A)
- Grau de Instrução:
- Superior Completo
- Ocupação principal declarada:
- Empresário
- Certidões criminais:
- Baixar arquivo (ZIP)
* Saiba como checar o CPF dos políticos e sua situação fiscal
Dados eleitorais do candidato
- Cargo disputado:
- Vice-Presidente
- Nome na urna:
- Guilherme Leal
- Número eleitoral:
- 43
- Nome do partido:
- Partido Verde
- Sigla/ número do partido:
- PV /43
- Coligação:
- Partido Verde (PV)
- Situação da candidatura:
- Deferido
Declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral
Descrição do bem |
Valor do bem |
Imóvel Situado No Jardim Paulista |
R$ 1.754.400,00 |
Reserva De Usufruto De 2 Casas Jardim Europa |
R$ 1.593.718,00 |
Dois Terrenos No Município De Ilhabela |
R$ 21.195,00 |
Embarcação Tipo Lancha |
R$ 608.020,00 |
Direito De Uso E Construção Iate Clube De Santos E Marinas Nacionais |
R$ 127.866,00 |
Jazigo No Cemitério Morumbi |
R$ 3.900,00 |
Obras De Arte |
R$ 5.760.486,00 |
3.462.917 Ações Da Natura Cosméticos S/A. |
R$ 17.532.087,00 |
5.716.131 Ações E Afac Da Utopia Participações S.A. |
R$ 5.723.809,00 |
Usufruto S/ 6.007.680 Ações Utopia Participações S.A. |
R$ 2.002.560,00 |
Direitos Patrimonias Correspondentes A 10 Por Cento No Valor De 91.557.964 De Ações Da Natura Cosm. |
R$ 1.302.652,00 |
Quotas Da Apis Llc Em Delaware – Eua |
R$ 99.999.999,99 |
Quotas Da Apoena Adm. Participações Ltda. |
R$ 52.068.459,00 |
Quotas E Afac Na Modusvivendi Participações Ltda. |
R$ 35.713.279,00 |
Quotas E Afac Da Sg Debret Participações Ltda. |
R$ 13.014.686,00 |
Quotas E Afac Na Gpleal Adm. Participações Ltda. |
R$ 8.179.904,00 |
Quotas Da Dédalus Adm. Participações Ltda. |
R$ 7.534.256,00 |
Quotas Na Janos Com. Adm, Participações Ltda. |
R$ 3.300.722,00 |
Ações Da Biofílica Investimentos Ambientais S.A. |
R$ 3.000.000,00 |
Quotas Na Gpl Empreendimentos E Participações Ltda. |
R$ 1.001.946,00 |
Quotas E Afac Na Santa Tereza Desenvolvimento Imobiliário Ltda. |
R$ 438.443,00 |
Quotas E Afac Na Tec Invest Ltda. |
R$ 223.836,00 |
Empréstimos A Receber |
R$ 8.362.063,00 |
Depósito No Banco Itaú Europa Luxemburgo |
R$ 2.850.193,00 |
Depósito No Banco Itaú Europa Internacional – Miami Ofice |
R$ 356.686,00 |
Depósitos Em Conta Corrente No Banco Itaú |
R$ 2.667.049,00 |
Aplicações Financeiras Junto Ao Banco Itaú |
R$ 99.999.999,99 |
Aplicações Financeiras Junto Ao Credit Suisse Hedging Griffo |
R$ 12.226.372,00 |
Aplicações Financeiras Junto Ao Banco Santander |
R$ 6.118.850,00 |
Aplicação Finnaceira Junto Ao Bny Mellon |
R$ 2.336.160,00 |
Valor total dos bens declarados: |
R$ 395.823.596,98 |