Primeiro Encontro Presidencial Bilateral Dilma-Chávez

13/06/2011

No dia 6 de junho de 2011 ocorreu o primeiro encontro presidencial entre a presidenta Dilma e o presidente Chávez, em Brasília, após ter sido desmarcado várias vezes.

Ao contrário do que a mídia dizia, ficou claro que não há nenhuma antipatia entre os dois, pelo contrário, eles se dão bem e estão comprometidos em intensificar a cooperação e a integração entre os dois países.

Desde 2007, Lula e Chávez concordaram em se encontrar de 3 a 4 vezes por ano, mais ou menos uma vez a cada 3 meses.

No primeiro telefonema entre os dois, o Chávez propôs que eles se encontrassem uma vez a cada semestre e foi a Dilma que insitiu que queria manter os encontros a cada 3 meses.

A mídia no Brasil quase não noticiou o encontro, o único assunto era o Palocci.

A única notícia relacionada ao encontro era que o Chávez tenha falado “força” pro Palocci.

A seguir, a Declaração à Imprensa, o Comunicado Conjunto dos presidente e os Acordos que foram assinados.

Também segue as duas notas técnicas do IPEA na Venezuela sobre integração produtiva e infraestrutura.

No fim, o programa Impacto Económico, da TeleSur, sobre o encontro.

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http://blog.planalto.gov.br/parceria-entre-brasil-e-venezuela-aumentou-o-fluxo-comercial/

Segunda-feira, 6 de junho de 2011 às 15:59

Parceria entre Brasil e Venezuela aumentou o fluxo comercial

A presidenta Dilma Rousseff e o presidente Hugo Chávez durante declaração à imprensa no Palácio do Planalto. Foto: Roberto Stukert Filho/PR

A parceria entre Brasil e Venezuela foi destacada pela presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (6/6), durante declaração à imprensa, no Palácio do Planalto. Na companhia do presidente venezuelano Hugo Chávez, a presidenta brasileira classificou como importante o diálogo entre os dois países. Dilma Rousseff iniciou o pronunciamento dando “muchas gracias” pelo fato de Chávez ter aceito o convite para visitar o Brasil.

“Sua presença comprova a elevada estima e parceria estratégica que liga o Brasil e a Venezuela. Nosso diálogo sobre os pontos principais da agenda e todas as atividades e as cooperações que já realizamos juntos mostram como é produtivo e amplo os nossos interesses comuns. E mostra também o tamanho do esforço que temos que fazer para explorará-los.”

Ouça abaixo íntegra da declaração à imprensa ou leia aqui a transcrição:

Baixar arquivo mp3

A presidenta Dilma lembrou que os desafios ocorrem em todas as áreas, mas sobretudo no plano social. “Nós queremos promover a melhoria das condições de vida de nossos países”, contou. A presidenta diz ter certeza de que a Venezuela, com sua política interna, e o Brasil, por tudo que desenvolveu até então e a partir de agora por meio do plano Brasil sem Miséria, podem incrementar o intercâmbio regional.

No discurso, a presidenta lembrou também o crescimento do comércio entre os dois países. Ela fez questão de assegurar a importância das importações brasileiras do mercado venezuelano. Isso permitiu um crescimento, em 2010, de 43%. A presidenta destacou que a relação comercial só tem importância quando “ambos ganham”, ou seja, o comércio somente tem força quando os países se beneficiam.

Dilma Rousseff lembrou também as parcerias entre a Petrobras e a PDVESA e que os acordos entre as duas companhias resultarão numa ampla integração. Segundo disse, a dimensão e a abrangência dos investimentos das empresas dos dois países reforçam a confiança nestes mercados. A presidenta lembrou que durante séculos o Brasil esteve voltado para outros mercados e que atualmente começa a mudar o rumo. Ela disse que tratou deste assunto no encontro com o presidente Chávez.

Em seguida, a presidenta explicou sobre a importância que Brasil e Venezuela tratam o desenvolvimento nas regiões de fronteira nas áreas de energia elétrica, financeira e de tecnologia de informação. Ela frisou também que o Brasil aguarda com “grande expectativa” o processo de inclusão da Venezuela ao Mercosul.

Destacou também a atuação do presidente Hugo Chávez na volta do ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, ao país. Lembrou também da reunião de criação da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que acontecerá em 5 de julho, em Caracas.

Enquanto isso, Hugo Chávez destacou a importância do Brasil no contexto da América do Sul. Chávez explicou que a primeira vez que se encontrou com a presidenta Dilma “me roubou o coração”. Chávez contou que isso ocorreu em Caracas, quando a presidenta era ministra de Minas e Energia do governo do presidente Lula.

Após a declaração à imprensa, Dilma Rousseff e Hugo Chávez se deslocaram para o Palácio Itamaraty onde os convidados foram recebidos em almoço.

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http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/visita-ao-brasil-do-presidente-da-republica-da-venezuela-hugo-chavez-brasilia-6-de-junho-de-2011-2013-comunicado-conjunto

Visita ao Brasil do Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez – Brasília, 6 de junho de 2011

Comunicado Conjunto

Roberto Stuckert Filho/PR
Visita ao Brasil do Presidente da República da Venezuela, Hugo Chávez - Brasília, 6 de junho de 2011
06/06/2011 -A convite da Presidenta Dilma Rousseff, o Presidente Hugo Chávez Frías realizou visita oficial a Brasília, em 6 de junho de 2011.

Os Presidentes reafirmaram o caráter estratégico da parceria bilateral, tal como declarado em 2005, e manifestaram sua determinação em aprofundá-la.

Os Presidentes concordaram em continuar os Encontros Periódicos, que levaram a significativos avanços na relação bilateral.

Os Presidentes expressaram a sua satisfação com os acordos e projetos assinados, que refletem o compromisso dos dois Governos em fortalecer as relações bilaterais.

Ao final do encontro, os Presidentes:

I – COMPLEMENTAÇÃO ECONÔMICA, PRODUTIVA E COMERCIAL

Ressaltaram os expressivos números do comércio bilateral, que praticamente quadruplicou entre 2002 e 2008.

Manifestaram sua satisfação com a clara tendência de recuperação das trocas comerciais em 2010, revertendo a diminuição do ritmo de crescimento em 2009, em função da crise econômica mundial.

Reafirmaram sua intenção de promover um comércio mais equilibrado entre os dois países.

Saudaram, nesse particular, o aumento das importações pelo Brasil de produtos provenientes da Venezuela, que alcançaram US$ 832 milhões em 2010 (aumento de 43,16% em relação a 2009), maior valor dos últimos dez anos.

Registraram o estabelecimento, em agosto de 2010, da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral, que realizou sua segunda reunião em 6 de maio deste ano. Concordaram sobre a importância desse foro de encaminhamento das questões comerciais bilaterais.

Nesse sentido, reiteraram a importância de que as autoridades competentes cumpram todas as etapas previstas no “Memorando de Entendimento sobre Monitoramento do Comércio” com vistas ao aprofundamento das relações econômico-comerciais bilaterais.

Instruíram as áreas competentes a convocar, no segundo semestre de 2011, a III Reunião da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral.

Saudaram a realização, no dia 6 de maio, do “Primeiro Encontro Econômico, Produtivo e Comercial Brasil-Venezuela”, com o objetivo de realizar encontro de negócios com empresas e associações setoriais brasileiras.

Destacaram a importância da visita de uma missão empresarial brasileira durante os dias 29 e 30 de junho a Caracas, com o objetivo de explorar oportunidades concretas no marco da Gran Misión Vivienda Venezuela.

Congratularam-se pelos avanços alcançados no marco da cooperação entre a Corporação de Indústrias Intermediárias da Venezuela (CORPIVENSA) e a Fundação CERTI do Brasil para o desenvolvimento dos projetos de implementação e operação de fábricas de equipamentos para refrigeração industrial e para o processamento de alimentos.

Quanto à conveniência de seguir estimulando o equilíbrio nas relações comerciais bilaterais, destacaram as negociações em curso entre empresas dos dois países a respeito do fornecimento de diesel sulphur, coque, ureia e metanol venezuelanos ao mercado brasileiro.

Assinalaram a significativa participação de empresas brasileiras da área de infra-estrutura e energia em diversas obras na Venezuela.

Ressaltaram a importância de garantir a continuidade dos projetos em execução, que incluem hidrelétricas, estradas, trechos do metrô de Caracas, siderúrgica e indústria de processamento de alimentos, entre outros.

II – COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

Constataram um salto na intensidade e qualidade da cooperação bilateral, que passou a incorporar diferentes iniciativas inovadoras, implementadas por várias instituições brasileiras e venezuelanas.

1. Cooperação Caixa Econômica Federal (CAIXA) – Banco da Venezuela

Instruíram as autoridades competentes a:

• Continuar aprofundando a relação entre essas duas instituições nas áreas já estabelecidas (bancarização e desenvolvimento fronteiriço), bem como em novas vertentes, como produtos e serviços de comércio exterior;

• Implementar as ações previstas na mesa de trabalho CAIXA-Banco da Venezuela sobre atuação na fronteira, conforme diretrizes aprovadas na missão técnica a São Paulo, Boa Vista e Pacaraima, nos dias 15 a 21 de março de 2011;

• Somar esforços para a inauguração, ao longo de 2011, de mais de 200 correspondentes não bancários na cidade de Caracas e no estado Vargas.

2. Cooperação na área de habitação popular (CAIXA – Ministério do Poder Popular para Habitação e Vivenda-MPPHV e Ministério do Poder Popular para Ciência, Tecnologia e Indústrias Intermediárias – MPPCTII.)

Determinaram às autoridades competentes:

• Dar seguimento ao projeto de cooperação técnica “Apoio ao Plano de Desenvolvimento Sustentável para Favelas de Caracas”, mediante o teste, em San Agustín, da metodologia já elaborada em 2010;

• Dar início à cooperação da CAIXA com o Ministério do Poder Popular para Habitação e Vivenda na estruturação de um plano de financiamento habitacional nos moldes do programa “Minha Casa, Minha Vida”.

3. Cooperação Agropecuária (EMBRAPA – Instituto Nacional de Investigações Agrícolas-INIA)

Instruíram as autoridades competentes a:

• Promover a continuidade da participação da Embrapa em projetos de produção agrícola que contribuam para elevar a área plantada e a capacidade de produção de alimentos na Venezuela, em particular no que se refere à cooperação com o Ministério do Poder Popular para Agricultura e Terras na Missão Agrovenezuela e nos projetos a serem desenvolvidos em cooperação com o IPEA e Caixa, conforme os acordos assinados hoje com a PDVSA;

• Dar seguimento aos Acordos de cooperação firmados no encontro presidencial de agosto de 2010, em Caracas, em especial aqueles referentes ao combate à febre aftosa e ao distrito-motor de desenvolvimento no sul do estado Bolívar.

4. Cooperação em planejamento e políticas públicas (IPEA – Petróleos de Venezuela S.A.-PDVSA)

Determinaram às autoridades competentes:

• Dar continuidade à execução do “Programa de Trabalho de Cooperação entre o IPEA e a PDVSA para o Planejamento Territorial para o Desenvolvimento Integral da Faixa Petrolífera do Orinoco e da Área Gasífera do estado Sucre”, aprovado durante o presente encontro, que estende a cooperação entre o IPEA e a PDVSA até dezembro de 2012;

• Nesse sentido, destacaram a realização e divulgação do Informe Técnico Conjunto IPEA e Ministério do Poder Popular para Ciência, Tecnologia e Indústrias Intermediárias da Venezuela “Região Norte do Brasil e Sul da Venezuela: Esforço Binacional para a Integração das cadeias Produtivas”;

• Dar continuidade aos estudos sobre integração entre o Norte do Brasil e o Sul da Venezuela;

• Dar continuidade aos cursos de formação em planejamento e políticas públicas com apoio do IPEA e a participação de diferentes instituições venezuelanas;

• Realizar videoconferência, em junho de 2011, com participação de especialistas da CAIXA e de outros órgãos do Governo brasileiro e suas respectivas contrapartes venezuelanas, com o objetivo de intercambiar informações sobre o Cadastro Único dos Programas Sociais do Brasil e mecanismos semelhantes empregados na Venezuela.

5. Cooperação técnica

Destacaram a negociação e início da execução dos seguintes projetos, além do projeto de Desenvolvimento Sustentável de Favelas: (i) Produção de Mandioca nos estados Venezuelanos Anzoátegui e Monagas; (ii) Produção de Mudas e Beneficiamento Ecológico de Café; (iii) Desenvolvimento de Tecnologias Alternativas para o Processamento de Cítricos em Pequena Escala; (iv) Desenvolvimento Institucional do Instituto de Altos Estudos de Saúde Pública Dr. Arnoldo Gabaldón; (v) Apoio Técnico para Implantação e Implementação de Bancos de Leite Humano na Venezuela; (vi) Capacitação da Controladoria Sanitária da Venezuela em controle de produtos de consumo humano; (vii) Fortalecimento da Vigilância e Controle dos Resíduos e Contaminantes nos Alimentos; e (viii) Fortalecimento da Sanidade Agropecuária na República Bolivariana da Venezuela.

6. Cooperação em matéria de indústrias básicas e mineração

Acordaram avançar em ações concretas na área técnica e produtiva, a fim de suprir os requerimentos de cal agrícola tanto do Estado de Roraima como de outros Estados do Norte do Brasil;

Saudaram as conversações entre o Ministério de Minas e Energia do Brasil e o Ministério do Poder Popular para as Indústrias Básicas e Mineração da Venezuela, a fim de estabelecer cooperação voltada à integração produtiva na área de exploração mineral, de maneira a fortalecer o desenvolvimento dessa importante área econômica.

III – EIXO AMAZÔNIA-ORINOCO (NORTE DO BRASIL – SUL DA VENEZUELA)

Ressaltaram que os estados do Norte do Brasil e do Sul da Venezuela têm economias complementares, de maneira que a integração das cadeias produtivas das duas regiões beneficiará as populações locais.

Nesse contexto, instruíram as autoridades competentes a:

• Realizar o II Seminário, em Puerto Ordaz, a fim de complementar as propostas do I Seminário, realizado em Manaus, e subsidiar a formulação de um Plano de Desenvolvimento Integrado para as regiões que promova os fluxos comerciais e o estabelecimento de alianças e encadeamentos produtivos entre os países;

• Seguir com o cronograma de videoconferências entre o Ministério do Poder Popular para a Ciência, Tecnologia e Indústrias Intermediárias venezuelano e a SUFRAMA para a identificação de oferta e demanda de produtos para a ampliação dos fluxos comerciais com vistas à integração produtiva entre os dois países;

• Incorporar ao cronograma de videoconferências outras instituições do governo venezuelano, tais como o Ministério do Poder Popular para as Indústrias Básicas e Mineração e o Ministério do Comércio;

• Avançar nos estudos para o aproveitamento da complementaridade de regimes hidrológicos entre o norte do Brasil e o sul da Venezuela, para a geração de energia elétrica, com vistas à futura interconexão de sistemas de transmissão de eletricidade.

Saudaram a inauguração da segunda etapa (trecho Manaus-Boa Vista), no dia 11 de fevereiro de 2011, da interconexão fronteiriça entre ambos os países, reconhecendo os esforços da parte venezuelana para permitir que aproximadamente 2,4 milhões de cidadãos brasileiros tenham a possibilidade de se conectar à internet com banda larga de alta velocidade.

IV – TEMAS FRONTEIRIÇOS E CONSULARES

Reafirmaram a importância da fronteira como espaço de integração real entre os dois países. Manifestaram satisfação com os avanços obtidos no desenvolvimento da fronteira, bem como os avanços em aspectos consulares, com impacto direto na melhoria das condições de vida da população que vive na região fronteiriça.

1. Dispensa de Uso de Passaportes

• Congratularam-se pela implementação, a partir de dezembro de 2010, da dispensa de passaportes para viagens entre Brasil e Venezuela, no marco do Acordo sobre Documentos de Viagem do MERCOSUL (Decisão 18/08);

• Instruíram as autoridades competentes a dar publicidade à implementação do Acordo sobre dispensa de passaportes (Decisão 18/08) para viagens de turismo entre o Brasil e a Venezuela.

2. Grupo de Trabalho sobre Desenvolvimento Fronteiriço (GTDF)

• Ressaltaram a importância da retomada das atividades do GTDF, que realizou reuniões anuais em 2008, 2009 e 2010 e determinaram às autoridades competentes realizar a próxima reunião do GTDF no segundo semestre de 2011, na Venezuela.

3. Subgrupo de Trabalho sobre Saúde na Fronteira (STSF)

• Saudaram a criação do Subgrupo, que realizou duas reuniões em 2009, nas quais foram tratados temas como a atenção à saúde (sobre o qual está sendo elaborada pelo Brasil proposta de instrumento bilateral) e saúde indígena;

• Instruíram as autoridades competentes a realizar, na Venezuela, a III Reunião do Subgrupo, em data a ser definida no segundo semestre de 2011.

4. Acordos Fronteiriços

Congratularam-se pela:

• Assinatura, em abril de 2010, do Acordo de Localidades Fronteiriças Vinculadas , que concede os direitos de residência, acesso à educação pública e acesso a serviços e bens públicos de saúde em ambos os lados da fronteira aos cidadãos de Pacaraima e Santa Elena de Uairén;

• Assinatura, em agosto de 2010, do Acordo para o Estabelecimento de Regime Especial Fronteiriço, para simplificar e regulamentar o comércio de subsistência e o transporte entre as localidades de Pacaraima e Santa Elena de Uairén.

5. Atendimento às mulheres migrantes

• Saudaram a assinatura, em abril de 2010, de Acordo prevendo cooperação bilateral na matéria, bem como a instalação de centros de atendimento às mulheres migrantes dos dois lados da fronteira, já iniciada;

• Determinaram às autoridades competentes a dar seguimento à instalação dos centros de atendimento às mulheres migrantes em Pacaraima e Santa Elena do Uairén.

V – TEMAS SOCIAIS

Saudaram a realização da I Reunião Técnica do Gabinete Social Brasil-Venezuela, realizada em julho de 2010, que objetiva a realização de trabalhos conjuntos nos diversos temas sociais, tais como Proteção Social, Trabalho, Saúde, Direitos Humanos, Educação e Mulheres. Destacaram, ainda, a videoconferência, realizada em 16 de março último, que visou dar continuidade ao intercâmbio de informações e experiências na área social. Na videoconferência, foram identificadas algumas áreas de interesse para o trabalho conjunto: Cadastro Único, Ministério do Desenvolvimento Social; Estágio em Psiquiatria, Prevenção ao Uso do Crack e Gravidez na Adolescência, Ministério da Saúde; Economia Solidária e Combate ao Trabalho Infantil, Ministério do Trabalho e Emprego.

Instaram suas respectivas Chancelarias a definir, juntamente com os Ministérios competentes, as datas das referidas missões, a serem realizadas ao longo do segundo semestre de 2011.

VI – TEMAS REGIONAIS

Referiram-se com satisfação à perspectiva da pronta conclusão do processo de adesão da Venezuela ao MERCOSUL.

Manifestaram a importância do papel desempenhado pela União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) no processo de consolidação da América do Sul como espaço de paz, cooperação, democracia e crescimento com justiça social.

Destacaram que Brasil e Venezuela estão empenhados em obter resultados concretos em suas respectivas Presidências do Conselho de Infra-Estrutura e de Energia da UNASUL.

Saudaram a decisão, no âmbito da IV Cúpula Ordinária da UNASUL, realizada na cidade de Georgetown, em 26 de novembro de 2010, de aprovar o Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo da UNASUL sobre Compromisso com a Democracia. O Protocolo servirá como eficiente salvaguarda da estabilidade democrática na América do Sul.

Congratularam-se pela decisão de repartir os dois anos de mandato da Secretaria-Geral da UNASUL entre a colombiana María Emma Mejía e o venezuelano Ali Rodríguez Araque. Celebraram a investidura da Senhora María Emma Mejía como Secretária-Geral da UNASUL em evento realizado, na Guiana, no dia 9 de maio de 2011.

Tendo em vista a realização da III Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, nos dias 5 e 6 de julho de 2011, na Venezuela, manifestaram a importância de consolidar a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), como espaço para consultas políticas e promoção da cooperação entre os países da região.

A Presidenta Dilma Rousseff congratulou o Presidente Hugo Chávez pela mediação, juntamente com o Presidente Santos, do Acordo de Cartagena, que permitiu a volta do ex-Presidente Manuel Zelaya a Honduras.

A Presidenta Dilma Rousseff cumprimentou o Presidente Hugo Chávez, e, por seu intermédio, todo o povo venezuelano, pela celebração do Bicentenário da Independência.

O Presidente Hugo Chávez agradeceu a hospitalidade do povo e do governo brasileiro durante sua estada em Brasília.

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Atos assinados por ocasião da visita ao Brasil do Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez – Brasília, 6 de junho de 2011:

http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-presidente-da-republica-da-venezuela-hugo-chavez-brasilia-6-de-junho-de-2011

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http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=8377:ipea-aponta-oportunidades-na-integracao-brasil-venezuela&catid=6:dinte&Itemid=4

12/05/2011 08:47
Ipea aponta oportunidades na integração Brasil- Venezuela

Resultados da Missão do Instituto na Venezuela, os estudos foram lançados em seminário

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promoveu nesta quarta-feira, 11, o seminário Brasil – Venezuela: Integração Produtiva e de Infraestrutura. Durante o evento, o técnico de Planejamento e Pesquisa e titular da Missão do Instituto na Venezuela, Pedro Silva Barros, apresentou os primeiros resultados de dois estudos.  Participaram também do debate José Antônio Marcondes de Carvalho, embaixador do Brasil na Venezuela, e Maximilien Sánchez Arvelaiz, embaixador da Venezuela no Brasil.

A primeira pesquisa, intitulada A Integração de Infraestrutura Brasil-Venezuela: A IIRSA e o Eixo Amzônia-Orinoco, indicou ações de integração energética e dos sistemas de transporte que poderiam fortalecer os laços produtivos entre os dois países e reforçar o fluxo do comércio bilateral, que movimentou U$ 4,6 bilhões em 2010. De acordo com o documento, a principal medida a ser tomada seria a consolidação do eixo estratégico Amazônia-Orinoco.

Isso seria possível com a construção ou melhoria de infraestrutura rodoviária (recuperação da BR-174, que cruza os estados de Mato Grosso, Amazônia e Roraima até a fronteira com a Venezuela) e ferroviária (linhas férreas que liguem a faixa petrolífera de Orinoco e o Estado de Sucre ao Norte do Brasil), além do uso de hidrovias, aproveitando a conexão natural entre a Bacia Amazônica e a Bacia do Orinoco. Do ponto de vista energético, as exportações venezuelanas poderiam ser favorecidas pela construção de gasoduto unindo a área gasífera de Paria a Manaus.

“A integração entre a Bacia Amazônica e a Bacia de Orinoco possibilitaria à região mais carente em energia, transporte e comunicação acesso facilitado aos portos mais próximos das rotas internacionais estratégicas”, analisa o documento.

A integração das cadeias produtivas do Sul da Venezuela e do Norte do Brasil foi abordada na segunda pesquisa, resultado de uma parceria do Ipea com o Ministério do Poder Popular para Ciência, Tecnologia e Indústria Intermediárias (MCTI). Segundo Pedro Barros, existe um considerável potencial de complementação produtiva entre as duas regiões, mas que ainda é pouco explorado. “A principal relação da Venezuela com o Norte do Brasil é a importação de bovinos do Pará, sem nenhuma integração entre atividades”, comentou.

Como ações prioritárias, o estudo elegeu a reativação da cooperação entre a Zona Franca de Manaus e a Zona Franca de Puerto Ordaz e o estímulo a setores de interesse comum, como a construção civil, a produção agrícola e de fertilizantes e a mineração. “O Brasil, por exemplo, importa quase metade do seu consumo de fertilizantes de regiões distantes como a Rússia e Marrocos, sendo que existe na Venezuela potencial enorme de produção”, destacou o técnico do Ipea..

Relatórios:

Região Norte do Brasil e Sul da Venezuela: Esforço Binacional para a Integração das Cadeias Produtivas

(disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/110511_brasilvenezuela_integraprodutivas.pdf)

A Integração de Infraestrutura Brasil-Venezuela: A IIRSA e o Eixo Amazônia-Orinoco

(disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/110511_relat_brasilvenezuela_integrinfrestrutura.pdf)

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Programa Impacto Económico da TeleSur de 06/06/2011:

http://www.telesurtv.net/secciones/player_multimedia/index.php?ckl=21729&tipo=PRO&class=programas%2Fimpacto-economico

 

 

 

 

 

 


R.I.P Gil Scott-Heron

28/05/2011

Gil Scott-Heron combinava como ninguém uma grande qualidade musical com um discurso altamente politizado e crítico.

Poeta e músico, ele ainda se utilizava do humor e da ironia de um forma muito inteligente.

A primeira vez que eu ouvi um álbum do Gil Scott-Heron, aquilo mudou a minha vida. Eu me identifiquei profundamente com a música. Ali estava um exemplo de como a arte podia expressar todo o espírito de uma época e de uma luta, do contexto e da vida de um grande grupo de pessoas.

A música “Winter in America” é o maior exemplo disso.

“B Movie” também.

Ninguém exprimiu de forma melhor o sentimento dos ghettos dos Estados Unidos nas décadas de 70 e 80.

Uns dos criadores do Spoken Word, influenciado por artistas da Harlem Renaissance como Langston Hughes, o “Bluesologista” Gil Scott-Heron conseguia criar, pela música, algo que ele chamava de “Vibemosphere”, uma mistura de Vibration com Atmosphere, conseguindo passar verdadeiros sentimentos com suas criações musicais.

Sua poesia era às vezes chamada de Street Poetry. No documentário Black Wax, ele explica isso em uma cena de um show. Ele critica aqueles que acham que ser poético é escrever coisas que ninguém consegue entender. A poesia que ele queria fazer pretendia se comunicar com pessoas da rua e, portanto, não apenas tinha que falar de coisas que tinham a ver com a vida das pessoas, mas também tinha que fazê-lo de uma forma na qual as pessoas pudessem entender.

Seus Spoken Words “H2O G.A.T.E. Blues” e “Black History” são simplesmente fantásticos.

Seu livro “The Vulture” foi publicado em português pela Conrad e é um romance policial muito bom.

Gil Scott-Heron é mais conhecido pelo seu poema/música “The Revolution Will Not Be Televised”. Essa frase foi muito utilizada e é mais conhecida até do que ele. Muitos nem sabem que é dele.

Devido a sua forte crítica social, sua obra nunca foi reconhecida de forma merecida. Sua música estava no mesmo nível da dos maiores nomes do Soul e do Funk da época, mas seu sucesso foi muito menor.

A vida difícil de alguém que sempre lutou fez com que ele acabasse tendo problemas com drogas.

Recentemente ele havia se recuperado e até lançou um disco em 2010.

O mundo perde um de seus maiores artistas.

Abaixo, segue a sua discografia.

Segue, também, um documentário antigo sobre ele.

Além disso, posto várias músicas.

No fim, um artigo do The New Yorker muito bom, para quem quiser conhecer melhor quem foi Gil Scott-Heron. O artigo também é triste, pois mostra como era sua vida nos últimos tempos.

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Discografia:

Discography

Studio albums

Year Album Label
1970 Small Talk at 125th and Lenox Flying Dutchman Records
1971 Pieces of a Man Flying Dutchman Records
1972 Free Will Flying Dutchman Records
1974 Winter in America Strata-East Records
1975 The First Minute of a New Day Arista Records
1976 From South Africa to South Carolina Arista Records
1976 It’s Your World Arista Records
1977 Bridges Arista Records
1978 Secrets Arista Records
1980 1980 Arista Records
1980 Real Eyes Arista Records
1981 Reflections Arista Records
1982 Moving Target Arista Records
1994 Spirits TVT Records
2010 I’m New Here XL Recordings

Live albums

Year Album Label
1976 It’s Your World Arista Records
1990 Tales of Gil Scott-Heron and His Amnesia Express Castle Music UK/Peak Top Records
1994 Minister of Information: Live Peak Top Records
2004 The Best Of Gil Scott-Heron Live Intersound
2004 Tour De Force Phantom Sound & Vision
2004 Save The Children Delta Music
2004 Winter In America, Summer In Europe Pickwick
2005 Greatest Hits Live Intersound
2008 Live At The Town & Country 1988 Acadia / Evangeline Records

Compilations

Year Album Label
1974 The Revolution Will Not Be Televised Flying Dutchman
1979 The Mind of Gil Scott-Heron Arista Records
1984 The Best of Gil Scott-Heron Arista Records
1988 The Revolution Will Not Be Televised Bluebird Records
1990 Glory: The Gil Scott-Heron Collection Arista Records
1998 The Gil Scott-Heron Collection Sampler: 1974-1975 TVT Records
1998 Ghetto Style Camden Records
1999 Evolution and Flashback: The Very Best of Gil Scott-Heron RCA Records
2005 Gil Scott-Heron & Brian Jackson – Messages (Anthology) Soul Brother Records
2006 The Best Of Gil Scott-Heron Sony/BMG
2010 Storm Music (The Best Of Gil Scott-Heron) Phantom Sound & Vision

Bibliography

Year Title ISBN
1970 The Vulture 0862415284
1970 Small Talk at 125th and Lenox
1972 The Nigger Factory 0862415276
1990 So Far, So Good 0883781336
2001 Now and Then: The Poems of Gil Scott-Heron 086241900X
2003 The Last Holiday (unpublished) 1841953415

[edit]Filmography

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Documentário Gil Scott-Heron – Godfather of Rap:

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Músicas:

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http://www.newyorker.com/reporting/2010/08/09/100809fa_fact_wilkinson?currentPage=all

Profiles

New York Is Killing Me

The inlikely survival of Gil Scott-Heron.

by Alec Wilkinson

AUGUST 9, 2010

Scott-Heron performing in 1998. Photograph by Monique de Latour.

Scott-Heron performing in 1998. Photograph by Monique de Latour.

Gil Scott-Heron is frequently called the “godfather of rap,” which is an epithet he doesn’t really care for. In 1968, when he was nineteen, he wrote a satirical spoken-word piece called “The Revolution Will Not Be Televised.” It was released on a very small label in 1970 and was probably heard of more than heard, but it had a following. It is the species of classic that sounds as subversive and intelligent now as it did when it was new, even though some of the references—Spiro Agnew, Natalie Wood, Roy Wilkins, Hooterville—have become dated. By the time Scott-Heron was twenty-three, he had published two novels and a book of poems and recorded three albums, each of which prospered modestly, but “The Revolution Will Not Be Televised” made him famous.

Scott-Heron calls himself a bluesologist. He is sixty-one, tall and scrawny, and he lives in Harlem, in a ground-floor apartment that he doesn’t often leave. It is long and narrow, and there’s a bedspread covering a sliding glass door to a patio, so no light enters, making the place seem like a monk’s cell or a cave. Once, when I thought he was away, I called to convey a message, and he answered and said, “I’m here. Where else would a caveman be but in his cave?”

Recently, I arrived at his apartment while he was watching fight films with Mimi Little, whom he calls Miss Mimi. Miss Mimi helps run his affairs and those of his company, Brouhaha Music; the living room of his apartment is the company’s office. They were watching Muhammad Ali knock down George Foreman in the eighth round of the Rumble in the Jungle, in Zaire, in 1974. Scott-Heron was wearing baggy gray sweatpants, a red-and-white-striped polo shirt, and white socks, and he stood in front of the television, lifting one foot, then the other, as if the floor were hot. When Foreman collapsed, Scott-Heron pretended to be Ali chastising him as he lay on his back. “That’s the best you can do?” he said. “I had about enough of you.”

“It’s done now,” Little said.

“I thought you could hit,” Scott-Heron said. “You hit like a baby.”

A crowd flooded the ring. “Look at these silly people,” Scott-Heron said. A large black man in a blue blazer wrapped his arms around Ali from behind and lifted him, and Ali waved his arms like a cranky baby. “Brother try to pick up Ali here. He says, ‘Put me down.’ ”

All you could see then of Ali in the blending swarm was his head and shoulders, so he looked like a bust. “Ali’s thirty-two, having been exiled to nowhere,” Scott-Heron said. “Unbelievable odds. I like to see unbelievable odds, because that’s what I’ve been facing all these years. When I feel like giving up, I like to watch this.”

The phone rang, and Little answered. She said it was Kim Jordan, his piano player. Little covered the phone and said, “She wants to know what to practice.” Scott-Heron had a performance that week in Washington, D.C. He kept his eyes on the screen. “ ‘Lady Day and John Coltrane,’ key of A,” he said. “ ‘I Call It Morning,’ ‘Give Her a Call.’ ”

“He’ll give you a call,” Little said.

“No, that’s the name of the song, ‘Give Her a Call,’ ” Scott-Heron said.

Little hung up, and Scott-Heron sat down on the couch, facing the screen. The couch was brown, with so many little black burn circles that they seemed worked into the fabric’s design. A few extension cords crossed a rug on the floor, and lying at his feet among them was a propane torch. Taped to the wall facing him was a piece of paper on which he had written, in capital letters, with a Sharpie, “nothing nice to talk about? nothing good to say? no yuks? no smiles? then shut up. the mngmt.” On the shelf of a cabinet were some books, and some DVDs, which he buys at a video store next door to the Apollo Theatre, on 125th Street. He especially likes shows and movies and cartoons from his childhood, such as “Top Cat” and “Rocky and Bullwinkle” and “Underdog.” “Your life has to consist of more than ‘Black people should unite,’ ” he said. “You hope they do, but not twenty-four hours a day. If you aren’t having no fun, die, because you’re running a worthless program, far as I’m concerned.”

Little said that she was leaving to run errands. Staples was having a two-to-a-customer sale of something she needed a quantity of. “I’m going back two or three times,” she said. “I have a disguise, and I know where four Staples are.”

When she left, Scott-Heron seemed briefly at a loss, then he said, “We should listen to some music.” He put on a song of his from years ago called “Racetrack in France,” which is about a festival he played in the seventies. “I don’t feel as comfortable playing something of somebody else’s,” he said shyly. “I can’t say how the good parts got put together.”

Sometimes when I spoke to people who used to know Scott-Heron, they told me that they preferred to remember him as he had been. They meant before he had begun avidly smoking crack, which is a withering drug. As a young man, he had a long, narrow, slightly curved face, which seemed framed by hair that bloomed above his forehead like a hedge. The expression in his eyes was baleful, aloof, and slightly suspicious. He was thin then, but now he seems strung together from wires and sinews—he looks like bones wearing clothes. He is bald on top, and his hair, which is like cotton candy, sticks out in several directions. His cheeks are sunken and deeply lined. Dismayed by his appearance, he doesn’t like to look in mirrors. He likes to sit on the floor, with his legs crossed and his propane torch within reach, his cigarettes and something to drink or eat beside him. Nearly his entire diet consists of fruit and juice. Crack makes a user anxious and uncomfortable and, trying to relieve the tension, Scott-Heron would sometimes lean to one side or reach one hand across himself to grab his opposite ankle, then perhaps lean an elbow on one knee, then maybe press the soles of his feet together, so that he looked like a swami.

Scott-Heron’s voice has always been more of a declaimer’s voice than a singer’s voice—when he was young, he sounded like a writer singing. In 1971, he recorded a second version of “The Revolution Will Not Be Televised,” and the bassist Ron Carter, who played on it, told me, “He wasn’t a great singer, but, with that voice, if he had whispered it would have been dynamic. It was a voice like you would have for Shakespeare.” Smoking cigarettes erodes a singer’s subtlety and range, and Scott-Heron has smoked for decades, making his voice less versatile but raspier and even more idiosyncratic.

Scott-Heron says that he writes songs and records them all the time, but he has made only two albums since 1982. (Between 1970 and 1982, he made thirteen.) He writes at night, when it is quiet, but only, he says, when the spirits bring him a line or a melody.

Recently, though, Scott-Heron has returned to prominence, having released an album called “I’m New Here,” which has brought him a new, younger audience. It is the result of the British hip-hop producer Richard Russell’s sending him a letter in 2005 asking if he wanted to make a record. As a teen-ager in London in the nineteen-eighties, Russell had seen Scott-Heron perform. He also knew his music from clubs that played rare groove, the British term for obscure, older soul, funk, and Latin records, which hip-hop musicians covet for samples.

Scott-Heron and Russell met in 2006, at Rikers Island, where Scott-Heron was being held for a parole violation. Since 2001, he has been convicted twice of cocaine possession. The first time, he was arrested by cops who said that they saw him shake the hand of a man on a street corner and accept a small piece of tinfoil. The second time, cocaine that he had hidden in the lining of his bag showed up on an airport X-ray. A guard read on Russell’s paperwork the name of the prisoner he had come to see and said, “Don’t tell me it’s the Gil Scott-Heron.”

“I’m New Here” is a reverent and intimate record, almost more field work than entertainment—a collage partly sung and partly talked, and made largely from fragments of Scott-Heron’s poetry, handled here in a voguish manner. It presents a notional version of Scott-Heron, which is Scott-Heron as hip-hop practitioner.

Scott-Heron recorded the songs and his poems, and Russell added the hip-hop tracks that accompany them. “This is Richard’s CD,” Scott-Heron says. “My only knowledge when I got to the studio was how he seemed to have wanted this for a long time. You’re in a position to have somebody do something that they really want to do, and it was not something that would hurt me or damage me—why not? All the dreams you show up in are not your own.”

“I’m New Here” is twenty-eight minutes long and has fifteen tracks, four of which are songs, one of which Scott-Heron wrote. Russell left the microphone on between takes and during discussions, and so he collected asides and observations, which he presents as interludes.

The record starts and ends with excerpts from a poem written thirty years ago, called “Coming from a Broken Home,” which includes the lines “Womenfolk raised me and I was full grown / before I knew I came from a broken home.” Russell embedded the reading in a sample from a Kanye West song, a hip-hop self-reference, since Kanye West had already sampled Scott-Heron.

The first song, “Me and the Devil,” by Robert Johnson, is an account of a man who hears the Devil knocking early in the morning on his door. In Johnson’s version, delivered in his clear, glottal voice, the character is a violent reprobate. Scott-Heron portrays him as boastful, lunatic, and malignant—proud to be acknowledged by someone capable of appreciating the true cast of his soul. He amended one of the words, though. “I have this philosophy from further back in my family about beating women—that’s what this song is about,” he says. “ ‘Me and the Devil walking side by side, I’m going to beat my woman until I’m satisfied.’ That’s why the Devil’s coming to get him, that’s why he’s going to Hell, because he’s a hitter, he beats his woman. And that’s why he’s expecting him, because he’s resolved. I’m not hooked up that way, so I sing, ‘I’m going to see my woman.’ The song’s like a confession.” (Even so, Scott-Heron pleaded guilty in 1999 to assaulting a woman named Monique de Latour, who said that he threw a drafting table at her and cut her hand.)

The song Scott-Heron wrote, “New York Is Killing Me,” is a blues sung against a spare background of syncopated handclaps and looped fragments. His voice is weary and raw. “The doctors don’t know, but New York is killing me,” he sings. “Bunch of doctors come around, they don’t know, that New York is killing me / I need to go home and take it slow down in Jackson, Tennessee.”

More than one romance threads itself through “I’m New Here”—the most prominent of which is a younger man’s veneration of a charismatic elder. Aside from liking Scott-Heron’s music, Russell regards him as “genuinely philosophical,” he told me. “He’s not hung up on time or ordinary circumstances, and I’ve never come across anyone as interesting to talk to.” Russell has said that a difficulty of working with Scott-Heron was that sometimes he wouldn’t show up. A philosopher might miss appointments, but so might someone with a propane torch in his apartment, even if he is a philosopher.

There is a gentleness in Scott-Heron’s nature that suggests his childhood among the stern, intelligent women he pays homage to in “Coming from a Broken Home.” His father, Gilbert Heron, who died in 2008, and whom he never much knew, was a soccer player who grew up in Jamaica. In Chicago, Gilbert met Scott-Heron’s mother, Robert Scott, who was named for her father and called Bobbie. “It was after the war, working for Western Electric,” Scott-Heron told me. “He also played for the Chicago Maroons, or something like that. A Scottish team came through, and he scored on them, which was not what they had come for. They was all white. He went to Scotland, and the legend goes he scored the day he arrived. He was dubbed the Black Arrow, and played professionally for three more years.”

Scott-Heron’s parents separated when he was two years old, and while his mother went to Puerto Rico to teach English he lived with his grandmother in Jackson. “My grandmother was dead serious,” he said one day, sitting on his couch. “Her sense of humor was a secret. She started me playing the piano. There was a funeral parlor next door to our house, and they had this old piano that they used for wakes and funerals, and they were getting ready to take it to the junk yard. She wanted me to play hymns for the ladies’ sewing circle that met every Thursday, and she bought the piano for six dollars, and she paid a lady up the street five or ten cents a lesson to teach me to play four hymns, ‘What a Friend We Have in Jesus,’ ‘Rock of Ages,’ ‘The Old Rugged Cross,’ and I can’t think of the other one. I was eight years old, and I had started to listen to WDIA in Memphis, and they would play the blues. When I was practicing, I would have to mix them, because my grandmother was not big on the blues. When she was out in the yard, I can play what I want, but if she’s in the house I got to mix John Lee Hooker with ‘Rock of Ages.’ ”

The phone rang, but he ignored it. “I found my grandmother dead,” he went on. “It shook me up. I got up to make her breakfast, and I knew it was strange that she wasn’t stirring. I went in to wake her, and she was laying in rigor mortis”—he leaned back and held his legs and arms stiff—“and I’m done. I called next door, and the kid picked up the phone, and I was so wild, he dropped it. I went outside and saw the woman from the house going to work, and she came and took over. I was twelve.”

With his mother and her brother, Scott-Heron moved to an apartment in the Bronx, and his mother went to work for the city housing authority. Before long, his uncle moved out, and his mother couldn’t afford the rent, so she put her name on a list for an apartment in a project in Chelsea, in Manhattan. “Black people didn’t want to live in Chelsea, but we just wanted to go somewhere,” Scott-Heron said. “We started in ’65. It was eighty-five per cent Puerto Rican, fifteen per cent white, and me.”

The young woman who taught Scott-Heron English in his sophomore year at DeWitt Clinton High School had gone to a private school called the Ethical Culture Fieldston School, which is in Riverdale, a prosperous section of the Bronx. “She was assigning all these books that didn’t mean anything, like ‘A Separate Peace,’ ” Scott-Heron said. “Finally, she asked me a question, and I said, ‘Look, can I get out of here? This just sucks.’ I told her—I figured she knew—‘I can write better than that. I been sitting here writing better than that.’ I handed her something from my notebook, and she gave it to the head of the department at Fieldston. They asked me would I come to a meeting. I said I might walk out, but we met at the Howard Johnson across from the Bronx Zoo, and I got a hamburger and a strawberry shake out of it, while they asked me would I take a test to see if I could go to their school.”

After he took the test, the school asked him to another meeting. “They looked at me like I was under a microscope,” he said. “They asked, ‘How would you feel if you see one of your classmates go by in a limousine while you’re walking up the hill from the subway?,’ and I said, ‘Same way as you. Y’all can’t afford no limousine. How do you feel?’ Anyway, it just happened to be the day that my mother was sabotaged by this diabetes. We took a break, and I called my uncle at the hospital, and he told me, ‘Come down here,’ so I went back to the meeting and I said, ‘Whatever you’re going to decide, you decide, but I have to go and be with my mother.’ From the way I handled it, I learned later that they thought that this was a sign that I was mature enough to handle whatever would come my way from the school.”

Scott-Heron was one of five black students among a class of a hundred, and in his second year he got in trouble for playing the piano. “They had a beautiful Steinway they used for the choir and the chorus, but I got caught using it to play the Temptations,” he said. “A guy came in and screamed at me to stop, and they put a sign up saying ‘Do Not Play.’ A few days later, he came in, and I’m sitting under the sign playing the piano. So they told me they were going to call my mother, and I laughed—not because I was being disrespectful, although he took it that way—but because I thought, You really don’t want to get my mother into this. But they called her and told her to come to a disciplinary meeting, and the evening before she asked me what had happened, and I told her. And she said, ‘Well, did you hit the man?,’ and I said, ‘No, I was playing the piano.’ I tried to explain that there had been no rule against it until I did it. A lot of kids had been going up there to play ‘Chopsticks,’ I said, and she asked me again, did I hit him. She had reached the conclusion that I had done something so awful that I didn’t want to describe it, because she couldn’t imagine that they had called her up there to tell her I had been playing the piano.”

The meeting took place around a horseshoe-shaped table. “My mother listened to them, and when they were finished she said, ‘You all know where we live, and the difficulties of our life, so I’m not going to talk about that. We got burglaries, assaults, muggings—it’s not the best place to raise a child—but whenever something happens down there that might involve my son, I don’t call you. I figure that’s my area, and this is yours. Now, I have read your discipline handbook, and what I suggest you do is expel him, because it’s this way or that, near as I can tell, so what I’m going to do right now, since this is your area, I’m going to leave and go to work, because if I don’t get there soon, they’re going to take half my day’s wages from me, and when I get home this evening he’ll tell me what you decided, but, if you’re asking my opinion, you have to expel him. We have really enjoyed it here, and it has added to my son’s life, and I think we’ve added to your ethical-culture thing, but I’m going to go now, and you’ll excuse my son because he’s got to walk me to the subway. Thank you all very much.’ She got up and put on her coat, and I took a hard look at the man who had started all this, to say, ‘See, I told you you didn’t want to get my mama involved.’

“She walked to the subway in a stone silence. All she said was ‘I want you to leave these people’s piano alone. You’re not here to play the piano.’ I said, ‘What if they expel me?’ ‘Then you won’t have to worry about it; you’ll be someplace else. You leave these people’s stuff alone, and when you tell me something from now on I’ll believe you.’ ”

Scott-Heron was made to stay after school three Wednesdays in a row to wash out the brushes in the art room. A classmate, Roderick Harrison, says that he remembers two things about Scott-Heron. “He could hold a classroom or a hallway in thrall” is one of them. The other recollection is of his mother. “She was,” he told me, “imposing.”

At the end of June, at a concert in Central Park, Scott-Heron played one song from his new record, the rhythm-and-blues standard “I’ll Take Care of You,” but for the rest of the concert, as is customary with him, he drew from his older catalogue. Later, he was joined by the rapper Common, who said that as a child in Chicago he had listened to Scott-Heron and that it was an honor to occupy the stage with him. Then Common began to rap, but stumbled because the pace was too fast. He asked the musicians to slow down, then he asked them to go even slower, and then he started again, sounding not quite so agitated and more earnest. The song he recited was called “My Way Home,” which includes samples from Scott-Heron’s “Home Is Where the Hatred Is.”

“We been sampled,” Scott-Heron told me. “I don’t want to tell you how embarrassing that can be. Long as it don’t talk about ‘yo mama’ and stuff, I usually let it go. It’s not all bad when you get sampled—hell, you make money. They give you some money to shut you up. I guess to shut you up they should have left you alone.”

The epithet “godfather of rap”—derived from the claim that Scott-Heron originated the form—is partly apt but also partisan. The case for him as proto-rapper goes like this: at the beginning, he had company, the Last Poets, who in the late nineteen-sixties in Harlem recited poetry while accompanied by conga drums, used mainly in Afro-Cuban music. “Compared to Gil, their stuff is very stripped down,” Bill Adler, the hip-hop critic, curator, and record executive, told me. “It was like a park jam that got onto a record. Nothing but beats and rhythms. They embodied a revolutionary idea of black manhood, and Gil likewise. He wasn’t as potent as they were—he was more musical—but at the very beginning you can think of Gil Scott-Heron as a one-man Last Poets. People often confused the two, or thought that he was a member of them.”

Scott-Heron went to Lincoln University, the historically black college in Pennsylvania that Langston Hughes had attended. The Last Poets performed there in 1969. “Gil was the student-body rep,” Abiodun Oyewole, one of the Last Poets, told me, “and after the gig he came backstage and said, ‘Listen, can I start a group like you guys?’ ”

A strict honoring of rap origin legends would say that it begins with d.j.s in the Bronx, among African-Americans, Puerto Ricans, and Jamaicans, in the summer of 1973, and especially with a d.j. named Kool Herc. The people involved were going to parties where they could dance to a spare form of recorded music that had been arranged so that the pulse was foremost. The language and the stories that went along with them were simple. “Hip-hop has its own superheroic myths and stories,” Greg Tate, the hip-hop critic, says. “Gil is a genre to himself.”

The legacy of the Last Poets and Scott-Heron was more deeply embraced by second-generation rappers with social convictions. Among these was Chuck D., of Public Enemy, who told me that he first heard Scott-Heron when he was a teen-ager, in the nineteen-seventies. Scott-Heron and the Last Poets are “not only important; they’re necessary, because they are the roots of rap—taking a word and juxtaposing it into some sort of music,” he said. “You can go into Ginsberg and the Beat poets and Dylan, but Gil Scott-Heron is the manifestation of the modern word. He and the Last Poets set the stage for everyone else. In what way necessary? Well, if you try to make pancakes, and you ain’t got the water or the milk or the eggs, you’re trying to do something you can’t. In combining music with the word, from the voice on down, you follow the template he laid out. His rapping is rhythmic, some of it’s songs, it’s punchy, and all those qualities are still used today.”

When I asked Scott-Heron what he thinks when people attribute rap music to him, he said, “I just think they made a mistake.”

Scott-Heron was one of the first musicians signed by Clive Davis, in 1975, for Arista Records. “I had seen a live performance, where he was very striking,” Davis told me. “Very charismatic, absolutely unique—the verbal and the performing abilities—he was electrifying, and based on his song ‘The Bottle,’ and ‘The Revolution,’ and seeing him, I signed him. He was very compelling as a speaker—the wit, the turn of phrase—it was all very special.”

Between 1975 and 1985, Scott-Heron made nine albums for Arista, and then they parted. “I always felt tremendous regard for him,” Davis said. “You see the success of a Jay-Z or a Kanye West, and I always felt that Gil was as charismatic as either of them. Seeing him in his prime, the ability to dominate a stage—Gil at his best was an all-timer.”

A theme that Scott-Heron often brings up at performances is how people say that he disappeared during the past decade—during the years, that is, when he was serving time. Not long ago, he sold out the Blue Note, a club in Manhattan. “I read all of those reviews that said I disappeared,” he said. “Wouldn’t that be great if I could add that to my act? Come up here and—poof!” Then he said, “I had read how great I was before I disappeared. It makes me afraid to show up.”

When I first began visiting Scott-Heron, he would leave the room at intervals and go into his bathroom. The next time I went to his apartment, he went into his kitchen and a stream of smoke drifted out. One day, I turned around, and he had his crack pipe to his lips, and after that he didn’t bother to leave the room anymore. Sometimes he would fall asleep in the middle of an interview, and I would excuse myself.

Monique de Latour, an artist who lived with Scott-Heron for three years beginning in 1997, says that he would smoke crack for four or five days without rest. The longest she saw him stay awake was seven days. She knew he was getting tired when the things he said no longer made sense. “He would be talking about baseball and say someone had scored a touchdown,” she told me. Periodically, he would disappear—he says he was trying to get away from her. To find him, de Latour would check the phone to see whom the last call had been made to, which was sometimes a clue. If his propane torch was gone, she began visiting the hotels he liked—the Casablanca, on 145th Street, or the Old Broadway, on 126th, or the New Ebony, on 112th, where he was eventually banned for setting fire to his room. He would check in as Benjamin Safir. “As in Ben Safir, as in Been Safer,” she said. The desk clerk had been paid to tell her that he wasn’t there. “I would find a crackhead who didn’t care about Gil and give him half a ripped five- or ten-dollar bill,” she said. “I gave him the other half after I had checked out what he told me.”

Sometimes de Latour found the door to Scott-Heron’s room left ajar and Scott-Heron asleep. She took photographs of him lying on the hotel bed, which she hung in their apartment in the hope of forcing him to face his circumstances, but he wouldn’t look at them. If she didn’t find him in the hotels, she called the neighborhood hospitals and then the police precincts. Not infrequently, she found him locked up for trespassing or loitering. Once he was arrested as Denis Heron, which is his half brother’s name. When he missed a court date, the cops went looking for Denis.

According to de Latour, after a couple of days of smoking, Scott-Heron would sometimes make holes in the walls looking for microphones and cameras. On the door of their apartment, he would post menacing remarks, which he would change every few weeks or months. One said, “For all visitors we despise. I will pray to ‘the spirits’ that you and all who conspire with you condemn your souls. You have been seen. You are known. You will be paid.” He believed that bad spirits came with crack, and to counteract them he would give money to charities.

When he ran low on money from royalties, de Latour says, he would arrange for gigs and insist on a deposit to pay for the band’s airfare. He would spend the deposit, then arrive with a two-piece band, which was all he could afford. When his money ran out altogether, he slept, sometimes for two weeks. “He could sleep until he knew the next check was coming,” de Latour said.

De Latour would try to get him to leave the apartment, because he couldn’t smoke crack in public, but he almost never would. His teeth fell out and he got implants, some of which also fell out—one time while he was onstage in Berlin. “I saw him once at Eighth Avenue and Twenty-third,” Bill Adler told me. “This tall guy staggering across the street, and I recognized Gil immediately—he’s very tall and distinctive—and he’s clearly whacked, and he could have been dead right there, stumbling across the intersection.”

In the fall of 1999, de Latour told him to choose between her and crack, and he chose crack and moved in with his mother, on East 106th Street. She was in poor health, and shortly after he moved in she died. “I went with Gil to the funeral, and he was such a mess,” de Latour says. “He was already going downhill, but he was going more downhill once his mother died.”

After the funeral, he moved out of his mother’s apartment. He ignored the eviction notice the landlord sent him. Her belongings were auctioned.

Even so, de Latour said, there were many moments of tenderness between them. “There is a very gentle person inside Gil,” she said, “but very remote. It’s the little boy who lived with his grandmother in Jackson. He used to say to me, ‘I wish you knew me before I was like this.’ ”

Scott-Heron spent July on tour in Europe. His tour manager, Walter Laurer, says the tour has gone smoothly, and Scott-Heron says he hasn’t used any drugs for more than a month.

Anyone familiar with Scott-Heron’s career knows that early on he had a partnership with a musician named Brian Jackson. In 1969, when they were students at Lincoln, they wrote songs together. Eventually, they made nine records. They parted company in 1979, although they made a few attempts to play together again. “We’ve had a few falling outs,” Scott-Heron told me, “but this last one, I think, is permanent.”

Jackson still records and performs, but he has a day job as a project manager in the City of New York’s I.T. department, where he began working in 1983, when, he told me, “I woke up one morning and realized I wasn’t getting my ascap checks anymore for publishing. I called and they said, ‘We don’t have you listed as a recipient.’ I said, ‘I could show you some checks that you just sent me,’ but they said that didn’t matter, and I didn’t have the money for a lawyer to find out what had happened. I sent for the papers to prove that I was a fifty-per-cent partner of Brouhaha Music, and I found that the company had been dissolved in 1980.”

“Somebody should have pushed the mute button on that motherfucker,” Scott-Heron said of Jackson. “Our accomplishments show what kind of people we are. The way our careers have gone, you can see who the spirits favor.” On another occasion, he said, “I would not take a dollar from Brian.”

Scott-Heron says that in 2003 Jackson stole money that was meant to be used for his bail; Jackson says that, after the bondsman refused the money, he used some of it to pay members of the band for shows that were cancelled when Scott-Heron was arrested at the airport. He also paid some of his own bills. Jackson told me that, as Scott-Heron was about to go to jail, they spoke. “I thought it was time to go to him and say, as a friend, ‘Are you O.K.?’ He told me, ‘Yeah, I’m O.K. I’m doing better than you,’ meaning I was the one having to scratch for a living.” In one of the interludes on “I’m New Here,” Scott-Heron says, “If I hadn’t been as eccentric, as obnoxious, as arrogant, as aggressive, as introspective, as selfish, I wouldn’t be me.”

At the Blue Note, when Scott-Heron touched on the subject of prison he said, “They say my new record proves I came out of jail angry. Nobody comes out of jail angry. They come out of jail happy.” He wore dark trousers and a cap, and a suit jacket with a label that said “Jos. A. Bank” sewn above one wrist. When he finished talking, he sat down at an electric piano, which looked like a desk. His hands formed chords. He began a song called “Show Bizness,” which has the refrain “Do you really want to be in show business?,” then he stopped. “I used to be with Clive Davis,” he said. “I don’t think he liked this song. Not in that key.” He started in a second key. “Show business, want to be in show business,” he sang, then stopped again. “Now I don’t,” he said. He sang the words softly to himself as he searched for the chords, then he started a third time and said, “That’s right, that’s right.” At one moment, he leaned his head back and closed his eyes, and it looked like the expression of an ecstatic.

One of the last times I went to Scott-Heron’s apartment, he rose from the couch now and then to make slow journeys around the room. His movements appeared to have a purpose, for he spent some time opening drawers and meticulously sorting through the prescription bottles and folded-up dollar bills and scraps of paper they contained, but he didn’t say what he was after. When he found a lottery ticket that hadn’t been scratched off, he sat down and carefully ran a coin across its surface.

He was wearing jeans and a black-and-white shirt with the buttons askew. It was the morning after he had been expected at a video shoot downtown to make the second video for “I’m New Here,” and he hadn’t shown up. Meanwhile, the crew and the filmmaker had waited through most of the night. When the phone rang, he said, “That’s those people from the video shoot trying to get me,” and he didn’t answer. “They all think it’s some kind of mixup when I don’t show up where they are, but being too omni-visible is a bad idea. The kids at the record company are very enthusiastic, and they have a lot of friends they have made, and they all want to have an interview, and the only problem is they’re asking the same things people asked me a long, long time ago, because that’s what they do when they’re starting—you ask questions you already know the answer to. I don’t want to disappoint them, but you can’t disappoint unless you have an appointment. They don’t know I only like to talk to people who have something to talk about other than me. Like everybody in New York, they know everything. How can you tell them anything?”

He tossed the lottery ticket on the floor. “It’s the death of the vertical,” he went on. “They have taken all this time to stand up straight so that they can say ‘I.’ They’re very proud of that. The way you get to know yourself is by the expressions on other people’s faces, because that’s the only thing that you can see, unless you carry a mirror about. But if you keep saying ‘I’ and they’re saying ‘I,’ you don’t get much out of it. They’re not really into you, or we, or they; they’re into I. That makes conversation slow.

“I am the person I see least of over the course of my life, and even what I see is not accurate.” The phone rang. “This is Brouhaha Music,” he said. “Who the fuck is this?” He leaned back and talked softly, with his eyes closed and a hand on his forehead. Then he hung up and rubbed his neck with one hand, while turning his head from side to side. “I’m trying to stay out of traction,” he said. “I feel like I got a piece of gravel up at the top of my spine.” He lit the propane torch and touched the glass tube to his lips. “Ten to fifteen minutes of this, I don’t have pain,” he said. “I could have had an operation a few years ago, but there was an eight-per-cent chance of paralysis. I tried the painkillers, but after a couple of weeks I felt like a piece of furniture. It makes you feel like you don’t want to do anything. This I can quit anytime I’m ready.”

He touched the flame to the tube. “I have a novel that I can write,” he said next. “It’s about three soldiers from Somalia. Some babies have been disappearing up on 144th Street, and I speculate later on what happened to them and how they might have been got back. These guys are dead, all three, and they have a chance in the afterlife to do something they should have done when they were alive.” He raised the torch, then paused and said, “I have everything except a suitable conclusion.” ♦

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http://www.40acres.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1744%3Agil-scott-heron-a-life-without-commercial-interruption&catid=13%3Alead-story&Itemid=1

Gil Scott-Heron: A Life Without Commercial Interruption

Tuesday, 31 May 2011 08:46
by Barry Michael Cooper
“The Revolution/will not go better with Coke/
…the Revolution will put you in the driver’s seat/
the Revolution will not be televised/Not be televised/
the Revolution will be no rerun, Brother…”
Gil Scott Heron, The Revolution Will Not Be Televised
On Friday, 27 May 2011, the world of spoken-word lost its poet laureate, and Hip Hop is missing it’s paterfamilias; Gil Scott-Heron died. He was 62. GOD Rest his soul.

When Gil Scott-Heron rejected the title “Godfather of Rap” it was with good reason. Money didn’t own him; as a genuine post-modern griot, Gil Scott-Heron embraced poverty. Not that he was poor–he wasn’t–or that he didn’t like money (I’m sure he did). Gil Scott-Heron didn’t love money, and therefore, money didn’t own him. A true MC, a true Master of the Ceremony must be just that; a master, leader, and conductor of the ceremony, pageantry, and celebration. One who can lead the band without becoming a slave to the rhythm. Or the money. To embrace poverty means the corporate sponsors can’t put a price ticket on your head, because if they can price you, then they can buy you, and if they can buy you, then they own you, and if they own you, then they can lock down and silence their caged bird when they disapprove of the song it sings.

Gil Scott-Heron said the Revolution wouldn’t be televised but that was his reverse psych on an enthralled public. Gil Scott-Heron forecast a revolution of Black thought and American letters–an analog-to-4G broadband-of-a-broadcast–for more than 40 years. A waveform of a higher vibration.

The life and creativity of Gil Scott-Heron exemplified the true meaning of wealth in poverty, because he was free to say what was on his mind. And we were enriched by his platinum thoughts. As a true hunger artist, Gil Scott-Heron knew that his wealth in poverty was the vault of his soulful authenticity; protecting the riches of his heart, and money can’t bankrupt a truth-tellers soul, overstand? Exeunt, noble Prince. We hardly knew thee, but what you allowed us to become acquainted with–the treasures stored in one of the greatest American literary minds this country has ever produced–changed us forever. No bottle could hold you. No crack could break you. The doves in all bedrooms will cry silently tonight as GOD steers your flight home. Many of us will rock something red, black and green in your memory. We have been saving it for just the right occasion.

 

 

 


O Lulismo e Seu Futuro

26/01/2011

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http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_49/artigo_1432/O_lulismo_e_seu_futuro.aspx

O lulismo e seu futuro

ANDRÉ SINGER

Numa passagem de O 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx mostra como é frequente os atores de uma determinada época buscarem inspiração nos acontecimentos de outra. Se o período histórico evocado pelos homens contemporâneos pode ser revelador da natureza das tarefas que eles pretendem realizar, mesmo que o resultado final possa ser diferente do esperado, vale a pena deter-se na consideração do seu significado. O Brasil do ano eleitoral que se encerra tem algo da atmosfera imaginária na qual, há mais de meio século, a democracia norte-americana criou o arcabouço de leis, instituições e ações do New Deal.

Conjunto de programas iniciados na primeira Presidência de Franklin D. Roosevelt para fazer frente à crise de 1929, o New Deal permitiu um salto na qualidade de vida dos pobres e propiciou maior igualdade entre os cidadãos americanos. Ter instaurado tal ambiente é um legado dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele pode moldar o “marco regulatório”, para usar uma expressão do mundo jurídico, no qual ocorrerão as próximas disputas eleitorais. Isto é, partidos e candidatos divergirão quanto aos meios, mas os fins estão fixados de antemão.

Nesse caso, as eleições brasileiras de 2002 e 2006 poderão ser vistas, no futuro, como o início de um longo ciclo político, semelhante ao que aconteceu com as vitórias de Roosevelt em 1932 e 1936. Na primeira eleição (1932, 2002), formou-se uma nova maioria. Na segunda (1936, 2006), em uma votação de continuidade, a coalizão majoritária se manteve, mas com uma troca de posição importante no apoio ao presidente. Em ambos os casos (Roosevelt, Lula), a troca de apoio decorreu da política levada a cabo no primeiro mandato: a classe média se afastou do presidente, mas eleitores pobres tomaram o seu lugar.

Durante a vigência do ciclo, é possível até haver troca de partidos no poder. Foi o que ocorreu em 1952 e 1956, com a vitória republicana. Mas ela não implicou abandono dos grandes objetivos nacionais: a diminuição da pobreza e o incremento da igualdade. De acordo com o cientista político John Berg, as eleições de realinhamento “têm o potencial de definir um novo tipo de política, um novo conjunto de clivagens, que pode durar décadas”.

Não seria por acaso, portanto, que comparações entre o período atual e o de Roosevelt tenham se multiplicado recentemente. Em julho, citando o economista americano Paul Krugman, o jornalista Fernando de Barros e Silva escreveu na Folha de S.Paulo: “Os Estados Unidos do pós-guerra eram, sobretudo, uma sociedade de classe média. O grande boom dos salários que começou com a Segunda Guerra levou dezenas de milhões de americanos – entre os quais meus pais – de bairros miseráveis nas regiões urbanas ou da pobreza rural à casa própria e a uma vida de conforto sem precedentes.”

Krugman relata a “sensação admirável” de viver em uma comunidade na qual a maioria das pessoas leva “uma vida material reconhecidamente decente e similar”. Conclui o jornalista: “Essa middle-class society que encarnava o sonho americano não foi obra de uma ‘evolução gradual’, mas, diz Krugman, ‘muito pelo contrário, foi criada, no curto espaço de alguns anos, pelas políticas do governo Roosevelt’.”

Outra menção aparece no fecho de um balanço da Presidência de Lula feito por dois economistas ligados ao governo, Nelson Barbosa e José Antonio Pereira de Souza. “A superação de dogmas recentes encontra paralelos em momentos nos quais os Estados das economias capitalistas centrais optaram pela ruptura de seus modelos de atuação”, dizem os autores. “Assim foi, por exemplo, com a g.i. Bill (1944) e com o Employment Act (1946).”[1] A segunda medida, em particular, teve um caráter duradouro. “Desde a Segunda Guerra Mundial, o governo federal havia reconhecido suas responsabilidades pela manutenção da economia em pleno emprego”, lembrou Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia.

Um terceiro exemplo vem da ciência política. Wendy Hunter e Thimothy
J. Power comparam o Programa Bolsa Família ao Social Security Act, com o qual, em 1935, Roosevelt instituiu o sistema de previdência pública. Hunter e Power vaticinavam, já em 2007, que o Bolsa Família poderia se tornar, como a previdência pública nos Estados Unidos, um “terceiro trilho” na política brasileira: aquilo que não se pode mexer, sob o risco de morte política.

A julgar pelas propostas dos candidatos à Presidência durante a campanha deste ano, Hunter e Power estavam certos: a oposição disse que queria dobrar o número de famílias atendidas pelo Bolsa Família, e ninguém falou em diminuir o benefício. Apesar das diferenças que os separam, os postulantes estavam envolvidos no clima rooseveltiano de criar no Brasil, em um “curto espaço de alguns anos” uma sociedade com base na classe média.

Tanto que Dilma Rousseff, do PT, propôs “erradicar a miséria” no espaço de um mandato. José Serra, do PSDB, falou em “partir para a erradicação da pobreza”. Marina Silva, do pv, elogiou o fato de 25 milhões terem deixado a linha da pobreza no período recente e disse que não mexeria na política que permitiu isso. Plínio de Arruda Sampaio, do psol, fez do combate à desigualdade o centro do seu discurso.

Mas em que medida há condições materiais para aplicar aqui o New Deal de Roosevelt? Até que ponto é verdadeiro o consenso em torno dessas metas? E qual resistência se deve esperar às políticas necessárias para transformar o projeto em realidade? Comecemos pelas condições materiais.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, entre 2003 e 2008 a pobreza extrema (rendimento médio domiciliar per capita de até um quarto de salário mínimo) foi reduzida de 15% para 10% da população. No mesmo período, a pobreza absoluta (rendimento médio domiciliar per capita de até meio salário mínimo) caiu em proporção semelhante, reduzindo-se o total de brasileiros nessa faixa de renda para 23%. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, os brasileiros abaixo da linha de pobreza eram metade da população. No governo Lula, caíram para cerca de um terço da população.

Em linhas gerais, os dados apontam que uma parte do sonho rooseveltiano –
o de construir uma sociedade em que (quase) todos estão fora da pobreza – está ao alcance dos dois próximos mandatos presidenciais. Não se trata apenas de uma expansão da classe média, pois o proletariado também aumenta. À medida que o subproletariado é incorporado ao mercado de trabalho formal e ao padrão de consumo “normal”, a base da pirâmide social passa a ser formada pelo proletariado, uma vez que não há outra classe abaixo dele. É possível que um proletariado mais antigo – uma espécie de aristocracia operária – se mantenha como uma fração de classe à parte, porém as diferenças relativas teriam diminuído.

Embora a redução da pobreza tenha significado também uma diminuição da desigualdade, esta parece responder com mais vagar às iniciativas governamentais. Num comunicado do início do ano, o Ipea observou que “o movimento recente de redução da pobreza tem sido mais forte que o da desigualdade”. Segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, “somos o décimo pior país em distribuição de renda” no mundo. Para o especialista em finanças públicas Amir Khair, hoje “apenas 1% dos brasileiros mais ricos detém uma renda próxima da dos 50% mais pobres”. Por isso, segundo o economista Marcelo Neri, quando olhado desde o ângulo da desigualdade, a fotografia da sociedade brasileira é “ainda grotesca”.

Alguns argumentam até que, por trás da vagarosa queda do índice de Gini, que mede o desnível entre os que recebem salário, haveria na realidade uma piora na repartição da riqueza entre o capital e o trabalho. Nessa lógica, uma maior equidade entre os que vivem do próprio trabalho teria sido compensada por um aumento da parcela apropriada pelos capitalistas sob a forma de lucros e dividendos.

Sinais disso seriam os largos gastos do Tesouro com o pagamento de juros e os polpudos lucros das grandes empresas ao longo do governo Lula. No entanto, de acordo com o Ipea, a participação do trabalho na renda nacional, que estava estagnada há quinze anos, também começou a aumentar. Em 2004, ela era de 31% do Produto Interno Bruto, e passou para 33% em 2007. Mais ainda: de acordo com as estimativas do economista João Sicsú, no ano passado ela deve ter voltado ao patamar de onde começou a cair em 1995: 35%.

Mas, se a renda dos assalariados – e particularmente dos mais pobres – cresce num ritmo suficientemente acelerado para eliminar a pobreza em poucos anos, como se explica que a desigualdade caia devagar? Acontece que os ricos estão ficando mais ricos. A economista Leda Paulani tem assinalado que 80% da dívida pública estão em mãos de algo como 20 mil pessoas, as quais, sozinhas, recebem um valor dez vezes maior do que os 11 milhões de famílias atendidas pelo Bolsa Família. O sociólogo Francisco de Oliveira, por sua vez, chamou a atenção para os sinais de riqueza ostensiva revelados pela inclusão de mais de uma dezena de brasileiros na lista da revista Forbes dos mais ricos do mundo. De fato, basta abrir um jornal ou revista para deparar com notícias relativas à expansão do comércio de alto luxo em São Paulo.

Como há indícios de que possa ter ocorrido certo achatamento nos ganhos da classe média, a persistência da desigualdade deve, realmente, decorrer do que é apropriado pelos muito ricos.
A queda lenta da desigualdade, em sociedades que partem de um patamar elevado e nas quais os mais ricos continuam a acumular riqueza, aponta para a dificuldade de atingir, no curto prazo, uma situação em que os seus membros tenham uma vida material “reconhecidamente similar”.

Mesmo mantido o ritmo atual de melhora das condições de vida dos menos aquinhoados, o Ipea calcula que em 2016 chegaremos a um indicador de desigualdade um pouco inferior àquele que dispúnhamos em 1960, quando foi aplicada a primeira pesquisa sobre diferenças de renda.

Ou seja, se for bem-sucedido o esforço no sentido de elevar o padrão de existência dos mais pobres nos próximos anos, o que está no horizonte é voltar ao ponto interrompido pelo golpe de 1964. Após duas décadas de um regime militar concentrador, e de outras duas décadas de estagnação, as políticas de redução da pobreza nos levarão de volta ao limiar de onde começamos a regredir. Não é coincidência que o salário mínimo tenha voltado, em 2009, ao patamar de meados dos anos 60.

A agenda de diminuição da pobreza e da desigualdade do governo Lula avançou por meio de uma estranha combinação de orientações antitéticas: de um lado, manteve linhas de conduta do receituário neoliberal e, de outro, adotou mecanismos de uma plataforma desenvolvimentista. Essa combinação sui generis de mudança e ordem explicaria por que o apoio político ao presidente, grosso modo, migrou da classe média para o subproletariado.

A combinação se deu ao longo de três fases. Na primeira, entre 2003 e 2005, predominou a ortodoxia: contenção de despesas públicas, elevação dos juros e reforma previdenciária que apontava para a redução de benefícios no serviço público. Era o pacote clássico de “maldades” neoliberais, voltadas para estabilizar a economia por meio da contração dos investimentos públicos e das atividades econômicas em geral.

Para além de mera opção técnica, o que estava em jogo era uma escolha política: evitar a radicalização por meio do atendimento das condições impostas pela classe dominante. Como afirmou o ex-senador Saturnino Braga: “Na transição, quando findavam os últimos meses de Fernando Henrique Cardoso, a inflação e a taxa cambial dispararam. Aquilo foi um aviso do capital.”

Ocorre que, quase ao mesmo tempo, houve um conjunto de iniciativas na direção contrária às soluções neoliberais. O lançamento do Bolsa Família, em outubro de 2003, foi seguido pela expansão do crédito popular, com o convênio assinado entre sindicatos e bancos no final do mesmo ano, e pela valorização do salário mínimo, iniciada em 2004. As três medidas deram a partida para a recuperação da economia por meio do fortalecimento de um mercado interno de consumo de massa.

A segunda etapa da política econômica começa com a passagem de Guido Mantega para o Ministério da Fazenda, em 2006, e se estende até a irrupção da crise financeira internacional, em 2008. A partir da chegada de Mantega ao centro das decisões econômicas, o lado popular do projeto de Lula, que ficara em desvantagem na primeira fase, ganha mais peso. Isso se reflete em uma elevação substancial do salário mínimo em 2006, com um aumento real de nada menos que 14%. A progressão do salário mínimo continuou ao longo do segundo mandato, com uma valorização estimada em 31%.

Entres os estudiosos do tema, observa-se uma convergência em torno da percepção de que no valor do salário mínimo encontra-se a chave para reduzir a iniquidade no Brasil. “O salário mínimo estabelece o piso da remuneração do mercado formal de trabalho, influencia as remunerações do mercado informal e decide o benefício mínimo pago pela Previdência Social”, assinala Sicsú. Quase 68% dos trabalhadores ganham apenas até dois salários mínimos, e uma parcela expressiva dos aposentados recebe um. Por isso, o sociólogo Simon Schwartzman afirma que “o salário mínimo foi o grande fator para a redução da pobreza”.

Segundo o economista Amir Khair, 75% do consumo que estimula o crescimento vem das famílias. Assim, o aumento do poder aquisitivo das famílias de baixa renda – que se beneficiaram também da diminuição do preço de artigos populares, por meio de desonerações fiscais – impulsionou a atividade econômica como um todo. As empresas elevaram o investimento para aproveitar as oportunidades abertas pela expansão do mercado, com isso gerando emprego, o qual por sua vez realimentou o consumo, em um círculo virtuoso há muito esperado no Brasil.

Um segundo elemento caracterizou o triênio 2006–2008: o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, em janeiro de 2007. Partindo de um patamar muito baixo, a União quase duplicou o montante orçamentário destinado ao investimento. Houve, igualmente, uma multiplicação do investimento realizado pelas estatais – sendo que a Petrobras, sozinha, tem mais capacidade de investimento do que a União.

Para além daquilo que a União e as estatais podem investir diretamente, cumpre atentar para o efeito indutor que exercem sobre o investimento privado, sobretudo na área relativa aos grandes projetos de infraestrutura. Até o advento da crise financeira internacional, a meta do PAC – sustentar um crescimento de 5% – foi atingida. Não fosse pela paralisia das atividades econômicas decorrentes da crise, é possível que chegasse a 7%.

A terceira fase da política econômica do governo Lula ainda está em curso, o que dificulta a avaliação. Ela corresponde ao período que se abre com a crise internacional e deverá ir até o final do mandato. Cabe somente indicar o aprofundamento da trajetória delineada na segunda etapa. Os bancos estatais foram fortalecidos para garantir o crédito, operando até certo ponto na contramão do Banco Central, que demorou em reduzir a taxa de juros. O consumo popular foi ampliado mediante aumentos do salário mínimo e das transferências de renda, mesmo depois de iniciada a crise. O setor produtivo foi estimulado por meio de desonerações fiscais e ações indutoras, como o programa de habitação Minha Casa, Minha Vida.

Em linhas gerais, a desorganização das finanças mundiais deixou ao setor público o encargo de impedir que se abrisse um ciclo de depressão econômica. Apesar de não ter evitado a estagnação em 2009, a rápida (e forte) recuperação em curso mostra que o Brasil foi bem-sucedido no uso dos instrumentos disponíveis.

A condução das medidas anticíclicas durante a crise, na qual o presidente se destacou pela ousadia de conclamar a população a manter a confiança e comprar, arriscando-se a quebrar junto com os endividados, caso algo desse errado, consolidou uma popularidade inédita desde a redemocratização. Subitamente, o crescimento que se julgava extinto, voltou. Pode-se dizer que a crise fortaleceu o campo popular na terceira fase do governo Lula, o que tornou tal fato decisivo para a alavancagem da candidatura de Dilma Rousseff.

No programa apresentado por Dilma Rousseff na campanha eleitoral, o objetivo central é eliminar a miséria extrema na década que começa em 2011. Prometeu fazer isso com a valorização do salário mínimo, a ampliação gradual das transferências de renda e o reforço do papel do Estado na economia. Também disse que manterá o Banco Central com autonomia para conduzir a política monetária, deixar o câmbio flutuante e exercer alguma rigidez fiscal.

Não se deve depreender da moderação desse arranjo que ele esteja isento de embates importantes, cujos desfechos definirão os contornos mais precisos do caminho a ser trilhado nos próximos anos. A menos que sobrevenha nova ascensão do movimento social, em refluxo desde a década de 90, uma parte dos conflitos ocorrerá num plano relativamente oculto – eles se darão por meio de negociações intraestatais, sem que o público amplo possa percebê-los de imediato.

Ao analisar com minúcia os processos de decisão, cujos reflexos na superfície são por vezes tênues, aparecem os nós e as tensões definidores. Um bom exemplo passado está na seguinte descrição de Nelson Barbosa: 

Devido à crise internacional e seus reflexos no Brasil, a receita do governo caiu, e se o governo cortasse a despesa na mesma proporção em que a receita caiu, ele empurraria a economia para baixo, como se agia normalmente no passado. Diferentemente de outras crises, agora nós temos escolha, podemos reduzir o superávit primário para preservar o crescimento e o bem-estar da população. Adecisão de reduzir a meta de superávit primário em 2009 passou tranquila na imprensa; para quem participa da política econômica do governo Lula isso é um marco.

Trata-se de uma delicada rede de pressões e contrapressões no interior do Estado.

A redução da pobreza e da desigualdade depende da manutenção do crescimento em um patamar ao redor de 5%, como previa o PAC. Para atingir esse patamar, que não foi alcançado sequer no segundo mandato de Lula, haverá uma série de escolhas a serem feitas. Carlos Lessa, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, argumenta que há duas visões conflitantes a respeito de como produzir essa expansão da economia. Em uma delas, seria necessário elevar substancialmente a taxa de investimento público. Deduz-se que os recursos devam sair, nesse caso, da diminuição do serviço da dívida, à qual o Banco Central resiste.

Numa outra visão, isso não precisa acontecer, implicando, no entanto, em um processo de desindustrialização do país. Essa segunda proposta pressuporia que a exportação de soja, carne e minério de ferro, por exemplo, daria conta do recado, sem depender de o Brasil produzir mercadorias de alto valor agregado. Por trás desses pontos de vista conflitantes se encontram interesses sociais e econômicos diferentes, cujo confronto definirá a dinâmica futura.

O peso das exportações no modelo “inventado” pelo governo Lula é reconhecido pelos seus defensores. O senador Aloizio Mercadante mostra que triplicou o valor exportado entre 2002 e 2008: de 60 bilhões de dólares para quase 200 bilhões de dólares. Porém, destaca que o destino das mercadorias mudou. Em 2002, os Estados Unidos recebiam 24,3% das exportações brasileiras, patamar reduzido a 14,6% em 2008. Sem estardalhaço, o governo Lula esvaziou a proposta da Área de Livre Comércio das Américas, a Alca, que atrelaria o Brasil aos Estados Unidos, e investiu na formação de um bloco sul-americano forte, ao mesmo tempo em que fortalecia os vínculos com potências emergentes como a China.

O sucesso da estratégia externa desempenhou, assim, um papel destacado na economia política do realinhamento. O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, no entanto, tem chamado a atenção para o fato de o Brasil ser vítima de “uma leve, mas real doença holandesa”, pela qual os mecanismos de mercado tendem a levar um país com extensos recursos naturais a ter um câmbio cronicamente sobreapreciado[2].

A consequência não é difícil de imaginar: torna-se mais barato importar artefatos industrializados do que fabricá-los internamente. Para combater a doença holandesa, afirma Bresser-Pereira, é indispensável administrar o câmbio, em vez de deixá-lo oscilar ao sabor do mercado. Em cálculo recente, ele indica que o real deveria flutuar ao redor de 2,40 por dólar, o que implicaria uma desvalorização em torno de 25%.

Uma coalizão de interesses liderada pelo capital financeiro tem obstado a desvalorização. Como as importações baratas ajudam a controlar os preços internos, garantindo o poder de compra dos consumidores, em especial os de baixíssima renda, há uma pressão no sentido de mantê-las nesse patamar. Elas permitem, na outra ponta, à classe média tradicional, cuja poupança também é beneficiada por juros elevados, o acesso a produtos importados (além de o real em alta facilitar viagens internacionais). Em terceiro lugar, o câmbio valorizado favorece os detentores internacionais de capital, que lucram no Brasil com a aplicação de dinheiro especulativo remunerado a altas taxas de juros em moeda forte.

Na posição oposta se encontram os empresários industriais, o proletariado fabril e os exportadores. Os industriais observam com preocupação crescente a queda das atividades fabris desde o começo dos anos 90. Também não é por acaso que a Central Única dos Trabalhadores defende “aplicar política cambial voltada para a defesa da economia nacional”. Os exportadores querem ganhar mais com o que vendem. Esse tripé deu ao governo sustentação para impor um imposto de 2% sobre o capital especulativo em 2009, na vigência da crise internacional. A medida, embora tímida, impediu que a valorização da moeda aumentasse ainda mais, além de sinalizar a existência de setores sociais ponderáveis preocupados com a doença holandesa.

Em que pese ser uma das maiores taxas de juros do mundo, e parecer distante o momento em que a coalizão “produtivista” consiga forçar a sua diminuição, o balanço do último período mostra algum abalo na liberdade do capital financeiro. A ampliação do crédito no segundo mandato (quando passou de 25% para 40% do PIB) foi obtida apesar da oposição dos bancos privados. Ela expressa o aumento da capacidade do Estado – apoiado pelos três setores mencionados e pelo fortalecimento dos bancos públicos durante a crise – em obrigar o sistema financeiro a emprestar ao público, em lugar de apenas comprar títulos do governo. Nesse sentido, revelou-se crucial o reforço do BNDES no papel de financiador, a juros mais baixos, das empresas industriais.

Sabe-se que os juros altos inibem os investimentos produtivos, pois o capital é remunerado sem precisar “fazer nada”. Eles também transferem recursos públicos – que poderiam ser usados para aumentar a criação de infraestrutura – para a mão dos rentistas, que os esterilizam ou usam em um consumo de luxo, com aumento da desigualdade. Por isso, os empresários da área produtiva (para quem a taxa de juros é central) e os trabalhadores em geral (para os quais o aumento do emprego é decisivo) estão momentaneamente juntos na batalha contra a “usura”.

O PAC funciona como uma espécie de carta-programa dessa coalizão antirrentista. Ele avançou devagar, porém continuamente, no segundo mandato de Lula, tendo aproveitado a crise financeira internacional para dar alguns passos adiante. A “mãe do PAC” prometeu manter a trilha. Mas a defesa dos juros altos será proporcional ao enorme poder acumulado pelo setor financeiro sob o signo da globalização.

As bandeiras históricas da classe operária, como a redução da jornada de trabalho – agora para quarenta horas – e a proposta de uma reforma tributária progressiva, materializada num imposto sobre grandes fortunas, repõem em cena, por outro lado, a plataforma petista original, de fundamento classista. Em função do caráter pluriclassista da candidatura Dilma, os coordenadores da coalizão evitaram esses pontos agudos.

Mas três itens cruciais para os trabalhadores parecem fazer parte da plataforma possível. Primeiro, o prosseguimento da política de valorização do salário mínimo que, nos últimos anos, implicou maior renda para assalariados de baixa remuneração e aposentados que recebem o piso. Em segundo lugar, a manutenção do crédito, que quase dobrou no governo Lula. Em terceiro, a maior capacidade de o Estado induzir o investimento privado, por meio de empréstimos, subsídios e da participação em projetos de infraestrutura.

Tais medidas levam à diminuição do desemprego. O aumento das taxas de emprego anuncia o ressurgimento das condições para uma ascensão da luta dos trabalhadores. Uma taxa de desemprego de 6%, à qual o Brasil pode chegar ao final deste ano, aponta para um quadro semelhante àquele que vigorou antes da grande onda de demissões no segundo mandato de Fernando Henrique – e, portanto, mais próxima das condições vividas na grande década dos movimentos sociais (1978–88), que levaram o próprio Partido dos Trabalhadores a surgir, crescer e se consolidar.

Joseph Stiglitz mostra como, na concepção do setor financeiro, quando a taxa de desemprego fica abaixo de certo patamar, acende-se o alerta inflacionário, que impulsiona uma política monetária contracionista. Deve-se esperar, portanto, tensões nesse campo, em que a força da aliança produtivista será testada em embates com o setor financeiro.

É característico da atual situação um sistema de alianças móveis, em que a mudança das condições materiais pode operar rápidas alterações de posição. A mobilidade gerada com a redução da pobreza é um exemplo disso. Com carteira assinada e acesso ao crédito, brasileiros de baixa renda começaram a comprar geladeiras, aparelhos de televisão, computadores, carros e, depois, até casas financiadas em longo prazo. Os capitalistas desses ramos puderam, por seu turno, aumentar a produção e auferir lucros maiores com ela, solidificando os laços de interesse entre os trabalhadores e o capital produtivo. Só que isso deverá gerar uma pressão no sentido de aumentos salariais e outras reivindicações trabalhistas.

Sob o governo Lula, surgiram 10,5 milhões de vagas com carteira assinada. Trata-se de um novo proletariado, que entra no mercado em condições precárias, mas apto a integrar-se ao mundo sindical, que já percebeu a relevância estratégica desse contingente. “Apesar dos 10 milhões de novos empregos gerados, o mercado de trabalho brasileiro se caracteriza por elevadas taxas de rotatividade, desemprego e de informalidade, precariedade dos postos de trabalho, crescimento indiscriminado da terceirização e fragilidade do sistema de relações de trabalho”, diz a plataforma da cut para as eleições 2010. Não se deve descartar, em consequência, a possibilidade de haver uma unificação dos estratos novos e velhos do proletariado no próximo período, dando face inédita à luta sindical.

Seja qual for o destino dos atritos que virão a marcar o ciclo político, o objetivo de reduzir a pobreza por meio da transferência de renda para os segmentos muito pauperizados deverá ser a marca dos próximos anos. Não teremos, contudo, direitos universais à saúde, à educação e à segurança sem aumentar o investimento público. No Brasil, ainda não há saneamento básico e moradia de qualidade mínima para enormes setores da população. Além dos programas de transferência de renda, os relativos à saúde, educação e segurança pública são fundamentais para a redução da pobreza e da desigualdade. O que implica em vultosos desembolsos, bem como um Estado equipado para exercer funções de envergadura. Daí, igualmente, a necessidade de continuar a valorização do funcionalismo público, com a reestruturação de carreiras de Estado e o aumento da folha de pagamento dos servidores.

Embora o Bolsa Família caminhe para se tornar um direito reconhecido na Constituição, sob a forma de uma Renda Básica de Cidadania, a ser proposta no bojo da Consolidação das Leis Sociais que o próximo governo deverá enviar ao Congresso Nacional, não há consenso ao redor do tamanho e abrangência que o Estado deve ter no Brasil. Assim como não existe acordo a respeito da reforma tributária que deveria garantir os recursos para ele. Enquanto as organizações de trabalhadores sugerem tornar o imposto mais progressivo, as entidades empresariais, unificadas quanto a essa questão, buscam diminuir a carga tributária em absoluto. Nesse item, capitalistas e assalariados se encontram em campos opostos. A pressão da burguesia pela contenção dos gastos do Estado deverá crescer.

Assim, a abrangência dos serviços públicos de saúde e educação é um tema que separa a coalizão majoritária em diferentes segmentos. Para os trabalhadores, deve-se atender ao mandamento constitucional de universalizar a saúde e educação públicas. Para os empresários, a privatização em curso, representada pelos planos de saúde e escolas privadas, merece ser preservada e ampliada. Contrapõem-se aqui visões distintas a respeito do papel do lucro no atendimento de necessidades fundamentais como medicina e educação. Divergência que se estende para o campo da previdência. Isso explica por que medidas como a revogação da cpmf, em dezembro de 2007, contaram com o ativo apoio do setor empresarial e oposição dos representantes dos trabalhadores.

Esses conflitos espelham divisões sociais mais amplas. O sociólogo Jessé Souza tem chamado a atenção para o caráter profundamente conservador da sociedade brasileira, que encara como “natural” a extrema desigualdade. Talvez até, poderíamos acrescentar, se resista à tentativa de alterar um quadro longamente estabelecido.

A expressão de tal resistência pode surgir de maneira disfarçada por certos comportamentos do cotidiano. Anos atrás, o compositor Chico Buarque, com a sua fina sensibilidade para a realidade nacional dizia: “Assim como já houve um esquerdismo de salão, há hoje um pensamento cada vez mais reacionário. O medo da violência se transformou em repúdio não só ao chamado marginal, mas aos pobres em geral, ao motoboy, ao sujeito que tem carro velho, ao sujeito que anda malvestido.”

São fundas as fraturas que separam as vastas legiões de brasileiros pobres da classe média tradicional, cuja superioridade relativa diminui à medida que o movimento de ascensão social se intensifica. A velocidade do percurso em direção a uma possível sociedade “decente e similar” dependerá até certo ponto da correlação de forças entre esse proletariado emergente e a classe média tradicional.

Essa classe média dá certa base de massa à frente rentista, que tem como programa a autonomia do Banco Central, a liberdade de movimento dos capitais, o corte dos gastos públicos e, em uma conjuntura favorável, uma reforma trabalhista que retire direitos dos trabalhadores. Ao velho e novo proletariado interessa a plataforma oposta, com a adequação da política monetária às metas de crescimento, a desvalorização do real para evitar a doença holandesa, o aumento do gasto público na direção de um Estado de bem-estar, com a transformação dos programas sociais em direitos que se somem aos da legislação trabalhista.

No plano partidário, PMDB e PT parecem destinados a representar posições divergentes na próxima etapa. Apesar das fragilidades dos partidos brasileiros, em que o excesso de pragmatismo dificulta levar ao terreno da política os interesses de classe, o sistema permite alguma refração das clivagens sociais. Desse modo, o tamanho das bancadas legislativas do PMDB e do PT – tanto na Câmara quanto no Senado – deverá determinar o andamento de propostas decisivas, como a Consolidação das Leis Sociais, no Congresso.

Os ventos internacionais, cuja temperatura e intensidade costumam influenciar na balança interna, mostram-se confusos, o que não é necessariamente ruim para o sonho rooseveltiano brasileiro. A grave crise financeira de 2008 produziu efeitos contraditórios. Enquanto nos Estados Unidos resultou em uma guinada progressista, com a vitória de Barack Obama interrompendo a escalada conservadora dos dois mandatos de Bush ii, na Europa provocou uma reação à direita, com intensificação da xenofobia e adoção de políticas econô-
micas contracionistas.

Nos países emergentes, a crise clarificou a percepção de que é preciso procurar uma via autônoma de desenvolvimento que não dependa da problemática recuperação dos centros capitalistas tradicionais. O Brasil em particular, embalado pelo desejo de transformar-se em uma sociedade de classe média, tem, no destaque internacional que alcançou, um impulso nessa direção.

O caminho será cheio de choques, cujo resultado exato não se pode prever. Contudo, se a minha hipótese estiver correta, durante um tempo longo o norte da sociedade será dado pelo anseio histórico de reduzir a pobreza e a desigualdade no Brasil. Em que grau e velocidade, a luta de classes dirá.
[1]g.i. Bill, assinada por Roosevelt em junho de 1944, deu o direito a veteranos de cursar a universidade no retorno da Segunda Guerra Mundial. Promulgado pelo presidente Harry Truman em fevereiro de 1946, o Employment Act atribuía ao governo federal a incumbência de promover oportunidades de emprego.
[2] O modelo da “doença holandesa” foi desenvolvido a partir de uma análise dos efeitos dos ganhos com a exportação de gás naquele país, nos anos 70.


A Candidatura de José Serra (PSDB)

24/11/2010

Nem tenho muito o que falar sobre o Serra.

José Serra tem uma obsessão desde os anos 60: ser presidente do Brasil. No exílio no Chile ele já passava as noites em claro lendo com o objetivo de se preparar para ser presidente. Era um economista de esquerda e desenvolvimentista. No PSDB sempre teve que engolir o sapo de ter que ficar na sombra do Fernando Henrique, que se tornou o principal líder do partido. Quando FHC saiu, finalmente tinha chegado sua hora. Mas então, Lula acabou com seu sonho e o derrotou. Em 2006, como sabia que o Lula seria reeleito, deixou o Alckmin se queimar sozinho. Este ano era sua última e maior oportunidade de realizar seu sonho. Felizmente, não seu certo.

Independente da questão de se ele ainda é desenvolvimentista ou não, o fato é que sua candidatura representava um projeto político neoliberal. De esquerda ele com certeza não é. É só ver as políticas dele no governo do Estado de São Paulo em relação à população mais pobre e aos movimentos sociais. O PSDB representa o neoliberalismo no Brasil (como pode ser comprovado analisando-se o governo FHC) e, junto com o PFL (ou DEM), representam tudo que há de mais conservador e retrógrado no país.

A campanha do Serra foi, desde o início, muito mal organizada.

Para começar, teve a forte disputa interna com o Aécio. Serra não confirmou sua candidatura, talvez achando que o PSDB não tinha chances e esperando pra ver se conseguie queimar o Aécio, como fez com o Alckmin em 2006. Mas o Aécio foi mais esperto e declarou que não seria candidato, obrigando o Serra a assumir sua candidatura.

Depois veio o processo patético de escolha do vice. O Serra tinha escolhido o Álvaro Dias, como parte de uma negociação para que seu irmão apoiasse o candidato tucano ao governo do Paraná, mas o PFL (ou DEM) não aceitou e atrasou a programação de convenção nacional, esperando que seus líderes negociassem, aos 47min do segundo tempo, com os tucanos, até que, enfim, decidiram pelo Índio da Costa. No fim, o Osmar Dias ainda apoiou a Dilma.

Tendo isso em consideração, a campanha eleitoral deste ano foi talvez a mais suja no Brasil desde, pelo menos, a de 89.

O primeiro fator a ser levado em conta é a atuação da mídia. Como era de se esperar, a grande mídia atuou de forma complementar à campanha do Serra, defendendo escancaradamente o candidato. Neste ponto é importante ressaltar um avanço que ocorreu nesta campanha: o jornal O Estado de São Paulo declarou abertamente seu apoio ao candidato Serra. Considero isso um avanço, pois no Brasil a grande mídia tem medo de se posicionar claramente nas eleições, preferindo vender uma imagem falsa de neutralidade. Nos EUA e na Europa, é comum que os grandes meios de comunicação se posicionem abertamente em todas as eleições. Porém, a atuação em geral da grande mídia brasileira foi marcada pela manipulação em favor do Serra, escondida sob a máscara de neutralidade. O principal papel da mídia foi na criação e na propagação de escândalos de corrupção, que nem sempre eram tão sólidos assim.

Os dois maiores desses “escândalos” foram o da quebra do sigilo da filha do Serra na Receita Federal e o caso Erenice Guerra na Casa Civil. O primeiro foi ligado à disputa entre o Aécio e o Serra (Ler aqui e aqui). O segundo foi absolutamente inventado (ler aqui).

O “escândalo” da Erenice, inventado, teve influência para que a eleição fosse pro segundo turno.

Mas a grande mídia já tinha percebido que, por mais que ela se esforçasse, o Serra não subia muito mais de seus cerca de 30% de votos nas pesquisas. Então começaram a inflar a candidatura da Marina Silva, para levar ao segundo turno. E, além disso, em algum lugar meio escondido, houve uma decisão para mobilizar setores das igrejas evangélicas para espalharem mentiras acerca da posição da Dilma quanto ao aborto.

Pela primeira vez no debate político nacional no Brasil, os temas morais e religiosos do aborto e do casamento gay se tornaram temas centrais no debate político, com um viés totalmente conservador.

Foi assim que a eleição foi pro segundo turno. Em uma semana, houve o arrefecimento da questão do aborto, inclusive com a denúncia de que a mulher do Serra, figura central na campanha de difamação da Dilma, já tinha realizado aborto. Logo depois, surgiu o escândalo do Paulo Preto, um caso de corrupção ligado diretamente ao PSDB de São Paulo e sobre o qual Serra disse não ter conhecimento. Com isso, esses dois temas foram deixados de lado e o posicionamento dos candidatos em relação a questões mais importantes pro país, como as privatizações, o Pré-Sal e a questão agrária puderam ficar mais claras. A antiga tentativa tucana de privatização da Petrobras foi relembrada e renovada na declaração de assessores importantes de Serra defendendo a privatização do Pré-Sal. O posicionamento duro de Serra contra o MST também foi explicitado.

A partir daí, foi só alegria. Serra perdeu por 12 milhões de votos, para deixar claro que o povo brasileiro não queria a volta do falido neoliberalismo.

Serra ainda teve um fim meio melancólico, com um péssimo discurso de despedida e ainda foi pra França ser vaiado em um discurso contra o governo Lula.

Seguem alguns materiais para ilustrar.

Os dois primeiros são sobre a confusão da escolha do Vice.

Os terceiro é uma fala do Índio da Costa sobre o Pronasci que explicita bem como eles pensam a questão da segurança pública.

O quarto é o editorial do Estadão explicitando apoio ao Serra.

O quinto são dois vídeos que mostram bem a diferença de tratamento das notícias entre a Globo e a Record.

O sexto é uma ótima declaração do Lembo, que já virou meu ídolo desde a entrevista após os ataques do PCC, sobre o que faltou para o Serra ganhar as eleições.

O sétimo é sobre o caso da quebra do sigilo.

O oitavo deixa claro todo o caráter conservador da candidatura do Serra.

Os dois seguintes são sobre a questão do aborto.

O décimo-primeiro é sobre o esquema do Paulo Preto.

Os três seguintes explicitam o projeto privatizante do PSDB.

O seguinte é um vídeo de um debate entre a Soninha e o Emídio, Prefeito de Osasco pelo PT, em que ela fica descontrolada e defende cegamente a campanha do Serra.

Por fim, uma entrevista com o Ferreira Gullar que, para mim, explicita todo o ódio e o preconceito que a nossa elite sente pelo Governo Lula. Ele fala tanta besteira que é até difícil de acreditar.

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http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4517528-EI15315,00-PSDB+oferece+vice+de+Serra+a+Alvaro+Dias+para+segurar+Osmar.html

PSDB oferece vice de Serra a Álvaro Dias para segurar Osmar

23 de junho de 2010 – 14h25 – atualizado às 19h31

MARCELA ROCHA

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ligou nesta quarta-feira (23) para o colega e correligionário Álvaro Dias (PR) e avisou que, caso seu irmão Osmar Dias (PDT-PR) aceite o acordo de concorrer ao Senado na chapa do ex-prefeito de Curitiba Beto Richa, as lideranças tucanas tentarão convencer o DEM a conceder a vaga de vice do presidenciável José Serra a ele, Álvaro Dias. Osmar Dias é o nome indicado por sua atual legenda para disputar o governo do Paraná na chapa com PMDB e PT. A decisão precisa ser tomada até amanhã, pouco antes da convenção do PDT neste final de semana, quando deve anunciar sua candidatura.

Os petistas e peemedebistas apresentaram uma contraproposta a Osmar Dias: o governador Orlando Pessuti (PMDB) admitiu retirar sua candidatura e ceder a cadeira ao pedetista, atendendo a conselhos do presidente Lula e da candidata petista Dilma Rousseff, interessados em fortalecer os palanques no Sul do País. Osmar, no entanto, passa a bola aos tucanos e pede a garantia de vice para seu irmão antes que a sua decisão por concorrer ao governo, ou não, seja tomada.

O senador consultou sua direção partidária sobre a possível aliança com o PSDB, sinalizando aos tucanos que desejava realizar a coligação. Já aos petistas, Osmar dizia querer Gleise Hoffmann (PT), mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, como sua candidata a vice. E o PT quer Hoffmann no Senado.

Guerra já se reuniu nesta quarta com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Segundo Álvaro Dias, “a questão da vice está sendo equacionada por Serra e PSDB, em conjunto com aliados. Não cabe a ninguém advogar em causa própria”. O senador paranaense confirma a ligação de Guerra e oportunamente avisa que será muito difícil não apoiar seu irmão caso ele seja candidato ao governo. Osmar resiste à ideia de abandonar a aliança com PMDB e PT sem a garantia de que Álvaro assumirá a vice de Serra.

O PSDB tenta driblar o DEM e construir uma chapa puro sangue. Guerra, que também já foi cotado para o posto, chegou a recomendar que Álvaro Dias fosse ao lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin para o governo de São Paulo neste domingo (13) para “marcar presença ao lado de Serra”.

Os tucanos já não esperam por uma aliança com o PP que optou pela neutralidade nacional e afastou assim a possibilidade de colocar o senador Francisco Dornelles (RJ) na vice de Serra. O ex-governador de São Paulo tem declarado que definirá um nome para acompanhá-lo na corrida ao Planalto até o dia 30 deste mês. E o DEM tem reivindicado publicamente a vaga desde quando o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves enterrou a possibilidade de assumir o posto.

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http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/06/30/indio-da-costa-do-dem-sera-vice-de-serra-no-lugar-de-alvaro-dias-na-chapa-do-psdb-917022491.asp

ELEIÇÕES 2010

Indio da Costa, do DEM, será vice de Serra no lugar de Álvaro Dias na chapa do PSDB

Publicada em 30/06/2010 às 16h39m

Flávio Freire, Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos – O GloboReuters

Índio da Costa - Ailton de Freitas / Arquivo

BRASÍLIA – Após três meses de intensa negociação e a menos de 24 horas do fim do prazo para a escolha, DEM e PSDB decidiram lançar nesta quarta-feira o deputado Indio da Costa (DEM-RJ) como vice na chapa de José Serra à Presidência, no lugar do senador tucano Álvaro Dias (PR) . A indicação do deputado foi aprovada, por aclamação, durante convenção nacional do DEM, que manteve a coligação com o PSDB para as eleições de outubro.( Veja o perfil do deputado Indio da Costa )

A escolha surpreendeu tucanos que participaram, desde terça-feira, das três últimas reuniões com integrantes do DEM, em São Paulo. Após bater o martelo com Serra, o próprio presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, admitiu que o nome de Indio da Costa nunca havia sido cogitado para o posto.

– Foi um nome que se construiu ao longo das últimas horas, primeiro com diálogo com o (ex-governador mineiro) Aécio Neves, depois com o nosso candidato a presidente, até que chegamos ao nome dele. É uma escolha muito boa e os partidos (DEM e PSDB) fecharam integralmente – disse Maia, ao sair da casa do presidenciável, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.

Rodrigo Maia lembrou que Indio da Costa foi relator do projeto Ficha Limpa, é um político jovem e tem atuação destacada no Congresso. Nascido em 1970, foi vereador por três mandatos no Rio de Janeiro e está na sua primeira gestão como deputado federal. Ele foi ainda secretário municipal de Administração na gestão de Cesar Maia (DEM).

– O nome de Indio da Costa agrega votos e qualidade à chapa – acrescentou Rodrigo Maia.

O nome de Indio da Costa foi lançado pelos democratas na noite de terça-feira, durante encontro do grupo na casa do prefeito paulista, Gilberto Kassab, também do DEM. Horas antes, durante encontro com tucanos no Hotel Emiliano, onde estava também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o DEM teria dado um ultimato – sem lançar qualquer nome – ao partido de Serra, garantindo que ou o vice seria dos quadros da legenda ou eles estariam fora da coligação. Com isso, a campanha do tucano perderia pouco mais de dois minutos de exposição no rádio e na TV.

Aos correligionários, Serra teria tentado ainda forçar a manutenção do nome do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para o posto, mas fora demovido diante da convicção de caciques tucanos sobre o prejuízo que a candidatura sofreria com a redução do tempo de propaganda no horário eleitoral gratuito. Serra teria insistido, com argumento de que teme o uso, pelos adversários, do escândalo sobre o mensalão de Brasília, que terminou na prisão do ex-governador do Distrito Federal (DEM), José Roberto Arruda.

– É só mostrar o vídeo do Arruda com aquele monte de dinheiro que minha campanha vai sofrer abalos – teria dito o tucano a dirigentes do partido.

A cúpula, no entanto, preferiu apostar que o PT não deverá usar tal munição, pois a elaboração de um suposto dossiê teria deixado a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff com o telhado de vidro.

Para DEM, crise com o PSDB está encerrada

Diante do recuo do PSDB, o clima foi de alívio entre os democratas, quecomemoraram a escolha de Índio da Costa . Para ACM Neto (DEM-BA), a crise entre os dois partidos está encerrada.

– A crise está solucionada. Foram criadas condições favoráveis para que todos entrem em campo para a vitória de Serra. É natural na política esse tipo de crise enquanto a campanha não tem início. Agora, quando começa o campeonato o time tem que estar afinado – declarou.

A crise entre os dois partidos começou quando o PSDB avisou ao PTB que escolhera Dias antes de comunicar ao DEM. O presidente do PTB, deputado cassado Roberto Jefferson, anunciou o nome no Twitter , irritando os democratas.

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http://www.estadao.com.br/noticias/geral,editorial-o-mal-a-evitar,615255,0.htm

Editorial: O mal a evitar

25 de setembro de 2010 | 17h 02

A acusação do presidente da República de que a Imprensa “se comporta como um partido político” é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre “se comportar como um partido político” e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.

Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, oEstado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.

Efetivamente, não bastasse o embuste do “nunca antes”, agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.

Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa – iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique – de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.

Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia – a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o “cara”. Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: “Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?” Este é o mal a evitar.

Texto publicado na seção “Notas e Informações” da edição de 26/09/2010

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http://noticias.r7.com/videos/serra-se-diz-um-ambientalista-convicto-/idmedia/f6f3a8b5dcfd94a637998fdad661eb33.html

http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/jose-serra-visita-moradores-da-zona-leste-de-sao-paulo/1351066/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20101005/page/2

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http://mais.uol.com.br/view/1575mnadmj5c/serra-ganharia-se-telefonasse-menos-as-redacoes-diz-lembo-04021A3072DCC923E6?types=A&

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http://www.cartacapital.com.br/politica/amaury-ribeiro-jr-e-o-glossario-da-privatizacao

Amaury Ribeiro Jr. e o glossário da privatização

Redação Carta Capital

26 de outubro de 2010 às 14:53h

O jornalista Amaury Ribeiro Jr. Foto: Ed Ferreira 

Mais indícios de que as quebras de sigilo têm a ver com a apuração do jornalista
Na segunda-feira 25, após seu novo depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília, o quarto desde que veio a público o caso da quebra do sigilo fiscal de tucanos e parentes do candidato José Serra, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. distribuiu aos colegas de profissão uma carta e documentos que baseiam seu livro sobre os escândalos das privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso. CartaCapital chama a atenção para dois trechos importantes da carta: citações a depósitos em uma conta de Ricardo Sérgio de Oliveira feitas por Gregório Marin Preciado e Carlos Jereissati.

Breve curriculum dos personagens:

Ricardo Sérgio de Oliveira era diretor da área internacional do Banco do Brasil à época da privatização do sistema Telebrás. Personagem recorrente no escândalo da privatização da telefonia, é dele a memorável frase “no limite da irresponsabilidade”. Oliveira era um dos encarregados de apoiar a formação dos consórcios da privatização. Havia uma guerra particular entre a turma do banqueiro Daniel Dantas e o grupo de Carlos Jereissati, irmão do senador Tasso Jereissati. Carlos venceu a queda-de-braço e ficou com a Telemar, hoje Oi. Essa guerra intestina está na base das escutas ilegais que levaram à explosão do escândalo do vazamento das “fitas do BNDES”.

Carlos Jereissati, empresário, classificado como integrantes da “rataiada” que queria se locupletar na privatização da Telebrás. Quem cunhou o termo foi Luiz Carlos Mendonça de Barros, então presidente do BNDES. Mendonça de Barros, pelo que indicam os grampos, trabalhava para favorecer a Telecom Italia e o banqueiro Daniel Dantas contra a “rataiada” de Jereissati.

Gregório Marin Preciado, casado com uma prima de José Serra, apontado como arrecadador de campanhas do tucano e envolvido em variadas de denúncia de corrupção.

Oliveira, Preciado e Mendonça de Barros tiveram seus sigilos fiscais devassados.

Como mostra Ribeiro Jr., o elo se fecha.

Leia abaixo a íntegra dos documentos repassados pelo jornalista.

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http://www1.folha.uol.com.br/poder/820774-em-convencao-da-assembleia-de-deus-serra-promete-vetar-lei-da-homofobia.shtml

26/10/2010 – 20h50

Em convenção da Assembleia de Deus, Serra promete vetar Lei da homofobia

JOSÉ MASCHIO
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU (PR)

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, prometeu hoje em Foz do Iguaçu (PR) vetar a Lei da Homofobia, caso ela seja aprovada pelo Congresso.

Segundo Serra, o projeto, como foi aprovado na Câmara, pode tornar um crime “semelhante ao racismo” a pregação de pastores evangélicos contra a prática homossexual.

Ele prometeu o veto depois de ser inquirido sobre o assunto por um pastor presente à 50ª Convenção Anual das Igrejas Assembleias de Deus do Paraná. A proposta, aprovada na Câmara, ainda não foi votada no Senado.

“Uma coisa é grupos de extermínio, praticando violência contra homossexuais, como já ocorreu em São Paulo. Outra coisa é o projeto como está, que passa a perseguir as igrejas que combatem a prática homossexual”, afirmou.

Ele disse que, eleito, não terá dificuldades de fazer a maioria no Congresso, “sem barganhas” para evitar a aprovação da lei.

Convidado de honra dos evangélicos reunidos em Foz do Iguaçu (a 656 KM a oeste de Curitiba), Serra se comprometeu também a lutar contra pontos do Plano Nacional dos Direitos Humanos criticados pela Igreja.

Entre os temas estão a descriminalização do aborto, a união homossexual, a invasão de propriedades e questões relativas à liberdade religiosa.

Segundo o tucano, o Plano Nacional dos Direitos Humanos, “encaminhado por Dilma à sanção do presidente Lula”, criminaliza “quem é contra o aborto”.

Serra disse, a uma plateia estimada pelos organizadores em mais de mil pessoas, que o plano incentiva a invasão à propriedade, “não só ao imóvel rural, mas também a um apartamento”.

Questionado sobre a união homossexual, Serra, que havia defendido a união civil, recentemente, em São Paulo, preferiu lembrar que a tentativa de controle social da mídia pode levar a situações de interferência na liberdade religiosa dos brasileiros.

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http://www.cartacapital.com.br/politica/o-levante-das-amelias-pitbull

O levante das Amélias pitbull

Cynara Menezes

13 de outubro de 2010 às 17:57h

Weslian Roriz e Mônica Serra: lutando pelo direito das mulheres de serem só primeiras-damas. Por Cynara Menezes. Foto:Agência Brasil/Sérgio Lima/ Folhapress 

Em novembro de 1994, fui cobrir a participação de Ruth Cardoso, esposa do presidente eleito Fernando Henrique, no congresso da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que até hoje acontece em Caxambu, Minas. Depois de flanar durante o dia por entre as mesas-redondas e palestras, dona Ruth sentou-se à beira da piscina do hotel, com seus amigos intelectuais, para fumar um cigarrinho e tomar um drinque. Ali vi que era o tipo de mulher a admirar: inteligente, independente, interessante. Eu nunca votaria no marido dela para nada, mas dona Ruth era a perfeita primeira-dama. Termo, que, coerentemente, odiava.
Sou uma espécie de especialista em primeiras-damas. Sempre que estive em Brasília cobrindo política, elas eram “minha área”. Fui a primeira jornalista do país a entrevistar Rosane Collor após a vitória em 1989, e depois da posse, em 1990. Collor foi substituído por Itamar Franco, que era divorciado. E então veio dona Ruth. Claro que a discreta antropóloga foi um sopro de civilidade diante da moça simplória, cuja característica mais marcante era combinar a bolsa com os sapatos. E que achava ser primeira-dama “bárbaro”. Com Lula chegou dona Marisa Letícia que, pena, optou por ser silenciosa. Mas, com exceção da estrela sem noção que quis pôr nos jardins do Alvorada, nada fez que pudesse me envergonhar como cidadã.

Dona Ruth foi de longe a mais completa das primeiras-damas, mas ainda assim era primeira-dama, não presidente. E vejam só. Agora que se desenha a possibilidade de termos finalmente uma mulher no cargo máximo da Nação, e não um apêndice – admirável ou não -, eis que duas integrantes do sexo feminino saem da sombra onde se achavam para colocar as brasileiras “no seu devido lugar”, com a mensagem subliminar de que não nascemos para presidir, e sim para sermos eternamente primeiras-damas. No máximo, vice-presidentes, cargo que Rita Camata topou ocupar ao lado de José Serra em 2002. Presidente, não. Se ser primeira-dama é tão bom, toda a glória e nenhum poder…
Não consigo ver diferenças profundas entre Weslian Roriz e Monica Serra. Deveria, pois enquanto a primeira é a típica mulher “do lar” da geração de nossas mães, a segunda esteve exilada com o marido no exterior, estudou em universidades norte-americanas, tem até doutorado. Do jeito que tem se posicionado, foi uma surpresa para mim descobrir isso – sinceramente, pensava que era apenas uma ex-bailarina e dona-de-casa. O caso da sra. Roriz é sem dúvida mais grave: ela quer se tornar governadora para continuar a ser primeira-dama! Já Monica quer ser primeira-dama, e basta. Alguém duvida, porém, que faria o mesmo pelo “Zé” se ele, por alguma razão, pedisse? Que se lançaria às feras de uma eleição, como Weslian, para agradar ao marido?

O tipo de fidelidade canina de Monica é idêntico ao da mulher de Roriz. Como Amélias pitbull, ambas são capazes de atacar quem quer que seja na defesa do macho da casa e da instituição familiar. Ambas se dizem católicas fervorosas. E ambas apelam para o aborto para tentar derrotar os adversários dos maridos. No debate do primeiro turno na Globo do Distrito Federal, a “doce” Weslian virou-se para Agnelo Queiroz, do PT, e, em vez de responder à pergunta que lhe foi feita, leu seu papelzinho: “Ah, o sr. é comunista, não acredita em Deus! Então, é a favor do aborto ou não?” Monica recebeu a incumbência, ao lado do vice Índio da Costa, de atiçar pastores e padres para que associem Dilma Rousseff a valores condenados pela igreja. Nas palavras da candidata a primeira-dama, Dilma “gosta de matar criancinhas”.

Tanto o comportamento da mulher-laranja, que ocupa o lugar do marido ficha-suja, como o da mulher que assume a estratégia mais rasteira da campanha para deixar a figura do esposo imaculada me parecem igualmente desprezíveis. Weslian e Monica encarnam a perfeita antítese dos quase 50 anos de movimento feminista no mundo. Quem diria? Em pleno século 21, após tantas lutas e conquistas, surgem do nada duas mulheres sem brilho próprio para impor, em Brasília e no Brasil, uma moral arcaica, retrógrada, em que aborto não é um problema de saúde pública, mas religioso.

E o pior, para insinuar que nosso papel deve continuar a ser subalterno, subserviente, que não estamos “preparadas” para sermos presidentes. Não é assim que fala a propaganda do maridão de Monica? O mais engraçado é que a ação delas se dá justamente diante da perspectiva de passarmos quatro (ou oito) anos sem ter primeira-dama alguma. É como se Weslian e Monica estivessem à frente de um levante de felizes e ferozes donas-de-casa preocupadas em salvaguardar a existência de um cargo por si – Ruth Cardoso tinha toda razão em abominar o termo – meio patético.

Somos iguais aos homens. Não somos maiores, mas não somos menores. Não nascemos para servir – embora, gentis, gostemos de servir. Não fomos feitas para nos submeter a tudo que os homens querem, nem os nossos homens. E não viemos ao mundo para sermos primeiras-damas resignadas em permanecer nos bastidores, na cozinha, ou, na melhor das hipóteses, servindo de peça de enfeite, ornando poderosos. Estamos, sim, preparadas para estar no comando do país.

A postura de Weslian Roriz e Monica Serra me causa indignação e estou segura que indignaria Ruth Cardoso, se fosse viva. Sobre o aborto, aliás, ela declarou em 1999, em entrevista no programa Roda Viva: “Eu acho que se deve garantir o direito às mulheres de usarem ou não essa possibilidade”. Não surpreende que pensasse assim. Dona Ruth não era nenhuma Amélia.

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“Monica Serra já fez um aborto e sou solidária à sua dor”, afirma ex-aluna da mulher de presidenciável

13/10/2010 12:39,  Por Redação, do Rio de Janeiro e São Paulo

Monica SerraSylvia Monica Serra foi professora de dança na Unicamp 

O desempenho do presidenciável tucano, José Serra, no debate do último domingo pela TV Bandeirantes, foi a gota d’água para uma eleitora brasileira. O silêncio do candidato diante da reclamação formulada pela adversária, Dilma Rousseff (PT) – de que fora acusada pela mulher dele, a ex-bailarina e psicoterapeuta Sylvia Monica Allende Serra, de “matar criancinhas” –, causou indignação em Sheila Canevacci Ribeiro, a ponto de levá-la até sua página em uma rede social, onde escreveu um desabafo que tende a abalar o argumento do postulante ao Palácio do Planalto acerca do tema que divide o país, no segundo turno das eleições. A coreógrafa Sheila Ribeiro relata, em um depoimento emocionado, que a ex-professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Monica Serra relatou às alunas da turma de 1992, em sala de aula, que foi levada a fazer um aborto “no quarto mês de gravidez”.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Brasil, na noite desta segunda-feira, Sheila deixa claro que não era partidária de Dilma ou de Serra no primeiro turno: “Votei no Plínio (de Arruda Sampaio)”, declara. Da mesma forma, esclarece ser apenas uma eleitora, com cidadania brasileira e canadense, que repudiou o ambiente de hipocrisia conduzido pelo candidato da aliança de direita, ao criminalizar um procedimento cirúrgico a que milhões de brasileiras são levadas a realizar em algum momento da vida. Sheila, durante a entrevista, lembra que no Canadá este é um serviço prestado em clínicas e hospitais do Estado, como forma de evitar a morte das mulheres que precisam recorrer à medida “drástica e contundente”, como fez questão de frisar.

No texto, intitulado “Respeitemos a dor de Mônica Serra”, Sheila Ribeiro repete a pergunta de Dilma, que ficou sem resposta:

– Se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?

Leia o texto, na íntegra:

Respeitemos a dor de Mônica Serra

“Meu nome é Sheila Ribeiro e trabalho como artista no Brasil. Sou bailarina e ex-estudante da Unicamp onde fui aluna de Mônica Serra.

“Aqui venho deixar a minha indignação no posicionamento escorregadio de José Serra, que no debate de ontem (domingo), fazia perguntas com o intuito de fazer sua campanha na réplica, não dialogando em nenhum momento com a candidata Dilma Roussef.

“Achei impressionante que o candidato Serra evita tocar no assunto da descriminalização do aborto, evitando assim falar de saúde pública e de respeitar tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Mônica Serra já fez um aborto e sou solidária à sua dor.

“Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o aborto, sobre o seu aborto traumático. Mônica Serra fez um aborto. Na época da ditadura, grávida de quatro meses, Mônica Serra decidiu abortar, pois que seu marido estava exilado e todos vivíamos uma situação instável. Aqui está a prova de que o aborto é uma situação terrível, triste, para a mulher e para o casal, e por isso não deve ser crime, pois tantas são as situações complexas que levam uma mulher a passar por essa situação difícil. Ninguém gosta de fazer um aborto, assim como o casal Serra imagino não ter gostado. A educação sobre a contracepção deve ser máxima para que evitemos essa dor para a mulher e para o Estado.

“Assim, repito a pergunta corajosa de minha presidente, Dilma Roussef, que enfrenta a saúde pública cara a cara com ela: se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?

“Nesse sentido, devemos prender Mônica Serra caso seu marido seja eleito presidente?

“Pelo Brasil solidário e transparente que quero, sem ameaças, sem desmerecimento da fala do outro, com diálogo e pelo respeito à dor calada de Mônica Serra,

“VOTO DILMA”, registra, em letras maiúsculas, no texto publicado em sua página no Facebook, nesta segunda-feira, às 10h24.

Reflexão

Diante da imediata repercussão de suas palavras, Sheila acrescentou em sua página um comentário no qual afirma ser favorável “à privacidade das pessoas”.

“Inclusive da minha. Quando uma pessoa é um personagem público, ela representa muitas coisas. Escrevi uma reflexão, depois de assistir a um debate televisivo onde a figura simbólica de Mõnica Serra surgiu. Ali uma incongruência: a pessoa que lutou na ditadura e que foi vítima de repressão como mulher (com evento trágico naquele caso, pois que nem sempre o aborto é trágico quando é legalizado e normalizado) versus a mulher que luta contra a descriminalização do aborto com as frases clássicas do “estão matando as criancinhas”. Quem a Mônica Serra estaria escolhendo ser enquanto pessoa simbólica? Se é que tem escolha – foi minha pergunta.

“Muitas pessoas públicas servem-se de suas histórias como bandeiras pelos direitos humanos ou, ainda, ficam quietas quando não querem usá-las. Por isso escrevi ‘respeitemos a dor’. Para mim é: respeitemos que muita gente já lutou pra que o voto existisse e que para que cada um pudesse votar, inclusive nulo; muita monica-serra-pessoa já sofreu no Brasil e em outros países na repressão para que outras mulheres pudessem escolher o que fazer com seus corpos e muitas monicas-serras simbólicas já impediram que o aborto fosse descriminalizado.

“Muitas pessoas já foram lapidadas em praça pública por adultério e muitas outras lutaram pra que a sexualidade de cada um seja algo de direito. A minha questão é: uma pessoa que é lapidada em praça pública não faz campanha pela lapidação, então respeitemos sua dor, algo está errado. Se uma pessoa pública conta em público que foi lapidada, que foi vítima, que foi torturada, que sofreu, por motivos de repressão, esse assunto deve ser respeitadíssimo.

“Vinte por cento da população fazem abortos e esses 20% tem o direito absoluto de ter sua privacidade, no entanto quando decidem mostrar-se publicamente não entendo que estes assimilem-se ao repressor”, acrescentou a ex-aluna de Monica Serra, que teria relatado a experiência, traumática, às alunas da turma de 1992.

Exílio e ditadura

Sheila diz ainda, em seu depoimento, que “muitas pessoas querem ‘explicações” para o fato de ela declarar, publicamente, o que a ex-professora disse às suas alunas na Unicamp.

“Eu sou apenas uma pessoa, uma mulher, uma cidadã que viu um debate e que se assustou, se indignou e colocou seu ponto de vista na internet. Ao ver Dilma dizendo que Mônica falou algo sobre ‘matar criancinhas’, duvidei.

“Duvidei porque fui sua aluna e compartilhei do que ela contou, publicamente (que havia feito um aborto), em sala de aula. Eu me disse que uma pessoa que divide sua dor sobre o aborto, sobre o exílio e sobre a ditadura, não diria nunca uma atrocidade dessas, mesmo sendo da oposição. Essa afirmação de ‘criancinhas assassinadas’ é do nível do ‘comunista come criancinha’. A Mônica Serra é mais classe do que isso (e, aliás, gosto muito dela, apesar do Serra não ser meu candidato).

“Por isso, deixei claro o meu posicionamento que o aborto não pode ser considerado um crime – como não é na Itália, na França e em outros países. Nesse sentido não quero ser usada como uma ‘denunciadora de um ‘delito’. Ao contrário, estou relembrando na internet, aos meus amigos de FB (Facebook), que o aborto é uma questão complexa que envolve a todos e que, como nos países decentes, não pode ser considerado um crime – mas deve ser enfrentado como assunto de saúde.

“O Brasil tem muitos assuntos a serem tratados, vamos tratá-los com o carinho e com a delicadeza que merece.

“Agora volto ao meu trabalho”, conclui Sheila o seu relato na página da rede social.

Sem resposta

Diante da afirmativa da ex-aluna de Sylvia Monica Serra, o Correio do Brasil procurou pelo candidato, no Twitter, às 23h57:

“@joseserra_ Sr. candidato Serra. Recebemos a informação de que Dnª Monica Serra teria feito um aborto. O sr. tem como repercutir isso?”

Da mesma forma, foi encaminhado um e-mail à assessoria de imprensa e, posteriormente, um contato telefônico com o comitê de Serra, em São Paulo. Até o fechamento desta matéria, às 1239h desta quarta-feira, porém, não houve qualquer resposta à pergunta. O candidato, a exemplo do debate com a candidata petista, novamente optou pelo silêncio.

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http://www.participabr.com.br/noticias/entry/paulo-preto-o-assessor-que-levou-4-milhoes-do-caixa-de-serra/

PAULO PRETO: O ASSESSOR QUE LEVOU 4 MILHÕES DO CAIXA DE SERRA

10.10.2010

Um tucano bom de bico

Quem é e como agia o engenheiro Paulo Vieira de Souza, acusado por líderes do PSDB de ter arrecadado dinheiro de empresários em nome do partido e não entregá-lo para o caixa da campanha

Sérgio Pardellas e Claudio Dantas Sequeira

Nas últimas semanas, o engenheiro Paulo Vieira de Souza tem sido a principal dor de cabeça da cúpula tucana. Segundo oito dos principais líderes e parlamentares do PSDB ouvidos por ISTOÉ, Souza, também conhecido como Paulo Preto ou Negão, teria arrecadado pelo menos R$ 4 milhões para as campanhas eleitorais de 2010, mas os recursos não chegaram ao caixa do comitê do presidenciável José Serra.

Como se trata de dinheiro sem origem declarada, o partido não tem sequer como mover um processo judicial. “Ele arrecadou por conta própria, sem autorização do partido. Não autorizamos ninguém a receber dinheiro de caixa 2. As únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido na arrecadação são o José Gregori e o Sérgio Freitas”, afirma o ex-ministro Eduardo Jorge, vice-presidente nacional do PSDB. “Não podemos calcular exatamente quanto o Paulo Preto conseguiu arrecadar.

Sabemos que foi no mínimo R$ 4 milhões, obtidos principalmente com grandes empreiteiras, e que esse dinheiro está fazendo falta nas campanhas regionais”, confirma um ex-secretário do governo paulista que ocupa lugar estratégico na campanha de José Serra à Presidência.

Segundo dois dirigentes do primeiro escalão do partido, o engenheiro arrecadou “antes e depois de definidos os candidatos tucanos às sucessões nacional e estadual”.

Os R$ 4 milhões seriam referentes apenas ao valor arrecadado antes do lançamento oficial das candidaturas, o que impede que a dinheirama seja declarada, tanto pelo partido como pelos doadores. “Essa arrecadação foi puramente pessoal. Mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder, infelizmente, ele tinha. Às vezes, os governantes delegam poder para as pessoas erradas”, afirmou à ISTOÉ Evandro Losacco, membro da Executiva do PSDB e tesoureiro-adjunto do partido, na quarta-feira 11.

O suposto desvio de recursos que o engenheiro teria promovido nos cofres da campanha tucana foi descoberto na segunda-feira 2. Os responsáveis pelo comitê financeiro da campanha de Serra à Presidência reuniram-se em São Paulo a fim de fechar a primeira parcial de arrecadação, que seria declarada no dia seguinte à Justiça Eleitoral.

Levaram um susto quando notaram que a planilha de doações informava um montante muito aquém das expectativas do PSDB e do esforço empenhado pelos tucanos junto aos doadores: apenas R$ 3,6 milhões, o equivalente a um terço do montante arrecadado pela candidata do PT, Dilma Rousseff. Ciosos de seu bom trânsito com o empresariado, expoentes do PSDB não imaginavam ter recolhido tão pouco. Sinal de alerta aceso, deflagrou-se, então, um processo de consulta informal às empresas que já haviam se comprometido a contribuir.

O trabalho de checagem contou com a participação do tesoureiro José Gregori e até do candidato José Serra e logo veio a conclusão: Paulo Preto teria coletado mais de R$ 4 milhões, mas nenhum centavo foi destinado aos cofres do partido, oficialmente ou não. Iniciava ali o enredo de uma história nebulosa com potencial para atingir o seio do PSDB às vésperas das eleições presidenciais.

“Além de representar uma quantia maior do que a arrecadada oficialmente até agora, o desfalque poderá atrapalhar ainda mais o fluxo de caixa da campanha”, explica um tucano de alta plumagem, que já disputou quatro eleições pelo partido.

Segundo ele, muitas vezes as grandes empreiteiras não têm como negar contribuições financeiras, mas, nesse caso, ganharam um forte argumento: basta dizer que já contribuíram através do engenheiro, ainda que não o tenham feito. Até abril, Paulo Preto ocupou posição estratégica na administração tucana do Estado de São Paulo.

Ele atuou como diretor de engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), estatal paulista responsável por algumas das principais obras viárias do País, entre elas o Rodoanel, empreendimento de mais de R$ 5 bilhões, e a ampliação da marginal Tietê, orçada em R$ 1,5 bilhão – ambas verdadeiros cartões-postais das campanhas do partido.

No caso do Rodoanel, segundo um dirigente do PSDB de São Paulo, cabia a Paulo Preto fazer o pagamento às empreiteiras, bem como coordenar as medições das obras, o que, por força de contrato, determina quanto a ser pago às construtoras e quando. No Diretório Estadual do partido, nove entre dez tucanos apontam a construção do eixo sul do Rodoanel como a principal fonte de receita de Paulo Preto.

Outro político ligado ao Diretório Nacional do PSDB explica que a função do engenheiro na Dersa aproximou Paulo Preto de empreiteiras como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS, Mendes Júnior, Carioca e Engevix. Losacco, um dos coordenadores das campanhas de Serra e de Geraldo Alckmin em 2006, afirma que o elo principal de Paulo Preto com o PSDB é Aloysio Nunes Ferreira, ex-secretário da Casa Civil de Serra e atual candidato do partido ao Senado por São Paulo. O próprio engenheiro confirma uma amizade de mais de 20 anos com Aloysio (leia entrevista abaixo).

De acordo com um importante quadro do PSDB paulista, desde 2008 Paulo Preto estava “passando o chapéu” visando ao financiamento da pré-candidatura de Aloysio ao governo do Estado. “Não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o ‘interlocutor’ do Aloysio junto aos empresários”, disse à ISTOÉ o diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel.

Geraldo Alckmin acabou se impondo e obtendo a legenda para disputar o governo estadual, mas até a convenção do partido, em junho, a candidatura de Aloysio era considerada uma forte alternativa tucana, pois contava com o apoio do então governador José Serra e da maioria dos secretários. O engenheiro, segundo um membro da Executiva Nacional do partido, agia às claras junto a empresários e a prefeitos do interior de São Paulo.

Falastrão, contava vantagens aos companheiros e nos corredores do Palácio dos Bandeirantes. Prometia mundos e fundos num futuro governo Aloysio. E quando Aloysio deixou a Casa Civil de Serra, muitos passaram a torcer por sua exoneração, o que aconteceu sob a batuta do governador Alberto Goldman. Losacco, que foi secretário-geral do PSDB paulista até 2007, afirma que desde 2008 alertava a cúpula do partido sobre os movimentos de Paulo Vieira na Dersa. “Esse tipo de pessoa existe na administração pública. Tem a facilidade de achacar e não tem o menor controle.

Todo mundo já sabia há muito tempo disso”, conta o dirigente tucano. Diante desses alarmes, a cúpula do partido chegou a cogitar a saída dele da estatal rodoviária há mais de um ano. Mas recuou. “O motivo (do recuo) eu não sei. Deve ter um motivo. Mas no governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso. Agora, de alguma maneira essa coisa toda vai ter que ser apurada.

Sabemos da seriedade que o governo tem, mas infelizmente fica sujeito a esse tipo de gente”, acrescentou Losacco. Segundo o tesoureiro-adjunto do PSDB, o empresário acaba cedendo, pois “entende que o cara tem a caneta e que pode atrapalhar os negócios”. Os motivos que teriam levado Paulo Preto a dar o calote no PSDB ainda estão envoltos em mistério. Mas, entre os tucanos, circula a versão de que o partido teria uma dívida com o engenheiro contraída em eleições passadas. Na entrevista concedida à ISTOÉ, Paulo Preto nega que tenha feito qualquer tipo de arrecadação e desafia os caciques tucanos a provar essas denúncias. “Acho muito pouco provável que isso tenha acontecido sem que eu soubesse”, disse Aloysio à ISTOÉ. “Não posso falar sobre uma coisa que não existiu, que é uma infâmia”, completou.

No PSDB, porém, todos pelo menos já ouviram comentários sobre o suposto desvio praticado por Paulo Preto nos cofres tucanos. “Fiquei sabendo da história desse cara ontem”, disse o deputado José Aníbal (SP), ex-líder do partido na Câmara, na terça-feira 10. “Parece mesmo que ele sumiu. Desapareceu. Me falaram que ele foi para a Europa. Vi esse cara na inauguração do Rodoanel.”

De fato, depois de deixar a Dersa, o engenheiro esteve na Espanha e só voltou ao Brasil há poucos dias. Na cúpula do PSDB, porém, até a semana passada poucos sabiam que Paulo Preto havia retornado e o tratavam como “desaparecido”. As relações de Aloysio e Paulo Preto são antigas e extrapolam a questão política. Em 2007, familiares do engenheiro fizeram um empréstimo de R$ 300 mil para Aloysio.

No final do ano passado, o ex-chefe da Casa Civil afirmou que usou o dinheiro para pagar parte do apartamento adquirido no bairro de Higienópolis e que tudo já foi quitado. Apontado como um profissional competente e principal responsável pela antecipação da inauguração do rodoanel, Paulo Vieira de Souza chegou a ser premiado pelo Instituto de Engenharia de São Paulo em dezembro de 2009. O engenheiro não é filiado ao PSDB, mas tem uma história profissional ligada ao setor público e há 11 anos ocupa cargos de confiança nos governos tucanos.

No segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi assessor especial da Presidência e trabalhou quatro anos no Palácio do Planalto, como coordenador do Programa Brasil Empreendedor. Em São Paulo, também atuou na linha 4 do Metrô e na avenida Jacu Pêssego, ambas obras de grande porte e também cartões-postais das campanhas tucanas, a exemplo do rodoanel e da marginal Tietê. Paulo Preto foi exonerado da Dersa oito dias depois de participar da festa de inauguração do Rodoanel, ao lado dos principais líderes do partido. A portaria, publicada no “Diário Oficial” em 21 de abril, não explica os motivos da demissão do engenheiro, mas deputados tucanos ouvidos por ISTOÉ asseguram que foi uma medida preventiva.

O nome do engenheiro está registrado em uma série de documentos apreendidos pela Polícia Federal durante a chamada Operação Castelo de Areia, que investigou a construtora Camargo Corrêa entre 2008 e 2009. No inquérito estão planilhas que listam valores que teriam sido pagos pela construtora ao engenheiro. Seriam pelo menos quatro pagamentos de R$ 416,5 mil entre dezembro de 2007 e março do ano seguinte. Apesar de o relatório de inteligência da PF citar o nome do engenheiro inúmeras vezes, Paulo Preto não foi indiciado e, em janeiro, o inquérito da Operação Castelo de Areia foi suspenso por causa de uma liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça.

O temor dos tucanos é que durante a campanha eleitoral a liminar seja suspensa e a Operação Castelo de Areia volte ao noticiário. Outro episódio envolvendo o ex-diretor da Dersa foi sua prisão em flagrante, em junho deste ano, na loja de artigos de luxo Gucci do Shopping Iguatemi, em São Paulo. Solto um dia depois, ele passou a responder em liberdade à acusação de receptar um bracelete de brilhantes avaliado em R$ 20 mil. Paulo Preto e o joalheiro Musab Fatayer foram à loja para avaliar o bracelete, que pretendiam negociar. Desconfiado da origem da joia, o gerente da loja, Igor Augusto Pereira, pediu para que o engenheiro e Fatayer aguardassem.

Ao cruzar informações sobre o bracelete negociado, o gerente da Gucci descobriu que aquela joia havia sido furtada da loja em 7 de maio. Em seu depoimento, o gerente da Gucci disse para a polícia que foi Paulo Preto quem entregou o bracelete para que ele o avaliasse. O ex-diretor da Dersa alegou ter recebido a joia de Fatayer e que estava disposto a pagar R$ 20 mil por ela. O eventual prejuízo provocado por Paulo Preto pode não se resumir ao caixa da campanha. Um dos desafios imediatos da cúpula tucana é evitar que haja também uma debandada de aliados políticos, que pressionam o comando da campanha em busca de recursos para candidaturas regionais e proporcionais. Além disso, é preciso reconquistar a confiança de eventuais doadores, que se tornarão mais reticentes diante dos arrecadadores do partido.

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“Gente como eu tem prazo de validade”

Por Delmo Moreira

Aos 62 anos, Paulo Vieira de Souza está em plena forma. Ele é triatleta, já disputou 40 maratonas, nove ironman (modalidade que junta ciclismo, natação e corrida), 35 meia-ironman e duas ultramaratonas (prova com percurso superior a 42 quilômetros).

Desde que foi exonerado da Dersa, em abril, acelerou seus treinos físicos para disputar, em Florianópolis, as provas seletivas para o Ironman mundial, que será realizado no Havaí. “Só fora do governo para fazer um treinamento desses”, diz ele. Mas está confiante: “Pela minha personalidade, não tenho medo de dizer: vou ganhar essa porra.” Este estilo direto de falar, segundo Souza, é responsável pelos problemas que vem colecionando: “Pareço arrogante e por isso incomodo muita gente.” Souza é suspeito de levar propina de empreiteiras, foi envolvido no estranho caso da compra de uma joia possivelmente roubada e acabou acusado de desviar recursos da campanha tucana à Presidência da República.

Ele refutou todas essas acusações numa conversa de quase uma hora com ISTOÉ. A seguir, os principais trechos da entrevista:

ISTOÉ – O sr. é apontado como responsável pelo desvio de recursos arrecadados para a campanha do PSDB. O que o sr. tem a dizer sobre isto?

Paulo Vieira de Souza – Tem gente dizendo que sou responsável, mas desafio qualquer um a mostrar que tive qualquer atitude, em qualquer campanha em andamento, que coloquei o pé em alguma empresa, que pedi a alguém alguma coisa. Eles estão em campanha. Querem me eleger como bode expiatório porque estou fora. Mas eu não serei. Nunca trabalhei para a campanha deles.

ISTOÉ – Por que seu nome aparece no caso, então?

Souza – Empresário só ajuda quem ele quer. Acho que tem alguém querendo R$ 4 milhões de ajuda e não está conseguindo. Acho que alguém não foi atendido. Isto é uma briga interna do partido. Nunca fiz parte do PSDB e nunca farei.

ISTOÉ – O sr. nunca foi arrecadador do partido?

Souza – Nunca arrecadei. Não sei nem onde fica o comitê de campanha. Querem dizer que sou maluco? Que apareçam para dizer.

ISTOÉ – Mas o sr. já participou de campanhas políticas do PSDB.

Souza – Da campanha do Aloysio (Aloysio Nunes Ferreira Filho) eu participei. Mas não na gestão. Eu participava da logística, da compra de material, de impressos, da distribuição de material. Eu sempre fiz parte da logística das campanhas dele.

ISTOÉ – Qual é o seu relacionamento com Aloysio?

Souza – Sou amigo pessoal do Aloysio há 21 anos. Amigo de família mesmo. Ele conhece minhas filhas desde pequenas. E eu sempre ajudei como podia o Aloysio nas campanhas.

ISTOÉ – O sr. ainda é amigo do Aloysio?

Souza – Sempre.

ISTOÉ – Vocês ainda se falam?

Souza – Sempre.

ISTOÉ – Qual foi a última vez que o sr. o encontrou?

Souza – Foi hoje (quarta-feira 11) pela manhã. Ele ia fazer a gravação do programa dele à tarde ou à noite. Meu relacionamento no governo do Estado sempre foi com o Aloysio e com o Luna, o secretário do Planejamento, que era o coordenador dos convênios entre Estado e prefeitura. Sou amigo pessoal do Aloysio e isso não vou negar nunca. Não sei o que ele vai falar. Mas sou amigo pessoal dele. Só não estou na campanha agora porque pedi para não participar. Não queria dar nenhum problema, em função daquele caso recente que aconteceu comigo.

ISTOÉ – O sr. está sendo processado como receptador de joias roubadas?

Souza – Jamais eu compraria alguma coisa roubada. Só ainda não dei a minha versão porque não tranquei o processo, que está entrando agora em juízo, com minha defesa. Depois vou falar. A tese é de receptação, mas eu não comprei. Por isso é que fui na Gucci. Alguém que quer vender joia roubada vai lá? Eu levei uma joia para verificar a autenticidade e o valor. Agora, você vai comprar um carro, o carro tem problema e você acaba preso? É uma aberração. Eu não fui preso no Iguatemi. O “Estadão” também diz que eu estava vendendo a joia. É mentira.

ISTOÉ – O seu nome também aparece na investigação da operação Castelo de Areia, da PF, sob acusação de receber propina da construtora Camargo Corrêa. Foi outro engano? Não é muito azar?

Souza – Eu não sei como colocaram meu nome lá, com que propósito ou baseado em quê. Vi que tem uma lista de ajuda política, para deputado estadual, federal. Tem até o Carvalho Pinto! Vi que colocaram meu nome na lista: Paulo de Souza, coordenador do Rodoanel. Acho que adotaram um critério dentro da Camargo Corrêa de colocar o nome dos coordenadores relacionados a cada obra.

ISTOÉ – Ao lado de seu nome aparecem valores: quatro parcelas de R$ 416 ,5 mil em quatro datas seguidas. O que são esses valores?

Souza – Não sei. A mim nunca ninguém entregou absolutamente nada. O lote da Camargo Corrêa na obra era de R$ 700 milhões e a obra foi entregue no prazo, só com 6,52% de acréscimo. É o menor aditivo que já houve em obra pública no Brasil. Se isso desagradou a alguém, não sei.

ISTOÉ – Por que o sr. saiu da Dersa?

Souza – Eu fui exonerado pelo atual governador no dia 9 de abril. Até hoje não me informaram o motivo. Minha exoneração foi uma decisão de governo. Eu não pedi as contas.

ISTOÉ – O sr. nem imagina as razões de sua exoneração?

Souza – Acho que tem a ver com a forma como sempre agi nesses cinco anos em que trabalhei no governo. Tem a ver com meu estilo. Sou de tomar atitudes, de decisão, de falar o que penso. Fui premiado por meu trabalho como gestor público. Eu criei muito ciúme no governo.

ISTOÉ – Quem tinha ciúme do sr.?

Souza – Acho que pessoas como eu têm prazo de validade. O Rodoanel foi a primeira obra pública que tinha dia e hora para terminar. É meu estilo de gestão e nem todo governante gosta desta forma de agir. Na engenharia da Dersa quem mandou fui eu. Não sou mais uma jovem promessa. Sou uma ameaça para os incompetentes.

Fonte: Revista Istoé

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http://www.viomundo.com.br/politica/a-capa-da-folha-no-dia-em-que-a-petrobras-mudou-de-nome.html

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http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/10/14/privatizacoes_o_debate_que_o_psdb_nao_quer_fazer/

Privatizações: o debate que o PSDB não quer fazer

No último debate e também nos dias que seguiram, a campanha de Serra vem tentando a todo custo evitar discutir um tema essencial para o Brasil, mas que os tucanos, pelo que fizeram no passado – e ainda fazem – teimam em negar que seja relevante: as privatizações. Na prática, tal tema é revelador de como o PSDB atua no comando de um governo.

Por Glauco Faria
[14 de outubro de 2010 – 17h38]
No último debate e também nos dias que seguiram, a campanha de Serra vem tentando a todo custo evitar discutir um tema essencial para o Brasil, mas que os tucanos, pelo que fizeram no passado – e ainda fazem – teimam em negar que seja relevante: as privatizações. Na prática, tal tema é revelador de como o PSDB atua no comando de um governo e não diz respeito apenas a empresas que foram e outras que ainda podem ser entregues à iniciativa privada, mas sim à própria concepção de Estado que cada um dos projetos que se enfrenta no segundo turno das eleições presidenciais representa. 

Tive oportunidade de discutir o assunto ao escrever o livro O governo Lula e o novo papel do Estado Brasileiro(disponível para download aqui), realizado a partir de uma oficina de debates feita em setembro de 2009, além de pesquisas posteriores. A partir daí, é possível demarcar algumas importantes diferenças tomando como base o que Serra disse no debate, tentando igualar a conduta tucana à petista no tocante às privatizações.

Segundo o presidenciável do PSDB, o governo Lula não reestatizou nenhuma empresa privatizada e “também privatizou”. Desnecessário dizer como a argumentação é pueril. Primeiro porque reestatizar uma empresa não é uma tarefa trivial, nem do ponto de vista jurídico, e pode ser também bem pouco interessante do ponto de vista político-econômico. Quanto a empresas privatizadas, é bom recordar que quando Lula assumiu, muitas estavam já no Plano Nacional de Desestatização (PND), postas nessa condição pelo governo tucano, e a maioria em situação quase falimentar por absoluta falta de investimentos. Algumas puderam ser recuperadas e saíram do PND, outras não.

De uma maneira geral, o programa de privatizações foi paralisado, ainda que concessões de rodovias tenham sido feitas, por exemplo, mas em bases distintas das realizadas na gestão do PSDB. Houve uma reorientação do papel do Estado, com resgate do planejamento de longo prazo e maior participação estatal em todas as áreas de atividades, algo fundamental para se promover o desenvolvimento econômico e social do país. Nas palavras de Marcio Pochmann, presidente do Ipea, o país reverteu o modelo de Estado Predatório que imperou durante o governo FHC (que deu continuidade, na prática, às iniciativas privatistas do governo Collor) e adotou um modelo de atuação estatal social-desenvolvimentista.

E remodelar essa atuação, no que diz respeito às estatais, não foi tarefa fácil. Aqui, destaco um trecho literal do livro que descreve como o governo tucano agia em relação as empresas da sua área:

Para o ex-diretor do Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais (DEST), Eduardo Carnos Scaletsky, o governo FHC trabalhava com quatro linhas de ação claras nessa área. A primeira era a fragmentação de atividades das estatais, como no caso da Eletrobrás, com a separação das funções de transmissão, geração e distribuição de energia; no setor das instituições financeiras, a tal fragmentação também foi feita com vistas a reduzir o valor patrimonial e possibilitar ou facilitar a sua venda nos leilões de privatização.

O segundo fator era a descapitalização das empresas, com o governo retirando mais dividendos do que normalmente fazia, combinando-se uma terceira linha de ação, a estagnação dos investimentos. A essas práticas somava-se a redução de pessoal, com um processo de terceirização nítido. Como exemplo, Scaletsky cita o fato de a Caixa Econômica Federal (CEF), em dado momento, ter quase 40 mil terceirizados em um quadro de cerca de 70 mil pessoas. Nesse caso específico, não se terceirizavam os serviços, mas sim o quadro de pessoal, já que não eram realizados concursos públicos e não havia interesse na manutenção dos funcionários.

Ou seja, esse era o legado que o governo Lula teve de lidar quando assumiu o governo em 2003. E foi preciso superar uma cultura neoliberal que mesmo em algumas estatais estava enraizada. Não se percebia que as empresas deveriam também cumprir a função de colaborar com políticas de desenvolvimento para o país, sem prejuízo de seu resultado econômico.

Foi essa mudança promovida que permitiu que as estatais e os bancos públicos, fortalecidos, pudessem ser instrumentos poderosos da política anticíclica do governo na superação da crise econômico-financeira. FHC, que enfrentou duas crise de menor impacto, não conseguiu superá-las com a mesma desenvoltura, e o apagão, como será destacado no próximo artigo dessa série sobre o papel do Estado, também é fruto dessa visão estreita e privatizante.

O que ocorreu nos últimos oito anos, portanto, foi o estabelecimento de um modelo social-desenvolvimentista, retomando Pochmann, distinto daquele desenvolvimentismo que não se preocupava com a sustentabilidade econômica das empresas do Estado, observado nos anos 70 quando as estatais foram levadas a um brutal endividamento para ajudar no fechamento do balanço de pagamentos do país. Tal situação, aliás, abriu caminho para que na na década de 1980 houvesse um desempenho pífio das estatais, desancadas pela mídia comercial e, no decênio seguinte, facilitasse o processo de privatizações.

O PSDB pode até não querer debater o assunto, e motivos tem para isso. Mas esse está longe de ser um debate secundário.

Imagem: Reprodução/Maria Fro.

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http://www.viomundo.com.br/politica/assessor-de-serra-quer-mudar-modelo-de-exploracao-do-pre-sal.html

6 de outubro de 2010 às 13:17

Assessor de Serra quer mudar modelo de exploração do pré-sal

Assessor sugere modelo antigo para pré-sal

Juliana Ennes | VALOR ECONÔMICO

David Zylberstajn, assessor técnico para a área de energia da campanha do candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, disse ontem que aconselha o candidato a desistir da proposta do atual governo de modificar o modelo de concessão de campos de petróleo para o modelo de partilha, no caso dos blocos do pré-sal.

Ele lembrou, no entanto, que o custo político da decisão é somente o candidato quem pode avaliar e é isso que deve nortear a decisão final de se adotar ou não o modelo de partilha no pré-sal.

“A minha opinião é pelo lado técnico, mas dentro do contexto político eu não sei. Eu aconselharia a deixar o que está funcionando bem do jeito que está. Se houvesse justificativa para mudar, tudo bem”, disse Zylberstajn.

O presidente da DZ Negócios com Energia e ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP) acredita que o modelo proposto não traz benefícios para o governo em termos de arrecadação. Além do fato de o governo receber sua parte em petróleo, e não mais em dinheiro.

“Não há nenhuma conta que diga que esse sistema é mais vantajoso financeiramente para o governo. Eu, particularmente, acho que qualquer que seja o governo, ter uma estatal comprando e vendendo petróleo é uma janela para a corrupção. É um modelo completamente estapafúrdio”, disse.

O assessor de Serra acredita que o regime de concessões seja melhor não somente em termos de arrecadação, mas tem também a vantagem de antecipar o recebimento dos recursos. “Você tem o bônus de assinatura. No sistema de partilha, você só vai receber lá na frente. Depois de ter descontado o que gastou com o campo, vai receber sua parte em óleo, que vai ter que ser vendido. Isso só vai gerar alguma coisa lá na frente. Enquanto, hoje, se licitar um campo, o governo coloca dinheiro no Tesouro hoje mesmo”, disse.

Ele lembrou que a obrigatoriedade de que a Petrobras opere ao menos 30% de todos os blocos do pré-sal traz um grande risco. De um lado, para a própria companhia, que fica obrigada inclusive a ter como sócias empresas que ganharem a briga, independentemente do desejo de se fazer uma sociedade. E é também ruim para o país, que fica preso à capacidade da estatal de investir.

Zylberstajn disse que o Rio de Janeiro precisa tomar cuidado para não virar um importador de equipamentos industriais de São Paulo, devido à escassez de mão de obra, a problemas de infraestrutura, aos meios instituicionais e a eventuais incentivos fiscais.

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http://publico.pt/Mundo/lula-comprou-os-pobres-do-brasil_1462597?all=1

Entrevista com o escritor Ferreira Gullar, Prémio Camões 2010

“Lula comprou os pobres do Brasil”

25.10.2010 – 07:58 Por Alexandra Lucas Coelho, no Rio de Janeiro

O escritor Ferreira Gullar vota José Serra. Vê Dilma como “uma marionete” e Lula como um “ignorante”, “mentiroso”, com “fome de poder”, que é “a vergonha do Brasil”.

"Ele [Lula] nunca leu um livro", diz Ferreira Gullar“Ele [Lula] nunca leu um livro”, diz Ferreira Gullar (Foto: DR)

Aos 80 anos, Ferreira Gullar continua de cabeleira branca pelos ombros e mão enérgica a bater na mesa, quando sobe de tom, no seu apartamento cheio de livros e quadros, em Copacabana.
Parece tão em forma quanto está: “Não tenho nenhuma doença.”

Nascido em São Luís do Maranhão, Nordeste do Brasil, vive no Rio de Janeiro desde os 21 anos. Foi comunista filiado, lutou contra a ditadura, esteve preso. Tem uma longa e variada bibliografia, com destaque para a poesia. Recebeu este ano o Prémio Camões, o mais importante da língua portuguesa.

A conversa começou exaltada e terminou amena. Ferreira Gullar explicou depois que tivera umas conversas políticas que o tinham irritado. E mais para o fim da entrevista dirá, meditativo: “Possivelmente nós vamos perder a eleição.”
A campanha ferve.

Publicou um texto chamado “Vamos errar de novo?”, a apelar ao voto em José Serra. Não faz parte de nenhum partido. Porque sentiu necessidade de intervir?

Como cidadão, não só tenho o direito como o dever. Sempre participei politicamente.

É uma eleição bastante importante. Pode significar uma mudança para o país e ter consequências sérias.

Há quem ache o contrário, que nada de essencial se vai alterar, seja quem for que ganhe.

[Batendo com a mão na mesa] A permanência do PT no poder é uma ameaça à democracia brasileira. Está vendo o que acabou de acontecer? Espancando o Serra!

Foi um rolo de papel [atirado à cabeça de Serra num passeio de campanha].

Ah, não, isso é o que o Lula diz. Não acredito no Lula, é um mentiroso.

A campanha de Serra é que diz que foi um rolo de autocolantes de campanha.

Um rolo pesado. E uma repórter da “Globo” levou uma pedrada na cabeça. Mas não importa o que foi. Não tem que agredir os outros.

Acha que é um sintoma de como a campanha está?

Não, o PT é isto. A televisão mostrou um vídeo [dos anos 90] com José Dirceu, então presidente do PT, dizendo: “Esses nossos adversários vão ter de apanhar na rua e nas urnas.” O que é que acha disso? Apanhar nas ruas faz parte da campanha? Eles espancam as pessoas. Eles espancaram duas vezes o Mário Covas [governador de São Paulo nos anos 90, já desaparecido, fundador do PSDB]. O PT é fascista.

A Dilma também ia apanhando com sacos de água. A minha pergunta…

O PSDB se caracteriza por ser um partido pacífico. Não é que sejam santos. É que não é o estilo deles. No caso do PT, não. O PT é isto. Vem dos sindicatos, que são dominados por gangues. O Lula pertencia a um deles. São gangues, que ocupam as instituições, a máquina do Estado. A Petrobras hoje está infiltrada de gente do PT e dos sindicatos.

Em relação ao currículo do Serra, o senhor cita a criação dos genéricos, o plano de tratamento da sida. Exemplos de currículo como ministro da Saúde, como ele foi no governo Fernando Henrique. Por que acha que ele daria um bom presidente?

Porque foi um excelente governador em São Paulo. As obras dele no plano social, da saúde, da educação, comprovam que é um homem responsável e um administrador efectivo. Como prefeito, a mesma coisa. Agora, a Dilma, sabe de alguma coisa que ela fez?

Todo o mundo conhece o José Serra no Brasil. Ele tem quase 50 anos de vida pública, e nunca foi acusado de ser corrupto, safado, de se apropriar de dinheiro público, de entrar em falcatruas. Será que isso não é um crédito?

Maria da Conceição Tavares [ver entrevista online], que conhece muito bem Serra desde o exílio no Chile, diz que ele mudou para a direita. Como comenta isto?

Queria só que ela me explicasse se ela é de esquerda. Porque, veja bem, o Lula é aliado do Collor [de Melo]. Ele é de esquerda? Por acaso a campanha deles é de esquerda? Aliado com Collor, aliado com o bispo [Marcelo] Crivella, que é um safado, braço direito do bispo [Edir] Macedo, que enriqueceu com o dinheiro das empregadas domésticas, criando a Igreja Evangélica do Reino de Deus. Acha que isso é esquerda?Estou a pedir-lhe um comentário em relação ao que Maria da Conceição Tavares disse sobre Serra.

A Conceição Tavares afirmar que o Serra é de direita supõe que a Dilma é de esquerda. Então eu estou dizendo quais são os aliados da Dilma.

Acha que a Dilma não é de esquerda?

A Dilma de esquerda? Mas o PT não é de esquerda. É um partido corrupto. O PT de esquerda já acabou há muito.
O comunismo chegou ao fim. Nós todos, que participámos dessa aventura, somos obrigados a reconhecer isso. Cumpriu a sua tarefa, mudou o mundo, a relação de trabalho, as conquistas dos trabalhadores, tudo foi consequência de uma luta que começou com o Manifesto Comunista, de 1848. E esgotou a sua tarefa. Então se acabou a URSS, alguém sonha que vai fazer socialismo no Brasil? Só piada. Só o Hugo Chávez.

Não é isso que Lula e Dilma propõem.

Estou abrangendo a coisa de maneira ampla. Porque é que as FARC [guerrilha colombiana] viraram uma organização de narcotráfico? Porque não têm mais perspectiva. Vai fazer revolução na Colômbia? Socialismo? Acabou na URSS, acabou na China e vai começar na Colômbia?

Sempre que se fala no Serra, as pessoas acabam a falar do Lula, e eu queria falar um pouco do Serra.

Se a Maria da Conceição disse que ele era de direita, estou mostrando que isso é uma bobagem. Eu conheço a Maria da Conceição, é minha amiga. E ela própria não é de esquerda, porque ninguém é mais de esquerda! Acabou isso, gente.

Acha que já nem existe esquerda?

Lutámos pela reforma agrária, pelas conquistas dos trabalhadores. Alguém hoje é contra a reforma agrária no Brasil? Como vai distinguir direita de esquerda? Essa diferença só existe na cabeça da Conceição Tavares e de algumas outras pessoas.

Falei com pessoas que iam votar Serra mas ficaram desapontadas com a discussão em torno do aborto. Acharam que o PSDB e Serra não a deviam ter levado naquela direcção, tornando-a religiosa, ao tentarem pôr em causa a eventual contradição de Dilma.

Essa questão do aborto não foi levantada pelo Serra. O problema real é o seguinte: o PT é a favor do aborto, a Dilma é a favor do aborto, eu sou a favor do aborto. O Serra tem a mesma posição. Agora, com a candidatura da Marina, os religiosos tomaram uma posição que ameaçava todos os candidatos. Então a Dilma tratou de tirar o corpo fora e o Serra também. Falaram: “Não, não quero perder o voto dos religiosos…”

É isso que pergunto, não foi tudo uma falsa discussão?

Você entregaria uma empresa sua para ela dirigir, sem ter tido qualquer experiência anterior?

Mas deixe-me perguntar-lhe…

[Ferreira Gullar zanga-se por estar a ser interrompido e propõe acabar a entrevista. Acabamos por retomar no ponto em que ele estava.]

Eu tenho uma empresa. Porque o meu tio me disse que Maria é competente, sem ela nunca ter gerenciado nada, vou entregar a ela? Não entrego. Compreende? Essa é a situação. Não estou dizendo que o Serra é perfeito. O Serra tem mais que mostrar do que ela. Eu tenho mais confiança nele porque ele tem trabalho feito, e ela nenhum! A Maria da Conceição e o Chico Buarque só votam nessa coisa porque têm nostalgia da esquerda! Têm de abrir a cabeça para um mundo novo! O comunismo já era, acabou! Sem contar que foi uma besteira. O que é que é Cuba? Eu defendi Cuba, fiz poemas sobre Cuba. É um fracasso completo! Como podem defender uma sociedade em que as pessoas não têm o direito de sair de lá? Em troca de quê? Terá por acaso riqueza lá? Não. É miséria, subdesenvolvimento económico e falta de liberdade. Eu não vou defender isso, meu Deus. Quero ter o direito, se acho que o país é uma merda, de sair daqui na hora que eu quiser. Compro uma passagem e vou para Lisboa! Agora! Não tenho de pedir licença a ninguém! E o Chico e a Maria da Conceição defendem isso! Que moral têm essas pessoas para defender alguma coisa justa? Aí fica o Serra de direita? É de direita porque não concorda com isso. Ser de esquerda é o quê? Achar que as pessoas não têm o direito de sair do seu país quando quiserem? É isso que é ser de esquerda? Isso é uma besteirada. Tem de acabar com essa conversa. Eles têm medo de serem chamados de direita. Eu não tenho. Porque eu não sou. Tenho a certeza absoluta da minha entrega a uma luta a favor das pessoas, de uma sociedade melhor. Não tenho de dar explicação a ninguém. Mas o Chico tem medo de parecer que é de direita. Problema deles.
Quando é que o Serra foi de direita? Um cara que teve de ser exilado, que lutou contra a ditadura, que sempre defendeu posições a favor de uma sociedade mais justa, medidas a favor das pessoas mais pobres, e tomou medidas efectivamente. Quando o Serra conseguiu introduzir os genéricos, a minha mãe, estava em São Luís do Maranhão, doente. E sabe o que é que o PT espalhou? Que o genérico era falso, que era só farinha e terra, não era remédio. Eu mandava dinheiro para comprar remédio para minha mãe, e falei: “Comprem genérico.” E o meu irmão falou: “Ah, não, genérico é terra. O PT já nos explicou.” Isso é o PT.O que achou do “show” de apoio a Dilma com Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Leonardo Boff, no Teatro Casa Grande, aqui no Rio [segunda-feira passada]?

Campanha eleitoral. Hoje o Teatro Casagrande se chama Oi Casagrande, porque a empresa Oi mandou botar. Não tem mais nada a ver com aquele passado. Eu pertenci ao grupo que realmente lutou contra a ditadura, o Opinião. Nunca ficou rico. Fomos todos presos.

O senhor foi preso com o Gilberto Gil e o Caetano em 1968.

É. Mas o nosso teatro teve bomba lá dentro. E começou a lutar em Dezembro de 1964 [meses depois do golpe militar].

O senhor filia-se no Partido Comunista do Brasil no começo de 1964, não é?

Entrei no dia do golpe, 1 de Abril de 1964.

Toda a gente conhece o seu percurso contra a ditadura, e o percurso do Serra também. Mas vamos esquecer essa parte da direita e esquerda. Em relação à Dilma, o senhor diz que ela é uma desconhecida. Mas foi ministra…

Sem qualquer expressão. O que é que ela fez como ministra? Nada. Foi secretária no Rio Grande do Sul, e segundo a informação de lá foi um fracasso completo como administradora.

… e foi Chefe da Casa Civil de Lula, o que lhe dá um conhecimento de todo o governo.

Mas a Casa Civil é um orgão de assessoria do presidente. É técnico, não realiza nada. Quando diz: “Nós fizemos…” É tudo mentira, não fez nada. Não estou dizendo se é competente ou não, não sei. Agora, que fez, não fez.

Porque é que o senhor acha que é ela a candidata?

Porque o Lula quer voltar em 2014. E então botou uma marioneta. Uma pessoa que milita na política desde os 17 anos e nunca se candidatou: acha que é porquê? Nunca se candidatou a nada e vai-se candidatar a presidente da República porque o Lula inventou. Não foi iniciativa dela. Jamais se atreveria. O Lula fez as contas e viu que para voltar tinha de botar uma marionete. Se pusesse um cara como o Ciro Gomes [ex-candidato à presidencia, que depois foi ministro de Lula], não ia voltar, porque o Ciro ia se recandidatar.Acha que a estratégia do Lula é essa?

É. O Lula é a fome do poder. Transparece nele. É a arrogância. Como toda a pessoa ignorante, chega a um ponto e não tem autocrítica, não tem medida. Ele disse várias vezes que é o único presidente do Brasil em 500 anos. Porque veio do povo. Do povo veio também Fernandinho Beira-Mar, do povo vem qualquer coisa.

Para quem não sabe, Fernandinho Beira-Mar é um narcotraficante.

Um bandido, homicida, dos mais cruéis. Veio do povo. Mais povo que o Lula.
Então, tem de ver o que o cara fez. Ele nunca leu um livro. Acha que uma pessoa que nunca leu um livro pode conhecer o Brasil? Sabe do Brasil como? De orelha?

Que nunca leu um livro?

É. O Lula. Ele declarou, pessoalmente.

O senhor acredita nisso?

Ele declarou, em 1980. Disse: “Só leio jornal.” E depois declarou: “Nem jornal, porque vive me perseguindo.” Todo o mundo sabe que ele não lê. Foi deputado federal e não participou em nenhuma Comissão. Não fez nada. Não parou no Congresso, porque não aguenta. Ele não conhece leis, como é que vai ser deputado? Se vai fazer leis, tem de conhecer as leis que existem. E ele não lê, tem horror disso. Só faz política. Ganhou a eleição em 2002 e não saiu do palanque até hoje. Não é ele que administra o país. Ele só se reúne para saber se aquele projecto que o ministro tal está propondo prejudica a popularidade dele ou não. Se prejudica ele não quer saber qual é a consequência.

O senhor sempre o viu assim, ou houve algo que tenha mudado a sua visão?

Defendi a criação do PT quando o Partido Comunista, ao qual eu pertencia, era contra.

Mas em relação a ele? Li que o ouviu no Teatro Casa Grande e logo aí não gostou do tom.

Achei estranho as bobagens que disse. A primeira coisa foi que era contra a burguesia de Ipanema. Só que todas as pessoas que estavam ali, nós todos, éramos de Ipanema [ri]. Então não sabe nem do que está falando. Ele é o maior mentiroso que já conheci. Fala com uma arrogância inacreditável as maiores mentiras como se estivesse dizendo uma verdade sagrada. Ele é uma coisa especial, isso eu sou obrigado a reconhecer. Nunca vi alguém falar uma mentira com tanta convicção, com tanta paixão, sabendo que é mentira.

O Lula tem 80 por cento de aprovação. Como explica esta popularidade? Quer dizer que 80 por cento das pessoas estão enganadas?

Primeiro, ponho em dúvida o resultado da pesquisa. As últimas pesquisas davam a Dilma vitoriosa no primeiro turno. Davam que a Marinha tinha 10 por cento e teve 20 por cento. Então, pesquisa… E essa do Lula nunca foi testada. Não se sabe se isso é verdade. Que tem popularidade tem, mas o índice não sei.
O demagogo, que visa conquistar as pessoas, e com a veemência que ele tem, porque é de facto um orador convincente… Acho que é isso que explica [a popularidade].
Bolsa Família. Foi ele que criou? Chamava-se Bolsa Alimentação, criada pelo Serra, no governo Fernando Henrique. E o Lula foi para a televisão dizer que a Bolsa Alimentação transformava o trabalhador em mendigo. Era contra a Bolsa Família que então se chamava Bolsa Alimentação! Enquanto isso, o ministro da Educação criou a Bolsa Escola. O Lula veio, juntou as duas e botou o nome Bolsa Família. A base da estabilidade financeira do Brasil se chama Lei de Responsabilidade Fiscal. O PT, orientado pelo Lula, votou contra na câmara e no congresso, perdeu nos dois, entrou com uma acção no Supremo para anular a lei. E até hoje essa acção está no Supremo. Essa lei impede que os prefeitos e governadores gastem além do que recolhem de imposto, porque isso tornava a inflacção do Brasil incontrolável. Com essa lei, acabou.
O PT foi contra tudo o que todos os governos fizeram: Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique. Tudo! Negaram-se a assinar a constituição em 1988!O senhor acha que isso significa o quê?

Que não têm responsabilidade com o país. São um grupo de demagogos que querem o poder e se opõem a tudo. Vêem em cada medida correcta uma ameaça ao futuro poder deles. Se tivessem conseguido anular a Lei da Responsabilidade Fiscal, anular o Plano Real, em que o Lula foi para a televisão dizer: “Isto é uma mentira eleitoral que não durará três meses.” Ele disse isto, todo o mundo sabe. É que o país não tem memória.
Se tivessem conseguido anular essas medidas, não haveria governo Lula, porque ele herdou e se apropriou de tudo o que foi feito antes, que ele combateu ferozmente!

PT e Lula dizem, por exemplo, que herdaram a dívida externa, que quando começaram a Bolsa Família a situação estava muito má, e que conseguiram dar a volta a isso. O Brasil passou a ser credor, em vez de devedor.

Escuta, o Fernando Henrique, com as medidas que tomou, acabou com a uma inflacção que chegava a dois mil por cento ao mês. Quando o Lula se apresentou candidato, contra todas essas coisas, evidentemente criou uma crise económica, porque todos os investidores estrangeiros tiraram o seu dinheiro, assustados com o que ia acontecer. Ele estava na frente, ia ser o presidente da República. A crise que se criou foi em função dele. Depois, quando escreveu a carta à nação brasileira em que dizia que abria mão de todas as coisas que tinha dito antes, e virou o Lulinha-Paz-e-Amor, aí as pessoas voltaram. Mas a inflacção já tinha sido deflagrada. Pouco tempo depois o equilíbrio voltou quando as pessoas perceberam que ele ia fazer o mesmo governo do Fernando Henrique.
Pegou o Bolsa Família, que atendia 4 milhões, e botou para 11 milhões. O que significa um terço da população brasileira. Ao juntar os dois programas tornou impossível fiscalizar de facto a realização. Todo o mundo sabe hoje que o sistema é: eu recebo Bolsa Família enquanto estou desempregado. O que é que os trabalhadores fazem? Se empregam e pedem para o patrão não assinar a carteira de trabalho. Então, ficam ganhando salário e bolsa. Como são 50 milhões não dá para fiscalizar.
Tem vários municípios no Maranhão em que ninguém trabalha. Vive todo o mundo do Bolsa Família.

O senhor que vem lá do Nordeste, a região mais pobre do Brasil, não é sensível ao facto do Lula ser o homem que tira uma fatia dos brasileiros da miséria e faz deles cidadãos, pessoas que podem ter uma conta no banco, que podem comprar uma geladeira [frigorífico]?

Exactamente porque conheço o Nordeste é que tenho um juízo diferente. Primeiro, no Nordeste ninguém passa fome. Todo o mundo tem um pedacinho de terra. Essa miséria que tem na cidade não tem no campo. A outra coisa é o que contei do remédio genérico. O que tem no Nordeste é falta de conhecimento, de informação e a propaganda que o PT faz. Onde há mais necessidade, e a pessoa ganhou o Bolsa Família, é claro que fica grata. Mas isso é a fonte do populismo. Porque é que o [Paulo] Maluf é votado em São Paulo até hoje, apesar de ser ladrão, comprovado? Porque deu casinhas para uma porção de gente. É o lema que se conhece no Brasil: “Rouba, mas faz.” Essa é a explicação para o Nordeste. Exactamente quem é mais miserável, qualquer coisa que dê ganha ele. Difícil é conquistar o cara que vive por sua conta. Difícil é conquistar a mim, que trabalho e vivo do meu dinheiro. Não me conquistam comprando, como o Lula comprou todos os pobres do Brasil. Por isso é que ele tem 80 por cento de aprovação. Ele comprou os pobres. Não tem preocupações de fiscalizar, e pôr em prática a natureza do programa, que é quando o cara conseguir trabalho sair do programa. Ele quer que tenha cada vez mais gente no programa. Ou seja, pessoas sem trabalho e dependentes da bondade dele. Não está precupado em resolver problema social nenhum.
O Lula é um esperto. Só pensa no poder dele. Foi para o Ahmadinejad fazer o quê? Um bandido. Um facínora. O cara que diz que não houve Holocausto. Que diz que o atentado das Torres Gémeas foi uma invenção dos americanos. Esse cara não tem qualificação de estadista. E o Lula trata ele como se fosse um estadista. Foi para lá achar que ia resolver o problema da pacificação, porque ele é doido. É megalomaníaco.O argumento de Lula e do PT é que ele está a tentar fazer a ponte entre Norte e Sul, Ocidente e Irão.

Veja o seguinte. Aquela luta dos palestinos lá, tem mais de 60 anos. Todos os estadistas do mundo tentaram resolver e não conseguiram. E o Lula vai conseguir, sem ter lido um livro? Realmente! Alguém acredita nisso? O Lula, que mal sabe quem é. Chega lá no Oriente, quando o Brasil não tem nada a ver com aquilo lá. Não está ligado efectivamente aquela parte do mundo. Demagogo. Para ter projecção internacional, porque ele é mega. Ele é a vergonha do Brasil. É uma vergonha.

Mas tem prestígio internacional. Como explica isso?

Tem prestígio na área que acha que operário é melhor. É a herança marxista que ficou. Hoje, todo o professor universitário acredita nisso. Operário é o salvador do mundo.

Estou a falar de governos. Ele tem prestígio entre governos.

Isso vem do facto do Brasil eleger um operário presidente da República. E as pessoas não têm conhecimento do que acontece aqui. Será que um redactor do “Le Monde” conhece o Brasil mais do que eu? Não conhece. Sabe de ouvir dizer. Há uma lenda em torno do Lula.
Alguém sabe o que aconteceu quando ele foi preso? Alguém leu a entrevista do César Benjamin, quando o Lula entrou na prisão, a primeira, única vez em que foi preso? [Põe uma voz de mânfio]: “Aqui não tem mulher? Como é que vai ser ‘trepar’ [ter sexo] aqui?” Foi a primeira pergunta dele ao ser preso. Isso é que é o Lula.
A Heloísa Helena, que foi do PT até há pouco tempo, nos contou: “Vocês não conhecem quem é o Lula, como ele trata as pessoas, nas reuniões.” [Ferreira Gullar projecta a voz]: “Ó seu ‘veado’ [maricas], quer parar de falar isso?’, “Cala a boca, ó ‘veado’. Filho da Puta.” É assim. Ele é isto. O Lula é essa grossura.
Outro dia passou um pequeno vídeo, ele com o governador do Rio, e um menino de favela. Não sei como, alguém com celular, filmou. [Lula falou] assim para o garotinho: “O que é que você gostaria de ser?” “Eu gostaria de ser tenista.” E o Lula: “Ó seu ‘veado’, ténis é coisa de burguesia!” Para o garoto!

Chamou “veado” ao garoto?

“Ténis é coisa de burguesia, cara!”

Mas chamou “veado”? [No vídeo, o que Lula diz ao garoto é: “Tenis é esporte da burguesia, pôrra.” Não o trata por “veado”.]Sei lá. Insultou o garoto. O que importa é que tratou o garoto como se fosse um adulto. O verdadeiro Lula é este.
A minha felicidade é que dentro de três meses ele sai da televisão e me deixa em paz. Pára de mentir.

É mesmo uma coisa violenta para si, essa relação com o Lula.

Porque ele mente sem parar. Eu amo o meu país e tenho horror a uma pessoa que fez com o Brasil o que ele fez. Ele é uma grande embromação. Tenho a certeza de que muita gente na Europa acha que o Lula é de facto o que muita gente acha que ele é. Mas eu sei o que ele é. A primeira coisa que fez aqui no Rio, depois das bobagens que disse sobre a burguesia no Teatro Casa Grande, foi transar a mulher de um burguês, amigo dele, burguês de esquerda, da alta aristocracia carioca. Virou amante dela numa semana. Esse é o Lula. Não tem nada a ver com classe operária, com coisa nenhuma. É um espertalhão.

A Maria da Conceição Tavares diz que hoje ele é um social-democrata.

Quem ensinou ao Lula isso? Foi ela? Porque ele não lê livro nenhum. Quem é que ensinou a social-democracia para ele? Ela está muito enganada com ele. O pessoal de esquerda não quer aceitar que isso acabou. Meu amigo Oscar [Niemeyer] não quer aceitar. O nosso querido Saramago não queria aceitar. É chato aceitar. Eu também vivi, me enganei, fui para o exílio. A diferença é que não posso me enganar a mim. Sou obrigado, doídamente, a reconhecer que acabou. Fui reler as coisas, e reconhecer o grande equívoco.
O Manifesto Comunista marca uma mudança radical na história da humanidade, contra um capitalismo selvagem, que tirava crianças de orfanato e as punha a trabalhar até morrerem. Trabalhador com 60 anos morria na sarjeta, não tinha aposentadoria. Não havia jornada de trabalho definida, não havia salário defenido. O Marx foi um homem de um grande carácter quando se revoltou contra isso, e mudou essa relação de capital e trabalho. Agora, a sociedade sonhada, depois da ditadura da burguesia, ditadura do proletariado nunca houve, e nunca, em governo algum, operário mandou em nada. Foi o partido que dirigiu a URSS, a China,é o partido que dirige Cuba.
Houve uma série de equívocos: quem cria riqueza é o trabalhador, e o outro explora a riqueza e não trabalha. É mentira. Sem empresário não existe trabalhador. O empresário é um intelectual empreendedor. E como nem tudo o mundo é romancista, é sociólogo, nem todo o mundo é empresário. Eu tenho um amigo que é empresário e ele não pára de trabalhar.

O senhor conversa com o seu amigo Oscar Niemeyer sobre isto?

Tenho muito respeito pelo Oscar. O Oscar é um génio da arquitectura, e é um ser humano especial. Generoso, afectuoso. Então eu não vou ficar brigando com ele. Mas ele sabe que eu discordo dele. A opinião dele sobre mim sabe qual é? “Gosto do Gullar porque ele é transparente.”

E com o Chico não se dá?

Gosto do Chico, admiro-o. Agora, o Chico é amigo do Lula, é amigo do Fidel. Ele não pode, nem que queira, mudar de opinião. Vai ter de brigar, se mudar. Mas eu sei que pela inteligência dele, pela sensibilidade dele, não pode estar de acordo com um país de que as pessoas não podem sair. Não acredito.
Eu posso ser suicida. Mas se estou em paz com a minha consciência pouco se me dá o que pensem. Posso estar errado. Se há uma coisa que me caracteriza é: eu não sou dono da verdade. Acredito nas coisas em que acredito. Mas acho que posso estar errado também. O meu compromisso é com a verdade. Não tenho compromisso ideológico coisa nenhuma. E meu compromisso com a poesia é com a qualidade, com a beleza. O resto é secundário. Se der, deu, se não der, não deu. Acabou. Vou morrer mesmo. Pouco se me dá. Nessa altura, 80 anos, estou-me lixando.

[Pausa hesitante]

Ia dizer alguma coisa?

Possivelmente nós vamos perder a eleição. Se as pesquisas estão certas, possivelmente vamos perder. Não é o fim do mundo. Depois da eleição começa o governo. Difícil não é ganhar eleição, difícil é governar.Acha que está difícil o Serra ganhar?

Acho. Não é impossível, mas com uma diferença de 10 por cento está difícil. Há um estudioso que diz que a definição é na última semana, mesmo.

Acha que o Serra era o melhor candidato do PSDB para derrotar a Dilma?

Olha, quando vi o nome dele, eu achei que era. Pelo que realizou. Eu estou perplexo. Não por causa de gente que foi de esquerda, como eu, que dá essas opiniões, como a da Conceição, que é uma pessoa inteligentíssima, minha amiga. Mas o povo, a pessoa que está fora disso, fico surpreso que esse pessoal não enxergue. Estão sendo injustos com uma pessoa que fez coisas importantes no país. Os genéricos, eu digo para você: os idosos brasileiros gastam fortunas comprando remédios, e hoje gastam menos de metade. Graças às medidas que o Serra tomou. Hoje você não vê mais a sida no Brasil como um flagelo porque todo o mundo se trata, graças às medidas que ele tomou. Tem remédios de graça, remédios caríssimos. O que ele fez em relação ao ensino, botando duas professoras por classe, discutindo, com especialistas. Todas as coisas que fez são de uma pessoa responsável. E contra ele está uma pessoa que não pode apresentar: “Eu fiz isto.”

Talvez tenha havido um problema de falta de carisma de José Serra…

Mas ela é horrível. O negócio dela é só o Lula.

Há um problema de carisma dos dois, Dilma e Serra.

Dos dois. Ele não tem nenhum.

A Marina era a única que tinha uma empatia com as pessoas.

Também não acho. A própria Marina, que é uma pessoa admirável, coerente, como figura tem uma fragilidade que não inspira confiança na maioria das pessoas. É um voto ideológico, um voto consciente, de qualidade. Mas entre a grande massa, jamais ela vai conseguir.

E imaginando que o Serra perde, quem é que vê ascender no PSDB? O Aécio [Neves, mineiro, neto do presidente Tancredo Neves]?

Sim. Escrevi um artigo dizendo que as duas forças políticas que nasceram da luta contra a ditadura, uma mais à esquerda, que era o PT, e outra, de esquerda moderada que era o PSDB, concluem agora o seu ciclo. O PSDB cumpriu grande parte da sua função com o governo Fernando Henrique. Se o Serra for eleito, tem uma vida extra. Mas os outros que constituem o partido não têm a mesma cabeça. Algo acabou. E o PT, que teve a sua história, também acabou. Virou o partido dos glutões, populista, que não tem nada a ver com o que era. Então essas duas forças nascidas da luta contra a ditadura chegam ao fim.
O que vai acontecer daqui para a frente talvez seja mais política sem ideologia. Por exemplo, o Aécio não é ideológico. É um cara carismático, bom administrador. Mas não é o Fernando Henrique, não é o Lula, não é dessa geração, não foi para o exílio. Da mesma maneira o Sérgio Cabral [agora reeleito governador do Rio, ex-PSDB, e actualmente PMDB], que é um bom administrador. Eles não têm a marca daquela vivência doída que nós tivemos. Talvez até seja bom para o Brasil.

Pós-ideológico?

É. Sem idealismo. A coisa prática. Acho que é isso que o Brasil vai viver daqui para a frente. Acabou a ideologia.


A Candidatura de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL)

09/11/2010

O PSOL tinha um papel importante nestas eleições. Tratava-se de fortalecer o campo da esquerda no Brasil, fazendo críticas para puxar o governo mais para a esquerda e contribuindo para derrotar os projetos conservadores da direita. Por não ter compromissos com a vitória e por não estar no governo, poderia mostrar os reais problemas do país e o que seria necessário para resolvê-los, dentro de uma perspectiva de esquerda.

Porém, infelizmente, não foi isso que aconteceu.

De início, o pertido viveu uma forte disputa interna entre o grupo da Heloisa Helena, presidenta do Partido, e o do Plínio. A primeira era a favor de uma aliança com a Marina Silva, enquanto o segundo defendia uma candidatura própria. O partido, corretamente, decidiu pela candidatura própria do Plínio. O grupo da Heloisa Helena chegou a tirar o Site do PSOL do ar para prejudicar a realização da Conferência Nacional do Partido. Além disso, a Heloisa Helena declarou que apoiava a Marina Silva, apesar de seu partido, do qual é presidenta, ter candidato próprio.

Durante a campanha, a posição do Plínio foi a de enfatizar que não havia diferenças entre nenhuma das outras 3 candidaturas. Em especial, dizer que tanto o Serra quanto a Dilma representavam um projeto neoliberal. Isto, em si, já é uma posição bem complicada, pois uma coisa é dizer que nenhuma das outras candidaturas propõem o rompimento com o sistema capitalista, outra coisa completamente diferente é dizer que as 3 são igualmente ruins e que dá na mesma qualquer uma delas que ganhasse. Em primeiro lugar, essa é uma posição que despolitiza, pois apaga as distinções políticas entre os três projetos, que são substanciais. Como disse o Safatle em ótima fala em um ato na USP (que coloco abaixo), as distinções são um elemento essencial da política. É preciso diferenciar entre capitalismo e neoliberalismo. O neoliberalismo é um tipo de política dentro do capitalismo, e é um tipo de política mais desfavorável aos trabalhadores, pois é mais concentradora de renda e menos focada no emprego. Em segundo lugar, é uma posição irresponsável com a maioria da população pobre, que vai sofrer diretamente as consequências das diferentes políticas implementadas pelos diferentes candidatos.

No plano das propostas, o Plínio e o PSOL se perderam em duas contradições fundamentais, que eles não conseguem resolver desde a sua criaçã.

Por um lado, não se decidem se estão se candidatando apenas para marcar posição e colocar em debate os temas realmente importantes ou se estão entrando para disputar, ou seja, se estão de fato entrando no jogo político (e com isso assumindo a lógica de disputa do poder).

Por outro lado, às vezes defendem uma sociedade utópica distante da nossa realidade e às vezes defendem coisas para serem de fato implantadas no mundo real atual.

Ao não se definir claramente qual é sua estratégia dentro dessas duas contradições, o projeto político fica confuso e vazio. E, com isso, o PSOL não consegue cumprir o papel importante que teria nas eleições, o de fortalecer o campo da esquerda no país.

Além disso, há dois outros problemas mais graves na posição do PSOL.

O primeiro é a ideia de que a esquerda (obviamente, representada por eles) é moralmente superior a tudo mais. De que o PSOL é diferente de todos os outros partidos tradicionais, pois representa uma forma de fazer política diferente, programática, ética e limpa. Um partido que não se corrompe, nem se vende ao jogo do poder, etc. Pois bem, o problema dessa posição é que, em primeiro lugar, ela é falsa. O PSOL é um partido como qualquer outro e se move dentro do jogo do poder da mesma foram que todos os outros. É só ver como se comportam todas correntes que disputam entre si dentro do partido. Não há nenhuma razão para se achar que seria diferente caso chegasse ao poder. E não tem problema eles se comportarem assim, o que não dá é se comportar assim e manter um discurso de que atua de forma diferente, isso é hipocrisia. Em segundo lugar, esse história de dizer que a esquerda é diferente em termos morais só serve para justificar que se façam coisas incorretas, pois, se é por um bem maior, uma moral superior, tudo é justificável. Em terceiro lugar, essa ideia impede a política na prática, pois qualquer concessão é um desvio moral. Daí as acusações comuns dentro da esquerda de que fulano se vendeu, é um traidor da causa, se corrompeu, etc. Para se ter uma posição de esquerda consistente é útil é necessário se acentuar que a diferença da esquerda não é moral, é política! A esquerda é melhor não porque representa uma moral superior, mas porque representa um projeto político que beneficia a mioria da população, que gera uma sociedade mais igualitária, mais justa, etc.

O segundo, que está ligado ao primeiro, é o vanguardismo paternalista no seu pior sentido. O discurso do Plínio é marcado fundamentalmente pela ideia de que o povo é alienado, não tem consciência política e não sabe decidir o que é melhor para ele mesmo. Daí a ênfase excessiva de que o papel do PSOL na eleição é levar a conscientização para o povo. Isso significa que não se reconhece o povo como agente de sua próprio história. A vanguarda do PSOL está muito mais preparada e sabe o que é melhor para o povo muito melhor do que ele mesmo. Isso é puro preconceito. Talvez seja por isso mesmo que o PSOL não seja um partido popular, de massas, seja apenas um partido de intelectuais de classe média alta. O que fez do PT um partido singular foi que, em sua criação, ele conseguiu reunir todos os movimentos sociais mais relevantes do país, com o movimento sindical, as comunidades eclesiais de base e os intelectuais de esquerda, todos juntos em um mesmo projeto político democrático. No PT, os movimentos falavam por si, se autorepresentavam. O PSOL já começou sem os movimentos sociais e ainda acha que deve falar em nome do povo. O maior exemplo desse vanguardismo foi um Twit do Plínio durante um dos debates do segundo turno:

@pliniodearruda: “Quando a realidade evidenciar o que o povo não tem condições de entender agora, entenderá o que foi dito por mim no debate do 1ª turno”

O descolamento do Plínio com relação à grande maioria do povo trabalhador no Brasil ficou claro com a baixa votação do Plínio (menos de 1% dos votos válidos) e quando, no segundo turno, o Plínio defendeu o voto nulo. Até uma boa parte do PSOL optou pelo voto crítico na Dilma. E o cúmulo foi quando o Plínio, após a eleição, declarou que o Serra representava a repressão e a Dilma a cooptação e que, para a esquerda, a repressão era melhor do que a cooptação. Isso é, no mínimo, de mal gosto, quando a candidata em questão foi presa e torturada pela ditadura. Mas é um absurdo afirmar isso, em todos os sentidos. Até porque não é verdade, ou será que ele esqueceu dos anos 90? A repressão foi fortíssima e a esquerda se desarticulou totalmente.

Além disso, a principal crítica que ele faz à Dilma é que ela é uma desconhecida. Bom, se essa é a grande crítica da esquerda, é porque o projeto político dela deve ser de esquerda, pois só resta criticar a candidata enquanto indivíduo. E isso ainda é totalmente falso, ele pode até não conhecer ela, mas ela tem uma história na esquerda (luta contra a ditadura, militante do PDT, etc.), tem uma história na vida pública (Secretária em governo estadual e Ministra por 8 anos) e, mais ainda, foi uma das principais responsáveis pelo sucesso do governo Lula. Não dá pra dizer que ela é uma desconhecida. E mesmo que fosse, qual é o grande problema de ser desconhecido?!

Ao seguir esse caminho, o PSOL só beneficia a direita. Ele o faz quando vota no Congresso contra o governo só porque é oposição, mesmo que o poejto seja bom, quando, nos debates, não deixa clara a diferença entre um projeto neoliberal e um projeto mais inclusor, etc.

Esperamos que o PSOL se reavalie e passe a cumprir um papel que realmente beneficia a esquerda no Brasil.

Abaixo algumas matérias que explicitam meus argumentos.

Os dois primeiros são sobre as tretas internas do PSOL.

O terceiro é o vídeo da fala do Safatle.

O quarto é o manifesto do Plínio depois do primeiro turno.

O quinto é uma entrevista com o Plínio.

E o último é a entrevista em que ele afirma que o Serra seria preferível para a esquerda.

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http://portalimprensa.uol.com.br/portal/ultimas_noticias/2010/03/26/imprensa34677.shtml

Publicado em: 26/03/2010 19:04

Site do PSOL sai do ar por discordâncias entre a cúpula do partido

Por Eduardo Neco/Redação Portal IMPRENSA

ALSP
Heloisa Helena

Desde a madrugada da última quinta-feira (25), o site do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) está fora do ar por conta de desentendimentos entre a Presidência Nacional da legenda e integrantes da diretoria.

Comunicado assinado por Afrânio Bopprè, secretário geral do PSOL, e Edson Miagusko, secretário de Comunicação, acusa o ex-responsável técnico pelo site, Haldor Omar, de mudar o controle da página, modificar senhas e invadir o e-mail da Secretaria Geral, “a revelia das instâncias partidárias”.

De acordo com a nota, a Secretaria de Comunicação do partido teria descoberto que o site fora retirado do ar quando exigiu satisfações à empresa responsável pela hospedagem da página. O provedor informou, então, que a hospedagem tinha sido transferida para outra empresa a pedido de Omar.

A manobra, segundo o comunicado, seria parte de estratégia para inviabilizar a Conferência Nacional do Partido, marcada para os dias 10 e 11 de abril, que determinará o candidato do PSOL à Presidência da República. Três nomes são cotados para representar a legenda no pleito, sendo o deputado federal Babá, o presidente do PSOL de Goiás, Martiniano Cavalcante, e o deputado federal Plínio de Arruda Sampaio.

Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Omar informou que agiu a pedido da presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, e em acordo com o regimento do partido, que assegura à Presidência o controle sobre a página.

“Não invadi nem alterei, isso não é verdade, está tudo documentado no registro do procedimento. Fiz isso a pedido de um setor do PSOL, que solicitou que eu fizesse a transferência técnica para o seu controle. Não foi feita de forma arbitrária, fui contratado para isso”, disse, acrescentando que “nenhuma conta de e-mail foi violada”.

Omar, que é técnico em informática, declarou que pedirá aos responsáveis pela divulgação do comunicado uma retratação pública, caso contrário moverá ação por calúnia e difamação, uma vez que tal propaganda é “prejudicial” ao seu trabalho.

Em resposta ao pronunciamento de Bopprè e Miagusko, Heloísa Helena, declarou, no final da tarde desta sexta-feira (26), que o site foi retirado do ar propositalmente para evitar que partes da legenda o utilizem para a promoção da candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, preterindo outros candidatos. Segundo Helena, a página “deveria funcionar por acordo, por consenso, respeitando (…) a pluralidade interna, com isonomia e proporcionalidade”.

Nos próximos dias, o site deverá voltar ao ar e será administrado por José Luiz Fevereiro, membro da direção nacional do PSOL.

*Colaborou Ana Ignácio

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http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,apoio-informal-de-heloisa-helena-a-marina-silva-constrange-psol,568770,0.htm

Apoio informal de Heloísa Helena a Marina Silva constrange PSOL

A decisão da presidente PSOL embaraçou o partido, já que tem como candidato Plínio de Arruda Sampaio

18 de junho de 2010 | 19h 41

Carol Pires, do estadao.com.br

Ao defender a candidatura da senadora Marina Silva (AC) à presidência da República pelo PV, a presidente do PSOL, Heloísa Helena (AL), causou constrangimento ao partido, que tem como candidato Plínio de Arruda Sampaio.

Heloísa Helena foi lançada, nesta sexta-feira, candidata ao Senado pelo PSOL em Alagoas. “Todos sabem, porque não sou hipócrita nem dissimulada, que o meu partido tem um candidato”, disse a dirigente do PSOL a repórteres que acompanharam o evento. “Mas eu não vou negar a importância que Marina tem, não apenas pessoalmente, no meu coração, mas por ser a grande chance que o Brasil tem de promover um debate sério sobre o desenvolvimento econômico sustentável com responsabilidade social”, ponderou.

No Twitter, o candidato a presidente Plínio de Arruda Sampaio disse que, se tiver declarado apoio a outro candidato, Heloísa não pode continuar à frente do PSOL. “A direção nacional se reunirá para discutir as declarações atribuídas a Heloísa Helena, que se especializa em criar constrangimentos ao PSOL”, publicou o candidato, numa primeira mensagem. “Se Heloísa tiver declarado apoiar outra candidatura, não pode seguir na presidência do PSOL por não defender a política do partido”, disse em outro comentário.

Ao comentar as declarações de ambos, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que Heloísa Helena precisa ser cobrada a manifestar apoio “de corpo e alma” ao candidato do partido, mas negou que houvesse espaço dentro da legenda para um possível movimento para tirá-la da presidência.

“A Heloísa é a Heloísa. É uma pessoa muito sentimental, visceral, e às vezes isso é prejudicial”, disse Alencar. “Heloísa tem uma personalidade absolutamente peculiar, por isso não devemos perder energia com isso. Ela foi eleita presidente por unanimidade, porque é a figura política mais forte do partido”, completou.

O PSOL tentou negociar apoio à candidatura de Marina Silva à presidência, mas as negociações foram interrompidas após Fernando Gabeira (PV), candidato ao governo do Rio de Janeiro, ter fechado aliança com o PSDB e o DEM. Quando o PSOL decidiu lançar candidato próprio, Heloísa Helena apresentou Martiniano Cavalcante como pré-candidato, mas o partido acabou aprovando o nome de Plínio de Arruda Sampaio para disputar a corrida presidencial.

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Fala do Prof. Vladimir Safatle sobre distinções políticas:

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http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4736984-EI6578,00-Manifesto+a+Nacao.html

Sexta, 15 de outubro de 2010, 13h52  Atualizada às 15h54

Manifesto à Nação

Plínio de Arruda Sampaio
De São Paulo

Para Plínio, voto nulo é “um claro posicionamento contra o atual sistema e a manifestação de nenhum compromisso com as duas candidaturas”

Para os socialistas, a conquista de espaços na estrutura institucional do Estado não é a única nem a principal das suas ações revolucionárias. Em todas estas, os objetivos centrais e prioritários são sempre os mesmos: conscientizar e organizar os trabalhadores, a fim de prepará-los para o embate decisivo contra o poder burguês.

Fiel a esta linha, a campanha do PSOL concentrou-se no tema da igualdade social, o que possibilitou demonstrar claramente que, embora existam diferenças entre os candidatos da ordem, são diferenças meramente adjetivas.

Isto ficou muito claro diante da recusa assustada e desmoralizante das três candidaturas a firmar compromissos com propostas de entidades populares – como a CPT, o MST, as centrais sindicais, o ANDES, o movimento dos direitos humanos – nas questões chaves da reforma agrária, redução da jornada de trabalho sem redução salarial, aplicação de 10% do PIB na educação, combate à criminalização da pobreza.

Não há razão para admitir que se comprometam agora, nem para acreditar que tais compromissos sejam sérios, como se vê pelo espetáculo deprimente da manipulação do sentimento religioso nas questões do aborto, do casamento homossexual, dos símbolos religiosos – temas que foram tratados com espírito público e coragem pela candidatura do PSOL. Nem se fale da corrupção, que campeia ao lado dos escritórios das duas candidaturas ora no segundo turno.

Cerca de um milhão de pessoas captaram nossa mensagem. Constituem a base de interlocutores a partir da qual o PSOL pretende prosseguir, junto com os demais partidos da esquerda, a caminhada do movimento socialista no Brasil.

O segundo turno oferece nova oportunidade para dar um passo adiante na conscientização. Trata-se de esmiuçar as diferenças entre as duas candidaturas que restam, a fim de colocar mais luz na tese de que ambas são prejudiciais à causa dos trabalhadores.

O candidato José Serra representa a burguesia mais moderna, mais organicamente ligada ao grande capital internacional, mais truculenta na repressão aos movimentos sociais. No plano macroeconômico, não se afastará do modelo neoliberal nem deterá o processo de reversão neocolonial que corrói a identidade moral do povo brasileiro. A política externa em relação aos governos progressistas de Chávez, Correa e Morales será um desastre completo.

A candidata Dilma Rousseff é uma incógnita. Se prosseguir na mesma linha do seu criador – o que não se tem condição de saber – o tratamento aos movimentos populares será diferente: menos repressão e mais cooptação. Do mesmo modo, Cuba, Venezuela, Equador e Bolívia continuarão a ter apoio do Brasil.

Sob este aspecto, Dilma leva vantagem sobre a candidatura Serra. Mas não se deve ocultar, porém, o lado negativo dessa política de cooptação dos movimentos populares, pois isto enfraquece a pressão social sobre o sistema capitalista e divide as organizações do povo, como, aliás, está acontecendo com todas elas, sem exceção.

O que é melhor para a luta do povo? Enfrentar um governo claramente hostil e truculento ou um governo igualmente hostil, porém mais habilidoso e mais capaz de corromper politicamente as lideranças populares?

Ao longo dos debates do primeiro turno, a candidatura do PSOL cumpriu o papel de expor essa realidade e cobrar dos representantes do sistema posicionamento claro contra a desigualdade social que marca a história do Brasil e impõe à grande maioria da população um muro que a separa das suas legítimas aspirações. Nenhum deles se dispôs a comprometer-se com a derrubada desse muro. Essa é a razão que me tranqüiliza, no diálogo com os movimentos sociais com os quais me relaciono há 60 anos e com os brasileiros que confiaram a mim o seu voto, de que a única posição correta neste momento é do voto nulo. Não como parte do “efeito manada” decorrente das táticas de demonização que ambas candidaturas adotam a fim de confundir o povo. Mas um claro posicionamento contra o atual sistema e a manifestação de nenhum compromisso com as duas candidaturas.

Plínio Soares de Arruda Sampaio, 80 anos, é advogado e promotor público aposentado. Foi deputado federal por três vezes, uma delas na Constituinte de 1988, é diretor do “Correio da Cidadania” e preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA

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http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/10/25/neutralidade_pela_consolidacao_do_socialismo/

Neutralidade pela consolidação do socialismo

Em entrevista exclusiva à Fórum, Plínio de Arruda Sampaio reitera sua posição pelo voto nulo no segundo turno, fala sobre sua relação com Heloisa Helena e analisa as possibilidades de avanço do socialismo no cenário político brasileiro.

Por André Rossi

25 de outubro de 2010 – 12h19

Plínio de Arruda Sampaio recebeu Fórum em sua casa para uma entrevista, em que o ex-presidenciável do Psol falou sobre o segundo turno, sua relação com Heloisa Helena e as possibilidades que enxerga para o socialismo. Ele reafirmou sua opção pelo voto nulo, distintamente de membros de seu partido que optaram pelo voto em Dilma. “Proponho voto nulo porque acho que o importante na campanha eleitoral da esquerda é a conscientização. E nesse caso, preciso conscientizar a massa de que nenhum dos dois candidatos traz solução em hipótese nenhuma.” Leia a íntegra da entrevista abaixo.

Fórum – Qual a saída da esquerda para atingir um papel de protagonismo no processo político brasileiro. Por que, desta vez, não houve a reedição da Frente de Esquerda com PSTU e PCB como na eleição passada?

Plínio de Arruda Sampaio – A esquerda não tem condições de assumir um papel protagonístico a curto prazo. Isso só poderá ocorrer dentro de uma ou duas décadas, no mínimo. Ela está totalmente dividida e a população brasileira está totalmente extasiada diante de uma farsa. Isso é um problema de mentalidade, que não é fácil de mudar a curto prazo.

A reedição da Frente de Esquerda não foi possível primeiro porque o meu partido demorou muito para tomar a decisão sobre a candidatura e isso dá uma impressão de hegemonismo em relação aos outros partidos, o que é inaceitável. Sendo assim, eles não toparam, e até certo ponto eu os desculpo e os justifico. Mas foi um equívoco brutal, porque se tivéssemos estado unidos, o PSTU teria feito seu primeiro deputado federal. Foi um erro grave e pretendo ver se conseguimos mudar agora.

Fórum – O senhor falou em farsa…

Plínio de Arruda – É a farsa de que temos um Brasil melhorando, sólido e consolidado no exterior. Fui entrevistado por uma rede de televisão espanhola que ficou surpresa quando eu disse isso, pois o Lula era muito bem recebido nas esferas internacionais, o país tinha prestígio e não era mais considerado subdesenvolvido. Eu disse que era claro, porque nosso país tem o governante que o imperialismo pediu a Deus, porque ele cede tudo. Então ele (Lula) é louvado mesmo, pois é um bobão.

E aqui dentro, o homem que compra uma geladeira acha que virou de classe média e não está vendo que o filho dele está ultra mal educado. Não há escola que preste e o sistema de saúde é um horror. Então isso que é uma farsa.

Fórum – Qual é o legado que o Psol deixa com essa participação nas eleições presidenciais?

Plínio – Eu acho que ele deixa um legado importante e isso está sendo reconhecido. Em 1998, propus ao Lula um discurso de campanha exatamente igual ao que fiz nessas eleições. Disse que naquele momento ele não tinha condições de ganhar nem de fazer uma política protagonística. Então, que aproveitasse o período eleitoral, onde nós tínhamos a televisão para fazer o debate, para dizer a verdade: o capitalismo não soluciona e s sociedade tem que ir para o socialismo. Falei também que ele não seria compreendido, pois se tratava de uma ideia nova que chocaria as pessoas. Mas na hora em que a sociedade verificasse as falácias do sistema, elas começariam a olhar para a nossa alternativa.

Na Segunda Guerra Mundial, quando Charles de Gaulle, general do exército francês, conclamou os franceses a derrotar os alemães, todos consideraram uma alternativa impossível e compraram a teoria do Marechal Pétan, que propôs acertar com os alemães para que o prejuízo sobre o país fosse menor. Se houvesse uma eleição no dia em que de Gaulle fez o apelo, perdia de longe. Ele ficou isolado com essa ideia. Mas na medida em que os alemães foram tornando insuportável a vida dos franceses, foi ficando claro que sua medida era necessária.

Mesma coisa o Churchill. Ele foi à Alemanha em 1933, onde viu a ascensão do Hitler. Então voltou para a Inglaterra e disse que o exército alemão estava se armando e iria investir contra seu país. Na Inglaterra, a tese do armamento não era aceita e ele perdeu todos os seus lugares no Parlamento e foi escamoteado de seu partido, até o momento em que ficou evidenciado que o Hitler ia atacar a Inglaterra. Ele conta em seu livro que, nessa hora, ficou ao lado do telefone porque sabia que o Rei ia chamá-lo para ser o primeiro-ministro do país.

Então disse ao Lula para ele plantar, que daqui a uma, duas, três eleições a sociedade estaria pronta para entendê-lo. E isso foi feito por nós só agora, numa circunstância mais difícil, porque o Lula é uma figura conhecida. Sou um político que venho de muito longe e já estou numa condição mais lateral, longe do foco da mídia. Mas está feito e daqui por diante nós vamos trabalhar isso.

Fórum – Como o senhor acredita que o partido pode reconstruir a ideia de socialismo no Brasil? Existe algum modelo que possa ser seguido?

Plínio – Esse é outro problema: não temos modelo, porque o modelo soviético, evidentemente, não podemos e não queremos reproduzir. Então temos que inventar um socialismo do século 21, com liberdade. Acho que a maneira de fazer isso é trabalhando pequenos núcleos de base, sem pressa de crescer. A revolução não é o partido que faz e sim o povo. E o faz de acordo com a sua hora e com seus movimentos internos, que dificilmente o político consegue captar.

As insurreições sempre surpreendem os políticos. Surpreendeu inclusive um homem atiladíssimo como Lenine, que não esperava pela erupção da Revolução Russa de 1917, e no entanto acabou como chefe de governo.

Então esse é o desafio que está colocado para os partidos de esquerda: construir um movimento na base, pequeno e sem aspecto de massa. E quando houver uma explosão nós estaremos preparados para ter uma palavra.

Fórum – Como o senhor viu o afastamento de Heloisa Helena da presidência do Psol? Como estão suas relações com ela hoje?

Plínio – Foi lastimável. Ela se apartou da base do partido, que votou em mim, e não soube reconhecer a derrota e passar por cima disso. Levou muito para o lado pessoal.

As minhas relações com ela são curiosas. Na campanha eleitoral fiz apelo em seu favor, de modo que eu não tenho nenhuma animosidade com ela. Não levo política para o lado pessoal nunca. Discordei de uma posição dela num episódio específico. Posso concordar com a Heloisa em dez mil coisas depois, mas isso vai ser decidido agora pelo diretório nacional do partido.

Fórum – O senhor fez várias declarações perto do fim do primeiro turno, inclusive no dia da votação, acreditando que haveria um segundo turno. No entanto, sua opção foi pelo voto nulo. Assim, como o senhor vê a importância de haver um segundo turno?

Plínio – Proponho voto nulo porque acho que o importante na campanha eleitoral da esquerda é a conscientização. E nesse caso, preciso conscientizar a massa de que nenhum dos dois candidatos traz solução em hipótese nenhuma. De modo que, se eu votar em um, estarei enfraquecendo todo o discurso de que nenhum dos dois candidatos defende os mesmos interesses que eu defendo.

Fórum – Como o senhor vê o predomínio das questões morais neste segundo turno? Isso representa um retrocesso no debate político?

Plínio – Isso representa um pedágio que estão pagando ao fundamentalismo religioso, ao atraso e ao patrulhamento das opiniões. É vergonhoso e lastimável. O Boechat (Ricardo Boechat, jornalista) chamou os dois de “idiotas” e acho que ele tem toda razão.

Fórum – Sobre a questão do meio ambiente, uma vez o senhor disse que a preservação da natureza não é concebível no modelo capitalista. Porque não é, e porque o socialismo permitiria isso?

Plínio – Esse é o meu grande debate com a Marina. Para o capitalismo, a maior prioridade é lucro. Os capitalistas defendem a natureza, têm código florestal, institutos. Mas na hora em que a defesa da natureza impede a acumulação de capital, a acumulação prevalece e a defesa da natureza não, tanto que a devastação contra o meio ambiente só aumenta.

Para nós, socialistas, a defesa da natureza é mais importante que a acumulação de capital. E numa contradição entre um sistema e outro, nós socialistas somos pela redução da acumulação de capital, defendendo a natureza.

Fórum – Após as eleições de 2010, o que, na sua opinião, deve mudar na estratégia do Psol para as eleições municipais de 2012?

Plínio – Nós vamos estar na oposição. É difícil dizer isso agora, pois é preciso ver a conjuntura após a posse do novo governo. É a posse do novo governo que vai ditar para nós qual é a solução. Podemos partir só com a esquerda pura para fazermos mais um testemunho, ou podemos fazer alianças, dependendo sempre do critério de o que conscientiza mais o povo.

Se a conscientização vislumbrar uma aliança com forças capitalistas nós faremos, porque aliança você não faz com um igual e sim com um diferente. Com um igual você faz sociedades, parcerias.

Quando o Mao Tse-tung raptou o Chiang Kai-chec (militar e político de um partido conservador na China), ele propôs para ele um acordo de juntos combaterem os japoneses e suspenderem as hostilidades entre os dois. Ninguém admitiu que um estava aceitando a tese do outro. Mesma coisa o Churchill, quando ele se aliou ao Stalin para deter o nazismo. Ninguém imaginou que um havia virado socialista e Stalin capitalista.

Então na eleição para a prefeitura, nós podemos fazer acordos, dependendo da análise da situação concreta que estiver posta na hora do processo eleitoral.

Fórum – O senhor esteve bastante presente na internet. Como o senhor avalia a importância da rede no processo eleitoral em geral?

Plínio – Acho que o Twitter substituirá a televisão como principal instrumento de propaganda política nas próximas eleições. É um instrumento extraordinário. Fiz uma videoconferência no Twitter para acompanhar o primeiro debate do segundo turno e 10 mil pessoas acompanharam e interagiram comigo, fazendo perguntas e participando. Não consegui fazer na campanha eleitoral nenhum comício com esse número de pessoas, pois o custo para se fazer um comício desse tamanho é brutal. E para a esquerda tem uma importância vital porque é de graça.

Com 140 toques dou a essência e remeto ao meu site, onde eu deposito um artigo sobre o assunto debatido. Muitas vezes as pessoas respondem na hora, sugerindo que eu mude algum argumento porque ele está ruim, e eu noto que está ruim mesmo e mudo na hora.

Fórum – Embora o senhor tenha optado pelo voto nulo, boa parte do Psol optou pelo voto em Dilma no segundo turno. Existe possibilidade de se discutir um apoio a um possível governo petista?

Plínio – Não, em hipótese nenhuma. O Psol estará na oposição ao PT. Não senti na reunião do partido nenhuma voz favorável à aliança. Isso é consensual e unânime no nosso partido.

Fórum – Nos debates eleitorais, o senhor optou por adotar uma postura combativa contra os dois principais candidatos. Por quê?

Plínio – Optei por dizer a verdade. Isso me colocou em antagonismo a eles e não fugi, muito pelo contrário. Procurei marcar essa diferença e isso criou o debate e acho que foi uma contribuição.

André Rossi
Plínio ao folhear a edição de outubro da Revista Fórum. Para ele, o país vive uma farsa política com o governo Lula.

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Entrevista ao Jornal do Brasil, na qual ele afirma que o projeto do Serra seria preferível:

http://jb.digitalpages.com.br/home.aspx?edicao=20101103&pg=02


A Candidatura de Marina Silva (PV)

09/11/2010

A primeira vez que ouvi falar de Marina Silva como candidata a Presidente foi bem antes da eleição, antes mesmo dela sair do PT. Algumas pessoas da esquerda do PT achavam que ela seria uma condidata melhor que a Dilma, por ser mais de esquerda e mais ligada aos movimentos sociais. Na época eu já não confiava muito nessa opção.

Quando ela saiu do PT e foi pro PV foi a primeira indicação de que ela não era uma candidata tão ideal assim. Não por ela ter saído do PT, afinal de contas, a Erundina também saiu e continua uma grande militante de esquerda. O problema foi ela ter escolhido o PV e já ter começado a articular sua candidatura para Presidente. O PV no Brasil é um partido pequeno e sem ideologia nenhuma, praticamente uma legenda de aluguel. Além disso, na maioria das vezes se alia com o que há de mais reacionário no país. É uma aliado histórico do PSDB e do PFL (ou DEM). Ao sair do PT para construir uma candidatura no PV ela indicou que seu projeto é a Presidência, independente da base política que sustenta esse projeto. Logo ficou claro que havia um conflito permanente entre a equipe da candidatura, ligada diretamente a ela, e a estrutura do Partido Verde. Esse conflito chegou a se explicitar de forma constrangedora em alguns momentos desta eleição, como, por exemplo, no anúncio de que o PV apoiaria o Serra no segundo turno um dia antes do primeiro turno.

Mas limitar a crítica ao conflito entre a equipe da Marina e o seu Partido significa considerar que o projeto dela era bom e progressista e que o único problema era a estrutura tradicional do partido. O problema é que o próprio projeto político da Marina Silva tinha característica bem conservadoras. Este conservadorismo se apresenta em 4 questões principais:

1) O programa econômico da Marina Silva era totalmente neoliberal. A maior prova disso é que o Eduardo Giannetti da Fonseca era um dos principais nomes do programa econômico da candidatura. O Giannetti é um dos economistas mais neoliberais do país, além de ser profundamente conservador em suas outras posições políticas. O projeto desenvolvido por ele e defendido pela candidata era a redução do papel do Estado na economia, contenção dos gastos públicos, independência do Banco Central, reforma da previdência, diminuição da atuação do BNDES no incentivo ao investimento, etc. O outro principal assessor econômico era o José Eli da Veiga, um liberal bem-intencionado que tenta vender a ideia de que a economia do futuro é o desenvolvimento sustentável socioambiental. Ele só não explica muito bem como mudar esse paradigma em termos de políticas. É bom lembrar que ele foi duramente criticado quando foi indicado para o SEADE, no governo tucano de São Paulo, e tentou romper com a metodologia de cálculo do desemprego acordada há quase vinte anos pelo SEADE (órgão do governo) e o DIEESE (órgão dos sindicatos). Depois da revolta dos sindicalistas, o índice antigo foi mantido e ele pediu sua renúncia ao cargo. Em diversas declarações, ele explicita um certo preconceito com relação aos petistas, aos sindicalistas e até ao presidente Lula. Outra demonstração do caráter neoliberal de seu programa econômico é que ela sempre ressaltou que o sucesso do governo Lula decorreu de uma boa política econômica implementada nos últimos 16 anos, desde o Plano Real, como se fosse a suposta continuidade da política econômica a grande responsável pelo bom momento atual do Brasil.

2) A posição de Marina Silva a respeito da política externa do Governo Lula também foi muito conservadora. Ela repetiu os argumentos da direita e da grande mídia, criticando a grande atuação do Brasil no caso do Irã, além de acusar o governo da Venezuela de ser antidemocrático e também criticar o governo cubano. Ela também elogiou a boa relação que o governo estabeleceu com os EUA. Ou seja, criticou o Irã, a Venezuela e Cuba e eleogiou os EUA. Ela defendeu que os direitos humanos devem ser um princípio fundamental da nossa política externa, como se isso significasse que não deveríamos ter relações com países que são acusados de não respeitarem os direitos humanos, o que é uma visão, no mínimo, ingênua e, em geral, conservadora.

3) O discurso que ela construiu de que os dois principais partidos na disputa, o PT e o PSDB, representam igualmente o conservadorismo na política e que ela representaria uma nova forma de fazer política, etc., além de ser apenas uma estratégia eleitoral, é um discurso despolitizador. Em primeiro lugar, o PT e o PSDB não são iguais e não representam projetos igualmente conservadores. O PSDB representa um projeto conservador de direita e o PT representa um projeto progressista de esquerda (ou, pelo menos, de centro-esquerda). Em segundo lugar, a ideia, também muito repetida na sua campanha, de que tem gente boa em todos os partidos, gente que representa setores modernos e avançados, e que o que o Brasil precisa é reunir esses setores de todos os partidos contra os setores do atraso que também estão em todos os partidos, também é falsa. O PSDB/PFL (ou DEM) apresentou um projeto totalmente “atrasado” nesses termos, fazendo alianças com os setores mais retrógrados nesta campanha. Na coligação do PT também tinha representantes de setores conservadores, mas eles estavam subordinados dentro da coligação a um projeto progressita, emcabeçado pelo PT. Em terceiro lugar, é difícil acreditar que a Marina Silva representava uma nova forma de fazer política. Não sei o que teria de nova. Seu Partido faz a política do jeito mais tradicional, neste ponto de vista. Ela inclusive falava que o tal “Movimento Marina”, que de movimento de verdade não tinha nada, era um movimento da sociedade civil, suprapartidário. Só não dá pra saber como ela ia governar sem a estrutura dos partidos. Enfim, essa estratégia de se colocar como uma nova forma de fazer política não cola, nem o PT conseguiu. O PSOL também tem o mesmo discurso e se vê claramente que não conseguem fazê-lo.

4) Por fim, é fato que, em termos morais, a Marina Silva é uma candidata conservadora. O fato dela ser evangélica prejudica sim sua posição com relação ao aborto, ao casamento gay, etc. Ela tentou disfarçar e dizer que sua posição pessoal é diferente da sua posição enquanto candidata, mas é difícil acreditar que ela se empenhasse em levar essas questões adiante de uma forma progressita. Dizer que vai decidir por plebiscito é uma forma de fugir da responsabilidade para os que são a favor, deixando claro pros que são contra que ela está com eles. Questões como essa não devem ir a plebiscito, pois a campanha conservadora seria gigantesca. A maior prova desse conservadorismo foi que a principal contribuição que ela deu à campanha presidencial não foi a inclusão da questão ambiental no debate político, foi a inclusão do consevadorismo religioso pela primeira vez como tema relevante em um debate política presidencial.

É por isso que eu considero que a sua candidatura foi conservadora. A ênfase do discurso foi na ética, na tranparência e em um novo modelo de desenvolvimento sustentável. As questões sociais, reforma agrária, etc., ficaram em segundo plano. Isso sem falar no fato de seu Vice ser um dos donos da Natura, empresa que patenteia o conhecimento de comunidades indígenas da Amazônia.

Dito tudo isso, é inegável que a candidatura da Marina serviu mais à estratégia da direita do que para colocar em debate a questão de um novo modelo de desenvolvimento. Quando a direita e a grande mídia viram que o Serra não ia subir de seus 30%, passaram a inflar a candidatura da Marina, para levar a disputa para o segundo turno.

Quanto a ela não se posicionar no segundo turno, eu entendo. O PV era claramente a favor do Serra. Ela me pareceu indicar várias vezes que preferia a Dilma. Mas ela não podia tomar posição, dado que ela construiu sua condidatura justamente como uma alternativa à polarização entre os dois partidos. Se ela tomasse posição, perderia boa parte de legitimidade de seu discurso frente a seus apoiadores.

Mas Marina Silva saiu fortalecida das eleições. Seu eleitorado pode ser dividido em três grandes setores. Uma parte mais ambientalista, crítica do desenvolvimentismo. Uma parte mais de classe média-alta, que acredita numa espécie de terceira via, numa nova política, desiludida com os escândalos de corrupção. E uma parte evangélica. Como ela vai fazer para manter essa base eleitoral no futuro e o que vai fazer com ela, é o que precisamos ver.

Abaixo seguem algumas matérias que ilustram meus argumentos.

O primeiro é uma análise do Safatle, que eu achei a melhor das que eu li durante a campanha.

O segundo é uma entrevista com o Giannetti em que ele diexa claro qual é a orientação que ele defende para a política econômica. Ele também diz que a Marina e a sua equipe concordam com ele no essencial. O terceiro é outra entrevista com o Giannetti em que ele diz que não é liberal, mas que se identifica com o liberalismo clássico, de Adam Smith, John Stuart Mill e Alfred Marshall. Pois bem, Mill e Marshall fazem parte das origens teóricas da economia neoclássica, que é usada como base pelas propostas políticas do neoliberalismo.

O quarto é uma entrevista com o José Eli da Veiga, na qual ele critica a política do governo Lula, critica o PV também, e chega a chamar, de forma indireta, o Lula de ignorante, ao dizer que a Marina é “mais bem informada, culta e hábil” que ele. O quinto é um texto que explica a polêmica sobre o índice de desemprego do SEADE-DIEESE. O sexto e sétimo são artigos do Zé Eli citados nesse último texto, nos quais ele se refere de forma meio preconceituosa do sindicalismo e do petismo.

O oitavo e o nono mostram a posição da Marina com relação à política externa do governo Lula.

O décimo é uma boa análise do Blogueiro Idelber Avelar sobre a composição do eleitorado da Marina.

Os outros três explicitam o discurso da Marina e as contradições com o PV.

E o último é a declaração de bens do Guilherme Leal, Vice da Marina Silva. Seu patrimônio declarado é de impressionantes 400 milhões de reais.

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http://outrapolitica.wordpress.com/2010/10/04/marina-silva-em-wall-street/

Marina Silva em Wall Street

Publicado em outubro 4, 2010 por outrapoliticaemsampa

Com o programa econômico mais liberal entre todos, PV apresentou o novo centro, com roupagem “moderna”

Wladimir Safatle, Folha de S.Paulo, 4 de outubro de 2010

“Wall Street” é, entre outras coisas, o nome do novo filme do cineasta norte-americano Oliver Stone. Ele conta a história da crise financeira de 2008 tendo como personagem central um jovem especulador financeiro que parece ter algo semelhante ao que um dia se chamou pudor.

Sua grande preocupação é capitalizar uma empresa, que visa produzir energia ecologicamente limpa, dirigida por um professor de cabelos brancos e ar sábio. O jovem especulador é, muitas vezes, visto pelos seus pares como idealista. No entanto, ele sabe melhor que ninguém que, depois do estouro da bolha financeira, os mercados irão em direção à bolha verde. Mais do que idealista, ele sabe, antes dos outros, para onde o dinheiro corre. Enfim, seu pudor não precisa entrar em contradição com sua ganância.

Neste sentido, “Wall Street” foi feliz em descrever esta nova rearticulação entre agenda ecológica e mundo financeiro. Ela talvez nos explique um fenômeno político mundial que apareceu com toda força no Brasil: a transformação dos partidos verdes em novos partidos de centro e o abandono de suas antigas pautas de esquerda.

A tendência já tinha sido ditada na Europa. Hoje, o partido verde alemão prefere aliar-se aos conservadores da CDU (União Democrata-Cristã) do que fazer triangulações de esquerda com os sociais-democratas (SPD) e a esquerda (Die Linke). Quando estiveram no governo de Schroeder, eles abandonaram de bom grado a bandeira pacifista a fim de mandar tropas para o Afeganistão. Com o mesmo bom grado, eles ajudaram a desmontar o Estado do bem-estar social com leis de flexibilização do trabalho (como o pacote chamado de Hartz IV). Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes do partido verde francês, fez de tudo para viabilizar uma aliança com os centristas do Modem. Algo que soaria melhor para seus novos eleitores que frequentam as praças financeiras mundiais.

No Brasil, vimos a candidatura de Marina Silva impor-se como terceira via na política. Ela foi capaz de pegar um partido composto por personalidades do calibre de Zequinha Sarney e fazer acreditar que, com eles, um novo modo de fazer política está em vias de aparecer. Cobrando os outros candidatos por não ter um programa, ela conseguiu esconder que, de todos, seu programa era o economicamente mais liberal. O que não devia nos surpreender. Afinal, os verdes conservaram o que talvez havia de pior em maio de 68: um antiestatismo muitas vezes simplista enunciado em nome da crença na espontaneidade da sociedade civil.

Não é de se estranhar que este libertarianismo encontre, 40 anos depois, o liberalismo puro e duro. De fato, a ocupação do centro pelos verdes tem tudo para ficar. Ela vem a calhar para um eleitorado que um dia votou na esquerda, mas que gostaria de um discurso mais “moderno”. Um discurso menos centrado em conflitos de classe, problemas de redistribuição, precarização do trabalho e mais centrado em “nova aliança”, “visão integrada” e outros termos que parecem saídos de um manual de administrador de empresas zen. Alguns anos serão necessários para que a nova aliança se mostre como mais uma bolha.

VLADIMIR SAFATLE é professor no departamento de filosofia da USP.

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http://www.movmarina.com.br/profiles/blogs/entrevista-de-gianetti

O Estado brasileiro está onde não devia

Eduardo Giannetti da Fonseca, entrevista a O Globo, 20/06/10

Consultor econômico da campanha de Marina diz que o governo gasta mal e está tentando dar um passo maior do que as pernas

Prestes a lançar em agosto seu novo livro, “A ilusão da alma”, o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, 53 anos, é um dos principais consultores econômicos da equipe da candidata do PV à Presidência, Marina Silva. O novo livro, uma ficção existencialista, deixa fluir seu lado filosófico ao abordar a história do sobrevivente de um tumor no cérebro que passa a estudar obcecadamente neurociência e questionar sobre a verdadeira função da mente.

No dia a dia da campanha, no entanto, Giannetti é um economista que não se deixa iludir pela prosperidade brasileira atual. Ele acha inaceitáveis e irresponsáveis os aumentos concedidos aos aposentados e ao funcionalismo pelo governo Lula em ano eleitoral. Considera os candidatos José Serra e Dilma Rousseff bons gerentes, mas não estadistas, pois, diz, são incapazes de pensar um futuro generoso para o país. “Como bons gerentes, Dilma e Serra seriam ótimos ministros de Marina Silva”, diz ele.

Gilberto Scofield Jr.
SÃO PAULO

O GLOBO: Como o senhor vê a decisão do presidente Lula de dar aumentos a aposentados e servidores em ano de eleições?

EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA: Em seu dois mandatos, Lula expandiu muito os gastos. A receita do setor público aumentou 6,5% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país) por conta da alta na carga tributária e da redução no pagamento dos juros da dívida pública graças à queda nas taxas básicas de juros. Isso liberou recursos para gastos. O que foi feito desse dinheiro? Bem, 5,5% do PIB viraram gastos correntes e 1% virou investimento, incluindo as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ou seja, o Estado brasileiro absorve 36% da renda nacional com impostos e entrega como investimento, tudo incluído, menos de 2% do PIB. Isso é inaceitável e reduz cronicamente o potencial de crescimento sustentável do Brasil.

Qual o problema da política econômica?

GIANNETTI: Há falta de coordenação entre a área da Fazenda e o Banco Central (BC). O aumento do gasto público vai na contramão da necessidade de conter o superaquecimento da economia, tarefa hoje exclusiva do BC. Ou seja, um lado pisa no freio e o outro, no acelerador.

Mas o superaquecimento ocorre também pela muito agressiva expansão do crédito via bancos oficiais: Caixa, Banco do Brasil e especialmente o BNDES, que está sendo financiado agora com o endividamento do Tesouro.

Criou-se um cordão umbilical perigoso entre o BNDES e o Tesouro, política chamada tecnicamente de parafiscal, porque não aparece no orçamento, não foi votada, envolve subsídios enormes para o setor privado e aumenta a demanda, porque libera dinheiro para gastos e investimentos de curto prazo.

Estamos sendo irresponsáveis?

GIANNETTI: O Brasil está tentando dar um passo maior do que a perna e não vai conseguir.

Estamos tentando, ao mesmo tempo, aumentar o consumo das famílias, o investimento privado, o investimento público e os gastos do governo. Não dá para fazer tudo isso junto.

Já há superaquecimento?

GIANNETTI: Os sinais são evidentes: pressão inflacionária e desequilíbrio nas contas externas.

Isso aumenta o custo para a sociedade. Os juros vão ter que subir mais do que precisariam para reduzir a inflação. A qualidade da política econômica no primeiro mandato do Lula foi muito superior ao do segundo, especialmente pela agenda de reformas microeconômicas.

O uso do BNDES preocupa?

GIANNETTI: De 2008 a 2010 são R$ 180 bilhões de crédito novo, financiado por meio de dívida que não aparece no total da dívida líquida do setor público. O Tesouro emite e compensa com o empréstimo que faz ao BNDES.

Mas isso aparece na dívida bruta do governo, que está crescendo acentuadamente, hoje em 64% do PIB. Este caminho é muito perigoso.

Embora não salte aos olhos pelo volume, a dívida impressiona por sua extravagância em termos de custo. O governo se endivida em prazos curtos pagando no mínimo a taxa básica de juros e depois empresta para os parceiros do rei, cobrando taxas bem menores que os juros básicos. É um subsídio maior do que o Bolsa Família para grupos escolhidos a dedo.

De quanto é esse subsídio?

GIANNETTI: Estamos falando de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões por ano. Num estado de direito, o subsídio existe, mas tem que ser politicamente negociado, passar pelo Congresso e ser explicitado no Orçamento. Não está sendo. Agride a democracia constitucional porque é dado discricionariamente.

A participação ativa do Estado na economia, como defende o governo e sua candidata, é mesmo uma necessidade?

GIANNETTI: Eu discordo. O Estado tem papel fundamental, por exemplo, na formação de capital humano, na saúde pública e saneamento. Mas ele se tornar empresário e escolher os vencedores a partir de uma lógica de geopolítica e não de eficiência de mercado não funciona.

O que o Brasil precisa entender neste momento favorável é que é hora de pensar no futuro seriamente, o que significa investir em educação fundamental de qualidade, pesquisa e desenvolvimento e treinamento.

Temos que usar conhecimento gerado no Brasil para acrescentar valor aos recursos naturais e preservar nosso patrimônio ambiental.

O grande risco que corremos é a complacência.

De quê?

GIANNETTI: Imaginar que as coisas, porque estão bem agora, continuarão assim indefinidamente.

Nossa base de recursos humanos é claramente a mais grave deficiência civilizatória deste país. Tem um dado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar, feita pelo IBGE em 2008, que deveria ser seriamente discutido hoje: 44% das crianças brasileiras até 14 anos residem em famílias pobres, com renda familiar per capita inferior a R$ 200. E 20% em famílias com renda inferior a R$ 100. Ou seja, apesar de todo o avanço e toda a nova classe média, a situação da infância no Brasil é calamitosa.

Metade da população não tem saneamento básico.

Mas e os programas sociais do governo?

GIANNETTI: Os programas do governo beneficiam a população de maior idade, como a previdência ou o ensino superior gratuito para os ricos. Eu não sou contra o Estado de maneira nenhuma, mas acho que o Estado brasileiro está onde não devia e não está com mais qualidade onde deveria estar.

Como e por que aderiu à campanha de Marina?

GIANNETTI: A consolidação da Marina Silva como liderança relevante é importante para o futuro do Brasil. Duas pessoas me influenciaram na decisão de participar: o Guilherme Leal, que eu admiro como empresário e gosto como pessoa, e o Caetano Veloso, com quem converso sobre política há 20 anos. Eu me sinto bem em poder contribuir, dentro dos meus limites, para que a liderança da Marina se firme.

Qual é a sua participação?

GIANNETTI: Eu me engajei no início do ano. Converso com a equipe e com a Marina, falo sobre o que penso, e posso dizer que concordamos no essencial.

O país precisa se abrir para o novo. Começa pelo modo de fazer política. Não cair na armadilha de se aliar ao que há de mais retrógrado no país em troca de representatividade ou governabilidade. A Marina é uma liderança política capaz de trazer o que há de melhor no país para seu programa de governo, além de ser capaz de mobilizar forças sociais para esta mudança. A Dilma Rousseff e o José Serra são excelentes gerentes, mas não são líderes políticos. Falta aos dois uma visão de futuro generosa para o Brasil, algo que vá além do desenvolvimento a qualquer preço. Serra e Dilma seriam ótimos ministros num governo Marina.

Como pensar o futuro com a estrutura atual de poder?

GIANNETTI: Há gente boa em todos os partidos. Eu não sou assim tão pessimista. É claro que existem hoje muitos projetos de poder e poucos projetos de nação para o Brasil.

Em 2005, o senhor disse que as três forças políticas de oposição forjadas durante o regime militar —o PMDB de Ulysses Guimarães, o PSDB de FHC e o PT de Lula — foram testadas e mostraram méritos e limites.

Em 2005, disse que era razoável esperar que o sistema político passasse por uma depuração de forças e lideranças. Mas hoje o país está polarizado como nunca. O que aconteceu?

GIANNETTI: A depuração leva tempo. Estamos encerrando um ciclo, e acredito que agora seja a hora de renovar o cenário político brasileiro. O debate entre tucanos e petistas é um debate em torno de gerências e não sobre visões de futuro que temos para o Brasil.

O senhor uma vez comentou que, “com o apagão político do governo Lula, cai por terra a crença de que a solução efetiva dos desafios do país depende apenas de vontade política ou do voluntarismo dos ’justos e bons”. Então, como ter fé em Marina?

GIANNETTI: Precisamos de lideranças políticas que se preocupem em criar novos consensos e não em perseguir consensos já existentes e que não se sustentam no longo prazo, como é o caso atual. Marina é a única liderança capaz de inspirar os eleitores a fazer um país que não continue sendo mais do mesmo, uma cópia ruim do modelo norte-americano.

Mas Marina Silva está muito distante dos candidatos mais bem colocados…

GIANNETTI: Não é um projeto que se esgota nestas eleições.

O senhor é nome forte para ocupar o cargo de presidente do BC num governo Marina?

GIANNETTI: Não é meu perfil.

Eu seria péssimo presidente do BC. Não tenho perfil executivo e sequer consigo controlar o orçamento da minha casa.

Qual sua opinião sobre o trabalho de Henrique Meirelles?

GIANNETTI: O papel do BC é terrível: tirar o barril de chope da sala quando a festa está esquentando.

E nisso, sejamos justos, o governo agiu exemplarmente.

O BC sempre trabalhou com autonomia operacional aqui. E a Marina Silva entende que não se faz aventura com o BC. É perigoso. O PV sabe que a estabilidade macroeconômica é um valor inegociável

Acha que o crescimento do PIB e a situação da economia podem influenciar decisivamente a briga eleitoral?

GIANNETTI: Ainda ajudam a eleger o presidente porque ter um emprego formal é uma aspiração legítima de todo cidadão.

Mas esta preocupação obcecada com o desenvolvimento esconde o fato de que o mercado de trabalho no Brasil está envelhecendo, é ainda pouco qualificado e com muita gente querendo se aposentar sem contribuir ou contribuindo aquém do que deveria.

O déficit previdenciário do funcionalismo público, que se refere a três milhões de pessoas, supera todo o gasto com 37 milhões de crianças que cursam o ensino fundamental hoje. Isso é imprevidência.

O senhor critica o assistencialismo no governo Lula, mas muitos economistas dizem que as políticas de transferência de renda do atual governo foram responsáveis pela expansão do consumo e redução da desigualdade.

Isso não é bom?

GIANNETTI: Não sou contra os programas de transferência de renda e acho que famílias realmente necessitadas precisam dessa transferência. Mas isso tem que ser uma situação transitória.

Não entendo quando o governo comemora o crescimento no número de famílias que vivem de bolsa. Isso deveria ser motivo de preocupação, porque o ideal é tirar as famílias da situação de dependência.

Qual sua opinião sobre lideranças que fomentam paternalismo?

GIANNETTI: Dilma Rousseff e Lula têm um parentesco com o getulismo neste sentido. E o fato é que um governo que dá Bolsa Família para os pobres e bolsa-BNDES para grandes grupos empresariais fica c​om uma boa parte da sociedade em suas mãos. É um governo que está tutelando as pessoas. O economista Raul Velloso tem um conta impressionante: a soma das pessoas que possuem rendimentos advindos de arrecadação de impostos, como funcionários públicos, beneficiários da previdência pública e os que recebem Bolsa Família, chega hoje a 40 milhões de famílias, algo como 120 milhões de pessoas. Isso dá ao Estado um poder de tutela que torna difícil para a oposição alterar.

Getúlio Vargas soube como ninguém usar a tutela econômica dos cidadãos com fins de dominação política.

O fato de Marina ser evangélica pode comprometer sua performance nas urnas? Dizer que é contra o casamento gay, mas a favor da “união civil de bens”, não é fugir do debate?

GIANNETTI: Há uma confusão sobre convicções pessoais de Marina e o que sua campanha defende, inclusive sobre o que precisa ser debatido na sociedade.

É preciso melhorar a comunicação da campanha. A Marina é de um respeito humano sem correspondência na política brasileira, que ainda se vangloria de certa truculência.

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http://www.minhamarina.org.br/blog/2010/03/para-giannetti-discurso-economico-deve-focar-capital-humano/

Postado em 15/03/2010 por Equipe Marina | Categoria(s): Eco

Para Giannetti, discurso econômico deve focar capital humano

Economista, cuja entrada na pré-campanha de Marina Silva foi criticada por aliados, rejeita rótulo de neoliberal e diz que se identifica mais com os clássicos

COLUNISTA DA FOLHA

O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, 53, foi o pivô de uma pequena crise na pré-candidatura de Marina Silva (PV-AC) à Presidência. Sua aproximação com a senadora, revelada pela Folha, chegou a ser interpretada como uma guinada neoliberal da campanha em preparação e rejeitada por vários simpatizantes.

O ex-trotskista, autor de “Vícios Privados, Benefícios Públicos?”, entre vários livros, abriu uma exceção para declarar seu voto em Marina Silva, atraído pela promessa de um modo novo de fazer política no Brasil. Quem o levou até ela foi o empresário Guilherme Leal, provável candidato a vice na chapa, um dos donos da Natura e criador do Instituto Arapyaú, que tem Giannetti em seu conselho. (MARCELO LEITE)

FOLHA – Qual é seu papel, no momento, na pré-candidatura de Marina Silva e qual deverá ser no futuro? Vai se envolver diretamente em formulação de programa de governo?
EDUARDO GIANNETTI DA FONSECA – Esse processo está começando, tenho tido conversas frequentes com a senadora. Minha presença é complementar. Não tenho perfil executivo e nunca me envolvi em processo eleitoral. Nem sequer declarei meu voto, até hoje. Sou um virgem. Me animei com essa perspectiva porque Marina passa uma postura diferente no modo de fazer política. O Brasil não precisa ser uma cópia imperfeita do padrão americano. Eu me pergunto: se tudo der certo no Brasil, nós viramos um Estado empobrecido do sul dos Estados Unidos? É esse o nosso sonho civilizatório?

FOLHA – Sua contribuição deve ser mais em política macroeconômica?
GIANNETTI – Sim, mas não só. Na construção de um projeto de país que não submete tudo às decisões econômicas. Aumentar o PIB de qualquer maneira não seria a ambição desesperada de todas as nações.

FOLHA – Em setores próximos de Marina, sua presença na pré-campanha foi rotulada como neoliberal e não muito bem vista.
GIANNETTI – Não sei em que essa rotulagem contribui para o debate. Como pessoa que passou boa parte da vida estudando escolas de pensamento, sei da dificuldade de carimbar posições. Exemplo: uma ideia tão cara ao PT quanto renda cidadã é de um economista tachado de neoliberal, Milton Friedman. As pessoas usam esses rótulos achando que estão dizendo alguma coisa, quando nem sabem o que estão dizendo.

FOLHA – Elas querem dizer tucano.
GIANNETTI – Tucano seria social-democrata. Se quiserem discutir bandeiras ideológicas, vamos lá. Tem neoliberalismo austríaco, de Chicago, de Virgínia, tem o liberalismo clássico. Eu me identifico muito mais com os liberais clássicos, Adam Smith, John Stuart Mill, Alfred Marshall -que, aliás, foi quem trouxe o capital humano para a reflexão em economia.

FOLHA – Como o sr. enxerga o PAC e o pré-sal? O que precisaria mudar da perspectiva de uma candidatura com propostas ambientais?
GIANNETTI – Gostaria de ver o mesmo empenho que o governo Lula deu ao PAC dado ao capital humano. Embora o Brasil tenha problemas sérios de capital físico e infraestrutura, o grande desafio secular sempre foi a sua incapacidade de formar capital humano. O Brasil nunca vai se tornar um país civilizado ou desenvolvido porque descobriu petróleo ou fez uma nova usina hidrelétrica. Esse fetiche do capital físico é uma herança do processo de desenvolvimento brasileiro.

FOLHA – E o pré-sal?
GIANNETTI – Tenho muitas dúvidas técnicas sobre o pré-sal, sobre custo de produção, o preço do barril quando o pré-sal se materializar. É economia suja. O Brasil está querendo dar um passo maior que a pernas. Quer aumentar o investimento, o gasto das famílias e o gasto corrente do governo -tudo ao mesmo tempo. A conta não fecha. Se insistir, dois tipos de desequilíbrio começam a aparecer: pressão inflacionária e desequilíbrio nas contas externas. Se não quiser permitir que aflorem, vai ter de aumentar o juro, tirar o barril de chope quando a festa começa a ficar animada.

FOLHA – Qual seria a alternativa?
GIANNETTI – Vamos ter de enxugar o gasto do governo. E provavelmente pensar mais em crédito para formação de capital do que em crédito para o consumo das famílias. Vamos ter de aceitar algum sacrifício agora para melhorar o futuro.

FOLHA – É provável que o debate eleitoral volte a opor estatismo e privatização. Haverá espaço para questões socioambientais?
GIANNETTI – Esse debate tem de ser feito de maneira mais inteligente. O Brasil precisa de um Estado forte, mas enxuto. O que nós temos hoje, para usar expressão do Sérgio Abranches, é um Leviatã anêmico. O Estado brasileiro faz muitas coisas que não deveria e deixa de fazer coisas que deveria.

FOLHA – O que está errado?
GIANNETTI – O papel que o BNDES está assumindo é muito preocupante. Lula descobriu em seu segundo mandato uma mágica perigosíssima: transferir recursos de dívida pública para concessão de empréstimos sem que isso entre no cálculo de superavit primário. E escolhendo por critérios nem sempre transparentes os parceiros que vão receber benesses desse crédito subsidiado.

Publicado na Folha de São Paulo no dia 14 de março de 2010.

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http://ecourbana.wordpress.com/2009/08/21/entrevista-com-prof-eli-da-veiga-sobre-marina-silva/

Entrevista com Prof. Eli da Veiga sobre Marina Silva

agosto 21st, 2009

O fator Marina

Se for candidata, ex-ministra do Meio Ambiente trará nova agenda econômica para 2010, diz professor
Ivan Marsiglia – O Estado de S. Paulo
15/08/2009

“É uma candidatura para valer, não para marcar posição”, aposta José Eli da Veiga, de 61 anos, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Doutor em Desenvolvimento Econômico e Social pela Sorbonne, com pós-doutorado em Cambridge, Eli da Veiga define-se como “ecodesenvolvimentista” e não esconde o entusiasmo pela novidade que balançou os andaimes da campanha presidencial essa semana.

Para o autor de Desenvolvimento Sustentável – Que Bicho é esse? (Editora Autores Associados, 2008), em parceria com a escritora Lia Zatz, e A Emergência Socioambiental (Editora Senac, 2007), tanto Serra quanto Dilma são “crescimentistas” – presos a “crenças do século passado” e estranhos à nova economia de baixo carbono que, acredita, vai marcar o desenvolvimento do mundo no século 21.

Como complicadores de uma provável candidatura Marina, o professor aponta as más companhias no próprio PV – “que abriu as portas para mil e um oportunistas” – e o tempo pífio de que ela disporia na TV durante o horário eleitoral gratuito. Mas crê que a “carismática” senadora teria a seu favor, a exemplo do que ocorreu com Barack Obama nos EUA, “uma organização de envergadura nacional que não terá caráter partidário”.

O que uma eventual candidatura de Marina Silva traz de novo à eleição presidencial de 2010?Principalmente a possibilidade de dar voz a um amplo leque de movimentos socioambientais que querem colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento sustentável. Ou do ecodesenvolvimento, expressão mais precisa desse projeto, que é para o século 21. Novidade estranha às pré-candidaturas anunciadas: Dilma e Ciro pela situação, Serra e/ou Aécio pela oposição. Todas têm a mesma cabeça cepalina de meados do século passado(referência à Cepal, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, criada em 1948 pela ONU, que moldou o pensamento desenvolvimentista no Brasil).

Limitar-se ao discurso ambiental não é um risco para Marina?
Acho que isso não ocorrerá. Além dos movimentos socioambientais, ela também pode galvanizar sentimentos captados por pesquisas recentes: uma da MTV com a juventude, três feitas pelo Datafolha por encomenda da ONG Amigos da Terra e, sobretudo, a do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)para o Relatório de Desenvolvimento Humano brasileiro que sairá no início de 2010. Essas sondagens captaram tendências de fundo com uma surpreendente ênfase em valores – a identificação desse eleitorado com um código ético, que inclui uma preocupação com as condições de vida das gerações futuras. São pessoas que poderão votar em Marina.

Mas não é uma candidatura apenas para marcar posição?
Longe disso. Se fosse só para marcar posição e colocar o ecodesenvolvimento na agenda, sua candidatura nem seria imprescindível. Acho que Marina poderá atrair milhões de simpatizantes entre as pessoas que escolhem seus candidatos antes do início do horário eleitoral gratuito. Mas é claro que não será nada fácil ampliar essa base a partir de agosto ou setembro de 2010, pois o viés antirrenovação que rege o uso do rádio e da TV prejudica qualquer candidatura que saia desse oligopólio partidário que transformou o Senado e a Câmara em assustadores trens fantasmas.

Com tantos interesses empresariais em jogo, num momento de crise financeira mundial, uma plataforma eleitoral com foco no ‘ecodesenvolvimento’ não nasce inviável?
O grosso do empresariado está caindo na real com muito mais rapidez que o governo e os grandes partidos. Só os grupos de interesse ligados aos negócios com energias fósseis é que pressionam contra a transição ao baixo carbono e ao ecodesenvolvimento. Sob a liderança da ANP, da Petrobrás e do Ministério das Minas e Energia.

O que diferencia um ambientalista de um ecodesenvolvimentista?
A expressão ambientalista sugere uma pessoa que só se preocupa com a natureza e subestima ou ignora as questões sociais que sempre estão na essência da degradação ambiental. Além disso, há um péssimo costume de opor os ambientalistas aos desenvolvimentistas, o que é um grande equívoco decorrente da redução da ideia de desenvolvimento à de crescimento. Há exatos 30 anos emergiu a expressão “desenvolvimento sustentável” justamente para superar essa falsa oposição. E é pela mesma razão que prefiro usar o termo “socioambiental” em vez de “ambiental”.

Por que o senhor costuma dizer que José Serra e Dilma Rousseff são ‘crescimentistas’, não desenvolvimentistas?
Esse é o cerne da questão. Ambos continuam com crenças convencionais do século passado segundo as quais existiria uma relação diretamente proporcional entre a taxa de aumento do PIB e o avanço do processo de desenvolvimento. Mas essa relação não é linear. Transformar crescimento em desenvolvimento depende de dois fatores essenciais: do estilo do próprio crescimento e dos arranjos institucionais que permitem canalizar seus frutos para o que mais interessa: ciência, tecnologia e inovação. E também saúde, educação, cultura, lazer, segurança, etc.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), tão decantado pelo governo, não leva em conta esses parâmetros?
O PAC é um Frankenstein: mistura obras fundamentais, como as de saneamento básico, com obras absolutamente negativas, como a BR-319 (a recuperação da rodovia entre Porto Velho e Manaus, na região Norte do País, tem seu licenciamento ambiental questionado por ONGs como o Greenpeace) ou as termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. E o pior é que as críticas da oposição ao PAC não são de conteúdo, como essas. Tucanos e demos apontam apenas a lentidão ou a ineficiência na gestão do programa.

Ninguém questiona a biografia da senadora Marina, mas teria ela condições de formar uma equipe e efetivamente administrar o País?
Muito mais do que Lula. Além de ter as qualidades carismáticas de um Barack Obama, ela é mais bem informada, culta e hábil que o atual presidente brasileiro. Estou seguro de que saberá compor uma equipe governamental capaz de colocar o Brasil no rumo do ecodesenvolvimento. Vale lembrar que Lula assumiu a presidência em 2002 em condições incomparavelmente mais precárias do que as que podem ser antevistas para o início de 2011.

No entanto, existem críticas à passagem de Marina pelo Ministério do Meio Ambiente. Comenta-se que ela apostou demais em reservas extrativistas e assentamentos e deixou os parques nacionais à míngua, além de perder embates decisivos com a Agricultura e a Casa Civil. Qual é sua avaliação?
Minha avaliação é a inversa. Nesses cinco anos e meio, Marina foi capaz de mostrar a qualquer observador atento quanto pode ser prejudicial ao futuro do Brasil a visão obtusa de que qualquer tipo de crescimento econômico favorece o desenvolvimento. Os embates que perdeu foram pedagógicos. Como estão sendo, aliás, os do ministro Carlos Minc.

Há a acusação de que o Ministério do Meio Ambiente, assim como outros setores do governo Lula, teria ‘domesticado’ as ONGs ambientalistas oferecendo-lhes contratos…
É até possível que algumas dessas ONGs tenham amolecido por causa de contratos governamentais. Mas cabe a quem acusa dar nome aos bois. Posso garantir que isso não ocorreu com ONGs como Amigos da Terra, Greenpeace, Imazon, ISA, SOS Mata Atlântica e WWF.

Mas e o PV, está preparado para assumir um projeto de envergadura nacional? Um partido que tem como líder da bancada no Congresso o deputado Sarney Filho pode mesmo representar o novo?
O PV é complicado, mas nem de longe pelo fato de ter Zequinha Sarney como líder. Ele foi um bom ministro do Meio Ambiente e continuou a ser bem visto pelos movimentos socioambientais depois que voltou para a Câmara. Se o problema do PV fosse ter um líder que peca pelo sobrenome, seria fácil. A questão é que a sigla abriu as portas para mil e um oportunistas quando esteve sob ameaça de extinção por causa da cláusula de barreira. Essa turma vai ter de procurar outras legendas se houver a tal “refundação programática” prometida pela banda boa. Mas o mais importante é que a candidatura Marina pode contar com uma organização de envergadura nacional que não terá caráter partidário. E no mundo inteiro os partidos estão deixando de ser catalisadores da inovação social como vinha ocorrendo nos dois últimos séculos. Hoje, são essencialmente o oposto: represas da inovação social.

Outro ponto mencionado por alguns é o estado de saúde de Marina, que seria um tanto delicado.
Seria bom que todos os postulantes à Presidência da República se submetessem ao diagnóstico de uma junta médica indicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Minha impressão é de que a senadora se mostraria mais saudável até que o jovem Aécio.

Pelo jeito, o senhor já aderiu à campanha Marina…
Propus essa candidatura aos meus melhores amigos petistas desde a reeleição de Lula. E acho que Marina deveria ter tomado essa decisão há mais de um ano, quando se viu tangida a deixar o governo.

E em quem o senhor apostaria para figurar em sua chapa como vice? Falou-se no nome do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, também do PV, no do senador Cristovam Buarque, do PDT, na senadora Heloísa Helena, do PSOL…

Essa questão de escolha de vice ainda exigirá muita reflexão. Neste momento minha tendência seria pela indicação de um dos grandes empreendedores da região Sudeste que já se destacaram no movimento pela responsabilidade socioambiental das empresas.

Por que o senhor diz que a transição para uma economia de baixo carbono seria uma oportunidade e não uma restrição ao desenvolvimento brasileiro?
Porque o Brasil tem vantagens comparativas que, se forem transformadas em vantagens competitivas, lhe darão muito mais chances de desenvolvimento do que terão os demais emergentes. E construirão a competitividade sem a qual não será possível lidar com a ressurreição da China. Só se transforma vantagem comparativa em vantagem competitiva com ênfase primordial em ciência, tecnologia e inovação. Espero que essa seja a prioridade da Marina.

O discurso de Marina é avançado em termos ambientais, mas conservador em outras áreas, como o aborto (ela é contra). Isso pode gerar ruído?
Sim, gerará ruído e seus adversários tentarão explorar coisas desse tipo. Mas será que os demais candidatos vão declarar abertamente que são a favor do aborto? Sou ateu há mais de 40 anos, mas acho que pessoas religiosas como Marina tendem a seguir um código ético infinitamente superior ao da maioria dos materialistas vulgares que nos cercam.

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http://antonioluizcosta.sites.uol.com.br/Desemprego.htm

A última batalha pelos números do desemprego

Em 17 de março de 2003, porém, o secretário do Planejamento do Estado empossou, na diretoria executiva da Fundação Seade, o economista da FEA José Eli da Veiga que, no dia 3 de junho, publicou no jornal Valor, do qual era colaborador desde o início do ano, um furioso ataque contra a pesquisa que sua instituição ajuda a produzir.

Afirmou que a pesquisa exagerava a importância da Região Metropolitana e escondia o bom desempenho econômico das cidades do interior. Revoltou-se com que seus números “tirem o sono dos governantes”.  Escreveu que somar o desemprego aberto com o oculto para é uma mistificação “alimentada pela imaturidade do movimento sindical”: não se faz assim nos Estados Unidos e também não “em toda terra que não dá jabuticaba”.

Os sindicatos usuários do Dieese reuniram-se na segunda-feira, 9, para discutir o que fazer. O presidente eleito da CUT, Luiz Marinho, disse que procuraria o governador para pedir a continuidade da parceria: “uma decisão como essa é inaceitável. Espero que seja meramente uma posição equivocada da direção do Seade e não uma decisão política, o que seria decepcionante”.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves também cobrou posicionamento de Alckmin. Já havia escrevido ao Valor, para questionar o artigo de Veiga. A resposta do economista: “no próximo artigo sobre o tema serei mais didático, para que pessoas como ele também consigam entender.” Mas também os especialistas não entenderam. Ex-diretores da Seade e do Dieese ficaram inconformados.

Martoni foi taxativo: “estou estarrecido com o atrevimento e a falta de respeito do Zé Eli. A crítica dele revela uma base tecnicamente equivocada, preconceituosa. É preciso dominar a metodologia minimamente para criticá-la. O problema não é discutir a metodologia, mas a arbitrariedade com a qual ele trata do assunto”.

Barelli também: “o artigo do Veiga foi muito ofensivo. Não sei o motivo de ele estar tão transtornado. É uma tempestade em copo d’água. Ele transformou uma questão técnica em política”.  Mas duvida de que a pesquisa e a parceria sejam interrompidas, pois a Fundação Seade está sem recursos e mudar a metodologia sem ajuda do Dieese custaria caro.

Segundo Barelli, pesquisadores da OCDE – organização dos governos dos países industrializados – estiveram no Brasil há pouco mais de um ano e concluíram que a metodologia do Dieese se adapta à nova realidade do mercado de trabalho europeu.

A pesquisa, explica Martoni, foi planejada tanto para ser comparável com as de outros países – o desemprego “aberto” do Dieese está de acordo com o padrão tradicional da Organização Internacional do Trabalho – quanto para dar conta das falhas do sistema de proteção social.

Em um estado de bem-estar social que funcione a contento, o desempregado recebe indenização e seguro-desemprego que lhe permitem procurar emprego sem precisar de bicos. A fronteira entre emprego e desemprego é inequívoca: quem não procura emprego ou não solicita seguro-desemprego não é contado como desempregado.

Mas na realidade que sempre foi vivida nos países periféricos – e que muitos países industrializados, mesmo sem dar jabuticabas, também começam a enfrentar – muitos trabalhadores jamais estiveram no lado formal da economia ou gozaram de qualquer tipo de proteção.

Poucos podem sobreviver por muito tempo apenas procurando emprego. A maioria se vira com bicos ocasionais ou outras alternativas precárias de sobrevivência e pode abandonar por muito tempo a procura de emprego, embora permaneça disponível para isso se perceber melhora no mercado de trabalho.

Nesta realidade, a zona cinzenta, entre emprego satisfatório e desemprego aberto, é particularmente decisiva. Ao analisá-la, não há como deixar de perceber que o problema é amplo e estrutural. As soluções teriam de ser buscadas em políticas de geração de emprego (crescimento econômico, serviços públicos, ampliação do mercado consumidor via distribuição de renda) ou de formas alternativas e aceitáveis de ocupação (reforma agrária, organizações sem fins lucrativos).

Decidir ver só o desemprego “aberto” – pessoas à procura de emprego – permite interpretá-lo como mera ineficiência do mercado, uma variável como a taxa de juros ou outra qualquer. Nessa visão, sempre há vagas, mas os trabalhadores não estão preparados, não sabem que existem, ou são impedidos de ocupá-las pelas leis do trabalho. Bastariam medidas pontuais de flexibilização, qualificação e intermediação da mão-de-obra, ou reduzir pisos salariais e direitos trabalhistas. Cegueira voluntária é uma opção ideológica.

Felizmente, não o governo de São Paulo fez outra escolha. O governador declarou às centrais sindicais que apoiava o convênio com o Dieese e ordenou que a publicação da pesquisa, suspensa desde o início da embrulhada, fosse retomada no formato habitual. No dia 25, Eli da Veiga demitiu-se e foi publicada a pesquisa de maio, que voltou a mostrar desemprego total de 20,6% em São Paulo.

Num melancólico epílogo ao caso Eli da Veiga, de volta ao Valor na terça seguinte, queixou-se da desorientação do governador que ordenou que o Seade mantivesse a “soma burra” que faz com que jovens “que vivem com a ‘mama’” sejam contados como desempregados só porque dizem estar em busca de algo melhor e do presidente que se preocupa com o primeiro emprego. Talvez só recupere o bom-senso se algum dia for assaltado por um jovem desempregado.

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http://www.zeeli.pro.br/artigos_valor/014_2003_06_03.htm

São Paulo: da garoa à mistificação do desemprego

José Eli da Veiga

[A mistificação que precisa ser denunciada é a estranha somatória de “aberto” com “oculto” para se chegar a um desemprego dito “total”.]

Valor, terça 03/06/03

Muita gente está alarmada com o noticiário sobre o desemprego. Com razão, pois manchetes que anunciaram taxa recorde de 20,6% – ou de 1.941.000 desempregados somente na metrópole paulista foram incansavelmente destacadas em centenas de programas de televisão e de rádio, além de terem sido estampadas em letras monumentais por vários jornais diários. E coisa tão repetida só pode ser verdade, não é? Felizmente a resposta é negativa. Nrelease distribuído à imprensa pela Fundação Seade (disponível em www.seade.gov.br) nota-se facilmente que se trata de um modo muito peculiar, embora recorrente, de interpretar os resultadosmensais de sua excelente Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Uma distorção que por desejo do Dieese vem sendo praticada desde 1985, e caminha em direção diametralmente oposta aos padrões adotados no resto do mundo.

Em abril de 2003, a taxa de desemprego propriamente dita (do “aberto”, no jargão técnico) chegou a 13,6% na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Ela deve ser comparada com a de abril de 2002, que foi de 13,3%. Um ligeiro aumento que não justifica tanto susto. Além disso, a PED também mede um outro fenômeno, bem diferente, chamado por aqui de desemprego oculto”, composto principalmente por pessoas que estão realizando algum trabalho irregular (como por exemplo, a ajuda a negócios de parentes), mas que simultaneamente declaram estar em busca de outra atividade. Essa segunda variável, que revela principalmente a situação de trabalhadores sujeitos a ocupações precárias, teve uma trajetória diferente: passou de 7,1% em abril de 2002 para 7,0% em abril de 2003.

A essência da mistificação que precisa ser denunciada é essa estranha somatória de “aberto” com “oculto” para se chegar a um desemprego dito “total”, de 20,6%. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde as pesquisas oficiais sobre desemprego são muito mais sofisticadas, divulgam-se sete taxas diferentes, mas só se aceita a agregação das cinco primeiras, que são justamente as que não incluem o que se chama por aqui de “desemprego oculto”. O “conventional unemployment rate não incorpora taxas de subemprego (“part time”) e de desalento (discouraged”), os dois ingredientes do dito “oculto”. E é assim que se faz em toda terra que não dá jabuticaba: divulgam-se todas as medidas, mas não se totaliza alhos com bugalhos.

Outras coisas também precisam ser esclarecidas para que se combata o vírus alarmista sobre um suposto aumento catastrófico do desemprego. Há pelo menos dois outros fatos que não podem ser ignorados por quem repudia demagogices. O primeiro diz respeito à importância relativa da RMSP na economia paulista, e o segundoaos contrastes da evolução do desemprego dentro dela.

O interior paulista, e principalmente algumas de suas principais aglomerações urbanas não-metropolitanas, têm apresentado um desempenho econômico bem superior ao da RMSP. Só não sabe disso quem não tomou conhecimento do estudo realizado pela Fipe para a Secretaria de Economia e Planejamento, intitulado “Evolução Econômica das Regiões do Estado de São Paulo”. Na segunda metade da década de 1990, a movimentação econômica cresceu três vezes mais nas regiões polarizadas por São José dos Campos, Marília e Sorocaba, e duas vezes mais nas de São José do Rio Preto, Campinas e Presidente Prudente. Em termos de dinamismo, a RMSP só superou 3 das 14 regiões do interior paulista. E no final dos anos 1990 ela até passou ao penúltimo lugar, só ganhando da região essencialmente pecuária de Araçatuba...

Infelizmente ainda não se dispõe de resultados semelhantes para o início dos anos 2000. Principalmente devido a dificuldades com a obtenção de um dos mais significativos indicadores da atividade econômica: o consumo setorial e residencial de energia elétrica. Por isso, todos os estudiosos da economia paulista, a começar pelos que se dedicam ao planejamento governamental, só podem aplaudir a iniciativa já tomada pela Secretaria de Energia de recuperar rapidamente a coleta desses dados para os anos faltantes.

O segundo fato que deve merecer atenção de quem quiser fazer uma leitura rigorosa dos resultados da pesquisa (PED) é o contraste que se estabeleceu entre oscomportamentos do emprego no município de São Paulo e no restante da RMSP. Apesar de ter sido destacado no “release distribuído pela Fundação Seade, esse fato foi inteiramente desprezado pelo Dieese na coletiva de imprensa que gerou as manchetes da semana passada. Mas é fundamental notar que o desemprego (“aberto”) vem aumentando muito mais na capital do que no seu entorno metropolitano. Nos últimos 12 meses, enquanto o desemprego aumentou 4% na capital, no conjunto dos outros 37 municípios metropolitanos ele só aumentou 1,4%. Paralelamente, a insatisfação com trabalhos precários também impropriamente somada ao desalento para obter o tal “oculto” ficou constante na capital, enquanto caía 2,7% no restante da RMSP.

Se a economia metropolitana está em relativa retranca, e se a relação entre procura e oferta de trabalho piora menos em concentrações suburbanas como o ABC, Guarulhos ou Osasco, isto só pode ser sinal de que há dimensões da tão falada “reestruturação produtiva” que ainda não foram bem detectadas, e sobre as quais não se deve especular. Todavia, uma coisa está clara: é desaconselhável dar bola para uma abusiva taxa de desemprego “total” – e ainda restrita exclusivamente à metrópole paulista pois ela acaba ludibriando e assustando dezenas de milhões de brasileiros em busca de informação pelo rádio, televisão, jornais diários, ou revistas semanais.É revoltante que esse tipo de miopia tire o sono dos governantes, sejam eles federais, estaduais ou municipais, sejam eles do partido A, B ou C. Pior: é lamentável que essa estranha mistificação seja alimentada pela imaturidade do movimento sindical. Mais do que tudo é imprescindível que o Ministro do Trabalho Jacques Wagner não se deixe desorientar por essa doença infantil do petismo.

José Eli da Veiga, professor titular da FEA-USP, Diretor Executivo da Fundação Seade, e autor de Cidades Imaginárias (Ed. Autores Associados, 2002), escreve quinzenalmente às terças-feiras.            Home page: http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/

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http://www.zeeli.pro.br/artigos_valor/016_2003_07_01.htm

Onde está a caixa-preta do desemprego

José Eli da Veiga

[É óbvio que o alívio do desemprego deveria começar pelos chefes de domicílio, e não por seus filhos. Quem inverte esta ordem está na contramão.]

Valor, terça 01/07/03

O desemprego é uma flagrante manifestação da desigualdade. Mesmo que fosse possível compensar a perda de renda que provoca, continuariam gravíssimos os seusefeitos sobre a vida dos indivíduos e de suas famílias. Há provas abundantes de que seus impactos são vastos e abrangentes: dano psicológico, perda de motivação para o trabalho, perda de habilidade e autoconfiança, aumento de doenças e morbidez, perturbação das relações familiares e da vida social, intensificação da exclusão, acentuação das assimetrias entre os sexos, e assim por diante. É difícil achar uma mazela social mais grave. Além de estampar a desigualdade, o desemprego é a pior faceta da pobreza e da miséria. E ninguém esqueceu que a geração de 8 ou 10 milhões de empregos até 2006 se tornaram as principais bravatas eleitorais de 2002.Nada poderia ser mais benéfico ao Brasil do que alcançar pelo menos uma boa fração desses sonhos.

Todavia, é pura ilusão supor que milhões de empregos surgirão por obra e graça do tal “espetáculo do crescimento”. Há estilos de crescimento que criam pouquíssimos empregos. E são desconhecidos os fundamentos que podem fazer com que um próximo impulso seja profícuo em novas oportunidades de ocupação e geração de renda. Daí a dramaticidade das informações sobre as características do desemprego. O que se costuma ler nos jornais quando instituições como o IBGE ou a Seade divulgam suas pesquisas mensais são simplificações que só reforçam a fracassomania. Não porque essas pesquisas sejam de má qualidade. Muito pelo contrário, são ótimas. Mas a divulgação dos resultados é tão obtusa que só piora a ingenuidade pública a respeito dessa colossal tragédia que é o desemprego.

Por exemplo: na sexta-feira os jornais disseram que a taxa de desemprego de maio atingiu 12,8%, segundo o IBGE. Basta um mínimo de atenção aos resultados dessa excelente pesquisa mensal para perceber que se trata tão somente de uma taxa aproximada do desemprego no arquipélago metropolitano. Isto é, em apenas um terço do país, e justamente em seu pior terço, que se tornou demasiadamente congestionado por absorver a maior parte do excedente de mão-de-obra sem qualificação. Por razões sobejamente conhecidas, houve simultânea redução das necessidades de trabalho humano nos parques industriais em torno do qual se formaram essas metrópoles. No caso da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), de longe a mais representativa, o atual nível de emprego industrial é somente 4/5 do que foi em 1985. Esse encolhimento foi parcialmente contrabalançado em outros setores – principalmente nos serviços fazendo com que, em quase 18 anos, a ocupação total da RMSP crescesse (irrisórios) 36%. Pior: as características das ocupações dos serviços, comércio, e outros, nada têm a ver com aquele trabalho regular e a tempo integral, que constituía o padrão da chamada “Era de Ouro” (1948-1973). Muitas das novas ocupações do setor terciário tendem a ser irregulares, de tempo parcial, instáveis, e pior remuneradas. Por isso, além de refletir apenas o terço metropolitano do país, a PME do IBGE não capta essa profunda mudança das características do emprego.

Ora, uma das principais qualidades da não menos excelente pesquisa mensal de emprego e desemprego na RMSP (PED), realizada exclusivamente pela Fundação Seade mas divulgada sob a batuta do anfíbio Dieese – está justamente em não se restringir ao desemprego integral, pois mede também a procura de trabalho dos economicamente ativos que mantêm ocupações irregulares e precárias. Lamentavelmente, esta vantagem da PED acaba sendo diluída na geléia geral que resulta de sua adição ao desemprego integral (ou “aberto”). Eles são diferentes por muitas razões, entre as quais se destaca o comportamento na procura de emprego. Quem está inteiramente desempregado, é forçado a aceitar o que surgir, pois não tem escolha. Quem está parcialmente desempregado tende a comparar eventuais ofertas com sua situação básica. Costuma não compensar, por exemplo, uma oportunidade de trabalho que obrigue a pessoa deixar de morar na casa dos pais, além de largar um“quebra galho”. Muitos jovens vivem com a “mama”, estudam à noite, fazem “bicos” diurnos, mas são contados como desempregados, assim que declarem estar em busca de algo melhor, o que mais costuma ocorrer nas férias, no Natal, ou quando urge comprar um par de tênis...

Para não acreditar no conto macabro de que mais de um quinto da população economicamente ativa da RMSP é formada por desempregados, torna-se necessáriodispor de algumas chaves de leitura dos resultados da pesquisa da Fundação Seade. Por exemplo: a leve queda do chamado desemprego aberto, de 13,6% em abril para 13,4% em maio, apesar de ínfima, tem um significado muito especial. É em maio que tradicionalmente o desemprego começa a recuar. Esse movimento sazonal não é obrigatório, mas ocorre em anos “normais”, além de ser bem acentuado nos anos bons. Em anos de vacas magérrimas – como foi o de 1999 – a taxa não recua em maio, e continua alta nos meses posteriores. Como o panorama econômico deste primeiro semestre de 2003 é dos piores, era inevitável o temor de uma repetição do perfil de 1999, o que felizmente – não está ocorrendo. Além disso, é preciso frisar que o resultado de maio é uma média trimestral março/maio. A queda efetiva da taxa de desemprego deve ter sido maior que dois pontos depois da vírgula. Enfim, o desemprego continua muito alto, mas é bom presságio essa leve queda dochamado “aberto” no mês de maio.

Last but no least, é crucial saber que entre os chefes de domicílio a taxa desse desemprego “aberto” está em 6,5% (menos de um terço da fictícia taxa de desemprego “total” da RMSP). E aqui fica escancarada a desorientação de dois dirigentes governamentais. Enquanto Geraldo Alckmin ordena que a Seade mantenha a “soma burra”, Lula lança um programa para o primeiro emprego, quando é óbvio que o alívio do desemprego deveria começar pelos chefes de domicílio, e não por seusfilhos. Quem inverte esta ordem pegou a contramão. Precisa ser introduzido, com urgência, às idéias do Nobel Amartya Sen.

Em suma, é para dar outras informações preciosas sobre estas questões que acaba de surgir uma seção “Seade rima com verdade na página web do signatário:http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/

José Eli da Veiga, professor titular da FEA-USP e autor de Cidades Imaginárias (Ed. Autores Associados, 2002), escreve quinzenalmente às terças-feiras. Home page: http://www.econ.fea.usp.br/zeeli/

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http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/02/26/marina-silva-critica-relacao-do-governo-lula-com-venezuela-cuba-ira-nao-podemos-compactuar-com-subtracao-da-liberdade-915943643.asp

Publicada em 26/02/2010

NO RÁDIO

Marina Silva critica relação do governo Lula com Venezuela, Cuba e Irã: ‘Não podemos compactuar com a subtração da liberdade’

O Globo; CBNReuters

RIO – A senadora Marina Silva (AC), pré-candidata do PV à sucessão presidencial, criticou nesta sexta-feira, em entrevista à rádio CBN, a política externa do governo Lula em relação à Venezuela, a Cuba e ao Irã. Ao comentar os laços do Brasil com o presidente Hugo Chávez, que apoia a candidatura da ministra Dilma Rousseff, Marina disse que não se pode “compactuar com a subtração da liberdade”. ( Ouça a íntegra da entrevista no blog da Lucia Hippolito )

Nós não podemos, em hipótese alguma, compactuar com a subtração da liberdade, do direito de expressão, da livre forma de pensamento

– Não podemos ficar reféns dessa combinação que é um pouco preocupante, da democracia representativa com a democracia direta. No caso da América Latina, a Venezuela tem uma ênfase plebiscitária que pode colocar em risco a alternância de poder, a subtração de liberdade. Nós não podemos, em hipótese alguma, compactuar com a subtração da liberdade, do direito de expressão, da livre forma de pensamento – destacou ela, durante entrevista à âncora Lucia Hippolito.

De acordo com a senadora, Cuba também precisa se abrir para a democracia.

Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão

– A revolução contribui com alguns aspectos? Contribuiu e muito. Agora, é o fim da história? Não é. Existe um desafio ali? Existe. Qual é o desafio? É de que Cuba precisa se abrir para o mundo, precisa se transformar numa a democracia. Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão – analisou Marina, que ao sair do estúdio acrescentou que alguns princípios básicos não podem ser relativizados pelo governo brasileiro:

– A defesa da liberdade, dos direitos humanos e de expressão precisam ser defendidos como um valor. No caso de Cuba, essas liberdades estão sendo cercadas e com graves problemas que causam constrangimento para aliados de Cuba. Os que silenciam não estão ajudando para que Cuba avance rumo à democracia.

– Se isso é importante para o Brasil e para os brasileiros, por que não é importante para os cubanos? – questionou.

A política do governo Lula em relação ao regime cubano e as supostas violações de direitos humanos cometidas na ilha também foram alvos de críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nesta sexta-feira.

– Sempre fui contrário ao embargo a Cuba, que já mostrou que não deu resultado. Mas, acho que temos que ter uma posição bastante firme na questão dos presos políticos e direitos humanos. Uma coisa não está conectada a outra – disse FH, após evento da ONG Viva Rio na capital fluminense.

Nesta semana, o preso político Orlando Zapata morreu na ilha após greve de fome de mais de 80 dias. O presidente Lula, que visitava o país na ocasião, foi alvo de críticas da oposição por seu silêncio diante do ocorrido.

Durante a entrevista, Marina Silva criticou ainda a postura do governo Lula em relação ao Irã. O Brasil defende o direito iraniano de manter um programa nuclear, desde que para fins pacíficos, e discorda das sanções ao país islâmico no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Temos essa atitude do presidente Lula em relação ao Irã, que não está sendo entendida por ninguém no mundo, nem mesmo pelo Sarkozy

– Temos essa atitude do presidente Lula em relação ao Irã, que não está sendo entendida por ninguém no mundo, nem mesmo pelo Sarkozy, que é um parceiro do presidente Lula. É um país democrático e ocidental que está se colocando uma forma que não está sendo compreendida nem internamente, nem externamente – afirmou.

Na semana que vem, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, visitará o Brasil num esforço diplomático a fim de convencer o governo Lula a mudar sua posição de resistência à aprovação de sanções contra o Irã na ONU.

Marina Silva reconheceu, no entanto, que há avanços em alguns aspectos da política externa do governo Lula. E destacou a relação do Brasil com os Estados Unidos.

– Na relação com os Estados Unidos, eu diria que temos uma coisa muito positiva. O Brasil não é um país caudatário, os Estados Unidos não têm razões para nos olhar com desconfianças. Estamos ali construindo uma relação cada um do tamanho que tem, mas uma relação de respeito sobre o papel que cada um pode desempenhar, inclusive no papel que o Brasil desempenha no contexto da América Latina – avaliou.

Para ela, o presidente Lula também inovou ao combinar a diplomacia clássica, do Itamaraty, com uma diplomacia palaciana.

– O presidente Lula inovou em parte com algumas coisas, combinando a diplomacia clássica, do Itamaraty, com uma diplomacia palaciana. Isso sem errar na medida para não criar um desequilíbrio para a diplomacia palaciana e as ações de Estado do Itamaraty. Isso pode ser uma inovação boa porque existem alguns temas que, historicamente, vinham sendo tratados de forma muito reativa.

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http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/05/marina-diz-que-ira-quer-fazer-bomba-atomica.html

25/05/2010 15h06 – Atualizado em 25/05/2010 15h14

Marina diz que Irã quer fazer a bomba atômica

Para pré-candidata do PV, Irã usa Brasil para ganhar tempo.
Marina concedeu entrevista depois de participar de sabatina da CNI.

Robson Bonin Do G1, em Brasília

A pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, criticou nesta terça-feira (25), depois de participar da sabatina da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a posição da diplomacia brasileira de apoiar o projeto nuclear iraniano. Marina disse enxergar com preocupação a relação do Brasil com o regime iraniano e afirmou que o presidente Mahamoud Ahmadinejad “quer fazer a bomba atômica”.

“Claro que todos vemos com preocupação (a relação do Brasil com Irã). Temos que ter muito cuidado para não dar audiência a um governante que não respeita direitos humanos, que tem presos políticos, nega o holocausto , uma série de questões que são inaceitáveis. O Brasil é a única democracia ocidental que está dando audiência para o Ahmadinejad”, afirmou Marina. “Se, de fato, tiver uma posição do Irã de quebrar o paradigma histórico de que eles querem construir a bomba atômica, será bom. Agora, temos que ficar bastante atento, porque, na prática, o que eles querem, no meu entendimento, é fazer a bomba atômica. E estão tomando medidas protelatórias para ganhar tempo. E, obviamente, o Brasil, tendo uma cultura de paz, não pode compactuar com esse tipo de coisa”, complementou Marina.

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http://www.idelberavelar.com/archives/2010/10/o_que_dizem_os_votos_de_marina_e_como_conquistalos.php

erça-feira, 05 de outubro 2010

O que dizem os votos de Marina e como conquistá-los

Você pode discutir qual é o peso relativo dos três (não dois) grandes blocos de votos que contribuíram para os surpreendentes 20% de Marina Silva: 1) o voto estritamente marinista, verde, ecológico, que é crítico de algo maior que o PT, ou seja, de todo um paradigmadesenvolvimentista que, ironia das ironias, o PT veio a representar melhor que ninguém; 2) o voto “ético”-jovem-universitário-profissional-liberal-urbano, uma parte dele (a maior, me parece) composta por desiludidos com erros ou presepadas do PT, e a outra parte (menor, me parece) composta por eleitores movidos pelo episódio Erenice; 3) o voto evangélico que, por sua vez, tampouco é homogêneo, posto que formado de uma parcela—menor, creio—de votantes que já estavam com Marina e outra parcela—maior, creio—que foi mobilizada em termos anti-Dilma às vésperas da eleição. Num debate que teria, de preferência, que se realizar com atenção aos mapas relevantes, poder-se-ia discutir à exaustão qual é a contribuição de cada um desses segmentos para o resultado final.

O que me parece indiscutível é que somente este último, o voto evangélico, chega comoirrupção e acontecimento. Foi ele o grosso do voto não computado nas pesquisas. Isso me parece verdadeiro, mas não se pode pular daí para a afirmação de que foi o atraso quem impediu a vitória dilmista no primeiro turno. Essa linha de análise é sempre muito rasa.

Para a campanha de Dilma, a tarefa é dupla. Por um lado, há que se entender os recados dados por todos os segmentos que votaram em Marina, para que a partir daí ocorra a negociação e o convencimento desse eleitorado. Esses recados têm densidade, têm conteúdo, aludem a fatos reais e não se limitam, de forma nenhuma, a uma suposta “Marina no colo da direita”. Jogar por aí é não entender o jogo. Por outro lado, há que se analisar quais foram os erros de campanha de Dilma que ajudaram a impedir a esperada vitória no primeiro turno. Fazer as duas coisas já não é fácil. Fazê-las simultaneamente é mais difícil ainda, pois a primeira—ouvir realmente oseleitores de Marina—exige humildade, proximidade e empatia. A segunda tarefa—fazer a autocrítica da campanha—exige inteligência, desprendimento, distância. São duas tarefas aparentemente contraditórias, que demandam posturas e capacidades opostas, mas elas são simultâneas e complementares.

O fascinante do resultado de domingo é que todo mundo errou. Se alguém aí previu que Marina venceria em Belo Horizonte, Maceió, Distrito Federal, Nova Lima, Volta Redonda, Vitória, Vila Velha e Niterói, além de praticamente empatar com Dilma em Natal e superá-la em Campina Grande, levante a mão, mostre um link com data anterior a 03 de outubro, que eu visto uma camisa do Flamengo ou do Cruzeiro aqui, a gosto do freguês. Todo mundo errou nas previsões, inclusive o vitorioso de domingo na eleição presidencial, que foi claramente o campo marinista. Por isso o futebol, na sua imponderabilidade, é o esporte que mais tem a ver com a política democrática. Sim, trata-se do velho clichê da caixinha de surpresas, mas também do dado menos óbvio de que o futebol é o menos contábil dos esportes, e se há uma mensagem relevante que a campanha de Marina tentou transmitir é a crítica à redução do mundo a uma lógica contábil. Quando gente como Ricardo Paes de BarrosJosé Miguel WisnikAlexandre Nodari eEduardo Viveiros de Castro coincidem numa candidatura que não é a sua, ou que não é a que você esperava que eles apoiassem, só um sectário muito desprovido de sensibilidade passaria à desqualificação sem uma escuta detida.

No campo dos erros, há que se destacar os estruturais, mais antigos, e os conjunturais, que se manifestaram de uma forma especialmente maluca nesta campanha. Os erros estruturais são parte do recado das urnas marinistas e não podem ser ignorados. O caso de Belo Horizonte é emblemático. Há exatos dois anos, o PT concluía 16 anos de governo de uma coalizão sua na cidade, com um prefeito que deixava o cargo com noventa por cento de aprovação. Esse prefeito, Fernando Pimentel, é diretamente associado a Dilma e é parte da cúpula de sua campanha. A cidade não tem qualquer tradição de antipetismo raivoso como aquele encontrado em partes de São Paulo e Porto Alegre. Como é possível que o resultado aqui tenha sido Marina Silva 39,9%, Dilma Rousseff 30,9% e José Serra 27,7%, num contexto de grande vitória da esquerda nas legislativas?

Essa parte me parece relativamente simples. As urnas disseram: “não gostamos das lambanças do PT-BH nas eleições de 2008 e do PT-MG em 2010, apesar de o PT ter governado bem a cidade. Votaremos em alguém que é suficientemente próxima aos ideais da bem sucedida prefeitura de 1992-2008, mas que se afastou do campo petista, em parte, por lambanças como essa”. Junte-se a esse recado mais estrutural a avalanche de desinformação e propaganda pra cima dos evangélicos nos últimos dias–essa avalanche realmente existiu—e você tem os ingredientes dos números que deixaram todos os junkies políticos belo-horizontinos de queixo caído. Os mesmos ingredientes se combinam em outras latitudes, como o Acre, um estado onde o PT tem fortíssimas raízes, elegeu o Governador e um Senador, mas no qual Dilma ficou empatada com Marina e bem longe de Serra. Se você é petista e não vê aí um recado além do “Marina está no colo da direita” ou do “Marina é a falência do movimento ecológico” (sim, isso foi escrito), sinto muito, você precisa ler a Flávia Cera.

É sabido que, por volta de dois meses atrás, um grupo de lideranças evangélicas procurou a campanha de Dilma, preocupadas com a disseminação de boatos e emails falsos. A campanha fez a “Carta ao Povo de Deus” e ficou por isso mesmo. Os programas de João Santana—excelentes, belíssimos, inovadores—não dedicaram um só minuto, no entanto, à refutação da pilha de spam religioso anti-Dilma disseminada para púlpitos e fiéis. A coordenação de internet não ofereceu respostas a isso. Preferiu brincar de Twitter e #ondavermelha. A campanha online foi feita à base do cada um por si, sem que se aproveitasse de forma coordenada a enorme base de recursos humanos da esquerda brasileira na rede.

Quando os evangélicos voltaram a procurar a campanha de Dilma, em setembro, o nível da loucura havia piorado sensivelmente. Algumas lideranças religiosas gravaram depoimentos de apoio à candidata petista, mas não houve uma resposta sólida e consistente da campanha. Os marqueteiros não são lá grandes fãs do potencial da rede e, por sua vez, a coordenação de internet de Dilma era pobre e fraca de ideias. É importante reconhecer isso sem que esse reconhecimento nos ensurdeça para o recado real das urnas marinistas, que transcende em muito o spam do ódio.

É evidente que temos que explicar que Michel Temer não é satanista. Aliás, podemos inclusive esclarecer que ele já fez pactos com o DEM mas, pelo que nos consta, com Satã nunca aconteceu. Mas é preciso fazer isso sem desmerecer ou desqualificar o recado dado pelas urnas marinistas em sua totalidade, sem reduzir o voto de Marina a qualquer um de seus blocos, muito menos o evangélico, justamente aquele que é mais conjuntural (apesar que não necessariamente menos numeroso) na constituição da identidade da sua candidatura.

Não há motivo para pânico. Marina tem muito mais a ver com Dilma que com Serra, e isso é o próprio Serra quem diz. Para nós, faltam 3 pontinhos. Para Serra, faltam quase 18. Marina sabe que coloca seu capital político em maus lençóis se apoiar alguém como Serra. Também sabe que não lhe interessa entregar nada de graça a Dilma agora, e há que se entender isso. É da política. Um petista reclamando que Marina não está agindo de forma a facilitar as coisas pra nós é como um lateral queixando-se de que um ponta o engana, fingindo que vai abrir o jogo para depois cortar para o meio. Ora, você tem que aprender a marcar. O jogo é jogado.

Ainda estamos bem, mas é preciso jogar com inteligência, humildade e decência e, acima de tudo, não deixar que nenhuma dessas qualidades atrapalhe as outras duas.

Escrito por Idelber às 04:55

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http://www1.folha.uol.com.br/poder/808214-sem-marina-pv-deve-anunciar-apoio-a-serra.shtml

02/10/2010 – 09h37

Sem Marina, PV deve anunciar apoio a Serra

BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Enquanto a presidenciável Marina Silva (PV) dá sinais de que ficará neutra num eventual segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), seu partido se inclina a apoiar o tucano, à revelia da candidata.

O presidente da legenda, José Luiz Penna, disse à Folha que descarta a neutralidade no segundo turno, caso Marina não esteja nele.

O PV é aliado do PSDB de Serra na maioria dos Estados, incluindo os três maiores colégios eleitorais: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A ala ligada ao PT é minoritária na sigla.

Outros dirigentes ouvidos pela reportagem dizem que a tese de apoio a Serra prevaleceria na executiva nacional do PV, que deve discutir o assunto no início da semana.

Segundo Penna, o desempenho de Marina fará o partido sair mais forte das urnas amanhã, mesmo que ela não vá ao segundo turno. Para ele, optar pela neutralidade seria desperdiçar este capital político nas negociações para o segundo turno.

“O que está em jogo é a nossa capacidade de influenciar o próximo governo. O PV não ficará neutro. A neutralidade seria uma forma de dar as costas ao processo democrático.”

Ele não quis manifestar preferência entre Dilma e Serra, embora integre a base de apoio ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), aliado do tucano, na Câmara de Vereadores de São Paulo.

Em São Paulo e Minas, o PV participa de governos estaduais do PSDB, e no Rio os tucanos apoiam Fernando Gabeira (PV) ao governo.

O candidato verde ao governo paulista, Fabio Feldmann, é fundador do PSDB e fez dobradinha com o tucano Geraldo Alckmin nos últimos debates. Ricardo Young (PV) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) fazem dobradinha na corrida ao Senado.

MARINA

Nos últimos dias, Marina subiu o tom contra Serra, o que foi interpretado por aliados como sinal de que ela não pretende apoiá-lo num confronto com Dilma.

Após o debate da Globo, ela disse que o tucano desconstruiu a própria imagem na campanha e será derrotado (leia texto nesta página).

A senadora tem repetido que não vê diferenças entre os dois oponentes, e passou a mirar mais em Serra nos debates para tentar ultrapassá-lo na disputa pelo segundo lugar nas pesquisas.

Um apoio a Dilma é descartado pelos aliados pelo histórico de brigas entre as duas no governo Lula. Assessores próximos de Marina tem aversão à petista.

Marina sairá das urnas com mais força no PV, mas controla apenas 10 dos 50 votos da executiva. Se o partido fechar apoio a Serra, diretórios pró-PT podem ser liberados a apoiar Dilma em Estados como Maranhão e Bahia.

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http://www1.folha.uol.com.br/poder/811622-pv-reage-e-ensaia-rebeliao-contra-marina-silva.shtml

08/10/2010 – 08h04

PV reage e ensaia rebelião contra Marina

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

As críticas de Marina Silva ao suposto apetite do PV por cargos, reveladas ontem pela Folha, provocaram uma rebelião no comando do partido. Próxima ao PSDB, a cúpula verde ameaça boicotar a convenção marcada para o dia 17 e anunciar apoio a José Serra na semana que vem, à revelia da ex-presidenciável.

Marina foi duramente atacada em reunião organizada às pressas pelo presidente da sigla, José Luiz Penna, em Brasília. Participaram cerca de 20 pessoas, algumas com cargos no governo paulista e na Prefeitura de São Paulo, administrada pelo DEM. A senadora não foi chamada.

No encontro fechado, o grupo de Penna acusou a candidata derrotada à Presidência de desrespeitar a cúpula do partido, ao qual se filiou em agosto de 2009.

“Todos ficaram indignados”. disse Marcos Belizário, secretário municipal da Pessoa com Deficiência em São Paulo. “Estou espantado. Acho um absurdo a pessoa comentar isso de seus dirigentes, seus colegas, das pessoas que se dedicaram à campanha dela.”

OFENSA

Segundo Belizário, aliado do prefeito Gilberto Kassab (DEM), Marina teria demonstrado desprezo pela direção partidária. “Do meu ponto de vista, foi uma grosseria dela. Eu me senti ofendido”, disse.

Os dirigentes traçaram uma estratégia para demonstrar poder e minar os planos da senadora, que tem indicado que pretende se declarar neutra no segundo turno.

Penna convocou uma reunião da Executiva Nacional do partido na próxima quarta-feira, em Brasília. O encontro pode precipitar a decisão da legenda, que havia sido adiada para o dia 17, a pedido da candidata derrotada.

Na Executiva, em que Marina tem apenas 10 de 60 votos, a tendência é pela aprovação do apoio a Serra, mesmo que os filiados sejam liberados para tomar outras posições em caráter pessoal.

Para reduzir a desvantagem numérica, a senadora havia convencido a cúpula partidária a transferir a decisão sobre o segundo turno a um colegiado mais amplo, com a participação de ambientalistas, religiosos e militantes do Movimento Marina Silva, incluindo delegados sem filiação ao PV.

Ontem, a Folha revelou que, em reunião fechada com aliados, Marina criticou o apetite de dirigentes do partido por cargos. Ela ironizou a notícia de que o PSDB ofereceria quatro ministérios em troca do apoio a Serra.

“Quatro ministérios pro PV… Caramba! Do jeito que tem gente aí, basta pensar num conselho de estatal, já estaria muito bom. Certo? Tem esse tipo de mentalidade”, disse a senadora.

Marina pretende divulgar hoje uma versão resumida de seu plano de governo, a ser entregue aos candidatos Serra e Dilma Rousseff (PT).

A senadora dá sinais de que pretende influenciar o debate eleitoral e arrancar compromissos dos dois presidenciáveis sem se comprometer com apoio a um deles.

Se a ideia for levada à frente, Marina dirá que deu sua contribuição ao país e que quem votou nela no primeiro turno agora pode julgar livremente as promessas de Dilma e Serra para fazer sua escolha. Na visão de aliados, a senadora poderia dividir seu eleitorado e perder o discurso de terceira via ao declarar apoio a PT ou PSDB.

Ontem, Marina cancelou reunião com a direção do PV e não fez aparições públicas.

A assessoria de Penna disse que ele não foi localizado.

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http://br.eleicoes.yahoo.net/noticias/4159/marina-silva-e-pv-declaram-independ-ncia-no-2-turno.html

17 de outubro de 2010 17:51

Marina Silva e PV declaram independência no 2 turno

reuters

Por Carmen Munari

SÃO PAULO (Reuters) – O Partido Verde decidiu neste domingo ficar neutro no segundo turno da eleição presidencial, em linha com a senadora Marina Silva (AC), ex-presidenciável que ficou em terceiro lugar na disputa.

Ao anunciar sua posição, Marina disse que tanto PT quanto PSDB fazem parte do conservadorismo na política brasileira.

Dos cerca de cem votantes na convenção do PV, apenas quatro declararam apoio a um dos candidatos que disputam o segundo turno, Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB). Além da Executiva do partido, participaram representantes da sociedade que estiveram ligados à candidatura de Marina.

A senadora, que preferiu chamar a posição de independência, leu uma carta aberta que será encaminhada aos dois candidatos.

“O fato de não ter optado por um alinhamento não significa neutralidade. Essa independência é a melhor maneira de contribuir com o povo brasileiro”, disse Marina sobre sua decisão.

Para Marina, PT e PSDB “se deixaram capturar pela lógica do embate” no cenário político. Ela mais uma vez comemorou a quebra do plebiscito no primeiro turno da eleição presidencial, em que contribuiu para que o pleito fosse para o segundo turno com os quase 20 milhões de votos recebidos.

“Paradoxalmente, PT e PSDB, duas forças que nasceram inovadoras e ainda guardam a marca de origem, na qualidade de seus quadros, são hoje os fiadores deste conservadorismo renitente que coloniza a política e sacrifica qualquer utopia em nome do pragmatismo sem limite”, disse.

A ambientalista deixou o PT no ano passado, após mais de 20 anos, pouco antes de anunciar sua candidatura à Presidência da República pelo PV. Ela vinha afirmando que as propostas de Dilma e Serra são muito semelhantes e que sua candidatura buscava uma terceira via.

“Os votos que me foram dados refletem o sentimento de superação de um modelo”, afirmou.

Pelas regras do partido, os filiados têm a opção de apoio a um dos candidatos, mas não podem se utilizar de símbolos da legenda em manifestações públicas. Já dirigentes do partido estão proibidos de se manifestar.

Políticos de destaque já declararam seu voto a um dos candidatos, como o deputado Fernando Gabeira (RJ), que reiterou apoio a Serra. Zequinha Sarney, deputado pelo Maranhão e filho do senador José Sarney (PMDB-AP), ficará ao lado de Dilma, assim como o cantor e compositor Gilberto Gil.

“Faço aliança com ele (Serra) há duas eleições”, justificou Gabeira à Reuters, referindo-se a suas candidaturas à prefeitura e ao governo do Rio de Janeiro.

As campanhas de Dilma e Serra receberam do PV uma agenda com 10 propostas. As respostas dos dois candidatos, enviadas por escrito, foram insuficientes para que o partido optasse por uma das duas candidaturas. No caso do PT, a própria candidata assina o documento. Por Serra, assina o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

“O texto de Dilma, embora com elementos que destoam do nosso pensamento, não fugiu à discussão. O texto de Sérgio Guerra não é programático, é confuso, feito às pressas”, disse o vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, durante a convenção.

Aplaudida no evento, a pastora evangélica Valnice Milhomens pregou uma nova candidatura de Marina daqui a quatro anos. “Pender para a esquerda ou para a direita é interromper o sonho de Marina 2014”, disse.

(Reportagem adicional de Luciana Lopez)

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http://noticias.uol.com.br/politica/politicos-brasil/2010/vice-presidente/22021950-guilherme-leal.jhtm#resultado

Guilherme Leal (2010)

Guilherme Leal / Guilherme Peirão Leal

Dados pessoais do candidato

Nome completo:
Guilherme Peirão Leal
CPF:
383.599.108-63 *
RG:
4.105.990-6
Data de nascimento:
22/02/1950
Idade ao final de 2010:
60
Município de nascimento:
Santos /SP
Nacionalidade:
Brasileira Nata
Sexo:
Masculino
Estado Civil:
Divorciado(A)
Grau de Instrução:
Superior Completo
Ocupação principal declarada:
Empresário
Certidões criminais:
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Saiba como checar o CPF dos políticos e sua situação fiscal

Dados eleitorais do candidato

Cargo disputado:
Vice-Presidente
Nome na urna:
Guilherme Leal
Número eleitoral:
43
Nome do partido:
Partido Verde
Sigla/ número do partido:
PV /43
Coligação:
Partido Verde (PV)
Situação da candidatura:
Deferido

Declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral

Descrição do bem Valor do bem
Imóvel Situado No Jardim Paulista R$ 1.754.400,00
Reserva De Usufruto De 2 Casas Jardim Europa R$ 1.593.718,00
Dois Terrenos No Município De Ilhabela R$ 21.195,00
Embarcação Tipo Lancha R$ 608.020,00
Direito De Uso E Construção Iate Clube De Santos E Marinas Nacionais R$ 127.866,00
Jazigo No Cemitério Morumbi R$ 3.900,00
Obras De Arte R$ 5.760.486,00
3.462.917 Ações Da Natura Cosméticos S/A. R$ 17.532.087,00
5.716.131 Ações E Afac Da Utopia Participações S.A. R$ 5.723.809,00
Usufruto S/ 6.007.680 Ações Utopia Participações S.A. R$ 2.002.560,00
Direitos Patrimonias Correspondentes A 10 Por Cento No Valor De 91.557.964 De Ações Da Natura Cosm. R$ 1.302.652,00
Quotas Da Apis Llc Em Delaware – Eua R$ 99.999.999,99
Quotas Da Apoena Adm. Participações Ltda. R$ 52.068.459,00
Quotas E Afac Na Modusvivendi Participações Ltda. R$ 35.713.279,00
Quotas E Afac Da Sg Debret Participações Ltda. R$ 13.014.686,00
Quotas E Afac Na Gpleal Adm. Participações Ltda. R$ 8.179.904,00
Quotas Da Dédalus Adm. Participações Ltda. R$ 7.534.256,00
Quotas Na Janos Com. Adm, Participações Ltda. R$ 3.300.722,00
Ações Da Biofílica Investimentos Ambientais S.A. R$ 3.000.000,00
Quotas Na Gpl Empreendimentos E Participações Ltda. R$ 1.001.946,00
Quotas E Afac Na Santa Tereza Desenvolvimento Imobiliário Ltda. R$ 438.443,00
Quotas E Afac Na Tec Invest Ltda. R$ 223.836,00
Empréstimos A Receber R$ 8.362.063,00
Depósito No Banco Itaú Europa Luxemburgo R$ 2.850.193,00
Depósito No Banco Itaú Europa Internacional – Miami Ofice R$ 356.686,00
Depósitos Em Conta Corrente No Banco Itaú R$ 2.667.049,00
Aplicações Financeiras Junto Ao Banco Itaú R$ 99.999.999,99
Aplicações Financeiras Junto Ao Credit Suisse Hedging Griffo R$ 12.226.372,00
Aplicações Financeiras Junto Ao Banco Santander R$ 6.118.850,00
Aplicação Finnaceira Junto Ao Bny Mellon R$ 2.336.160,00
Valor total dos bens declarados: R$ 395.823.596,98

Arquitetura da Exclusão – Frente 3 de Fevereiro e Afrofuturismo

06/11/2010

Documentário sobre as novas políticas de segurança pública nas favelas do Rio de Janeiro.

As intervenções foram parte do projeto Pedregulho.

O curta foi feito pelo Edital Nós na Tela, do Ministério da Cultura, e ficou em segundo lugar no Prêmio Nós na Tela.

Segue abaixo o discurso de agradecimento do Prêmio Nós na Tela.

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Discurso de agradecimento do prêmio “Nós na Tela”

São Paulo, 21 de Outubro de 2010

Agradecemos a todos que ajudaram neste processo.

É importante este prêmio para nós e para a produção audiovisual pois o que estamos fazendo é uma outra forma de pensar e criar no campo audiovisual.

A começar pela dissolução da verticalidade extrema da figura da direção. Pensamos a estrutura de produção de maneira horizontal, sem a figura central e autoritária do diretor. Isso porque fomos formados por outra dinâmica e lutamos para que permaneça assim mesmo diante das nossos impérios subjetivos que, a todo momento, querem se impôr e se afirmar acima. Fazemos uma batalha contra nós mesmos e contra a própria idéia de unicidade do coletivo. Uma constante dinâmica de fuga do que somos para o que podemos ser.

Neste sentido também, outra ruptura com a forma de fazer filmes está na ausência de uma metodologia fixa. Pensar a produção audiovisual apartir do planejamento rígido e metódico é apenas uma das possibilidades de produção. Uma possibilidade ligada a um tempo histórico específico. Hoje, em nossa geração, pulsa uma maneira de fazer filmes que não está baseada na relação tempo e custo de produção, mas antes numa força intensiva de produção. Ou seja, o que nos importa e nos estrutura enquanto prática é uma rígida prontidão aos fluxos que atravessam os encontros nesta prática de produção. Nunca tivemos roteiro para fazer nenhum filme. Nunca tivemos um longa série de planos de filmagem a priori. Mas sim, sempre estivemos muito atento a que forças nos atraem, aas forças gravitacionais do nosso campo de investigação-ação.

Estamos diante de cada passo como se fossemos reiniciar todo processo. E isso nos exigi uma dedicação integral ao processo. Algo como o trabalhador contemporâneo que busca a alta performance em uma total fusão entre a vida pessoal e trabalho. Um trabalhador 24 horas por dia. Mas a diferença está que em função do que se faz isso: para o encontro ou o para a imposição? para a diferença ou para a uniformidade? para ser o que nunca fomos ou para reiterar o que nos projetam ser?

Isto nos leva a outro ponto de singularidade em relação ao modelo de produção audiovisual dominante: não existimos como “nós” em contraposição a “eles”. Não temos “objeto de estudo” – uma maneira de pensar e fazer ainda hoje tão sorrateiramente presente. Somos quem estuda e quem é estudado. Tentamos nos entender ao tentar entender. Somos o arqueiro, o arco e o alvo. Somos fluxos de transformação e criação em encontro com outros fluxos de transformação.

Assim, as ações que construimos no filme não são apenas ativismo mas antes uma estratégia de fusão, um dispositivo de potencialização do encontro que possa nos retirar de posições confortáveis de “sei o que sou” para nos jogar – todos nós – diante de uma possibilidade outra do outro e de mim. As “perguntas-ações” fora de contexto: “o Haiti é aqui? e em um miléssimo de segundo invisível a rainha da bateria e nós nos perdemos juntos, em um momento depois agem as forças reativas para recolocar as coisas no seu lugar…

Na discussão aqui sobre os filmes discutiu-se sobre aspectos técnicos. Discussão válida, claro. Mas penso que a pergunta que nos fazemos, a todo momento, mesmo em silêncio, é sobre que mundos podemos criar em nossas produções. Que mundos possíveis se abrem diante e atrás dos nossos passos? Que buracos e pontos de fuga são cavados nos muros? O que não existe ainda mas já existe em possibilidade? O que se torna mais possível quando abraçamos este possível?

Nosso olhar é para este invisível. Afinal a lente está a busca do que não se vê.

Por uma produção audiovisual do invisível!

Pela descontrução do mundo visível!

Afinal tudo o que fazemos é política do impossível.

E para finalizar, toda esta proposição sobre uma nova maneira de fazer filmes é uma intervenção institucional. É uma criação pensada apartir da nossa condição neste sistema de poderes institucionais. E portanto deve ter a potência de romper este mesmo sistema de engesamento. Somos o problema e solução ao campo institicional! Somos piratas e mendigos, videntes e daytrades!

Estamos diante de um novo paradigma estético e talvez não será neste tempo o reconhecimento desta transformação. Talvez não hoje nos percebamos o quão distante estamos do modelo de produção audiovisual dominante. Mas isso borbulha aqui em todas as partes! Daqui a décadas poderemos repensar nosso tempo através de nossa criação. Estamos dançando numa revolução!

Afrofuturismo! Frente 3 de Fevereiro!


A Crise Econômica Mundial e a Resposta do Governo Lula

30/10/2010

Segue um texto para entender a crise financeira internacional e como o Governo Lula respondeu a ela de forma a reduzir seus impactos na economia brasileira.

O texto usado do Nelson Barbosa está aqui.

O texto do Ernani está aqui.

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A Crise Econômica Mundial e a Resposta do Governo Lula

 

Felipe Teixeira Gonçalves

Doutorando em Economia Política Internacional na UFRJ

 

O objetivo deste pequeno texto é fornecer uma explicação simples e didática acerca da crise econômica internacional iniciada em 2007, a chamada crise do Subprime, e os motivos pelos quais essa crise não afetou o Brasil de forma tão significativa.

A história factual das origens da crise pode ser descrita da seguinte maneira. Com a expansão do crédito imobiliário, os imóveis residenciais nos Estados Unidos tiveram uma forte valorização, ou seja, seus preços aumentara. Esse crédito era dado a pessoas que tinham muito poucas condições de pagar pelos imóveis, portanto eram créditos com um elevado risco de inadimplência, daí o nome subprime. Além disso, eram créditos longos, de cerca de 30 anos. Nos 2 ou 3 primeiros anos, as prestações e os juros eram fixos e baixos. Nos outros 27 ou 28 anos, as prestações e os juros aumentavam e seriam reajustadas periodicamente. Estes empréstimos eram chamados 2/28 ou 3/27. Como os preços dos imóveis continuava subindo, depois dos 2 ou 3 primeiros anos, na medida em que as pessoas começavam a ter dificuldade de pagar as prestações que ficavam mais caras, elas conseguiam trocar essa dívida por uma nova hipoteca, de valor um pouco mais alto, mas novamente de tipo 2/28 ou 3/27. Com isso, os devedores conseguiam embolsar algum dinheiro e ainda ter prestações relativamente baixas por mais 2 ou 3 anos. Houve portanto, uma bolha especulativa, com excessiva expansão do crédito e aumento acelerado dos preços dos imóveis, os dois se reforçando mutuamente, aumentando o risco de uma crise de liquidez.

Para viabilizar todo esse financiamento, os bancos, que eram os que ofereciam esses créditos, pegavam vários títulos dessas hipotecas e os juntavam em um fundo de investimentos. Esse fundo era classificado em diferentes partes, de acordo com seu risco. A taxa de retorno era maior, quanto maior fosse o risco. As partes com menos riscos foram classificadas de AAA, depois estavam as AA, A, BBB, BB e B. A parte com maior risco era o chamado “lixo tóxico”. Essas partes eram transformadas em títulos e estes eram vendidos no mercado de capitais. Essa classificação se devia ao fato de que, caso alguém não pagasse sua dívida, o primeiro a perder seria o “lixo tóxico” e assim sucessivamente, até o AAA, ou seja, o AAA seria sempre o primeiro a receber e só correria o risco de não receber, se todos os outros não pagassem. Para aumentar a possibilidade de repassar esses títulos de risco médio (B), eles juntavam essas partes de diferentes fundos em um novo fundo e reclassificavam da mesmo forma, gerando novos títulos AAA, AA, etc., que novamente eram vendidos. Este mecanismo é conhecido como securitização.

Com o progressivo aumento da taxa de juros americana, a partir de 2004, o crédito ficou mais caro, o mercado imobiliário desacelerou, a partir de 2006, e os preços começaram a cair, as renegociações ficaram mais difíceis e as pessoas não conseguiram mais pagar sua dívidas. Como ninguém sabia a extensão da difusão desses títulos pelo sistema financeiro, todos buscaram resgatar suas aplicações nesses títulos. Os bancos não tinham dinheiro para cobrir todos esses resgates e houve uma falta geral de liquidez, gerando a crise financeira. O governo americano respondeu decisivamente, baixando os juros, dando estímulos fiscais para recuperar a liquidez e aumentando as regulações ao sistema financeiro. Porém, quando, em setembro de 2008, o governo americano decidiu não salvar o banco Lehman Brothers, deixando-o quebrar, o pânico do sistema financeiro fez com que o crédito praticamente acabasse e a crise se tornou uma recessão de fato em boa parte do mundo. O governo novamente respondeu, mas a recuperação dura até hoje.

Porém, para entendermos o que aconteceu, é necessário analisar quais foram os motivos mais profundos para que essa crise tivesse ocorrido dessa forma. Em primeiro lugar, temos que relembrar que, em 1999, a lei de Glass-Steagall foi derrubada no Congresso americano, durante o governo Clinton, sendo o auge de um processo de desregulamentação financeira que vinha crescendo desde meados do século XX, particularmente desde a década de 80. Essa lei foi criada em 1933, após a Grande Depressão, e separava os bancos comerciais dos bancos financeiros, criando mercados financeiros separados e mais controlados. Com seu fim, as autoridades do governo perderam quase toda capacidade de fiscalizar as operações financeiras. Além disso, foi liberada a venda de títulos correspondentes a um empréstimo de um banco para outras pessoas, ou instituições financeiras, repassando o risco para estas.

Em segundo lugar, está o fato de que houve um grande aumento da concentração de renda e de riqueza nos Estados Unidos. Os salários reais estagnaram, devido à redução do poder dos sindicatos, à crescente abertura comercial e à imigração. Para manter o crescimento do consumo, o crescimento dos salários foi substituído pelo aumento do crédito. Ou seja, a renda dos mais pobres aumentaram muito pouco, mas seu endividamento aumentou bastante, devido ao aumento do crédito. Esta fórmula entra em crise se houver um aumento dos juros.

A quebra do Lehman Brothers também marcou a entrada do Brasil na crise financeira internacional, pois, até então, tínhamos sido pouco atingidos por ela. Os impactos foram sentidos pela redução do crédito doméstico, redução das exportações e pela saída de capitais, o que levou a uma desvalorização do real.

Para responder à crise, foi muito importante o fato de que o governo não interrompeu ou diminuiu algumas políticas que já vinha implementando. Em primeiro lugar, os constantes aumentos do salario mínimo, em especial a partir de 2006, foram mantidos durante a crise. O aumento do salário mínimo foi um dos principais responsáveis pela distribuição de renda nos últimos anos. Com o aumento do salário mínimo não aumentam só os salários diretamente indexados a ele, mas também se estabelece um piso salarial maior para todos os trabalhadores no mercado, inclusive os informais. Esse aumento também se reflete no maior poder de compra dos consumidores, o que fortalece o mercado interno, mesmo no período de crise.

Em segundo lugar, o programa de investimentos públicos, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), se manteve de acordo com o planejado antes da crise. Como o investimento privado diminuiu durante a crise, a manutenção do investimento público foi essencial para manter os estímulos à economia nacional.

Em terceiro lugar, o PAC e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) continham uma política de desoneração tributária para aumentar o investimento privado. Essas desonerações foram intensificadas durante a crise, aumentando a renda das empresas em um contexto de baixo crédito.

Em quarto lugar, temos as políticas de transferência de renda para as famílias mais pobres, que se mantiveram conforme o planejado antes da crise, sustentando a demanda doméstica das famílias.

Em quinto lugar, as contratações e os reajustes salariais para os servidores públicos também foram mantidos durante a crise, dando mais um impulso à manutenção da demanda.

Além dessas medidas iniciadas antes da crise, o governo adotou medidas temporárias específicas para combater a crise. Em primeiro lugar, o governo aumentou a liquidez, em moeda nacional e estrangeira. A venda de dólares das reservas internacionais do Banco Central forneceu um nível mínimo de liquidez no mercado cambial. Isso só foi possível porque o governo se empenhou, antes da crise, em acumular expressivas reservas internacionais. Por outro lado, o Banco Central reduziu o compulsório bancário, injetou dinheiro nos bancos e incentivou que grandes bancos comprassem carteiras de bancos menores, de forma a impedir que qualquer banco quebrasse no Brasil. Estas medidas ajudaram a diminuir o impacto da crise internacional no Brasil.

Em segundo lugar, o governo utilizou os grandes bancos públicos para recuperar o crédito no país, oferecendo linhas de crédito e dando incentivos financeiros ao BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para que estes fornecessem crédito para as empresas de diversos setores da economia. Além disso, o governo orientou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica a aumentarem a concessão de crédito e a reduzirem as taxas de juros.

Como o Banco Central só começou a reduzir os juros no início de 2009, o governo federal utilizou outros mecanismos para estimular a recuperação econômica. O governo realizou desonerações tributárias temporárias para o setor automotivo, para bens de consumo duráveis, material de construção, bens de capital, móveis e alguns alimentos. Estas desonerações ajudaram a estimular a economia, mantendo e a aumentando a produção, as vendas e os empregos, sustentando o crescimento econômico.

Em quarto lugar, o governo federal manteve as transferências para os estados e municípios, apesar da queda na arrecadação federal, e também assumiu uma maior parte dos investimentos feitos em conjunto com eles, mantendo os investimentos e os gastos em nível estadual e municipal.

Por fim, houve um aumento no período de concessão e no valor do seguro desemprego e um incentivo financeiro para investimentos privados em máquinas e equipamentos.

Para poder fazer tudo isso sem abandonar as metas de superávit primário, o governo reduziu as metas e retirou a Petrobrás do cálculo do resultado primário, liberando-a para aumentar os investimentos.

Todas essas medidas, tomadas antes e durante a crise, possibilitaram que o Brasil tivesse uma grande capacidade de responder à crise financeira internacional, fortalecendo o mercado interno e se recuperando rapidamente de seus impactos. Além dessas medidas, o governo também implementou medidas mais estruturais, que devem permanecer depois de passados os impactos da crise. A primeira foi uma mudança nas alíquotas do imposto de renda para pessoas físicas. O sistema de imposto de renda possuía três alíquotas: zero, 15% e 27,5%. No final de 2008, passou a ter cinco alíquotas: zero, 7,5%, 15%, 22% e 27,5. Essa mudança significou uma desoneração tributária, em especial para a classe média baixa, aumentando sua renda disponível.

A segunda foi o programa Minha Casa, Minha Vida, um programa habitacional direcionado à construção de um milhão de residências aos mais pobres e às classes médias baixas. O programa criou um fundo para contratar 400 mil residências, que será repassado, ao final das obras, para as famílias mais pobres, de forma que elas paguem prestações simbólicas por 5 anos. O programa também concedeu subsídios para financiamentos imobiliários do FGTS de famílias de baixa renda, para viabilizar a construção de 600 mil residências. O governo também reduziu os tributos indiretos relacionados à construção de casas populares. Também se criou uma linha de crédito especial, com condições mais favoráveis que as do mercado, para incentivar o investimento privado em grandes projetos habitacionais. Por fim, o BNDES criou uma linha de crédito especial para incentivar a adoção de técnicas de construção modernas, para aumentar a produtividade e reduzir os preços das novas residências populares.

Por último, houve uma certa redução no patamar da taxa real de juros. Fazer com que esse patamar seja ainda mais reduzido e que essa redução se mantenha será a tarefa dos próximos anos.

Fica claro, portanto, que a mudança na política econômica do governo Lula, a partir de 2006, representou um distanciamento em relação às políticas neoliberais, responsáveis pelo aumento da vulnerabilidade externa da economia brasileira, pelo baixo crescimento econômico e pelo aumento da concentração de renda e da desigualdade social. Foram essas novas políticas econômicas – combinando redução da pobreza, distribuição de renda e aumento do investimento público – que permitiram uma boa resposta à crise internacional e um aumento do crescimento econômico. Esse é o grande motivo do sucesso do governo Lula. A crise financeira internacional, considerada a pior desde a Grade Depressão da década de 30, e as respostas do governo brasileiro jogaram por terra os argumentos de que a política econômica do governo Lula é uma simples continuidade em relação ao governo Fernando Henrique e que o seu sucesso se deveu apenas a uma conjuntura internacional favorável.

 

 

Bibliografia

 

BARBOSA, Nelson; SOUZA, José Antonio Pereira (2010). “A Inflexão do Governo Lula: Política Econômica, Crescimento e Distribuição de Renda”. In: SADER, Emir; GARCIA, Marco Aurélio (Orgs.). Brasil: entre o Passado e o Futuro. São Paulo, Boitempo.

SERRANO, F. (2004). “Relações de poder e a política econômica americana, de Bretton Woods ao padrão dólar flexível”. In: FIORI, J. L. (Org). O Poder Americano. Petrópolis, Editora Vozes.

TORRES, Ernani Teixeira. “Entendendo a Crise do Subprime”. Visão do Desenvolvimento, BNDES, no 44, janeiro 2008.


Morre Néstor Kirchner

28/10/2010

A morte de Néstor Kirchner é uma péssima notícia neste momento na América Latina.

Apesar de não ter uma história de esquerda, ele fez uma ótima leitura do que significou a crise argentina em 2001 e, após chegar ao governo, implementou uma série de medidas que permitiram que a Argentina saísse da crise, se afastasse do neoliberalismo e até acertasse as contas com sua história.

O tema dos direitos humanos foi central em seu governo, com o julgamento de muitos militares da ditadura.

A política econômica foi bastante heterodoxa, inclusive com um calote ao FMI, e isso permitiu um maior crescimento da economia argentina.

A Cristina Kirchner continuou o projeto dele, enfrentando as oligarquias rurais e os grandes meios de comunicação. A briga com as oligarquias rurais foi mal feita e ela perdeu a maioria no Congresso. Contudo, ela usou isso para se fortalecer e, a partir de então, levou seu governo mais à esquerda, enfrentando os meios de comunicação, em especial o Clarín.

O problema é que tudo isso foi feito com uma aliança delicada dentro do Partido Peronista, que tem um setor forte de direita. De acordo com amigos argentinos, a grande possibilidade desse projeto político continuar seria o Kirchner, que já tinha anunciado que seria candidato, convencer o partido, até o início do ano que vem, de que seria capaz de ganhar as eleições no primeiro turno (lembrando que na Argentina só é necessário ter 45% dos votos, ou 40% mais 10% de diferença em relação ao segundo colocado, para se eleger no primeiro turno). Se ele conseguisse isso, o que era difícil, mas provável, teria que ganhar no primeiro turno. No segundo turno, ele provavelmente perderia para a direita. Se ele não conseguisse convencer o partido de que seria capaz de ganhar no primeiro turno, o mais provável é que o próprio candidato do Partido Peronista fosse de direita. Agora, a Cristina deverá ser a candidata do governo e enfrentará o mesmo problema. Resta saber quais serão os acordos e as alianças que se farão para sua candidatura.

Ainda é cedo para entender todas as consequências da sua morte, mas esperamos que ela seja capaz de mobilizar as pessoas e fazer com que a candidatura da Cristina possa continuar o projeto político, de preferência ainda mais à esquerda. Se isso não acontecer, é possível que a direita volta ao poder na Argentina, como aconteceu no Chile. Veremos.

Seguem alguns artigos que explicam as principais políticas aplicadas por Kirchner, em especial o segundo, de Mark Weisbrot.

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http://www.pagina12.com.ar/diario/ultimas/20-155808-2010-10-27.html

La presidencia de Kirchner

El gobierno que encabezó Néstor Kirchner significó un quiebre respecto al modelo neoliberal que se implantó en la década de los 90 y que explotó con la crisis de 2001 que terminó con el gobierno de la Alianza. Entre sus principales logros se destacan el desendeudamiento con el Fondo Monetario Internacional, la política de Derechos Humanos y la integración regional.

En el 28° aniversario del golpe de Estado de 1976, Kirchner ordenó retirar los retratos de Jorge Rafael Videla y de Roberto Bignone de la ESMA.

Uno de los momentos centrales del Gobierno de Kirchner fue el desendeudamiento con el Fondo Monetario Internacional. “¡Nos sacamos de encima al FMI!”, exclamó con euforia cuando a mediados de la década consiguió finalmente cancelar toda la deuda con el Fondo, por unos 9500 millones de dólares y en un sólo pago.

Su gobierno puso especial énfasis en la defensa de los derechos humanos, que se tradujo en la derogación de las leyes de Punto Final y Obediencia Debida y los indultos que hasta ese momento garantizaban la impunidad de los represores de la última dictadura.

Fue así que se avanzó en los juicios a los represores y se transformó la Escuela de Mecánica de la Armada (ESMA), que funcionó como campo de concentración y exterminio durante la dictadura, en un espacio de la memoria.

Uno de los símbolos de esa política fue cuando el ex presidente ordenó quitar del Colegio Militar los cuadros de los dictadores Jorge Rafael Videla y Reynaldo Bignone.

La gestión de Kirchner se abrió también al resto de los países latinoamericanos fortaleciendo los lazos que habían sido abandonados durante muchos años. La prueba de este avance fue el fortalecimiento del Mercosur y la consolidación de la Unasur, cuya secretaría general estaba ejerciendo.

Kirchner logró, junto a otros mandatarios latinoamericanos, desbaratar la intención del ex presidente estadounidense, George W. Bush, de implantar el ALCA en la región durante la Cumbre de las Américas que se realizó en la ciudad de Mar del Plata.

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http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cifamerica/2010/oct/27/nestor-kirchner-argentina-imf

Néstor Kirchner: Argentina’s independence hero

The death of Argentina’s former president is a sad loss. His bold defiance of the IMF paved the way for South America’s progress

Nestor Kirchner, 2008, with his wife President Cristina FernandezArgentine President Cristina Fernandez seen hugging her husband, former President Nestor Kirchner, who has died suddenly on 27 October 2010, at a 2008 rally in Buenos Aires. Photograph: HO/AFP/Getty Images

The sudden death of Néstor Kirchner is a great loss, not only to Argentina but to the region and the world. Kirchner took office as president in May 2003, when Argentina was in the initial stages of its recovery from a terrible recession. His role in rescuing Argentina’s economy is comparable to that of Franklin D Roosevelt in the Great Depression of the United States. Like Roosevelt, Kirchner had to stand up both to powerful moneyed interests and to most of the economics profession, which was insisting that his policies would lead to disaster. They were proved wrong, and Kirchner right.

Argentina’s recession from 1998-2002 was, indeed, comparable to the Depression in terms of unemployment, which peaked at more than 21%, and lost output (about 20% of GDP). The majority of Argentines, who had, until then, enjoyed living standards among the highest in Latin America, were pushed below the poverty line. In December of 2002 and January 2003, the country underwent a massive devaluation, a world-historical record sovereign default on $95bn of debt, and a collapse of the financial system.

Although some of the heterodox policies that ultimately ensured Argentina’s rapid recovery were begun in the year before Kirchner took office, he had to follow them through some tough challenges to make Argentina the fastest-growing economy in the region.

One major challenge came from the International Monetary Fund (IMF). The IMF had been instrumental in bringing about the collapse – by supporting, among other bad policies, an overvalued exchange rate with ever-increasing indebtedness at rising interest rates. But when Argentina’s economy inevitably collapsed, the IMF offered no help, just a series of conditions that would impede the economy’s recovery.

The IMF was trying to get a better deal for the foreign creditor. Kirchner rightly refused its conditions, and the IMF refused to roll over Argentina’s debt.

In September of 2003, the battle came to a head when Kirchner temporarily defaulted to the IMF rather than accept its conditions. This was an extraordinarily gutsy move – no middle-income country had ever defaulted to the IMF; only a handful of failed or pariah states like Iraq or Congo. That’s because the IMF was seen as having the power to cut off even trade credits to a country that defaulted to them.

No one knew for sure what would happen. But the IMF backed down and rolled over the loans.

Argentina went on to grow at an average of more than 8% annually through 2008, pulling more than 11 million people, in a country of 40 million, out of poverty. The policies of the Kirchner government, including the central bank targeting of a stable and competitive real exchange rate, and taking a hard line against the defaulted creditors – were not popular in Washington or among the business press. But they worked.

Kirchner’s successful face-off with the IMF came at a time when the fund was rapidly losing influence in the world, after its failures in the Asian economic crisis that preceded Argentina’s collapse. It showed the world that a country could defy the IMF and live to tell about it, and contributed to the ensuing loss of IMF influence in Latin America and middle-income countries generally. Since the IMF was, at the time ,the most important avenue of Washington’s influence in low-and-middle-income countries, this also contributed to the demise of US influence, especially over the recently independent countries of South America.

Kirchner also played a major role in consolidating this independence, working with the other left governments including Brazil, Venezuela, Ecuador and Bolivia. Through institutions such as UNASUR (the Union of South American Nations)Mercusor (the South American trading bloc), and numerous commercial agreements, South America was able to alter its trajectory dramatically.

This united bloc successfully backed Bolivia’s government against an extra-parliamentary challenge from the right in 2008, and most recently stood behind Ecuador in that attempted coup there, a few weeks ago. Unfortunately, they did not succeed in overturning last year’s military takeover in Honduras, where US backing for the coup government proved decisive. Argentina, together with UNASUR, still refuses to allow Honduras back into the OAS, despite heavy lobbying from Washington.

Kirchner also earned respect from human rights organisations for his willingness to prosecute and extradite some of the military officers accused of crimes against humanity during the 1976-1983 dictatorship – reversing the policies of previous governments. Together with his wife, current president Cristina Fernández, Néstor Kirchner made an enormous contribution in helping to move Argentina and the region in a progressive direction. These efforts have not generally won him much favour in Washington and in international business circles, but history will record him not only as a great president but also as an independence hero of Latin America.

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http://www.lavanguardia.es/internacional/noticias/20101027/54059772227/muere-el-ex-presidente-argentino-nestor-kirchner-por-un-ataque-cardiaco.html

Muere el ex presidente argentino Néstor Kirchner por un ataque cardíaco

El marido de la actual presidenta falleció en el hospital de Calafate, adonde había viajado esta semana junto con su esposa

Buenos Aires. (EFE).- El ex presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007), esposo de la actual mandataria Cristina Fernández, murió ayer a los 60 años a causa de un paro cardiorrespiratorio en El Calafate, provincia de Santa Cruz, confirmó el médico presidencial Luis Buonomo. Kirchner falleció en el hospital minutos antes de las 10 de la mañana (13.00 GMT).

Kirchner, líder peronista y actual secretario general de la Unión de Naciones Suramericanas (UNASUR), fue internado en grave estado por la mañana en el hospital José Formenti, unos 2.800 kilómetros al sudoeste de Buenos Aires, y murió poco después. Fue internado acompañado de su esposa.  Los médicos intentaron reanimarlo pero sin éxito. Sufrió un “paro cardiorrespiratorio con muerte súbita”, indicó el cuerpo médico del hospital.
Kirchner había sido internado en septiembre pasado por una afección cardíaca en una clínica del barrio porteño de Palermo, donde había sido sometido a una angioplastia. En total, el ex mandatario (2003-2007) había sido sometido este año a dos intervenciones cardíacas.

“Quiero estar en el censo 2010. Quién te dice?, a lo mejor me ayuda con la gripe y las anginas. Quiero sentirme bien para recibir mañana al censista”, fue lo último que escribió en Twitter la presidenta Fernández horas antes de la muerte de su marido.

El cuerpo de Kirchner será trasladado a Buenos Aires, ya que, por decisión de Cristina Fernández, su cuerpo será velado en el “Salón de los Patriotas Latinoamericanos” de la Casa Rosada, sede del Ejecutivo. El Gobierno ha decretado tres dias de duelo oficial.

La presidenta de las Abuelas de Plaza de Mayo, Estela de Carlotto, se mostró “consternada” por el fallecimiento de Kirchner, a quien dijo que va a “extrañar” y que era un hombre que “siempre estaba haciendo cosas”. “Le vamos a seguir agradeciendo todo lo que hizo” en materia de derechos humanos, afirmó Carlotto.

Tras la muerte del ex presidente, dirigentes de la oposición y del oficialismo también manifestaron su pesar. “Es muy difícil la reflexión. Esta muerte tiene una gran dimensión política e institucional”, sostuvo el senador oficialista y ministro de Educación en su gobierno, Daniel Filmus. Federico Pinedo, dirigente del opositor PRO, también manifestó la “solidaridad personal y política más absoluta con la presidenta”, quien estaba casada con Kirchner desde 1975.

El ex presidente era también secretario general de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur), jefe del gobernante Partido Justicialista (PJ, peronista) y era mencionado como candidato a presidente en las elecciones de 2011.

Según informan los medios locales, se convocó a una reunión de emergencia del gabinete nacional en Buenos Aires, ante la conmoción política por el fallecimiento de Kirchner, considerado el hombre fuerte del gobierno de Cristina Fernández.

Policía y fuerzas de seguridad se preparan para movilizaciones masivas en las próximas horas, que se multiplicarán a partir de mañana, cuando se espera que miles de personas inunden las calles de Buenos Aires para despedir a Kirchner.

Cristina & Néstor: vidas paralelas
Nació el 25 de febrero de 1950 en Río Gallegos, en la provincia sureña de Santa Cruz (Argentina). Licenciado en Derecho desde 1976 por la Universidad Nacional de La Plata, ingresó en el Partido Peronista en los años 70 cuando era dirigente estudiantil en ese centro universitario, donde conoció a Fernández.

Se trasladó en 1976 a Río Gallegos, donde trabajó junto a su esposa en un bufete de abogados hasta 1983. En 1982 creó el Ateneo Juan Domingo Perón. Entre 1983 y 1984 fue presidente de la Caja de Previsión Social y en 1987 fue elegido Intendente de Río Gallegos, cargo que desempeñó entre 1987 y 1991.

Elegido Gobernador de Santa Cruz el 10 de diciembre de 1991, permaneció en el cargo hasta 2003, tras modificar la Ley que le impedía ser reelegido tras dos mandatos. Kirchner logró revertir el déficit de su región, rica en petróleo y recursos naturales y la convirtió en la zona con menor desempleo. En 1992 fue nombrado presidente del Consejo Provincial del Partido Justicialista y secretario de Acción Política del Consejo Nacional. En 1993 fue designado Convencional Constituyente para la reforma de la Constiución Nacional Argentina. En 1996 fundó la Corriente Peronista dentro del Partido Justicialista y se presentó como candidato a la Presidencia, en 2003, frente a Carlos Menem -que gobernó el país entre 1989 y 1999- y al entonces presidente Eduardo Duhalde (2002-2003).

El 25 de mayo de ese año fue elegido presidente de Argentina. Durante la presidencia de Kirchner, Argentina creció un 8% anual; aumentaron el salario y las pensiones mínimas, además de bajar el desempleo y la pobreza. Además, recondujo las negociaciones sobre la deuda; reformó la Corte Suprema de Justicia y las Fuerzas Armadas; y defendió los derechos humanos. Asimismo, su presidencia estuvo salpicada por denuncias de enriquecimiento ilícito. En enero de 2006 pagó anticipadamente al FMI 9.574 millones de dólares, y en 2006, presentó ante el Tribunal Internacional de La Haya una demanda contra Uruguay para detener la construcción de dos papeleras. El 10 de diciembre de 2007 pasó el testigo presidencial a su esposa, Cristina Fernández, que había vencido en las presidenciales de octubre. Kirchner fue nombrado el 14 de mayo de 2008 presidente del Partido Peronista. En las elecciones legislativas de 2009, Kirchner fue elegido diputado por la provincia de Buenos Aires, cargo que asumió el 10 de diciembre de 2009, aunque su lista electoral fue derrotada en la provincia de Buenos Aires por la encabezada por el empresario peronista disidente, Francisco de Narváez (alianza Unión-Pro).

Tras esta derrota, Néstor Kirchner renunció el 29 de junio como líder del gobernante Partido Justicialista (PJ peronista), puesto que cedió al gobernador de Buenos Aires, Daniel Scioli. Además, el Frente para la Victoria perdió la mayoría en el Parlamento, ya que siete de cada diez electores votaron contra el Gobierno, lo que supuso la mayor derrota de la “era K”, inaugurada con Néstor Kirchner en 2003 y revalidada por su esposa en las presidenciales de 2007. El 7 de febrero de 2010 fue sometido a una intervención de urgencia por una obstrucción en la carótida derecha. Un mes después, el 10 de marzo, Kirchner reasumió la jefatura del oficialista Partido Justicialista con la promesa de conducir a esa fuerza a un nuevo triunfo en los comicios presidenciales de 2011 El 4 de mayo de 2010 fue elegido secretario general de la Unión de Naciones Sudamericanas (Unasur). Casado desde el 9 de marzo de 1975 con la presidenta de Argentina, Cristina Fernández, tienen dos hijos: Máximo, nacido en 1977 y Florencia, en 1990.


Para Escolher o Governador de São Paulo

01/10/2010

Para Escolher o Governador de São Paulo:

1) Lembre-se que o PSDB está há 16 anos no poder. Isso, em si, não seria necessariamente ruim se eles tivessem feito um bom governo. Mas o fato é que a gestão do PSDB é muito ruim em diversas áreas fundamentais, como Seguraça Pública (PCC, sistema penitenciário falido, esquadrões da morte, etc.), Educação (aprovação automática), Transportes (sistema de Metrôs e trens que demoram para serem feitos e funciona mal, etc.), Infraestrutura (Rodoanel que não fica pronto e custa uma fortuna, pedágios absurdos, etc,), sem falar do próprio Planejamento e Gestão do estado, que praticamente não existem. Além disso, representam uma concepção neoliberal e autoritária de governo, com privatizações, terceirizações, arrocho salarial e repressão às manifestações sociais. Por fim, Alckmin prometeu 10 vezes mais do que fez quando governador.
Para ter uma ideia de grande parte dos problemas da gestão do PSDB, veja:
https://nodocuments.wordpress.com/2010/10/01/por-que-nao-votar-em-alckmin/
http://mariadapenhaneles.blogspot.com/2010/09/voce-e-um-paulistano-desesperado-entao.html

2) A candidatura de Mercadante nestas eleições é a mais bem preparado dos últimos anos. Foi feito um trabalho sério e qualificado de diagnóstico das políticas federais e das políticas estaduais, de identificação dos principais problemas e de elaboração de um projeto para resolvê-los.
O fruto de todo esse trabalho pode ser encontrado nos Cadernos do Programa de Governo.
Neles é possível se ter uma ideia de todas as deficiências do governo tucano no estado e de como o PT pretende resolvê-las. Isso nas 13 áreas: Desenvolvimento Econômico, Segurança, Educação, Gestão, Cidadania e Inclusão, Infraestrutura Urbana, Desenvolvimento Regional, Igualdade Racial, Mulheres, Saúde, Juventude, Meio Ambiente e Mobilidade Urbana.
Confira todos eles:
https://nodocuments.wordpress.com/2010/10/01/cadernos-do-programa-de-governo-de-mercadante-para-sao-paulo-2010/
Para mais informações:
http://www.mercadante13.com.br/

3) Na área de Segurança Pública, em particular, o governo do PSDB e, em especial, o do Alckmin foi um absoluto desastre. O PCC foi criado e ganhou tanta força devido à política penitenciária do estado. O sistema penitenciário de São Paulo está falido. A polícia de São Paulo é uma das que mais matam no mundo. Em geral, as vítimas são jovens negros da periferia. O Saulo, Secretário de Segurança Pública de Alckmin, era um verdadeiro carniceiro. Na sua gestão foi o criado um grupo especial da polícia para cuidar de delitos de intolerância (GRADI). Esse grupo foi acusado de diversas suspeitas de execuções primárias de jovens negros, além de ser o responsável pelo famoso episódio da Operação Castelinho.
Confira nesta matéria:
https://nodocuments.wordpress.com/2010/10/01/o-estilo-saulo/

4) Há uma possibilidade real de que haja segundo turno em São Paulo. As pesquisas já indicam isso, Alckmin vem caindo e Mercadante e os outros subindo. O Alckmin fez uma campanha de TV totalmente agressiva contra o Mercadante, mas não fez nenhuma pergunta direta para ele nos debates. No segundo turno, ele não terá como fugir.
Veja as projeções:
https://nodocuments.wordpress.com/2010/10/01/eleicao-em-sp-tem-cheiro-de-2%C2%BA-turno/

5) Se você não está seguro em votar no Mercadante, pelo menos não vote no Alckmin (por todos os motivos já apresentados aqui), pois votando em qualquer candidato que não seja o Alckmin, você contribui para que haja segundo turno.